o Vicente já abre bem os olhos e sorri e é notório o seu crescimento em duas mãos cheias de dias. isto faz-me pensar no quanto as crianças, enquanto vivem naquele estádio do não falar, são parecidas com os bichos: tudo se apanha pelos olhos e pelo olhar e também pelos grunhidos imperceptíveis à falta de atenção. é como se existisse, e existe, um reino de silêncio onde a coroa estivesse pousada mesmo em cima de uma e outra cabeça da comunicação não verbal. e muito se conversa neste reino. ai as conversas! a narrativa que se desenrola pelos olhos leva-nos longe mesmo quando não saímos dali - dali, daquele espaço e daquele tempo parado e frágil em que qualquer descuido pode ditar o fim da vida. e é isso mesmo que é a vida: uma narrativa de ininterruptos silêncios que é preciso constantemente interpretar; uma narrativa de interpretações que temos mesmo de cuidar.
cuidado, olha bem para, por, mim, aqui há vida.