quinta-feira, 30 de junho de 2011
promessa cumprida
algodão doce, feito à medida do céu, ignora o tempo dos Homens e do futuro: o céu só disse que se faria doce: e cumpriu com o que prometeu.
se assim é, tem de dar para tudo
os Homens falam de Deus a torto e a direito porque, e apenas, fizeram-no à sua semelhança. ora não pode ser pecador aquele que meter Deus na diarreia ou num simples arroto.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
eurekinhã
fiz uma descoberta, e toda a descoberta é poesia: a melhor forma de limpar cagadelas das moscas é cuspir para o pano imediatamente antes de o usar para limpar. vou esvaziar um frasco de detergente, ineficiente e ineficaz, e cuspir até ficar cheio. depois, é só usar e salivar as recargas.
fisiologia versus mentira
quando as gentes mentem com convicção quase que se tornam verdadeiras - quase. mas apenas porque só elas próprias sabem que não são a verdade. e há maior mentira do que a que, em si, não é verdade? ser, portanto, uma verdadeira mentira é o único triunfo de quem mente verdadeiramente. na verdade, a mentira, essa mentira convicta que tanta gente atrai, é uma sombra esquizofrénica e fraca que, de tão fraca que é, se torna no ponto forte dos portadores de mentiras convictas. regra geral, estes baseiam-se na verdade de alguém verdadeiro para tomarem a verdade, que não é sua, como sua - e passam a fazer da verdade, da única, porque a verdade é exclusiva e uma só, a sua bandeira.
é verdade: não faço sempre questão de me esquecer de mentir porque a verdade não é consciente - a verdade é como, e é tão lógico como a irracionalidade, o respirar fisiológico.
é verdade: não faço sempre questão de me esquecer de mentir porque a verdade não é consciente - a verdade é como, e é tão lógico como a irracionalidade, o respirar fisiológico.
terça-feira, 28 de junho de 2011
lição de vida
quando o céu está cinzento, o verde não sobressai tanto. e é por isso que há sol encoberto: para lembrar as árvores e as ervas e as flores que a bazófia tem rédea curta.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
amor & amor & amor
ainda há quem pense, e bem, sobre o amor. e só pensa bem quem, bem, o sente ou já sentiu.
(só não vale amargá-lo - o amor não pode ser condenado porque só o é se for inocente)
(só não vale amargá-lo - o amor não pode ser condenado porque só o é se for inocente)
double circuito
já dizia a minha avó, é o que se costuma dizer, sem nunca ter ouvido a minha, não dizia mas eu faria com que dissesse, porque a sabedoria vem de longe, pelo menos bem mais longe do que do instante, que é curto, que um curto-circuito nunca vem só.
domingo, 26 de junho de 2011
pois, está bem, por acaso, vão ter muita e boa sorte
gosto tanto de calor abrasador como de gelados - se chupar um por ano já é muito. e, depois, tanto um como outro têm a mania que me cativam, voz grossa e rouca, quando me dizem: até te derreto. pois, está bem, por acaso, vão ter muita e boa sorte.
sábado, 25 de junho de 2011
comósgatos
como os gatos, não. este gato não é traiçoeiro - é uma delícia de se ler e miar por mais.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
o ser foguete e brasileira de dicionário
acabar com os foguetes é uma medida urgente a ser tomada. os foguetes causam danos: os foguetes são barulhentos, cheiram mal e muito perigosos e nem por isso fazem com que se deixe de correr a foguetes; quem gosta de foguetes só pode mesmo ser como um foguete - artificial. é que quando há trovões o povo recolhe-se, tem medo, assusta-se com a naturalidade, com a singeleza e, no entanto, teve de inventar uma cópia reles dos trovões, uma cópia tingida e, ainda assim, sem viveza. porquê que quando sentem vontade de foguetar não ficam em casa e desfrutam dos próprios gases? há festa maior do que foguetar em privado junto dos que mais amam? façam concursos, experimentem odores, façam os gases em pino. divirtam-se a valer e mandem os foguetes atirar-se ao rio. já pensaram que se não houver quem vá para a rua as pirotecnias não dão o peido? se é uma questão de manutenção da empregabilidade nas pirotecnias não se preocupem - elas sobrevivem para a indústria extractiva e para o nonel. faz assim: quando tiveres vontade de foguetes com gente, ligas a um amigo ou a um parente ou ao namorado e fazes o teu próprio show. e se é um barão que te falta não desanimes - há sempre um vão de escada à espera que libertes os foguetes que vivem dentro de ti.
(tenta ser brasileira de dicionário, de vez em quando - não é defeito, é ser foguete)
(tenta ser brasileira de dicionário, de vez em quando - não é defeito, é ser foguete)
quinta-feira, 23 de junho de 2011
pássaros de latão
são semelhanças de asas, como se boar fosse voar, imitações dos homens que não sabem no céu andar - fazem pássaros de latão, como se deus artesão, com voo na mão: sonhar.
quero ser-me em bruto achada
não me apetece ir, não sinto motivação, à apresentação do meu próprio conto e não dormi a noite toda a pensar nisso: não fui eu quem o escreveu - foi ele que me escreveu a mim. e venceu. simplesmente não quero ver o meu ego feliz porque não preciso de ego - o ego é como se fosse outro, um outro vaidoso e prepotente, que, a viver dentro de nós, na mesma casa e numa outra assoalhada, nos lapida. e eu não quero ser lapidada. eu quero ser, continuar a ser, só eu. quero ser-me em bruto achada.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
médicas em folga permanente
não há hipótese: pela minha experiência os médicos são mais competentes do que as médicas - pelo menos comigo. são simpáticos, pacientes, respondem a tudo o que lhes pergunto e são dóceis. as médicas são, talvez em comum tenham um complexo de superioridade, cabronas. por mim, estão sempre dispensadas para gozarem a sua pseudo-superioridade à vontade. e fazerem bom proveito.
queralho?
o povo é sádico: fez da cabeça do S. João, trazida pela Rainha, que nem sequer viveu no Porto, uma festa, regada a sardinhas e vinho, para ficar. talvez daqui a meia dúzia de séculos a folia viva de outras cabeças que, no Palácio, andam a rolar, e o santo a querer alho seja o S. Bento.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Mexia? mexe. sempre.
"Porquê «mudança» e não «aceitação»? A mudança é em geral uma forma de logro. E a aceitação é talvez uma forma de felicidade."
Pedro Mexia
Pedro Mexia
relva e luas
o contacto com a relva pode, muito mais do que a apreciação dos vivos pequenos (está bem, pequenininhos), resultar na apreciação dos olhos, dos teus. se te colocares de bunda para o sol, livro em sossego, e os óculos na ponta do nariz vais, entre um arranjo e outro, alcançar aquele ponto em que o efeito é de lupa. e o que vês é o reflexo dos teus olhos e da pele circundante e das pestanas - vês tudo ao pormenor e aumentado. é bem interessante: contar quantas pestanas, a sua direcção e espaços; a textura da pele e o brilho dos olhos. eu sabia que tenho os olhos muito brilhantes mas hoje tive a real noção de possuir duas luas. até merecem uma música.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
coito e tal
ouve-se daqui, toques de ele e de ela - tão bom tão bom tão bom -, quando o mar e a rocha se amam: são os corações a pulsar que, em uníssono, sussurram espumar.
de perto se faz mesmo perto
entre um piu, piu, piu e uma onda a distância é mesmo curta - é a de misturar areia com árvore.
gentes-penedo
há gentes que são, efectivamente, como um penedo: quando uma mulher não é o feminino no seu pior, ah porque não tenho força e tal, não posso, não consigo, sou frágil, posso partir uma unha, é imediatamente tratada como um homem - o que se presume que homens-penedo e mulheres-penedo vivem colados a uma lista de potencialidades, perfeitamente ridícula, a que estão aptos e da qual, dali, não saem.
(eu havia de treinar todos os dias a carregar um touro às costas - no dia em que assumisse que, por ser mulher, não tenho força)
(eu havia de treinar todos os dias a carregar um touro às costas - no dia em que assumisse que, por ser mulher, não tenho força)
domingo, 19 de junho de 2011
respostas simples
perguntaram-se o que penso de o mundo acabar. se o mundo acabar, acabou - não vejo problema algum nisso porque também já não estarei cá. e, depois, se tenho medo de morrer. se morrer, morri - terei a eternidade por minha conta para me debruçar sobre a morte.
sábado, 18 de junho de 2011
sorriso em flor
não sei o nome das flores. sei que as olhei e as fixei: aveludadas e fartas de pétalas e, todas juntas, fazem um efeito almofadinha recortada onde dá vontade de roçar a ponta das orelhas. voltei tudo para trás e fui buscá-las. quando cheguei, despi-as dos vasos apertados e molhei-as. sorriram-me. sorriram-me tanto que a cor ficou mais forte, mais fúcsia. e, depois, escolhi um vaso preto brilhante a ser penetrado pelas raizes das belas. delas. e aconteceu: sorriram em simultâneo e não voltaram a ser os mesmos - nem o cimo da mesa onde vivem, nem a sala, nem a casa. eu também sorrio mais: tenho mais um motivo para sorrir. cá em casa, há rugas de expressão.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
cetim com tule
é, por fundos nunca antes navegados, azul, mistura de doces e salgados, assim: linhas cruzadas em novo, tecido original, azul - mistura de cetim com tule.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
porquê que não queres ser marinheiro?
se há mais marés do que marinheiros porquê que cerca de um quarto dos estudantes portugueses continua a optar pelos cursos de gestão e de engenharia em vez de ir para a marinha?
quarta-feira, 15 de junho de 2011
luadeira
em cornos de croissant, lua feiticeira, minga nua. e não, não é erro a nudez fazer minguar: a lua crescente gosta muito de brincar.
remédio santo e veloz
a melhor forma de espantar, quando se é obrigada a parar numa operação STOP, a polícia é dizer que abro, com muito gosto, a mala mas terá de ser um deles a abri-la em três tempos e um outro a segurar na porta para poder verificar a existência do triângulo.
terça-feira, 14 de junho de 2011
encantamento
ai como é sensual, sentidos em espiral, o tempo a ficar no branco - como se cheiro de chuva, com relva, nos dedos: em encantamento ouvem-se segredos.
eu sei bem a diferença, e tu?
a diferença entre um inteligente e um pseudo - inteligente reside na inteligência: enquanto o pseudo-inteligente anda munido, cheiinho de caganço, das inteligências dos outros e as converte na, supostamente, sua - o verdadeiro inteligente vê os outros converterem, como deve ser o fluxo do conhecimento, como processo de ciclo virtuoso, a sua inteligência na deles.
(é basicamente o mesmo que ser vaca natural e ser vaca transgénica - esta última teima em pingar e deixar a sua marca postiça, elaboradíssima, nos outros)
segunda-feira, 13 de junho de 2011
os homens que lavam a louça têm uma vida sexual mais activa?
ouvi a pergunta na televisão e fiquei a pensar de onde virá tal associação. ora esta questão só poderá surgir de um dos seguintes pressupostos: os homens que fazem mais sexo têm mais vontade de lavar a louça ou lavar a louça potencia o apetite sexual? dependerá do detergente que é usado ou este não tem peso algum? dependerá da parceira ou do parceiro ou este não terá, igualmente, peso? isso quer dizer que um ajudante de cozinha de hotel poderá passar metade do seu turno a foder hóspedes? ou que um marido, após um dia de trabalho, que lava a louça após o jantar passou o dia a foder com outras? - ou que está a mostrar, à sua mulher, de forma indelével, que quer ter uma noite de sexo? quererá também significar que quando a louça fica mal lavada o homem não presta na cama? e quando é que um homem não presta na cama - quando arrota ou quando precisa de palmadas para arrotar? - e isso terá que ver com os restos que rapa do tacho? e se partir um prato, quer dizer que anda com cãibras?
estou confusa, que é isto, como podem os Mêncios do século vinte e um não serem curiosos como eu?
estou confusa, que é isto, como podem os Mêncios do século vinte e um não serem curiosos como eu?
domingo, 12 de junho de 2011
um nojo de luxo
não percebo o fascínio das gentes por piscinas - elas são uma pocinha de águas, onde os corpos carregados de lixo se lavam, mornas paradas: uma banheira, de banhos, colectiva. que nojo.
sábado, 11 de junho de 2011
quase mergulho
terra, ar e água, está quase, está quase tudo para ser um turbilhão, onde está, por onde anda o fogo, que em mergulho se atira à água - ficar em terra e no ar é que não.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
como te amo, Sinhã
ontem descobri algo novo que pode fazer-se quando se está fechada dentro de um carro parado que não pode ir para lado algum: pegar num lápis preto, riscos aleatórios e sem direcção, olhos fechados em movimentos abertos, ora precisão ora falta dela, e pintar a cara toda. abrir os olhos e olhar o pequeno espelho; olhar para fora do carro e ver os olhares dos outros e perceber que a vida, a minha, é mesmo isto - pintar, riscar, acrescentar, a cada dia, uma linha incerta traçada de certeza que é no meu espelho - e não nos olhares dos outros - que vivo. e, depois, arranjar uma forma, a minha forma, à medida de mim, de limpar a cara: superar, com criatividade, a falta de recursos da hora certa no sítio certo para ter a minha pele, a minha pele, as cortinas de cetim das janelas do local onde vivo, limpinha.
(serviu bem usar lenços e baton em creme para, pedaço a pedaço, remover a experiência. e quando dei conta, o carro já estava a andar. sorrisos de orgulho de mim. muitos.)
(serviu bem usar lenços e baton em creme para, pedaço a pedaço, remover a experiência. e quando dei conta, o carro já estava a andar. sorrisos de orgulho de mim. muitos.)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
canas de vida
águas fortes, que paradas não ficam, correm - vão, as conchas e as pedras e os peixes, embalar: para que servem as pontes, senão para serem canas que levam ao pescar?
terça-feira, 7 de junho de 2011
pedras celestes
vitrais que são anais do tempo, da glória, pedaços de luz achados sem mestre, memórias de um, de todos: pedras esculpidas da abóbada celeste.
espirrar, ventar, solar, orvalhar
muito eu gosto quando ponho um pé fora da cama e, logo a seguir, um espirro fora do âmago - isso quer dizer, apenas, que está sol e vento fresquinho. e é quando o vento bate assim, que os aromas se alastram e as flores deixam fugir as saias e deixam que ele as leve para onde quer. depois, envergonhadas e nuas, ficam a aguardar que o sol, mas só porque as ama decom verdade, se ponha nelas.
(ou não é o orvalho da manhã o escorrer dos liquidos felizes delas?)
(ou não é o orvalho da manhã o escorrer dos liquidos felizes delas?)
segunda-feira, 6 de junho de 2011
naturitários
natureza, solidão: ser só não é ser solitário: sós estão os infelizes, perdidos num mar de gente; os solitários são feitos de alegria - são natureza paciente.
mamiência
ora se mostrar sapiência num trabalho inibe um colega de querer ter-me como colaboradora, com medo de não brilhar, será que mostrar uma mama seria, para ele, meio trabalho andado?
(ai que risota: toma lá um manguito esperto para ficares a sonhar com elas arrepiadinhas, balastreiro)
(ai que risota: toma lá um manguito esperto para ficares a sonhar com elas arrepiadinhas, balastreiro)
domingo, 5 de junho de 2011
pois: sofrimento, não.
pois, pois claro, que foi na mudança que os portugueses votaram - não foi no cromo.
(quererá isso dizer que os que não votaram quiseram mostrar, de forma equivocamente metafórica, que o país não precisava de sofrer alterações?)
(quererá isso dizer que os que não votaram quiseram mostrar, de forma equivocamente metafórica, que o país não precisava de sofrer alterações?)
sexta-feira, 3 de junho de 2011
braços de abraço
são braços, frenesim de vento, que abraçam sem pudor e sem tento: abraços que te esperam sempre - abraços sem esperar um momento.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
pedras ao alto
e em pintura original, aguarela de civilização, os brancos contornam as pedras, pinceladas de convicção: frias e duras são elas - borratado está o coração.
parágrafo à pombarreia
não é que eu tenha alguma coisa contra a merda nem contra pombas mas, atendendo ao facto da merda de pombas ser um veículo incrível de enfermidades, gostava de dizer à puta da pomba que caga sempre no mesmo sítio, no meu terraço, que cague uns metros mais ao lado e, desta feita, cagará nas flores e nas árvores e até na cabeça de algum esquilinho que vá a passar, que cague na natureza e deixe o cimento em paz, com certeza a ela não lhe fará diferença, a natureza agradece, e eu, eu, não tenho de a mandar para a puta que a pariu por mandar pombarreia para a língua da minha menina. obrigada.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
amor, electrodomésticos e vómito
nunca percebi a coisa de se comprar coisas às prestações com juros - principalmente porque essas coisas que se compram raramente são coisas importantes e de primeira necessidade: são coisas, coisices, que o povo quer, porque quer, ter. são mentalidades. ou melhor, são materialidades. de certeza que no amor o povo não pensa assim: dar e receber a cada dia com juros, por ser importante e valiosíssimo, por ser algo vitalício e, por isso, arduo. pensando bem, as gentes estão para o amor como estão para os plasmas: compram em prestações com juros só para poderem usar, até o novo modelo sair, o comando de 69 canais. depois compram outro e, fodidos, aliam os dois créditos só para poderem dizer que têm plasma, plasma que lhes faz companhia à distância de um sofá. e, depois, perante o plasma, estabelece-se uma indiferença cortante - mas só porque um amigo fala muito no novo frigorífico que faz leite fresco todos os dias. é: o amor das gentes (chama-lhe amor, chama; chama-lhes gente, chama), tem muito de electrodomésticos. só que, neste caso, o povo compra-o a pronto, com manual de instruções e com garantia de dois anos - é o regime consumista ideal de uma sociedade perfeita. e o comando é, não meo, teo.
(vou vomitar e já volto)
(vou vomitar e já volto)
terça-feira, 31 de maio de 2011
a essência do rissol
os meus rissóis são gigantes e gordos e suculentos: o recheio é cozinhado com azeite e em lume brando; a massa, tenrinha, é pacientemente trabalhada e o pão ralado é, vezes sem conta, peneirado para não deixar passar os gomos que o ovo deixa. nos rissóis também se vê o carácter, a essência, das gentes.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
vacas loucas, pitos malucos e pepinos chanfrados
pronto, agora vai começar a febre do pepino. primeiro começou nas vacas, depois passou para os frangos e agora chegou ao pepino. os portugueses primam pela prevenção: ouvem falar nas vacas loucas e viram-se para os pitos; ouvem falar nos frangos malucos e viram-se para as vacas loucas. e, agora, ouvem falar nos pepinos chanfrados e vai tudo para o tomate. os portugueses primam pela prevenção - mas não no que devem: continuam a beber que nem cachos quando vão conduzir e a charrar em busca da paz para sorrir; continuam a foder sem protecção porque, paradoxalmente, não querem proteger o tesão; continuam a deixar-se formatar pelos meios de comunicação para não terem de usar o neurónio da razão. e depois o sol, ah o sol, idolatrado pelos portugueses - os portugueses deitam-se ao sol e regam-se com óleo de jibóia para ficarem castanhos (castanhos e podres), primeiro vermelhos ao estilo pimentão, e sexys e, depois, fazem campanhas a propósito do cancro da pele. quê, fumar mata? mata: fumar mata a loucura das vacas, a maluqueira dos frangos e a chanfradês dos pepinos - ou não é verdade que a carne fumada, a de quem fuma, preserva-se muito mais e aguenta-se firme à putrefacção?
domingo, 29 de maio de 2011
reticenciar
entre um olhar e outro há sempre um ponto que é fixado: é o ponto depois de um e do outro.
(são as reticências)
(são as reticências)
sábado, 28 de maio de 2011
sombras de sol
sombras para que vos quero, danado do sol a dizer, senão para chamar-vos a mim, a eles, não fosse eu quente e ardente - com olhares, tem vezes, de tristeza contente.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
confevoar
flutuo, trespasso pela maré em bicos d' asas, sem esforço: a água é um espelho d' alma fresca, eu confesso.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
pre sente
não há, oxalá haja, mas não sei, até pode haver melhor, mas para mim o melhor é o que conheço, como pode não ser, a vida é o que acontece, como a mistura do cheiro de sol com mar e árvores e flores: cheira a presente que o futuro, futuro que o pariu, é uma invenção dos homens e das mulheres deficientes de vida.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
gentitutas
nem sei se lhes chamo gentes: são humanos que se vendem, contentes, que se deitam para subir, que fingem bem o sentir, que para serem o que não é ser se deixam ir. e vão - além, ficando sempre aquém; e são - ninguém, sombras do além. e o desgosto de deixarem ficar, de deixarem passar, aparece: na pele de quem não tem preço, de quem se é sem prece - na vida de quem sente a morte e sabe que quem se vende assim, não presta para a sua sorte.
rugas, precisam-se
não vai tardar nada e, por estes dias, os liftings estarão acessíveis às gentes, nos centros comerciais, tal e qual como os arranjos rápidos de costura: remenda aqui e cose ali. e os rostos, como roupa nova em domingos de missa, não irão carregar as marcas do tempo - rostos sem histórico, tecidos andantes, peles mexidas e penetradas com técnica, com métrica - rostos que irão ser coitos, meros coitos, de ejacular o fora.
encharcar, digo eu
em nome do meu, da dela, e é já que se faz tarde, espinhos doces e lágrimas ardentes, saias risonhas de olhos contentes - no meio há botão, ponto s que também é c, molhado está o sexo: de encharcado o coração.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
tripa à moda de Sade
ora se a tripa que o Marquês de Sade colocava na pila, sífilis em medo, para funcionar como contraceptivo, está em exposição no Museu da Farmácia é porque seria, de facto, eficaz. como será que ele lavava a tripa? será que lhe dava, antes de usar, uma cozedura para ficar mais tenra e sentir mais? ou, pelo contrário, a refrescava para o aquecer ser em lentidão? será que o Marquês de Sade, como escritor e artista que foi, afinal usava, masoquismo erecto, a tripa alternadamente nos dedos das mãos para evitar a doença cardiovascular que dizem ser o amor ou, sadismo pujante, colocava a tripa na pila para foder e a tripa nos dedos para viver?
quinta-feira, 19 de maio de 2011
afinal, o trabalho seguro mata
voz de sofrimento, a dela, ao telefone. justifica porque não ligou nem respondeu aos emails; complementa a justificação por estar mentalmente afectada, que está sem trabalho e o que tem - já facturado - não o consegue terminar. diz que se sente perdida, carreira profissional em precipício, sem auditorias para fazer; arrasta a conversa para o psiquiatra que lhe administrou medicação e com a qual se sente ainda mais inibida para trabalhar; comenta, orgulho ferido, que depender do marido é que não pode ser.
desabafos, justificações, cansaços. e eu, que não vejo a vida senão insegura, sem certezas e sem portos, disse-lhe, com o melhor de mim: fecha o escritório e só voltas a lá entrar quando (e se) te sentires capaz. quando acordares de manhã, fazes de conta que tens uma perna partida e logicamente não podes usar saltos nem andar: também é assim com o teu cérebro - está doente e precisa do sofá. e depois existe a vida, o amor, a pintura - existe tudo aquilo que escolheste, por opção, dedicar o menos tempo possível. não estará a vida a dar-te uma oportunidade de reafectares o teu tempo? não andarás, há tanto tempo, a viver para o trabalho, a canalizar para papéis, simples papéis, a tua vida? a vida é o trabalho? e essa dependência que falas, falas do que é de verdade um casamento? para que serve um marido senão para ser braço e cérebro e sangue e suor e lágrimas e riso e, sim, mealheiro? e o teu filho, há quanto tempo não o ouves e não o mimas? e pintar, tens pintado?
e depois de desligar, penso mais ainda na tristeza da modernidade: as mulheres recusam-se a passar tempo no lar e a partilhar dinheiro do marido porque têm medo de não ser modernas; os homens não podem chegar cedo porque têm medo que as mulheres pensem que estão a ser, démodè, dedicados; os filhos têm vergonha de levar os amigos para casa porque a mãe não está a trabalhar e a dedicação à casa é sinónimo de ignorância. o que é isto? onde está a importância real da vida, é no trabalho? é no trabalho que as pessoas modernas se realizam e se vivem e se morrem e se vêm? é o trabalho que dignifica as gentes ou antes as gentes que dignificam o trabalho?
e fiquei triste, por reconhecer nela tanta gente. e fiquei contente, por não me reconhecer nela nem em tanta gente.
desabafos, justificações, cansaços. e eu, que não vejo a vida senão insegura, sem certezas e sem portos, disse-lhe, com o melhor de mim: fecha o escritório e só voltas a lá entrar quando (e se) te sentires capaz. quando acordares de manhã, fazes de conta que tens uma perna partida e logicamente não podes usar saltos nem andar: também é assim com o teu cérebro - está doente e precisa do sofá. e depois existe a vida, o amor, a pintura - existe tudo aquilo que escolheste, por opção, dedicar o menos tempo possível. não estará a vida a dar-te uma oportunidade de reafectares o teu tempo? não andarás, há tanto tempo, a viver para o trabalho, a canalizar para papéis, simples papéis, a tua vida? a vida é o trabalho? e essa dependência que falas, falas do que é de verdade um casamento? para que serve um marido senão para ser braço e cérebro e sangue e suor e lágrimas e riso e, sim, mealheiro? e o teu filho, há quanto tempo não o ouves e não o mimas? e pintar, tens pintado?
e depois de desligar, penso mais ainda na tristeza da modernidade: as mulheres recusam-se a passar tempo no lar e a partilhar dinheiro do marido porque têm medo de não ser modernas; os homens não podem chegar cedo porque têm medo que as mulheres pensem que estão a ser, démodè, dedicados; os filhos têm vergonha de levar os amigos para casa porque a mãe não está a trabalhar e a dedicação à casa é sinónimo de ignorância. o que é isto? onde está a importância real da vida, é no trabalho? é no trabalho que as pessoas modernas se realizam e se vivem e se morrem e se vêm? é o trabalho que dignifica as gentes ou antes as gentes que dignificam o trabalho?
e fiquei triste, por reconhecer nela tanta gente. e fiquei contente, por não me reconhecer nela nem em tanta gente.
querem o poder de chegar ao cume da montanha
o cúmulo do machismo é a ejaculação precoce masculina.
(conclusão, a minha, depois de ler que 95% dos homens, em todo o mundo, a tem)
(conclusão, a minha, depois de ler que 95% dos homens, em todo o mundo, a tem)
quarta-feira, 18 de maio de 2011
estômago curioso
coisa bonita de se ver - o ratão cheirando o que ninguém quer, ocioso, por ocasião. e não, não é ladrão: é estômago curioso.
chuva que despe
o outro lado, há sempre o outro lado, da sensação de liberdade e bem estar que é andar sem soutien, o soutien foi, com toda a certeza, inventado por alguém absolutamente frustrado, é o riso pudico provocado pela repentina chuva, chuvona, que deixa semi-nuas as flores dos montes agrestes. e é a chuva aque me faz parar para sentir. e é a chuva a única que me faz correr para esconder as flores, as minhas flores.
terça-feira, 17 de maio de 2011
corpo de céu
zástráz, que os céus berram assim, goelas de bocarras sem fim: engolir as selvas de pedra, putas sem eira nem beira, polidas de homens armados, cimentos, artistas dos tormentos - zástráz -, o céu também tem intestino, entranhas em momentos. e rim.
corpo-rei
o corpo é de uma sabedoria imensa. e, por isso, a natureza não me deu a responsabilidade de me lembrar de respirar porque por um dia, um dia que fosse, eu esqueceria.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
serorpo, seralma
deixa-a ser, só ser - contorno de luz que te seduz o fundo do corpo e da alma: deixa-a sorrir, deixa-a brilhar, bem como quando, feminino, o rio corre para o mar.
o meu livro de receitas de fazer pão desapareceu da segunda gaveta. sim, poderia estar na primeira ou na terceira ou na quarta ou na quinta - mas não está. suspeito que durante a noite andei a sonambular. suspeito. mas o que são as suspeitas senão os ingredientes?, o pão, onde está o pão? e se ficar alerta como posso verificar se sonambulo?
domingo, 15 de maio de 2011
abraço sem embaço
laços, que abraços, que amassos, são traços de líbido, não há embaço, a gritar: traços de laços, amassos, abraçados, sem cansaço, de abraçar.
sábado, 14 de maio de 2011
assento de amor-gaivota
não pode não ser cinzento o amor que mora em assento - abaixo do outro olhar: o amor-gaivota que fica em baixo, por baixo, sem asas, vê-se por cima, de fora para dentro, a parar.
as metáforas do talho
peço que me pique frango com chouriço, fica mais gostoso, para fazer bolonhesa; peço perú aos bifes, peço frango sem pontas. peço tudo o que tinha de pedir e pago. quando chego a casa, vejo que não paguei o chouriço e que ainda, sem eu ver, meteu mais duas no meu saco. em tempos de crise ainda há quem ofereça três de chouriço, pensamento a fluir por entre o embalar e o congelar das carnes. e agora percebo porque não posso sorrir nem usar decotes enquanto faço compras: as metáforas do talho são mesmo fodidas para me foder. foda-se.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
ser fortaleza
estou decepcionada: afinal consigo ser ainda mais forte do que o que sempre soube que sou.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
solmunda
e nem preciso de bússula para saber onde fica: segue o cheiro do mar, onde restam os fundos, onde se vê o por dentro das minhas e das tuas - o sol é sempre, tal e qual, a blimunda sete-luas.
os sonhos são reais, ouviste?
e dizem que os sonhos - ou os pesadelos - não fazem parte da realidade. fazem, sim: como negar e justificar a origem da trasnpiração ou da alteração dos batimentos cardíacos ou da respiração? o sonho é, ouve bem, o horizonte que se vê ao seu redor, que não existe em parte alguma, mas que pode ser visto de todos os pontos em que se encontra.
terça-feira, 10 de maio de 2011
cor-de-rosa-que-corre
porque o amor trepa - por detrás, que é também a frente, do que é ser árvore:
ser árvore é ser raíz e ser tronco,
é ser rosa no cimento do conto;
é ser a casa onde se vive e se morre - é por tudo o que em nós corre.
ser árvore é ser raíz e ser tronco,
é ser rosa no cimento do conto;
é ser a casa onde se vive e se morre - é por tudo o que em nós corre.
mensagem rápida para amar sem demora
decidida, como sempre é e foi, escreve-lhe assim: meu amor, encontramo-nos a meio do caminho - naquela cidade mágica que tu sabes. levo tudo o que preciso: amor, fome, sede, satisfação e liberdade.
e, depois, contou-lhe o seu pensamento - como ela adorava a fusão de pensamentos - para quando estivessem juntos, explorarem em conjunto: (deve ser fodido para ele - ver que o que sempre quis e que nunca pensou que eu quisesse também, agora estar a acontecer. mas com outro. com um amor real. contigo. não contarei as horas para estarmos juntos, simplesmente porque - perante ti - o tempo não existe.)
e, depois, contou-lhe o seu pensamento - como ela adorava a fusão de pensamentos - para quando estivessem juntos, explorarem em conjunto: (deve ser fodido para ele - ver que o que sempre quis e que nunca pensou que eu quisesse também, agora estar a acontecer. mas com outro. com um amor real. contigo. não contarei as horas para estarmos juntos, simplesmente porque - perante ti - o tempo não existe.)
segunda-feira, 9 de maio de 2011
saia do dentro
tímidos são os olhares de baixo para cima, olhares que entram na saia-menina, rubros de tanto corar: e fica o coração à janela: o que está por dentro da saia que é dela.
blogues pseudo-democratas
eu juro que não entendo os blogues cujos comentários são triados antes de saírem ou serem censurados. que ricos apoiantes da liberdade, os que fazem a gestão desses blogues. e depois ainda se dão ao luxo de fazer terminar as discussões no comentário que mais lhes convém - no remate da sua própria opinião. são uns ditadores, os donos dos blogues que praticam a censura; são uns absolutistas absolutamente ridículos.
(e não falo de eliminar comentários que atentam, eventualmente, contra a integridade dos autores e/ou comentadores - que isso já eu fiz e farei se preciso for - mas de escolhê-los. que rica democracia.)
espasmos de sol
e os montes. ai os montes que são mulheres deitadas ao sol - embriagadas de uvas dos campos, que verdes são espasmos de amantes.
a falta de paixão é a desculpa dos que não a sentem
(a propósito do que li ontem sobre os casamentos durarem com base na confiança - porque a paixão morre)
sentes-te confiante?
sim. e tu?
também.
óptimo, então vamos fazer amor - como irmãos.
sentes-te confiante?
sim. e tu?
também.
óptimo, então vamos fazer amor - como irmãos.
não as usem: obrigada.
engraçado como as gentes confundem tudo: a homossexualidade sempre existiu, mas agora está na moda. e se está na moda, não é de bom tom ter uma opinião desfavorável sobre alguma coisa que pretendem. e se assim é, somos acusados de preconceituosos. eu quero lá saber se vocês gostam de pataniscas ou de arroz de pato, de homens ou de mulheres. uma coisa eu sei: se depender de mim, não vão poder nunca adoptar crianças - as crianças não têm de apanhar com as vossas modas e já lhes basta terem de crescer sem um dos pais quando um deles morre ou se divorcia. eu preferi crescer só com o meu pai, e com as ausências que isso trouxe, do que crescer com dois pais homens ou com a mentira de que o outro era a minha mãe postiça. havia de ser bonito, eu entrar no quarto deles ao domingo de manhã, como fazia sempre com o pai e com a mãe, e perceber que afinal o normal é um homem chupar na pila de outro homem. e depois, na escola, a professora perguntar-me como nascem os bebés, e eu dizer que nascem quando um homem vai ao cu a outro homem. e depois, mais tarde, já crescida, e quando percebesse que afinal não é nada assim, teria de perceber que cresci a perceber tudo mal - e que afinal o meu pai, que tinha casado com a minha mãe e tinham tido filhos, passou a gostar de gajos depois de ela morrer - ou então que já gostava mas viveu uma mentira. foda-se. coitadinhas das crianças.
(as crianças são crianças, não são atrasadas mentais. não as usem: obrigada.)
(as crianças são crianças, não são atrasadas mentais. não as usem: obrigada.)
domingo, 8 de maio de 2011
cus heróis
"o homem que matou Bin Laden tem entre 26 e 33 anos, é musculado, com calos e cicatrizes."
(e caga. mas só deve conseguir cagar numa banheira - são assim os cus dos heróis do mundo)
os animais domésticos são uma óptima opção
se a natureza quisesse brindar os gays com a alegria de terem filhos, tinha dado a possibilidade aos homens de gerar e amamentar e, às mulheres, a capacidade de gerar sem a seiva do pénis. no fundo, no fundo, tal demonstra uma enorme frustração que vem da não aceitação deles próprios - de outra forma, nem os homens quereriam ser mulheres nem as mulheres quereriam ser homens. está tudo ordenado, e bem, pela natureza.
sábado, 7 de maio de 2011
fazer para eu ler
entre o que se diz e o que se faz, comunicar é essencial mas parece não ser simples nem fácil, está a sinergologia: deixa-me ver os teus gestos e dir-te-ei o que pensas.
mar que as pariu
percorrem uma ponta à outra, são pontes - as que interditam os muros. porque os muros são cegos e querem cegar: as pontes que vivem para ver e olhar, sem muros, o mar.
lençóis, olé!
regra geral, e pelo que se vai - ali e acoli - ouvindo, as gentes fazem a muda dos lençóis uma vez por semana ou até por quinzena. ora, se deitar o corpo, que carrega a alma, em roupa com cheiro de lavado e fresco, com cheiro de água, é das melhores sensações que conheço, mudo a minha cama quase todos os dias - e digo quase porque há dias em que mereço castigo por estar preguiçosa.
(o corpo e a alma, com este miminho todo, olé!, cada vez gostam mais de mim)
(o corpo e a alma, com este miminho todo, olé!, cada vez gostam mais de mim)
sexta-feira, 6 de maio de 2011
não estiveste lá, Alvim: venha o Sócrates e escolha
e o impossível aconteceu (e não, não me refiro ao facto do Alvim conseguir ter em estúdio o Primeiro Ministro, ou um quase-ex Primeiro Ministro, ou o gestor - que está no meio da ponte - da nação, não sei bem o que lhe chamar): quase tudo se perdeu. perdeu-se a oportunidade de conduzir uma conversa interessante com um homem interessante como é o José Sócrates. o Alvim estava nervoso e nem se preparou - apostou no improviso, dificílimo de conseguir, e foi o José quem agarrou no comando (e até aqui ele controlou e não disse se da meo ou da zon) e disse exactamente o que queria. só por isto, por esta exibição de poder, ele já merece ser, não o primeiro, mas o último - o último a sair.
e depois o seu sorriso. José tem um sorriso, rasgado, bonito - um sorriso que rasgou qualquer tentativa de passar a fronteira do que é a graça engraçada da kitschada: mais um ponto, ou mais um voto, a seu favor.
bem visto, e a avaliar pela camisa branco-fraco-tecido do entrevistador, ele, o José, foi um verdadeiro convidado de luxo, sentado num restaurante contemporâneo, a ser servido por um empregado de mesa que não alinhou nem escolheu a ementa. e ficou tudo por conta do apetite do José; e ficou tudo por conta da casa. ora, quando queremos aplicar aquela questão do estou farto de falar de mim, falemos de ti, o que pensas de mim?, não será conveniente fazer o estado da arte daquilo que queremos que quem queremos que diga, diga? pois. e nem com o amor te safaste, Alvim. e nem te safaste quando viste que o José não se estava a safar com o amor. e foi, basica e insufiientemente, isso: não estiveste lá, Alvim. ou não sabes que é preciso amor em tudo o que fazes para ficar tudo feito e não, como ficou, por fazer?
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Ideia IKEA
depois de comer uma pêra há quem se lembre de arrotar. já eu, lembrei-me que um dos grandes benefícios da crise é a optimização da gestão de talentos. bem visto, ao haver uma eliminação de gentes-acessório e valorização das gentes essenciais, as empresas andam a adoptar uma filosofia IKEA.
(não queres agarrar nesta minha ideia, José Ramón Pin, para completar essa tua teoria de gestão de RH?)
(não queres agarrar nesta minha ideia, José Ramón Pin, para completar essa tua teoria de gestão de RH?)
pastichar não, obrigada
acabei de conhecer uma palavra nova. e eu, que tenho olhos que se são e não pasticham, tenho mesmo de dizer uma coisinha: hoje em dia, quem não pasticha não petisca. até se me enrolou a língua, carago.
prisão, canudo
o principal motivo por que a geração (à) rasca escolhe tirar uma licenciatura é o de assegurar, em caso de ter de frequentar um estabelecimento prisional, um tratamento especial.
natureza perfeita
as flores escolhem abrir e fechar e deixar as pétalas cair, em natureza perfeita, porque sabem que o futuro não existe.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
luzes com gentes dentro
são cimentos crescidos de sonhos ou sonhos que em cimento ficam, mas são - são passados presentes de gentes, são luzes com gentes por dentro: são vida a querer viver sem vidas que trazem lamento.
portento
está um pinheiro a crescer no parapeito da minha janela, fruto das sementes dos outros que a ventania arrasta com ela. é, portanto, o meu pinheiro portento.
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