recebemos todos ontem a notícia de que o Senhor António, o empregado do patrão há mais de quarenta anos, cresceram juntos na miséria desse tempo, sofreu um AVC. ficou paralisado do lado direito. depois liguei à Rosinha, costureira e mulher dele, ganhamos amizade neste seis anos em que trabalhava no seu cantinho em frente a nós e ligava-me, e liga-me, amiúde a desabafar. fiquei mesmo triste porque também gosto muito do Senhor António, é muito gentil comigo. e uma vez mais senti a força do universo tão equilibrada e justa. a Rosinha despediu-se da costura em Agosto, foi para casa, precisava desligar-se da costura, disse-me ela, esse trabalho que fazia apenas por necessidade. mas na verdade ela foi para casa para que pudesse agora cuidar do Sr. António e amá-lo porque ele está inválido, ele que há anos deixou de lhe mostrar que a ama talvez porque nunca a amou. mas ela ama-o: nunca precisou dele para pagar contas nem para criar as filhas e, mesmo assim, nunca quis sair do casamento e de uma espécie de amor incestuoso de irmãos. e agora ele será amado sem merecer o amor dela e ela vai amá-lo porque merece amar. é um amor não correspondido entre os dois e apenas cheio de universo justo, justo porque tirando-lhe a destreza física de usar o corpo com outras deu-lhe a oportunidade de apenas receber amor de quem sempre também só o amou assim, as filhas terão sido meras intermitências de duas noites de pila cheia sem cuecas nem calcinhas.
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