domingo, 12 de fevereiro de 2012

casa-ninho

tenho quatro piriquitos a viver num prédio de cinco andares, em open-space, o que significa que lhes sobra uma assoalhada para vingarem as tolices que lhes passa pela cabeça. e mal a luz do dia rompe de mansinho eles fazem questão de me dizer, da sala onde quentinhos adormecem,: queremos ir para o terraço menina. eu eu arranjo um pretexto qualquer, o mais frequente é pensar que tenho uma bexiga sôfrega por esvaziar, para dar-lhes luz. há já algum tempo que verificava penas adicionais no chão e algum frenesim na terra dos canteiros mas sempre atirei com as culpas para a dona, por direito adquirido por antiguidade e por paixão, da maior fatia do meu coração - a cadela -, visto que a peixa Clotilde em águas compenetrada estaria fora de questão, e hoje constato a injustiça que tenho vindo a cometer: são os resquícios de comida e da harmonia que eles deixam durante um dia inteiro que atraem as pombas para o terraço. e são também elas que com meiguice descontrolada remexem a terra. só não me parece pertinente que comam e caguem logo de seguida, não por ter de limpar, por ser sabido que as suas secreções são pouco ou nada saudáveis a narizes curiosos como o da Dona Cadela Valquíria. posto isto, não posso deixar de dizer em contentamento desmedido que a minha casa é um verdadeiro ninho de amor incondicional.

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