não percebo. não percebo como é que não se pode adorar a chuva que me dá um acordar em concerto, pang-peng-ping-pong-pung, tudo cruzado, desliza nas caleiras e faz sapateado nas beiras das varandas enquanto o vento a faz rodar e estalar nos chãos. depois brinca às castanholas, olé, enquanto os pássaros inauguram uma aurora ainda escurinha ao desafio quando o dom galo está prestes a ser o maestro da estreia. depois é ver os carros que adormecem calados todos lavadinhos como se ficassem com lustro eterno enquanto, em filinhas, a água faz um carreiro que lambe a calçada e se entranha na terra que diz, como quem diz, que parece que vai durar um dia inteiro.
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