como um abrir e fechar de olhos o tempo, que não fica, vai-se. dias e dias que não podemos parar por o tempo dos outros precisarem do nosso tempo e o nosso tempo não ter tempo para nós. depois a fadiga, essa cabra insatisfeita, chupa o tempo, e o dia, já longe, deita-se para o dia seguinte se erguer. e depois, também o inesperado que descontrola o tempo que sem já sem tempo traz o intemperado, uma espécie de intempérie. e no meio disto do tempo sem tempo, que espero que não dure muito tempo, não sei viver sem tempo, descobri um tesouro: uma relíquia antiga, do tempo em que o tempo se fazia notar nos vestidos e nos chás e nos rendilhados do beber da vida, que agora é minha e só minha e não me canso de olhar nem de usar.
olha para ela tão delicada, tão a ouro talhada e pintada, tão de poesia enlaçada. e agora arranjei mesmo tempo para mostrá-la, cheiinha de vaidade, e fazer um brinde à decisão. decidir é, por vezes, muito difícil - principalmente quando o caminho é escuro, e literalmente escuro, em outro continente. mas eis que uma luz se acende, tal e qual a do candeeiro romântico que serviu de fundo à fotografia da bela relíquia, e mostra bem às claras que o caminho não é, de todo, para passar. caminho posto de lado por evidências irrefutáveis pesquisadas à custa de muita, imensa, teimosia e desconfiança, é hora de tomar um chá na bela relíquia - e brindar à decisão. à decisão certa. que alívio.