fotografar. não é que ele se tivesse mexido - ficou, aliás, bem quietinho a ver-me observá-lo com alegria. se é verdade que sentimos o que vem de nós também o será afirmar que o que vem de nós também nos sente. e ele sentiu-me. sentiu a minha vaidade perante ele, perante a força da natureza que o terá esculpido com tamanha perfeição sem, obviamente, sem pressa. sim porque fazer à pressa o que quer que seja só pode dar em meros esquissos tantas vezes ranhosos. mas como estava a dizer, não é que seja uma amante da perfeição do fora: gosto muito da imperfeição perfeita mas já no que respeita ao dentro...vá...admito...sou perfeccionista. e não é que hoje caguei, sim, eu sei, cagamos todos todos os dias se tudo está a correr bem e há obstipação quando alguma coisa corre mal, mas eu hoje caguei um coiso absolutamente perfeito. gosto de ver o que faço antes de fazê-lo desaparecer e não tenho memória de um coiso assim: liso, homogéneo, inteiro, nem fino nem grosso, exactamente a meio do orifício da retrete, sem ter espirrado resquícios para lado algum, um coiso, como já disse, absolutamente perfeito. e fiquei ali, aí uns dez minutos, a olhá-lo como de não houvesse amanhã, como se tivesse cagado para sempre. foi um momento feliz, de muita alegria, tanta que corri a buscar a minha máquina para registar a evidência da perfeição. e nada, a puta da máquina fechou-se nela, talvez como que em protesto contra a perfeição. sim, eu sei, a esta altura já estará alguém a pensar que sou porca e execrável e blábláblá. e que seja. mas de uma coisa não me podem acusar - a de ser dada a uma perfeita porcaria. e isso fará de mim uma porca perfeita de uma imperfeição tamanha. excelente.