quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Se Pedro Passos Coelho lesse Crosby

Quando, há mais de dois anos, Pedro Passos Coelho agarrou a pasta da nação - e aqui convém sublinhar que nação, muito mais do que um aglomerado de gente, implica consciência nacional - nunca lhe terá passado pela cabeça ler Crosby, esse grande senhor da excelência, para ser tratado pelo povo por sua excelência. Haverá orgulho maior, para um povo e para um governante, ser chamado de sua excelência no sentido literal da palavra?

A esta altura, Pedro Passos Coelho, ao invés de se insurgir contra aquele que foi, em início de mandato, um dos seus três melhores amigos, estaria a rejubilar-se de contentamento pela (sua) excelência. Um dos tesouros que Crosby nos deixou para ser usado na gestão em particular, e em qualquer assunto em geral, inclusive na governação de Pedro Passos Coelho antes de ser um valente desgoverno, chama-se matriz de maturidade e foi criada com o objectivo de o progresso ser possível de ser avaliado e apreciado. (Sim, eu sei, no governo de Pedro Passos Coelho parece missão impossível - mas poderia não ter sido, ora veja:)

Pela matriz de maturidade Crosby estabelece cinco estádios para o progresso global de uma organização. São eles a incerteza, o despertar, o esclarecimento, a sabedoria e, finalmente, a certeza que permitem avaliar várias categorias de actividades tais como compreensão e atitude da gerência com relação à Qualidade, o "status" da Qualidade na organização, o tratamento de problemas, o custo da qualidade em relação às vendas, etc. Tivesse Pedro Passos Coelho sustentado a sua governação nesta matriz e estaria apto ao progresso, à chamada melhoria contínua do país, como se quer, através da implementação de catorze fundamentos:
1. Empenho da Direcção
  • É necessário o empenho da Direcção, e não falo de empenho em perseguir o governo anterior atribuindo-lhe culpa pelas actuais más e desorientadas escolhas, de modo a que fosse possível uma melhoria efectiva da Qualidade;
  • Deve ser difundida uma política de prevenção das falhas - o que Pedro Passos Coelho fez até aqui não foi, precisamente o contrário, remediar, tapando rasgões com bocados de tecido importado, alta costura tingida, da Troika?
  • Deve ser desenvolvida uma política da qualidade que refira os requisitos de desempenho individuais necessários para atingir os requisitos do cliente. Está mesmo a ser tido em conta, neste governo, o desempenho - e responsabilidade - de cada ministro?
2.  Equipa de Melhoria da Qualidade
  • A equipa é composta por um representante de cada um dos departamentos ou divisões;
  • Esse representante é o porta voz do grupo que representa;
  • São os responsáveis para que as acções de melhoria propostas sejam levadas a cabo;
  • A equipa serve para coordenar as acções de melhoria da qualidade.
Ora aqui está o espelho do que seria termos um conjunto de ministérios eficientes.
3. Medição da Qualidade
  • É necessário medir o estado de qualidade em todas as operações;
  • Identifica as áreas onde são necessárias acções correctivas e para onde é necessário dirigir os esforços de melhoria da qualidade; Os resultados da medida, que devem divulgados através de quadros bem visíveis, são a base do programa de melhoria da qualidade;
  • A medida aplica-se tanto na produção/serviços como ao número de erros detectados na secção de contabilidade, erros detectados em desenhos técnicos, quantificação de atrasos na expedição, etc.
É precisamente a monitorização - que detecta falhas, por um lado, e projecta de forma clara os resultados, transparência, um dos segredos para a eficiência e eficácia da governação. E aqui, sim, Pedro Passos Coelho, é exigida austeridade no cumprimento da garantia de qualidade.
4. Avaliação dos Custos da qualidade
  • A avaliação dos custos da qualidade (da não qualidade) permite identificar onde se conseguirão obter poupanças pela introdução medidas correctivas ou de programas de melhoria da qualidade;
  • Uma avaliação dos custos da qualidade deve ser conduzida por um relator depois de serem inequivocamente definidas as categorias de custos;
  • A avaliação estabelece uma medida para o desempenho da gestão.
Ora reconhecer que o rumo das políticas introduzidas está orientado para o fracasso não seria uma boa forma da governação de Pedro Passos Coelho entrar no caminho da (sua) excelência?
5. Conhecimento da Qualidade
  • Os resultados da avaliação dos custos da não qualidade devem do conhecimento de todos os empregados, incluindo o pessoal administrativo e auxiliar;
  • Só o envolvimento de todos possibilita o desenvolvimento de uma atitude positiva para com a qualidade.
A comunicação é essencial. Por onde tem andado a não ser nas ruas do bombardeamento ao anterior governante?
6. Acções Correctivas
  • As soluções surgem de uma discussão aberta e activa dos problemas;
  • Essas discussões levam à identificação e propostas de resolução de problemas, até aí, não identificados;
  • Devem ser tomadas medidas para a resolução dos problemas à medida que estes vão surgindo;
  • Para os problemas cuja resolução não é imediata, a discussão é remetida para reuniões subsequentes;
  • Este processo cria um ambiente propício à identificação e resolução de problemas.
Discussão aberta? Só se for à entrada do Palácio de Belém, onde Pedro passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva tomam medidas de resolução que passam, única e exclusivamente, por manutenção do poder e do sectarismo da direita.
7. Comité ad hoc para o programa de zero defeitos
  • O conceito de "zero defeitos" deve ser passado a todos os colaboradores de forma clara;
  • Todos devem compreender que é objectivo da empresa atingir este objectivo;
  • Este comité dá credibilidade ao programa de qualidade e demonstra o empenho da gestão de topo.
 Como pode um governo, o de Pedro Passos Coelho, ter um plano zero defeitos de governação quando aposta repetida e constantemente em - peças defeituosas - recursos humanos com históricos manchados na vida social e comunitária do país?
8. Treino dos Supervisores
  • Todos os níveis de gestão devem estar cientes dos passos do programa de melhoria da qualidade;
  • Devem receber o treino adequado para que possam explicar o programa aos seus subordinados;
  • Só assim é possível passar a mensagem desde a gestão de topo até à base.
Será possível, com tanto entra e sai de ministros, inconstância pela incompetência, a este governo criar uma mensagem de qualidade que transmita qualidade e resulte em qualidade?
9. Dia dos "Zero Defeitos"
  • A filosofia de zero defeitos deve ser do conhecimento de toda a empresa e
  • Deve ser marcado um dia dos "ZERO Defeitos" em que é explicada a todos os funcionários;
  • Este dia deve marcar o início de uma "nova atitude" na empresa;
  • A Gestão deve "acarinhar" este tipo de cultura da qualidade na empresa.
Zero defeitos será aquele momento privado, na vida de Pedro Passos Coelho, quando se olha ao espelho da casa de banho da sua suite.
10. Estabelecimento de objectivos
  • Todos os empregados, em conjunção com os seus responsáveis, devem estabelecer objectivos específicos mensuráveis;
  • Os objectivos podem ser a 30, 60 ou 90 dias;
  • Este processo leva a que as pessoas adoptem uma atitude em que tentam atingir os objectivos estabelecidos. 
Os objectivos progressistas que este governo tem traçado são plenamente ambiciosos e, por isso, exequíveis e concretizáveis talvez a mais de 3650 dias.
11. Eliminar as causas de erro
  • É solicitado aos empregados que identifiquem as razões que impeçam que o objectivo de zero defeitos seja atingido - não são pedidas sugestões mas para listarem os problemas;
  • É tarefa do grupo funcional apropriado a elaboração de procedimentos que permitam a resolução dos problemas;
  • A comunicação de problemas deve ser feita de modo expedito;
  • A existência de confiança mútua é fundamental para que os grupos trabalhem em conjunto para a resolução dos problemas.
Quando um país se governa por decisores externos e se estrutura em um corpo de ministros que tem vindo a revelar-se um erro ininterrupto, causas é aquela palavra interdita ao próprio erro.
12. Reconhecimento
  • Devem ser premiados os empregados que atinjam ou ultrapassem os objectivos propostos ou que se tenham distinguido de qualquer outra forma;
  • O prémio não deverá ser baseado em compensação financeira mas sim em reconhecimento;
  • Este sistema de prémio encorajam a participação de todos nos programas de melhoria da qualidade.
Pedro Passos Coelho premeia os seus ministros, pela confiança e estímulo, na prossecução dos seus objectivos fracassados.
13. Conselhos da Qualidade
  • Membros do Concelho de Administração, chefes de equipa e técnicos envolvidos nos programas da qualidade devem reunir-se a intervalos regulares de modo a que todos estejam a par dos progressos;
  • Estas reuniões podem (devem) gerar ideias novas que permitam uma melhoria subsequente da qualidade.
Sem progressos, já se sabe, não existe qualidade – nem reuniões que valham o tempo.
14. Repetir o processo
  • A melhoria da qualidade é um processo contínuo;
  • O processo deve ser repetido à medida que a filosofia da qualidade vai sendo impregnada.

 A grande, e curta, conclusão: aguarda-se que um novo governo surja para que se dê início a todo o processo. Sem ser a brincar. À séria.

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