da varanda da minha casa via-se a serra a arder, um horizonte de fogo e fumo que durava dias. eram lágrimas as cinzas que iam manchando os beirais. naqueles dias o oxigénio alimentava o fogo mas também a esperança de um novo verde, talvez tivesse nascido aí a coisa da esperança ser verde, e de dias sem olhares queimados. o espectáculo de ver uma serra a arder faz-nos crescer: a ideia de sermos impotentes perante o universo vai-se apoderando de nós sem darmos conta - mas também nos faz minguar, tamanha a frustração de sabermos que entre nós há sempre alguém menor capaz de matar uma árvore. daqui a percebermos que a perda é o outro lado da alegria não é um instante, os instantes podem levar anos, tal como ver novamente o verde em cenário. entretanto moldam-se quereres, instituem-se afazeres, ganham-se e perdem-se bainhas naquilo que é a costura, o corta e cose só surge no mundo dos adultos, de sonhos até chegarmos aqui. sim, aqui, ao agora que já foi futuro e acabou de ser passado. o tempo que passa é um fenómeno codificado pelos deuses, como se de um comboio tgv se tratasse inacessível a quem não lhe presta sabor. já o tempo que fica é uma romântica carruagem que eles, os deuses, fazem questão de aperaltar para quem - como eu - se recusa a ver o tempo passar.
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