nunca tendo apanhado uma simples(?) reguada na escola, causa-me fervura no sangue quando ouço crianças dizerem que apanharam beliscões nos braços, coques na cabeça, puxões nas orelhas ou estaladas no rosto. mas mais fervura ainda causa-me a indiferença dos pais perante estes abusos. tinha eu doze ou treze anos quando o meu irmão mais novo, na primeira classe, chegou a casa com as orelhas roxas de tanto que foram puxadas pelo professor Costa. e foi nesse, e a partir desse, dia que a tal fervura despoletou. desci a calçada, árvores arrepiadas ao verem-me passar, entrei na sala de aula onde ele ainda estava a arrumar a mala e disse: sou irmã dele e vim dizer-lhe que foi a primeira e última vez que lhe tocou, com maldade ou intenção de castigo, no corpo ou na alma. na verdade, nunca mais o meu irmão se queixou nem apareceu com resquícios de abuso de autoridade. e ainda hoje, se o professor Costa se cruzar comigo lembra-se de mim e das minhas palavras. talvez seja mesmo de pequeninos que se castram os pepinos podres; talvez nesse dia ele tenha aprendido mais sobre ensinar do que durante todos os anos de professorado. e o meu irmão aprendeu a dizer-me sempre quando se sentia infeliz - pela garantia de que nunca lhe mostraria indiferença.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.