às vezes fico a ouvir a chuva e chovo-me, fico triste, inundo-me de dúvidas e nessa altura é quando me sinto sozinha, um grão de poeira insignificante e invisível por entre o dilúvio, sou minha e sou de mim, penso, até ao meu fim, de mim não saio e de mim ninguém me tira. porque só vale viver se me continuar a ser, não por teimosia mas porque assim sinto. e se nunca me cumprir por inteiro, como só me quero cumprir, só quero porque assim sinto e penso, pelo menos sei que assim vivi e morri: aqui jaz quem se cumpriu sem conseguir cumprir-se. quem me dera poder adormecer agora outra vez e acordar no futuro, um futuro com a leveza e o perfume que eu vejo e sinto sem ver, eu rejo e não rejo e só sinto e choro por entre tanto riso, tanto riso bom. às vezes fico cansada e encolhidinha e com o coração que anda sempre inchado a parcerer que vai rebentar. não rebenta, nunca rebenta, tem sempre, e cada vez mais, mais espaço para o mesmo. estou sozinha com este coração inchado. estou sozinha com este coração inchado e vermelho - um coração que é também um cérebro e um clitóris. pode ser que esteja a ficar tolinha. tudo é possível, tudo é possível.
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