não sei quando e onde vi, o mais certo é ter sonhado, mas eram duas mulheres e um só homem, todos sexagenários. elas disputavam-no e ele, confuso, não sabia a que escolher (às tantas aquilo que dizem por aí de o amor já não ser para certas idades foi por onde lhe pegaram, ao argumento). depois sei que tinha um sonho: desde cedo, e de sempre, quis abrir um negócio que surgia de ideias estranhas e que nunca conseguiu concretizar. a certa altura, a possibilidade de o fazer - perante uma nova ideia estranha - surgiu e ao mesmo tempo uma delas encheu-se de coragem para lhe pedir namoro, uma espécie de solidão acompanhada a pastichar o amor (afinal o argumento deve ter-se baseado nas tais idades certas, concluo), e ele aceitou. enredo adentro, a família que sempre desprezou as ideias estranhas de tão bizarras não perdeu a oportunidade de, também desta vez, lhe chamar lunático e inconsequente - a recentíssima namorada concordou com o desmancho familiar. e ele, desesperado por tamanha traição, terminou a curta relação. já conformado com a ideia de cafoné e joanetes mimados, correu à procura da outra mulher que estava de partida para lugar incerto, certeza apenas havia da despedida, que lhe espremesse o desgosto. e encontrou-a. perguntou-lhe assim: tenho esta ideia para um negócio, o que te parece? desfeita em lágrimas, pela vontade proibida de o abraçar e pela partida forçada pelo orgulho, ainda assim respondeu: parece-me tão bem que consiga concretizar, pelo menos uma vez na vida, o seu sonho! vá em frente, desejo-lhe sorte, mas agora tenho de ir. e ele ali, naquele instante tão maduro como verde, apaixonou-se por aquela outra mulher. pegou-lhe na mão que acariciou, arrumou-lhe a madeixa cinzenta da testa, bufou-lhe ternura para os olhos e disse-lhe mesmo na altura em que passava na rádio esta, aquela ali em baixo, canção: quer casar comigo?
terça-feira, 22 de outubro de 2013
coisas que aconteceram
a leonor foi à fonte formosa e segura porque ainda não havia água canalizada a preço de petróleo.
(se fosse hoje, ia ao pé coxinho em resquícios de esclerose múltipla)
(se fosse hoje, ia ao pé coxinho em resquícios de esclerose múltipla)
coisas da democracia
nas horas de maior tráfego andam a denunciar os meus conteúdos no FB, o que inibe a publicação e partilha. isto acontece por eu não usar o dito para mostrar o meu penteado novo ou o local onde fui jantar ou se dei uma uma queca. isto acontece precisamente por eu usar o FB para conteúdos que talvez arranhem os democratas mais invejosos - o que faz de mim uma péssima utilizadora que merece ser castigada. e sabotada. continuem.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
cabeça
há poucas coisas felizes que nos passam pela cabeça como a certeza feliz de que é a cabeça que temos de conservar feliz: feliz é a cabeça que não deixa que se convença que o errado e o mau, coisas do fora, desapareça!, não se mete a monte com a lua e com a aurora. e quando em redor tudo afugenta, horror!, renasce a cabeça feliz - a que persiste e aguenta.
sábado, 19 de outubro de 2013
zumbar
que rica ideia a de criarem postos de trabalho pelo zumba: aluga-se um ginásio de uma escola secundária, chamam-se pessoas, muitas, porque a aula de uma hora sai barata e passa-se esse tempo a saltar e a dançar e a ginasticar o corpo. e a gritar. como se a loucura fosse, e também é, isso. depois chega o cansaço e os pensamentos. é a vida.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
cúmulo
austeridade sobre austeridade que se estende a tudo e a quase todos: morte lenta. e a morte lenta é tortura. e a tortura é tormenta. e a tormenta é violência. e a violência é tirania. e a tirania é opressão. e a opressão é abuso. e o abuso é crime. não haver quem cuide dos abusos é o cúmulo da democracia. porque na democracia deverá haver quem cuide da liberdade e do bem estar do povo, não do abuso.
e depois de ler este artigo não posso deixar de o acrescentar aqui.
e depois de ler este artigo não posso deixar de o acrescentar aqui.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
grande puta pudica
a sociedade tem graça: envergonha-se perante quem fala, ou escreve, de pénis e erecções ou vaginas, pilas ou conas, ou peidos ou arrotos e ao mesmo tempo é a que mete a pila em esgotos ou abre as pernas a quaisquer escrotos; é a mesma que arrota em surdina perante a humilhação do irmão ou se peida com altivez, em segredo, perante o vizinho que está no desemprego. a sociedade aprecia uma foda planeada às escuras e despreza a outra genuína às claras. é assim, uma grande puta pudica, a sociedade.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
terça-feira, 15 de outubro de 2013
descoberta
ora esta verdade vai muito bem com esta calamidade. é tudo uma questão de falta de inteligência espontânea.
modas e truques
andar a votos com gente que escreve sobre o óbvio e de forma medíocre é fodido. mas quem disse que a sociedade não é óbvia nem medíocre nem fodida? aguente-se só mais um bocadinho a ver como seguem as modas e os truques.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
como uma partida pode ser, chegada, acrescento
de um dia para o outro muda tudo, ou quase tudo. será caso para dizer que é como se fosse uma partida que a vida nos prega. uma partida. e é - que é sempre uma chegada também.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
fraudes
li uma coisa que fala de embaraço e de vergonha e pensei no embaraço que podemos sentir perante o embaraço dos outros em relação a nós. este até pode ser positivo mas já a vergonha, não. quando nos sentimos envergonhados por alguém que sentimos sentir vergonha de nós, ou do que sente por nós, é péssimo. parece que uma janela se abre diante dos nossos olhos, uma claridade gostosa e sábia, a querer dizer-nos que esse alguém é uma fraude - uma espécie de bicho que assiste ao nosso apedrejamento sem pestanejar apenas para salvar a reputação de, lá está, sentir vergonha por não ser um bloco de gelo, gostar da quentura. e as fraudes, já se sabe, descartam-se.
domingo, 6 de outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
para mim
pelos amigos devemos fazer tudo - até dispormos de três horas a fritar salgados para uma festa surpresa. no fundo, que é também à superfície, a amizade é, isso mesmo, tempo e dedicação quando mais se precisa ainda que fiquemos impregnados e enjoados com o cheiro. é uma espécie de casamento, a amizade: a garantia, sem obrigação e com gosto, de estarmos lá no melhor e no pior e na saúde e na doença e nas festas e nos bastidores das festas. e há sempre recompensa na amizade. há aquele abraço que conforta ou aquele sorriso que rompe o nevoeiro dos dias ou aquele olhar brilhante que ofusca a má sorte; e há momentos inerentes ao que fazemos que nos dão um prazer enorme, imenso, naquilo que é dar de nós. neste caso consegui privar, no meio de quase trezentos salgados para fritar, com uma sanita fora da casa e virada para uma árvore belíssima. há poucos privilégios como poder aliviar as entranhas de porta aberta e de fronte para uma árvore: não é para todos. mas foi para mim.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Capuchinho Vermelho Porno
Já nua puxara, com gana, o cordel da gabardina vermelha e tirara o capuz de cetim - passa a língua nos lábios.
Vá, lobo mau: ontem não fiquei satisfeita...hoje podias comer-me melhor.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Não será a cozinha tradicional o que de mais gourmet podemos fazer?
Gourmet, ou alta cozinha, é um conceito que tem sido explorado, à mesa, como minimalista e ao mesmo tempo com aquela qualidade estranha e diferenciadora no mercado - minimalista porque a comida apresenta-se na exacta quantidade digna da cova de um dente, caríssima e, obviamente, inflacionada aos olhos e à boca.
O segredo do conceito gourmet não está no alimento em si nem na estética da sua apresentação - está naquilo que de nós lhe acrescentamos, na originalidade, que pouco tem que ver com sofisticação inerente às diversas insígnias modernas. Pode um cozido à portuguesa ser gourmet? Pode. E deve. Se retirarmos à tradição - garanto que ela agradece - a orelha do porco e o rabo do boi e a mão da vaca e lhe dermos, à panela, coxas de frango e lombo de vitela em água suavemente aperaltada com sal, loureiro, um dente de alho e muita ternura eu garanto que o paladar e a pouca gordura farão as delícias de todos. E se depois das carnes cozidas aproveitarmos a água para cozer as batatas, as cenouras, os nabos e as hortaliças, acrescentadas com bacon e chouriço, ficará irresistível. Toda esta ternura gourmet ainda chega para o arroz: aproveitar esta calda para fazê-lo é condição absolutamente imprescindível para a perfeição. E a apresentação? Anote aí: na mesa tem de haver flores e ao centro uma taça de barro bem grande para espalhar os petiscos. E depois, depois terá de se convencer que servir é um acto de amor requintadíssimo e sofisticado e à medida de cada boca: do mais gourmet que há. Além do mais o cozido, esta iguaria gourmet, fica bem ali no horizonte do seu cheiro e paladar enquanto o acompanha com uma boa conversa e esgares gulosos. Mas também podia ter falado de uma bela feijoada gourmet - ou de uns rojões elegantes e gostosos. Fica para a próxima, prometo. O importante, ficou agora a saber, é a qualidade daquilo que escolhemos e acrescentamos quando estamos a fazer do cozinhar uma arte que, como qualquer outra, sai de dentro para fora e apresenta-se carregada do melhor - do nosso melhor; o que faz a cozinha gourmet, nunca se esqueça, eu cá só vim lembrar, é sempre e sempre - nunca o legume ou a carne ou ou peixe mais caro e mais maquilhado - você.
(este artigo está escrito ao abrigo da antiga ortografia)
ao fim e ao fundo
li, ainda há pouco, que é melhor decidir o fim do que aguardar que ele nos surpreenda e magoe - que é a mesma coisa que dizer que se deve fugir do fim. coisa tão estruturada, tão racional e estranha. é que por esta ordem de pensamento cabe-nos a todos o suicídio. e, pensando bem, faz da ejaculação precoce o reflexo, em corrida, do medo da dor. estarei, certamente, para alguns, a tergiversar. mas não para todos: há quem goste, tem de haver, e não fuja, de ler até ao fim. ir ao fim é uma maravilha por ser a maneira de se ter a certeza ainda que para chegar ao fim se caminhe por uma estrada de dúvidas. vá-se ao fim. e ao fundo.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
terça-feira, 1 de outubro de 2013
apesar de nunca ter experimentado parece-me muito bem
Hipnoterapia é do que estamos a falar. Surgia assim a hipótese, até então apenas estudada em Psicologia, que viria a revolucionar o mundo da hipnoterapia: se as respostas emocionais obedecem a processos de aprendizagem, talvez fosse possível recorrer a esses processos e aprendizagem para tratar fobias, depressões, ansiedade.
Como pode a hipnoterapia ajudar?
Tentando o recondicionamento, através da apresentação dos estímulos fóbicos, através de guloseimas ou outros estímulos positivos, ou desenvolvimento de atividades positivas, Watson acreditava que o estímulo - resposta do reflexo condicionado - está implicado na génese da fobia. Isso significa que a ansiedade é despertada por um estímulo naturalmente assustador que ocorre associado a um segundo estímulo neutro. Se esses dois estímulos ocorrem juntos, por várias vezes, com o passar do tempo o estímulo neutro adquire por si só a capacidade de causar ansiedade.
Sabemos que as fobias estão interligadas na questão dos chamados transtornos de ansiedade. O indivíduo com medo tem um estado de ansiedade muito acentuado e qualquer coisa que simbolize o objecto da fobia faz com que desencadeie esse medo. O objectivo da hipnoterapia é "remover" o medo subconsciente. Uma técnica comum usada na hipnose é a chamada regressão de memória. Ela tem-se revelado muito eficaz e, no tratamento, o paciente descobre as causas da fobia e o hipnoterapeuta faz uma resinificação do medo, mudando a compreensão e o aspecto de negativo para positivo (tal como Watson referia, anteriormente citado). Assim actua a hipnoterapia.
No final dos anos 40 e na década seguinte, na África do Sul, Wolpe utilizou os estudos de Pavlov e Hull para propor uma generalização da noção fisiológica de inibição recíproca, a partir da qual desenvolveu uma técnica para o tratamento da ansiedade: a dessensibilização sistemática. A técnica de dessensibilização sistemática envolvia inicialmente a exposição do indivíduo a um estímulo descrito pelo mesmo como aliciador de ansiedade, em associação com um estado de relaxamento que deveria inibir essa reacção emocional na presença daquele estímulo. É importante destacar que originalmente essa exposição era feita in vivo, mas posteriormente Wolpe optou por fazê-la através do uso da imaginação: essa "opção terapêutica" de adoptar procedimentos de aparente eficácia prática, em detrimento de uma decisão de ordem teórica ou baseada em evidências de laboratório, não foi uma decisão isolada. A decisão de Wolpe trouxe consequências importantes no que se refere à postura científica do terapeuta comportamental. O enfoque respondente foi predominante na terapia até a década de 50, quando a análise de problemas comportamentais era restrita. A partir daí, os resultados empíricos com o condicionamento operante expandiram o número de técnicas baseadas no novo paradigma de hipnoterapia.
Seguem-se algumas técnicas em que a hipnose, hipnoterapia, é catalisadora de sucesso:
• Prática de relaxamento;
• Treino da imaginação;
• Dessensibilização sistemática com imaginação;
• Imersão in vitro;
• Condicionamento encoberto;
• Técnicas de Auto-controlo;
• Emprego de Imagens;
• Aproximações sucessivas (in vivo e in vitro);
• Auto instruções e estratégias de afrontamento. Emprego da Hipnose para nos recordar que possuímos estratégias para fazer frente aos problemas e facilitar o desenvolvimento de um programa de auto-instruções;
• Treino para a solução de problemas e de outros procedimentos cognitivos (parar o pensamento);
• Terapia Racional Emotiva para substituir as emoções inapropriadas por apropriadas;
• Substituição de hábitos.
A hipnoterapia pode ajudar e aqui fica o contacto de uma especialista:
Isabel Silva/ Psicóloga/ Hipnoterapeuta Clínica
London College of Clinical Hypnosis - Portugal
email: psicohipnotherapy4you@gmail.com
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
movimento parado
há a varanda coberta de vasos e depois os guarda-sol que cobrem as flores do sol e da chuva. há a senhora que descansa as tardes na janela. há o cão vadio que escolheu um sítio para ficar. há o homem bruto que trabalha o campo e a mulher bruta, talvez pela convivência, que com ele lavra a terra e a cama. há a delicada senhora que usa xaile de lã e atravessa, sempre à mesma hora, a rua. há tudo sempre no mesmo lugar, dia após dia, vê quem olhar - vê quem se move no mundo sem sair do lugar.
domingo, 29 de setembro de 2013
asssustar
parece qu'assusta
e assusta
por ser do melhor, o portento
tanto que o verbo assustar
de repente
o bom acontece de repente
leva agora um acrescento
por conta do nós
ai! quem me dera!
asssustar sempre
quero o susto que não é de lamento
e assusta
por ser do melhor, o portento
tanto que o verbo assustar
de repente
o bom acontece de repente
leva agora um acrescento
por conta do nós
ai! quem me dera!
asssustar sempre
quero o susto que não é de lamento
sábado, 28 de setembro de 2013
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
é um Vez sem tempo
É uma vila minhota deslumbrante: Arcos de Valdevez. Situada no Distrito de Viana do Castelo, esta vila possui cerca de 2200 residentes hospitaleiros e felizes - não conheci ninguém infeliz lá, até hoje. A vida, levam-na a sorrir mesmo quando o nevoeiro esconde os caminhos ou a vida faz chorar. Vivem essencialmente da agricultura e produção animal combinadas, vinho, apicultura, comércio e turismo rural - e vivem bem. As casas cheiram a madeira quente e a chouriço e os porcos vivem para fazerem a alegria da matança: uma festa.
Nos Arcos de Valdevez o rio corre tão limpo como não há igual. Considerado um dos mais limpos da Europa, o rio Vez é farto em truta e em beleza e abraçado por pontes medievais que formam arcos ao vê-lo, filho da serra da Peneda-Gerês, passar. E abençoar. A tranquilidade da paisagem verde contagia quem passa e quem quer ficar para comer e pernoitar. O que se come: cozido à minhota, cabritinho mamão da serra, arroz de feijão com posta barrosã, papas de sarrabulho, rojões, lampreia, bacalhau à violeta para acompanhar com vinhos verdes. Ficou com água na boca? Também eu. Mas há mais: pode adoçar o estômago depois de o forrar com iguarias como charutos de ovos, casadinhos, brancos, cavacas, bolo de mel ou rebuçados típicos. Uma delícia de património culinário que pode, de resto, ser fruído nos roteiros gastronómicos que o município dos Arcos de Valdevez organiza aos fins de semana.
Mas ir aos Arcos de Valdevez e não visitar o Soajo, a aldeia dos espigueiros, é como ir ao Porto e não visitar as Caves - ou ir a Lisboa e não ouvir fado. Mas sabe o que é mesmo mesmo bom nos Arcos de Valdevez? A informalidade e jovialidade das gentes. Novos e velhos, por vezes não se distinguem, vivem como se não houvesse - e não há - fossos nas gerações: o pai fala de sexo com a filha e a avó pergunta ao neto se vai chegar tarde porque vai fazê-lo (como curiosidade a expressão que usam para fazer sexo é ir mandar a pêra - há coisa mais natural do que a fruta?), da mesma forma leve com que o marido diz à mulher que está mais gorda, esgar malandro, e esta diz um palavrão que o cala; ou a amiga que a filha leva a casa não é privada do melhor lugar à mesa nem do esfregar do fogão. E tudo está, porque é, bem. Há equilíbrio simples, essa espécie de ruralidade esquecida, nas gentes dos Arcos de Valdevez.
nabiças e bancarrota e incêndio
só quem nunca comprou e guardou no frigorífico nabiças, daquelas de pé pequeno e verde bem escuro, é que não sabe que, se não colocadas em um saco bem fechado, possuem um cheiro de tal forma intenso que penetra em qualquer alimento acondicionado ou não - passa pelas tampas de embalagens e iogurtes, ou manteigas, fechados e até pelas cascas dos ovos - entranha-se para depois se estranhar. e é assim também a doença. há quem desde que acorda até que se deita não páre de ralhar, de bufar como as rolas e roncar como os porcos; há quem, por conta da maleita que é o mau-feitio, apenas consiga falar de dores que não tem, medicamentos que não precisa, consultas necessárias e também impossibilidades de quem não tem culpa e apenas vive em salas de espera. há quem despreze a alegria muito mais do que ama o bem estar. e é por isso que digo que a doença cheira a nabiças e a paciência cheira a bancarrota e os nervos cheiram a incêndio.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
ironia
não vou muito à bola da ironia, nunca fui, principalmente da ironia com ares de graça: é como se visse, e vejo, um palhaço vestido a preceito mas com olhar e expressões de bruxa.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
a prova de que o calão faz falta
ouvia, enquanto lavava a louça, uma conversa ao telefone:
sim, estou melhor, já desinchei.
(esta parte do outro lado da linha só imaginei)
porque já fiz três vezes, hoje.
(...)
sim, já fiz, não estás a perceber?
eu: pai, tens de lhe dizer que já cagaste.
sim, estou melhor, já desinchei.
(esta parte do outro lado da linha só imaginei)
porque já fiz três vezes, hoje.
(...)
sim, já fiz, não estás a perceber?
eu: pai, tens de lhe dizer que já cagaste.
Señor Gostar
Shark em arte
chamou-lhe chegada, sem tardar, sem talvez se lembrar de que na partida é sempre, sempre, ele que fica - ele o Señor Gostar.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
como o povo diz e o Camilo não diz
do coração, tenho a certeza, o meu pai não há-de morrer: pregou-lhe um susto valente, sim, para alertá-lo dos males das cóleras dos nervos e tentar mostrar-lhe que a calma é amiga da vida. e depois, como também é impossível morrer de amores, homem de emoções duras que não se deixa quebrar - porque a única mulher que amou está morta -, a máquina vai conservar-se operacional por conta do amor que recebe e que nem sequer se apercebe. mas será como o povo diz, que há mais marés do que marinheiros, e como o Camilo não diz: é no amor que damos que sabemos o que valemos em nossa consciência.
domingo, 22 de setembro de 2013
pelo verbo
é filha de uma grande amiga que conheci quando ainda era pequenina, dez anos pode não ser muito tempo mas pode-se crescer imenso, no início de vida deles cá em Portugal. são ucranianas e excelentes pessoas. a M. cresceu e foi para Lisboa tirar teatro, há três anos, sei que come todos os dias pão com manteiga e leite ao almoço e ao jantar. mas sei que se alimentam, ela e os pais, ainda mais de esperança por tanto acreditarem no seu talento. já antes não havia mas agora havia ainda menos possibilidades de manter M por lá. a decisão de desistir dos estudos agora serviu como uma luva no argumento de que foi convidada para participar no projecto da so what magazine. excelente? a miúda destapa-se e faz umas poses, talento essencial por explorar, e nem sequer lhe pagam. mas dizem que um dia talvez comecem a pagar. e M. e a mãe, O., acreditam com muita força que vale mesmo a pena ter vinte anos, alimentar-se a pão com manteiga e leite, despir-se e esperar que um dia paguem. fiquei a pensar que mercado de trabalho é este que não ausculta o talento e ainda promove o desalento. mas isto para chegar ao verbo. bem visto, é no verbo que reside a importância de tudo. após começar a ver a M. na tal revista que O. me enviou por via digital, chegou aquele momento em que apareceram letras, alguma coisa para digerir além de lábios e outras carnes em fotoshop, uma entrevista com outra rapariga - a que talvez coma cereais de manhã à noite, não sei - e o estado de choque: o meu. a entrevista começa pelo verbo começar no pretérito perfeito da terra dos broches - sim, porque só pode ser especialista em broches quem não sabe conjugar, sequer escrever, um verbo no passado (começas-te). pergunto-me se será normal, e sim é normalíssimo nas pessoas mais dadas a breves oralidades, esta falta de amor e enorme desprezo pela língua. quero dizer, a conjugação dos verbos diz tudo sobre alguém. alguém que não lê e daí não sabe escrever porque também não consegue pensar é autenticamente brochista especialista: diz umas coisitas leves porque possui um breve pensamento que se vem todo em uma oralidade fugaz.
oxalá a M. continue a acreditar que um dia pagam. mas também que valor tem o dinheiro de alguém que conjuga mal os verbos? é preciso lutar, sim, comer pão com manteiga. mas pelo verbo.
o espelho do mundo
um espelho costuma ter a
capacidade de reflectir a luz e, igualmente, tudo que se apresenta na sua face.
foi sempre assim: até nascer o josué.
face que a face revelas
nos dias com sol e com
luz
mostras as caras do
mundo
que sem mistério seduz
assim é o que sempre
foi
o ver o que já lá está
aguardemos quem lá vem
o mundo verdadeiramente
espelhar
vai nascer o josué
e o mundo vai mudar
a mãe do espelho
rainha e menina da
aldeia
curiosa não havia igual
reinava nos sonhos do
rio
crescia por fora
crescia por dentro
mas não crescia, enfim
vitória não sabia
que longe dos sonhos do
rio
estava já perto do fim
vitória, com apenas treze anos
de idade, tinha uma curiosidade enorme em fazer o que cresceu a ver na
televisão: homens e mulheres enroscados, gemendo, rindo e que depois se
vestiam. aos catorze, a menina percebeu que esquecera alguma coisa (que não via
nos filmes) e pariu. tudo começou naquela tarde quente de verão quando
decidiram dar uma escapadela ao riacho da aldeia para refrescarem todos, cerca
de nove, a pele suada do jogo do “mata” e também a vontade, calada pelo que
as pessoas que passavam na rua impunham, de descoberta.
no seu corpo começavam a
desenhar-se formas: adivinhava-se, com timidez, a nítida diferença da cintura
com a anca; as mamas (ainda em forma de concha) ameaçavam saltar e os
humores sortidos, porém sem caprichos
de mulher artista, já se faziam sentir desde que o seu primeiro sangue
desceu aos onze anos -altura em que igualmente, e pela primeira vez, nadou no
rio.
vitória detestava flores e
árvores e ninguém percebia muito bem o porquê, até porque foi vezes sem
conta apanhada sentada a comer terra, de este desprezo pela natureza viva.
ao invés, deliciava-se – horas a fio – a olhar as pedras e a sobrepô-las até
desabarem. certa vez enquanto se lambuzava com a terra do quintal, foi
surpreendida por um sardão. destemida e determinada, fez questão de o esmagar:
primeiro a cabeça, depois o resto e, por último, arrancou-lhe, para expor ao
sol até ficarem tesos, os olhos.
as brincadeiras nas margens do
rio aumentaram com a chegada da caravana dos ciganos à aldeia, assim como a sua
curiosidade acerca de corpos nus em movimento. de tal forma que vitória
esperava que os pais se deitassem para espreitar e esperar que se embrulhassem,
despidos. foi nesta altura que conheceu o
né e, depois de constatar que para ele isso não era novidade, planeou imitar as
acrobacias que via na televisão e pelo buraco da fechadura.
cheio de cor e de
estofo
com mãos e olhos de
fogo
levava a vida a brincar
saltando de terra em
terra
saltando de menina em
menina
não sabendo que nesta
aldeia
o seu mundo vinha acabar
nesse verão quente chegaram à
aldeia sete carroças ciganas para uma temporada de habilidades artísticas de
canto e de dança. entre os mais jovens: aquele que viria a ser um dos criadores
de josué (entenda-se criador involuntário e sem qualquer pretensão), o né das
tochas por tão agilmente brincar com o fogo.
completara dezassete anos e fora
a maior festa do inverno da última aldeia por onde as caravanas passaram. de
olhos brilhantes e sorriso encoberto habituara-se, desde cedo, a seduzir as
meninas das aldeias (que se encantavam com as suas habilidades) que sempre os
acolhiam com entusiasmo e alegria. durante o tempo em que permaneciam nas
aldeias, todas as noites, decoravam o largo das igrejas com fitas e flores;
cada membro do grupo cantava ou dançava algo diferente a cada dia vestindo
roupas retalhadas que a avó, a mais velha, fazia.
corpulento e desajeitado ensaiava durante a manhã para, durante a tarde, juntar-se às brincadeiras no
rio. quando conheceu vitória percebeu o quanto ela gostava de ouvir as suas
histórias que eram, na sua grande maioria, aumentadas - quer na duração dos episódios, quer nos
pormenores relatados. era o entusiasmo de ela que o fazia exagerar e, por essa
razão, achava que aumentar histórias assim não era pecado: era rebuçado. por falar em rebuçado, as guloseimas
eram a perdição do né. todos os dias teimava em saboreá-las até ficar com dor
de barriga. certa vez comeu tantos rebuçados que lhe soltou o intestino e não
pode brincar com o fogo no espectáculo da noite: serviu-lhe de lição - não fossem as
tochas a sua vida, as meninas das suas mãos. descobriu, com vitória, que
adorava que lhe mexessem na cabeça: ela catava-lhe as lêndeas e os piolhos, senhorios os seus cabelos baços e desgrenhados, e riam muito quando olhavam
para o frasco de vidro para onde os sacudiam. até encher, diziam.
não lhe era indiferente a
quentura das mamas de vitória a desabrochar nas suas costas – cresceu a saber
que quando se tem fome: come-se e quando se sente vontade: fode-se.
a criação do espelho
o fogo e o vento unidos
sem saberem bem porquê
brincaram um pouco
juntos
com o rio
à sua mercê
como estava a dizer, naquela
tarde juntaram-se todos para um banho no riacho e brincadeiras nas margens.
desde o dia em que se viram pela primeira vez, vitória e né, sentiram permissão
para se explorarem: enquanto ele relatava as passagens por outras aldeias, ela
aproveitava para catá-lo das lêndeas e dos piolhos que faziam já parte da
risota de ambos. decidiram, com os olhos - apenas
com os olhos -, afastar-se dos outros e
atravessaram o riacho calcando as pedras, muito devagar, musguentas e
brincalhonas que aguardavam impacientes um pequeno deslize para se poderem
deslocar. era fascinante o poder que a água exercia em vitória: por breves
instantes o mundo parava ali. fixava, séria e atenta, os olhos na água.
seguiam-se as mãos e os pés. deliciava-se a ver o seu reflexo e dizia sempre
que não era ela (o que deixava né confuso e atrapalhado e sem saber o que dizer).
ocorria-lhe apenas chapinhá-la e meter lá a cabeça para depois poder
sacudi-la e gozar com o afogamento dos seus inquilinos do quinto andar.
chegados à outra margem, vitória
(que conhecia o rio como né conhecia o sabor dos rebuçados) assumiu a dianteira
e dirigiu a caminhada para uma clareira onde achou que poderiam ficar longe de
eventuais olhares curiosos e, desta feita, ensaiar o que viria a seguir. ali
ficaram, horas a fio, a aguardar a escuridão da noite e a solidão do rio.
Contou - sem pudor e com frenesim - as aventuras vadias em frente à televisão
e de olho na fechadura da porta do quarto dos seus pais. né, apesar de atento
e empolgado, não sabia bem do que falava aquela rapariga: televisão e portas
eram palavras que não cabiam nas caravanas nem na sua vida sem paredes. ainda
assim ouviu e imaginou e percebeu que a vontade chegava.
o que mais instigava a
curiosidade de vitória eram os barulhos que dizia ouvir quando, escondida,
apreciava as acrobacias. descreveu-os como estranhos e despropositados e, para
né perceber bem o que queria dizer, comparou-os aos emitidos pelos macacos se
aprendessem as vogais. né tinha apenas pensamentos mudos de quem nunca antes tinha parado para pensar nisso.
despiram-se.
vitória estava deliciada a olhar minuciosamente tudo no corpo de né que, por sua vez, comparava as formas de
ela a frutos: as mamas lembravam-lhe pequenos pêssegos de bico arrebitado e
escuro; o sexo – um figo aberto ainda por amadurecer. foi quando lhe ocorreu
perguntar a idade daquele corpo: o mais jovem, e ainda não sabia, o último, que provaria durante toda a sua curta vida.
os olhos da menina-água fugiram
para o sexo, já erecto, do jovem cigano questionando-o se seria aquela cobra, curta e grossa, a entrar
nela. e ele ria, ria tanto que a bicha caía. depois vitória lá pedia para
mexer, e ver o que se escondia por debaixo da densa penugem, e a bicha voltava
a crescer. sussurrando, meia trémula, que
estava a fazer-se tarde e que precisavam fazer o que os tinha levado até ali,
vitória dirigiu-se para o rio onde, em passos lentos, entrou. seguiu-se o
rapaz, excitado apenas pela excitação de ali estar e não, isso é certo, pelo cheiro e pelo (quase) sabor do cesto da fruta fresca.
estavam ambos nus, ambos na água
que lhes cobria a cintura, quando, inesperada e docemente, vitória canta, ao
mesmo tempo que né com brusquidão a penetra, assim:
reflexo meu
reflexo teu
nananananana
onde queria eu chegar
e agora que aqui
estou
vieste para me buscar
reflexo meu
reflexo teu
nananananana
apenas uns instantes e né gemia, as vogais de macaco como dizia vitória, baixinho, baixinho e depois alto, alto
até libertar um berro – que já não era de prazer – de aflição. o esperma que
jorrava não era, como estava habituado, espesso e branco leitoso. era verde e
em quantidade nunca antes percebida: o rio tinha-se transformado num prado a
correr. vitória, que tinha fechado os olhos quando entraram no rio, com o
susto do berro, que já não era de macaco mas antes de leão, abriu os olhos e, igualmente assustada,
correu para a margem puxando o ciganinho né pelo braço.
não conseguiram falar no rio
verde mas prometeram, um ao outro, guardar o episódio com eles até morrerem e
esquecerem o que tinham visto naquela noite em que a lua nem sequer estava cheia e
manhosa.
no chão (ele) e na cama (ela):
adormeceram.
sábado, 21 de setembro de 2013
como se dá uma tareia à febre
banhos gelados ao molhe
até arrepiar o dente
e laranjas com viço espremidas
de deixar o sabor contente
e de manhã
mesmo mesmo ao acordar
beber a brisa d'aurora
imaginá-la como antes de mar
até arrepiar o dente
e laranjas com viço espremidas
de deixar o sabor contente
e de manhã
mesmo mesmo ao acordar
beber a brisa d'aurora
imaginá-la como antes de mar
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Vénus
trago comigo as árvores
as flores e o vento
são como Vénus
a que o tempo endureceu a carne cristalina do desejo
as flores e o vento
são como Vénus
a que o tempo endureceu a carne cristalina do desejo
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Se Pedro Passos Coelho lesse Crosby
Quando, há mais de
dois anos, Pedro
Passos Coelho agarrou a pasta da nação - e aqui convém sublinhar que nação,
muito mais do que um aglomerado de gente, implica consciência nacional - nunca
lhe terá passado pela cabeça ler Crosby, esse grande senhor da excelência, para ser tratado
pelo povo por sua excelência. Haverá orgulho maior, para um povo e para um
governante, ser chamado de sua excelência no sentido literal da palavra?
A esta altura, Pedro
Passos Coelho, ao invés de se insurgir contra aquele que foi,
em início de mandato, um dos seus três melhores amigos, estaria a rejubilar-se de
contentamento pela (sua) excelência. Um dos tesouros que Crosby nos deixou para
ser usado na gestão em particular, e em qualquer assunto em geral, inclusive na
governação de Pedro Passos Coelho antes de ser um valente desgoverno, chama-se matriz de maturidade e foi criada com o objectivo de o
progresso ser possível de ser avaliado e apreciado. (Sim, eu sei, no governo de Pedro
Passos Coelho parece
missão impossível - mas poderia não ter sido, ora veja:)
Pela matriz de
maturidade Crosby estabelece cinco estádios para o progresso global de uma
organização. São eles a incerteza, o despertar, o esclarecimento, a
sabedoria e, finalmente, a certeza que permitem avaliar várias categorias de
actividades tais como compreensão e atitude da gerência com relação à
Qualidade, o "status" da Qualidade na organização, o tratamento de
problemas, o custo da qualidade em relação às vendas, etc. Tivesse Pedro
Passos Coelho sustentado a sua governação nesta matriz e
estaria apto ao progresso, à chamada melhoria contínua do país, como se quer,
através da implementação de catorze fundamentos:
1. Empenho da Direcção
- É necessário o empenho da Direcção, e não falo de empenho em perseguir o governo anterior atribuindo-lhe culpa pelas actuais más e desorientadas escolhas, de modo a que fosse possível uma melhoria efectiva da Qualidade;
- Deve ser difundida uma política de prevenção das falhas - o que Pedro Passos Coelho fez até aqui não foi, precisamente o contrário, remediar, tapando rasgões com bocados de tecido importado, alta costura tingida, da Troika?
- Deve ser desenvolvida uma política da qualidade que refira os requisitos de desempenho individuais necessários para atingir os requisitos do cliente. Está mesmo a ser tido em conta, neste governo, o desempenho - e responsabilidade - de cada ministro?
2. Equipa de Melhoria da
Qualidade
- A equipa é composta por um representante de cada um dos departamentos ou divisões;
- Esse representante é o porta voz do grupo que representa;
- São os responsáveis para que as acções de melhoria propostas sejam levadas a cabo;
- A equipa serve para coordenar as acções de melhoria da qualidade.
Ora aqui está o espelho do
que seria termos um conjunto de ministérios eficientes.
3. Medição da Qualidade
- É necessário medir o estado de qualidade em todas as operações;
- Identifica as áreas onde são necessárias acções correctivas e para onde é necessário dirigir os esforços de melhoria da qualidade; Os resultados da medida, que devem divulgados através de quadros bem visíveis, são a base do programa de melhoria da qualidade;
- A medida aplica-se tanto na produção/serviços como ao número de erros detectados na secção de contabilidade, erros detectados em desenhos técnicos, quantificação de atrasos na expedição, etc.
É precisamente a
monitorização - que detecta falhas, por um lado, e projecta de forma clara os
resultados, transparência, um dos segredos para a eficiência e eficácia da
governação. E aqui, sim, Pedro Passos Coelho, é exigida
austeridade no cumprimento da garantia de qualidade.
4. Avaliação dos Custos da qualidade
- A avaliação dos custos da qualidade (da não qualidade) permite identificar onde se conseguirão obter poupanças pela introdução medidas correctivas ou de programas de melhoria da qualidade;
- Uma avaliação dos custos da qualidade deve ser conduzida por um relator depois de serem inequivocamente definidas as categorias de custos;
- A avaliação estabelece uma medida para o desempenho da gestão.
Ora reconhecer que o rumo
das políticas introduzidas está orientado para o fracasso não seria uma boa
forma da governação de Pedro Passos Coelho entrar no caminho da (sua) excelência?
5. Conhecimento da Qualidade
- Os resultados da avaliação dos custos da não qualidade devem do conhecimento de todos os empregados, incluindo o pessoal administrativo e auxiliar;
- Só o envolvimento de todos possibilita o desenvolvimento de uma atitude positiva para com a qualidade.
A comunicação é essencial.
Por onde tem andado a não ser nas ruas do bombardeamento ao anterior
governante?
6. Acções Correctivas
- As soluções surgem de uma discussão aberta e activa dos problemas;
- Essas discussões levam à identificação e propostas de resolução de problemas, até aí, não identificados;
- Devem ser tomadas medidas para a resolução dos problemas à medida que estes vão surgindo;
- Para os problemas cuja resolução não é imediata, a discussão é remetida para reuniões subsequentes;
- Este processo cria um ambiente propício à identificação e resolução de problemas.
Discussão aberta? Só se for
à entrada do Palácio de Belém, onde Pedro passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva
tomam medidas de resolução que passam, única e exclusivamente, por manutenção
do poder e do sectarismo da direita.
7. Comité ad hoc para o programa de
zero defeitos
- O conceito de "zero
defeitos" deve ser passado a todos os colaboradores de forma clara;
- Todos devem compreender que é
objectivo da empresa atingir este objectivo;
- Este comité dá credibilidade ao programa de
qualidade e demonstra o empenho da gestão de topo.
Como pode um governo, o de Pedro
Passos Coelho, ter um plano zero defeitos de governação quando
aposta repetida e constantemente em - peças defeituosas - recursos humanos com
históricos manchados na vida social e comunitária do país?
8.
Treino dos Supervisores
- Todos os níveis de gestão devem
estar cientes dos passos do programa de melhoria da qualidade;
- Devem receber o treino adequado
para que possam explicar o programa aos seus subordinados;
- Só assim é possível passar a
mensagem desde a gestão de topo até à base.
Será
possível, com tanto entra e sai de ministros, inconstância pela incompetência,
a este governo criar uma mensagem de qualidade que transmita qualidade e
resulte em qualidade?
9. Dia
dos "Zero Defeitos"
- A filosofia de zero defeitos
deve ser do conhecimento de toda a empresa e
- Deve ser marcado um dia dos
"ZERO Defeitos" em que é explicada a todos os funcionários;
- Este dia deve marcar o início de
uma "nova atitude" na empresa;
- A Gestão deve
"acarinhar" este tipo de cultura da qualidade na empresa.
Zero defeitos será aquele momento privado, na vida de Pedro Passos Coelho, quando se olha ao
espelho da casa de banho da sua suite.
10.
Estabelecimento de objectivos
- Todos os empregados, em
conjunção com os seus responsáveis, devem estabelecer objectivos
específicos mensuráveis;
- Os objectivos podem ser a 30, 60
ou 90 dias;
- Este processo leva a que as
pessoas adoptem uma atitude em que tentam atingir os objectivos
estabelecidos.
Os objectivos progressistas que este governo tem
traçado são plenamente ambiciosos e, por isso, exequíveis e concretizáveis
talvez a mais de 3650 dias.
11.
Eliminar as causas de erro
- É solicitado aos empregados que
identifiquem as razões que impeçam que o objectivo de zero defeitos seja
atingido - não são pedidas sugestões mas para listarem os problemas;
- É tarefa do grupo funcional
apropriado a elaboração de procedimentos que permitam a resolução dos
problemas;
- A comunicação de problemas deve
ser feita de modo expedito;
- A existência de confiança mútua
é fundamental para que os grupos trabalhem em conjunto para a resolução
dos problemas.
Quando um país se governa por decisores externos e se
estrutura em um corpo de ministros que tem vindo a revelar-se um erro
ininterrupto, causas é aquela palavra interdita ao próprio erro.
12.
Reconhecimento
- Devem ser premiados os
empregados que atinjam ou ultrapassem os objectivos propostos ou que se
tenham distinguido de qualquer outra forma;
- O prémio não deverá ser baseado
em compensação financeira mas sim em reconhecimento;
- Este sistema de prémio encorajam
a participação de todos nos programas de melhoria da qualidade.
Pedro Passos Coelho premeia
os seus ministros, pela confiança e estímulo, na prossecução dos seus
objectivos fracassados.
13.
Conselhos da Qualidade
- Membros do Concelho de
Administração, chefes de equipa e técnicos envolvidos nos programas da
qualidade devem reunir-se a intervalos regulares de modo a que todos
estejam a par dos progressos;
- Estas reuniões podem (devem)
gerar ideias novas que permitam uma melhoria subsequente da qualidade.
Sem progressos, já se sabe, não existe qualidade – nem reuniões
que valham o tempo.
14.
Repetir o processo
- A melhoria da qualidade é um
processo contínuo;
- O processo deve ser repetido à
medida que a filosofia da qualidade vai sendo impregnada.
A grande, e curta, conclusão: aguarda-se
que um novo governo surja para que se dê início a todo o processo. Sem ser a
brincar. À séria.
o que fazem as febres
acordei convencida de ser domingo, véspera de terça-feira e ressaca de sábado. bem visto, ainda ourada de dias, acabei de ter um delírio semanal.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
drama
as gentes valorizam quem as trata mal. e só querem o que não têm. e só vêem quem não olha para elas. ser gente é uma comédia - e é por isso que há tanto aspirante a drama.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
aperaltada de ficar
da varanda da minha casa via-se a serra a arder, um horizonte de fogo e fumo que durava dias. eram lágrimas as cinzas que iam manchando os beirais. naqueles dias o oxigénio alimentava o fogo mas também a esperança de um novo verde, talvez tivesse nascido aí a coisa da esperança ser verde, e de dias sem olhares queimados. o espectáculo de ver uma serra a arder faz-nos crescer: a ideia de sermos impotentes perante o universo vai-se apoderando de nós sem darmos conta - mas também nos faz minguar, tamanha a frustração de sabermos que entre nós há sempre alguém menor capaz de matar uma árvore. daqui a percebermos que a perda é o outro lado da alegria não é um instante, os instantes podem levar anos, tal como ver novamente o verde em cenário. entretanto moldam-se quereres, instituem-se afazeres, ganham-se e perdem-se bainhas naquilo que é a costura, o corta e cose só surge no mundo dos adultos, de sonhos até chegarmos aqui. sim, aqui, ao agora que já foi futuro e acabou de ser passado. o tempo que passa é um fenómeno codificado pelos deuses, como se de um comboio tgv se tratasse inacessível a quem não lhe presta sabor. já o tempo que fica é uma romântica carruagem que eles, os deuses, fazem questão de aperaltar para quem - como eu - se recusa a ver o tempo passar.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
mixês
10espero também é a vertigem de Kundera: desejo, o de 70r cair seguido de arrependimento. e, dizem as sábias vozes, mais vale 60r tranquilo - ou não é a paciência, verdadeiro 1000agre, a virtude 12´ povinho?
domingo, 15 de setembro de 2013
quando até a dor dói
mais uma amiga, uma filha de Portugal, que se vai - não por escolha mas pela necessidade. é é esta pequena grande nuance, aquilo que é um acrescento e não uma necessidade, que determina o que é do que não é amor. não se vai para outro país por amor à geografia ou biologia das gentes quando foi cá que a árvore cresceu. podemos cortar-lhe os ramos, arrancar-lhe as folhas mas as raízes cá permanecem; é por necessidade que agarramos uma punhada de coragem e a metemos no bolso da saída sem retorno programado; não é amor a necessidade, ainda que involuntariamente voluntária, de abandono.
é a saudade , a ideia do amor, que nos aproxima do amor. e dói. dói tanto que até a dor chora. e é esta a melhor mensagem que posso deixar a este governo: senhores, fizeram, estão a fazer, a dor chorar.
do renal
não tinhas nome
e sempre exististe
antigamente eras
talvez
uma pergunta do vento
não me atingias os rins
hoje
a cada vooe sempre exististe
antigamente eras
talvez
uma pergunta do vento
não me atingias os rins
hoje
arrepias a pele
sábado, 14 de setembro de 2013
escova de dentes romântica
esqueçam lá isso de a contemporaneidade ser o máximo - o máximo é o romantismo do tempo dos reis e das rainhas, os pormenores do quotidiano em que viviam. era tudo pensado às curvinhas e aos rendilhados e escolhidos os materiais pela sua nobreza, não é como agora que se produz, para o dia-a-dia, do mais piroso e barato que há. naqueles tempos as escovas de dentes eram feitas em cabo de marfim com cerdas de pêlo de porco; as porcelanas, todas pintadinhas à mão, eram de dourados gostados. ai que saudades do tempo em que não vivi!
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
um quilo de figos.
têm-me dito, amiúde, que escrevo de forma sensual. é um grande elogio, claro, e por isso decidi partilhar uma partes mais sensíveis e sensuais que há em mim: os intestinos. é verdade. há muito tempo, tinha eu oito anos, ainda as escolas primárias eram todas de perfil centenário e as mesas em madeira maciça e inclinadas, ainda as crianças vinham almoçar a casa e ficavam com a tarde livre para estudar e brincar, ainda não eram precisas mochilas com rodas para transportar o peso dos livros porque o saber - esse - estava dentro da sala de aula e por dentro do professor, nesse tempo, vinha eu a subir a avenida para chegar a casa da tia, por mais que corresse nunca mais veria a mãe, e começou a dar-me daquelas cólicas que que se aguentam não mais do que um minuto. e no minuto seguinte lá estava eu, completamente envergonhada. e cagada. usava uns calções pelo joelho, à toureiro, ao xadrez vermelho e cinzento - lembro com se tivesse sido ontem. e foi. ontem tive a sorte de estar a menos de um minuto de casa, e que sortuda sou por poder correr para o meu pai, e dar liberdades à caganeira. penso que serão os figos, ai os figos!, esses maravilhosos estimulantes da alegria das entranhas e das façanhas. ainda continuam a chamar-lhes cólicas. eu decidi chamar-lhes um quilo de figos.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
descobre as semelhanças
sem querer bater um coro, nem desrespeitar o corão, os burquinis são auênticas réplicas dos fatos de surf. no fundo, que é também à superfície, ambos existem para não meter água - os primeiros impedem o enrugamento da crença e os segundos o enrugamento da pele - que é, bem visto, a mesma coisa.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
arfar
veste-se de fogo
hoje
a lua
em cornos de croissant
talvez a sussurrar temperança
(ou talvez não)
talvez grite com as mãos na cintura
tal e qual vareira em mercado na jornada do pão
às tantas sorri na metade por tapar
ou não é assim quando em fogo
temos a alma a arfar?
hoje
a lua
em cornos de croissant
talvez a sussurrar temperança
(ou talvez não)
talvez grite com as mãos na cintura
tal e qual vareira em mercado na jornada do pão
às tantas sorri na metade por tapar
ou não é assim quando em fogo
temos a alma a arfar?
plagiarism checker ou como o entusiasmo pode crashar
esta ferramenta é um atentado à inteligência - mas só à de quem a tiver, claro. textos e mais textos, entusiasmo, muito, muitas horas a nadar. mas há momentos na vida que o que é mais seguro de se fazer, quando se está no meio do mar, é boiar. nadar não, não pode ser. passaram os meus textos na tal ferramenta, uma espécie de detector de mentiras à inglesa, e dois deles acusaram plágio e todos gramática completamente deficiente. honestidade, inclusive a intelectual, em causa, nadar é impossível. e depois a teimosia, a minha, no impulso de envergonhar a máquina e o acusador: agarrei em textos de gente que escreve gramaticalmente de forma exímia, tal como eu, e os mesmos resultados. e um ou outro plágio também. o que fazer contra um mercado que se rege por ferramentas falhadas e absurdas e que colocam em causa o nosso valor e os nossos valores? boiar. boiar é preciso quando o entusiasmo pode crashar.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
verbo frescar
são tão boas as manhãs frescas como as noites arrepiadas: o calor, esse monótono e monocórdico besunto, só serve para fazer derreter a paciência. não é tão melhor o frescar do que o calorir? e há alguma coisa, do reino das coisas, mais gostosa do que uma manta para frescar o aconchego?
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
é que era
que as palavras soltas se prendem
no meio dos concertos dos grilos
Quando o trabalho se torna em um vício: os trabalhadores compulsivos.
Não é que a família não exista, existe – mas não é uma prioridade. Nem os amigos – a não ser, claro, os colegas de trabalho. E a vida afectiva a dois, essa, resume-se a umas horas contadas, bem contadas, mero indicador de que se tem, e se consegue, tudo. Os trabalhadores compulsivos, vulgos workaholics, andam aí e têm vindo crescer nas últimas décadas, o que se torna um paradoxo em um mundo onde cada vez mais há falta de emprego.
Quem são, afinal, os trabalhólatras?
Os trabalhadores compulsivos pela altura de férias, por exemplo, ficam desnorteados e sem saber o que fazer (o que é o lazer?) simplesmente porque não estão a trabalhar. Mas comecemos pelo princípio. Há vinte anos rompia a globalização, a competitividade roncava entre as nações e as empresas, assim como a necessidade das pessoas demonstrarem – a si próprios e a outros – valor, o máximo de valor. É impossível não referir aqui que, na minha modesta opinião, não é o trabalho que dignifica o Homem mas o Homem que dignifica o trabalho. Salvo raríssimas excepções, o trabalho não passa de uma caixinha de processos minuciosamente controlados e monitorizados, com imputs e outputs - num espaço e num tempo -, devidamente expectáveis. E quando, nessa caixinha, aparece a alegria ou o amor ou o prazer, já não estamos a falar de trabalho. (ainda estou a aguardar que me expliquem em que dimensão é que a alegria, o amor, o prazer são remunerados através de uma folha de salários ou de um recibo verde)
O trabalho faz parte de uma rede social, mesmo enquanto actividade individual, absolutamente necessária apenas para se ter dinheiro, carcanhol, guito, que, por sua vez, alimenta a rede social. e é só isso, e é bom que tenha consciência disso - não é o trabalho que o faz feliz nem o dignifica. Desmonte um dia de trabalho e saque-lhe a tal alegria, o tal amor, o tal prazer (se está difícil, passe para uma semana ou depois para um mês) e verifique lá se nos momentos em que sentiu o trio de que falo, ou alguma parte isolada, não estava a agir enquanto gente ao invés de agente social. É verdade, convença-se: apanhar a carrinha de caixa aberta às cinco da manhã para chegar à obra às nove, debaixo de sol e de chuva, não dignifica ninguém; nem passar um dia inteiro sentado numa cadeira - ainda que ergonómica -, por si só, em frente ao pc; nem prescrever um medicamento, ao ser mais uma ajuda naquela viagem de sonho, sem saber porque verdadeiramente o paciente sofre; nem dar uma aula sem aquele brilho de sabedoria que marca o outro lado. Nem nada. o trabalho não serve para nada quando não passa de um tudo, porque não é só se deixar de respirar que morre: se deixar de trabalhar também. Perdas e ganhos contabilizados, os trabalhadores compulsivos ganham doenças e tristeza perdendo tudo e todos à sua volta. Adiante.
Conhece trabalhadores compulsivos? Conhece alguém assim? Pois, eu também. Vamos chamar-lhe Filipa. A Filipa é casada e tem um filho de três anos. Estão de férias e a cada dia de férias que passa a Filipa está com um ar mais cansado. Estranho? Não: ela pertence ao clã dos trabalhadores compulsivos. Explico. A vida dela é uma verdadeira rotina instalada tendo como ponto de referência o trabalho. Então o que fazer perante tempo livre? Stresse. A Filipa entra em stresse perante a possibilidade de não ter de trabalhar e de não ter um ritmo alucinante e, curiosamente, sofre das mesmas angústias e cansaços como se a trabalhar estivesse: dorme pouco e mal, faz refeições fugazes e com pouco valor nutritivo, é incapaz de se libertar do telemóvel e sente um medo gigante de falhar com o filho e com o marido. Resumindo: a Filipa está de férias e vive impaciente, ansiosa, stressada, intolerante e alheada (confira aqui e aqui) daquelas coisas que dão alegria à vida.
Se tem cura? Tem, claro – bastará que as Filipas, os trabalhadores compulsivos do mundo, queiram ser gente para dignificarem a vida. E o trabalho.
recado a um Joaquim José
80ção! 70s 3passar-me, 10iste: 100 romance nem adianta dizeres 20 ver. 5'um caneco! estamos em 7embro e nada. já sabes, 7 atrasas mais - com menos ficas, 15é.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Acabar de vez, não com o piropo, com a perseguição ao dito
Já muita tinta tem corrido acerca do piropo, assédio verbal em destaque, quando ele, o piropo, não é mais do que um elogio tantas vezes confundido com palavras incómodas – ruído e malina – de cariz sexual e ordinário. Chamam-lhe, agora machismo, atalho de chauvinismo, quando na verdade existe para, neste contexto de homens versus mulheres, marianizar a coisa. Mas o que faz de um piropo um lugar arejado, aquela brisa que pode refrescar um momento ou um dia ou uma memória?
Um piropo para mim, outro piropo para ti…
Olá. Olá. Até um olá pode bem ser um piropo, é verdade. Um piropo é, na realidade uma forma de expressão intensa – intensa porque genuína utilizada mais comummente na oralidade. E na oralidade cabe tudo, a oralidade é rica (tão rica que o Saramago sentiu vontade de colocá-la esticadinha na escrita), e quer-se – neste contexto – de chinelo e areia no pé, descontraída e espontânea. Um piropo pode ser, ou não, pronuncio de conquista – apenas expressão de agrado leve: o que é, senão uma leve expressão de agrado, uma queca ocasional? Ou também, conquista ininterrupta, pode durar uma vida inteira – o piropo pode ser um amor correspondido e vivido nos dias e nas noites. O piropo de um olhar, já pensou? Aquele olhar que mata, ou antes que faz viver, inesperado, cruzado com o seu de forma vadia. Ou simplesmente um bilhete com um número de telefone, ou email, deixado cair da cadeira de uma esplanada qualquer – um piropo é, como já disse, uma forma de expressão sem tempo e espaço definidos porém bem definido como um elogio ao outro se quer. Mas também pode ser um poema: já alguém lhe escreveu um poema cheiinho de metáforas e encruzilhadas para desmontar? Ou apenas de cinco linhas breves e rectas e penetrantes? Pois. Quando é um poema trata-se, garanto, de um piropo em potência – olhe, é um piropo a querer andar de mercedes. Se resulta? Vai-se lá saber…
Um piropo pode fazer rir quando lhe dizem que as suas meloas devem ser sumarentas. Mas também pode fazer chorar se lhe disserem que é bonita demais para sequer ousarem tocar-lhe. Um piropo pode aproximar – se quando apanha o bilhete escrito acaba por ligar – ou fazer fugir, se no bilhete está escrito que um estranho gostava de ter um filho seu.
Já pensou no que seria a vida sem romance? Tudo isto que acabei de dizer é, não se iluda, romance. E poesia – ou não fosse a poesia a beleza do pormenor. E o que é um piropo senão um pormenor e, por isso, poesia, romance? É isso. Agora já sabe que é um romântico mesmo que tenha estado convencidíssimo, até agora, de que isso é coisa de donzelas e de maricas.
Ou vai dizer que nunca piropou?
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