sábado, 11 de junho de 2022

clarão

 


é de veludo a perfeição

como o sonho

vida na mão

da planta no pé

porcelana minha

clarão

sexta-feira, 10 de junho de 2022

e se Camões pudesse mostrar

 aprendi há muito tempo a não me deixar vencer, a prevalecer em mim independentemente dos malucos que vou encontrando, o mundo é um palco de gente doida, e que pensarão que me podem derrubar. às vezes é duro e difícil: como enfrentar sozinha tantos monstros a quererem cortar-me a cabeça e furar-me o coração? então eu faço como sempre fiz, desligo-me da confusão, bebo-me toda, sei o que mereço: mereço que todas as noites a fadinhas dancem à minha volta e façam um anel de flores para afastar os horrores; mereço o de todos, os melhores e maiores amores, o amorzão; mereço piqueniques e música em grama fresca; mereço beijos e besos e até mereço que o Camões grite por mim em cuecas cheiinho de saudades e que diga ao mundo, coragem sem perder a vista, que se pudesse mostrar trazia a confirmação enroladinha em um pregaminho onde se assoava, de quando em vez, por conta de se emocionar, como estava a dizer, trazia a confirmação de que  eu sou a rainha do reino dos mares e das montanhas e das trevas e do vulcão. 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

o que fala mais alto

 de repente, de repente porque ando sempre a leste das cusquices que envolvem os patrões, fiquei a saber que tinha sido tudo vendido e que agora eramos só nós e o filho que não tardou a aparecer e a fazer-se notar. empreendedor, inteligência afiada, sem papas na língua nem ovos por debaixo dos braços, traçou a linha onde me lambuzei: agora sim, agora vai-se acabar a invasão e os boicotes. sobresforço, mais três meses de sobresforço e a linha começou a declinar, a ficar enrugada e esbatida, chega a notícia, chega a notícia porque a percebi, apreciei-a no ar como faço com as moscas silenciosas que, não se ouvindo, pressinto, fico confusa, fico confusa quando não decifro imediatamente o que não me é explicitamente mostrado, vejo o que está para vir sem ter a certeza absoluta do que está para vir sabendo que está para vir. e é nesse espaço de tempo, enquanto o decifrar se faz sem eu procurar fazê-lo, que o meu corpo vai falando. escuto-o e depois, então, os sinos tocam, chega um carteiro em forma de confirmação, um carteiro que pode ser uma palavra ou um gesto ou uma reacção inesperadamente esperada.

e o que fala mais alto é, afinal, o costume: deixar que ela mande, não se importar, sabendo que estou lá para cuidar e alertar e fazer o dinheiro entrar. estou cansada de não ser cuidada, só de cuidar. até quando deixarei que me usem a trabalhar, e se fizer as malas consigo aguentar o possível deserto que já conheço e que nunca esqueço?

quarta-feira, 8 de junho de 2022

valha-me o riso

 percebi tudinho diferente. onde seria para tentar fazer igual, percebi um desafio de encontrar diferente. será isto que leva os outros a considerarem-me arrogante? estava longe de pensar fazer algo tão difícil, de superar uma coisa que certamente envolve muito tempo e dedicação, e só vi uma espécie de desafio adaptado ao meu cérebro: encontra aqui mais seis como este diferentes destes. então encontrei mais oito mal me pus a observar, a minha alegria de ver bichos e homens e monstros e até uma flor. depois chega a notícia, não era nada disso, tinhas de tentar fazer igual, tentar pensar na lógica para descobrir o que já lá está, menina.

valha-me o riso, o meu querido auto-riso, que me salva, o meu prémio de consolação, vá não fiques triste, viste o que não era para ver e divertiste-te, ficaste feliz e também percebeste que afinal tens sempre de inventar.

terça-feira, 7 de junho de 2022

trenguinha dos canaviais

 às vezes fico muito confusa. teria de ter tempo para ler todos os livros de uma acentada para cruzar tudo com os detalhes das vozes que inventa e da voz-mor que o sustenta. não tenho esse tempo. mas tenho a vontade de não desistir. essa vontade nasceu um dia e continua a nascer, é um mistério, talvez o desejo que também é o amor seja um mistério; tudo recomeçou assim anos depois - o braço de ferro entre ele que se fez desejo como litoral e eu, que nunca deixei o desejo como o interior para chegar, finalmente, ao litoral. quando vi o litoral e os juntei, qual maravilha por inventar, tive a certeza de que tudo estava no certo lugar: o tal lugar que eu sempre vi só porque senti. eu sinto coisas, serão as fadinhas que me vigiam e alentam.

não posso dizer que correu mal. mas de tudo o que já vi, e vou vendo, onde vai buscar tantos corpos digitais, serão nados-mortos?, pergunto-me eu que sou a trenguinha dos canaviais. 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

simplesmente o melhor, breve apontamento

 é o melhor contador de histórias do universo, assim pude perceber quando o li e percebi muito mais e melhor quando o reconheci, quando me mostrou que a história vinha já de longe, do sítio onde só o coração vê ainda que o canal seja a razão. nessa altura, lá longe, eu apenas sentia, pelo que lia, tratar-se de uma mente brilhante, genial, fora do convencional, que se escondia com pesar e apesar, só não sabia porquê, soube depois, quando finalmente me convidou a entrar, a lê-lo de uma assentada sem nunca ter ficado molhada - não pelo ódio - mas sim pela narrativa de amor, aquela brisa incondicional rara que seria o oposto do recebido sem nunca o ter vivido. nessa altura nem me passava pela cabeça ser o mesmo do outono do ano prometido que nunca aconteceu, aquele com quem sempre sonhei e de quem desliguei para o meu bem, depois de conseguir, finalmente, arranjar quem me desse a cana para eu pescar sem, no entanto, poder relaxar. lia tudo, todos os dias, com devoção como se transparente fosse porque transparente me sentia por ser transparente a forma como mostrou que me via e que não me queria.

seguiram-se tempos de problemas e aflições,

cansaços e torturas no emprego da cana para pescar o pão,

e na família onde eu era sempre a mãe e a avó, a escrava e o condão

nem tempo nem vontade de aqui usar a mão. 

como se desistisse de mim, de me contar nestas costas direitinhas que nunca hão-de mudar e que ninguém quer acreditar como são. talvez sejam raras, sim, e custa, por onde passam, serem testadas até à exaustão. nada temo, tudo comprendo.

mas como estava e continuarei a dizer é o melhor contador de histórias, mesmo quando são as histórias dos outros, do universo. 

obrigada, universo, por me dares tréguas e água fresca.


domingo, 5 de junho de 2022

pescadinha de rabo no somítico

 levei-lhe uma fatia de bolo de farinha integral, sem açúcar e sem sal, muito sabor a limão, acabadinho de fazer. talvez quisesse, como sempre quero, fazer-lhe a alegria acontecer por dentro daquelas paredes por caiar, esqueleto frágil que vai cedendo à negritude do pensar, pensar negro talvez seja como um dom. ou então será o início da criação de um ódio de estimação, como nos diz o Per, que terá nascido lá no início enquanto era tenrinha. se calhar ela era tenrinha quando começou a absorver o pecado, ou castigo, será a mesma coisa, do somítico.

estou para aqui nesta solidão, cheia de dores na perna, o reumatismo não me larga, aqui estou abandonada, abandonada não, pelo menos não por mim. já viu como tenho a bochecha inchada por conta do ouvido, estou aqui e trago-lhe bolinho bom para se esquecer da dor. sabe bem que se se distraír não se lembra que dói, essa dor acaba por ser uma invenção tal e qual como a sua solidão. não diga isso que estou nesta solidão, abandonada, não está não, vai ver que no centro de dia tudo será diferente e vou finalmente ter o seu olhar contente cada vez que entrar pela porta. mas eu não quero ir, quero ficar na minha casa e assim não pago um dinheirão.

pois, pescadinha de rabo no somítico, quer ficar na solidão. e ter-me sempre à mão.

sábado, 4 de junho de 2022

quando eu morrer um dia

ou dois ou três

ou todos os dias

vejo-me sempre a viver

deixo-te o meu botão

encarnado e rosado

palpitante e louco

a descompasso de tu

tu tu tu tu tutututututututut tu tu

botão que entra e sai da casinha

delicadamente alinhavada

linha em ponto de ziguezague

branquinha e fininha

como só a casinha do botão pode ser

para o meu botão caber

casinha larga, largueza de ser

porque no meu botão saltitante

que o universo me deu

qual mãe qual pai

cabe lá ele todinho

é o botão de tu mais eu

 

deixa ver se ainda me lembro, querido diário,

 de usar o blogue. inexplicavelmente depois de meter o pão a fazer e a máquina a lavar, depois de ter beijado as flores dele, as flores são de toda a gente mas são só de alguém, de outra forma seriam todas iguais, como estava a dizer, depois de as beijar uma e outra vez até me dizerem para parar, podes largar agora um pedacinho, menina, deixa-nos descansar dessa doçura picante por um instante, não leves a mal, está bem, refilo e ponho-me a andar, inexplicavelmente, como estava a dizer, lembro-me do meu diário de bordo que ficou paradinho entretanto, sei lá, deixou de me apetecer, talvez tenha sido o trabalho do cansaço que não o deixou prevalecer, deixei que quem não me bem quer tapasse o brilho de escrever para ti. 

querido diário,

penso em voltar para os teus braços grandes e quentes depois de tanto tempo longe de mim aqui, não fiques confuso ou fica se te apetecer, talvez a vida lá fora me tenha agarrado pelo cachaço, anda cá sua cadela, agora vais ter o que é bom para a tosse, vais experimentar viver como se nada fosse, vais amargar, vais conhecer gentes distantes de poesia e conversas de tretas e terás muito lixo para limpar, anda, larga disso de contar. e como um novelo de lã, de lá, deixei de parar por cá, ninho meu dos meus dias que me desafias. não te vejo zangar e sorrio por entre uma lágrima que verto e outra que se segura ao ver uma outra pular. vá, está tudo bem, eu estou aqui sempre para ti porque tu és e serás a minha prioridade, o meu amor. ouço e sossego, recebo o abraço e o beijo como só pode ser: com a ternura mais terna de um sim, si, s, 

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

voltar

e se a vida nos enviar um lembrete de que temos de voltar? voltar porque sim; voltar como quem dorme e sempre tem de acordar; voltar por sentir - por deixar de resistir.

voltar como o dia que nasce, sem saudade e sem ansiedade, sempre novo. de novo. voltar.

domingo, 11 de dezembro de 2016

virrer

feliz. feliz com a morte dela que aí vem não tarda. que seja já hoje, queria que fosse mesmo agora mas aguardo que uns sininhos toquem. descobrir a felicidade no meio da tristeza é maravilhoso - descobrir que há vida para além da morte. morre, minha querida, morre depressa em sopro de contramão que não mereces virrer.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ando eu aqui, ai!
por entre as esponjinhas da chuva
a saber de não saber como quem sabe
por que raios e coriscos ser deste jeito
ver a vida como excesso de uva
é mesmo esforçar o dobro para ter a metade

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

ao obscurantismo

e se Camões sonhasse, um dia, com o obscurantismo da humanidade diria assim:

aos amalucados, a glória vã
ai! que pensamentos meus tristes
diz-me tu mar salgado do globo
que és rio doce e qu'existes
prefiro os olhos sós
e as palavras da garganta cortadas
mão, pés, fanados membros,
almas rasgadas
do que viver o que digo como vivido
lá longe na bengala do tempo,
tantae molis erat,
sequer quero pensar
sai má fortuna!, escafede-te!
mata-me a ideia de Trumpar



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

e se me perguntam se quero doçura ou travessura respondo, como só pode ser, travoçura.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Outom

verdes, tantos
, amarelos
rosas, vermelhos, corados
, enfim, marrom.
ai! que engano! de Outono!
quando tinha mesmo de ser Outom

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

os peidos fazem parte da vida

é, por isso, inconcebível viver sem eles. bem visto, os peidos estão para o profano como a fé está para o sagrado: energia invisível em movimento, alívio amiúde, esperança perseverante - e interrupta - em um caminhar melhor.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

vazio

anda sempre tudo ao contrário, pensamento risonho, tudo não e ainda bem, que tudo é o espaço mais vazio que conheço.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

lágrimitas

já não vejo a sua senhora há muito tempo - está melhor? oh! menina! ela nunca mais saiu de casa, anda corcunda, tenho a certeza de que é um tique. mas ela não está doente da coluna? só se for doente para mim, não vejo pingo de amizade, só existe para a besta do filho. às seis da manhã lá está ela a lavar a roupa dele no tanque - e eu, se quero roupa fresca tenho de ser eu a tratar dela. já tenho oitenta anos. e ela não? sim, até tem mais mas se faz tudo ao filho porque não me faz a mim também? a mim, que gastei mais de metade da minha vida com ela, uma mulher sem instrução, eu que tinha tantas fidalgas atrás de mim! menina, montaram-me uma cilada. uma cilada? (espera mais um pouco, Valquíria, já vamos continuar o passeio) sim, menina, sei lá eu se o meu filho é meu ou filho do padre. eram os anos sessenta e eu dei umas voltas com ela. depois apareceu grávida e lá tive de casar. fiz-lhe um favor estes anos todos, ela nunca teve classe para mim. e agora sou eu e a cadelita, tenho de fazer tudo em casa e ela só vive para o marmanjão do filho, o filho que se calhar nem meu é - aquilo é uma besta, menina. ouça, e a senhora não estará, com essas atitudes que me diz que tem, com indícios de demência? mas isso queria eu saber, menina! queria levá-la ao magalhães lemos e interná-la. e depois a besta, que pode ser meu filho ou do padre, que ficasse lá também. tem de ter calma, calma e paciência porque já tem oitenta e a esta altura nem sequer lhe adianta pensar nisso. mas eu não páro de pensar nisso, menina! e se a besta for mesmo filho do padre? precisamente: agora nunca vai saber e já viveu muito mais de metade da sua vida. agora tem de descansar e ficar tranquilo.

as lágrimas que lhe escorriam, teimosas e espevitadas, não eram pela suspeita de não ser pai da besta. as lágrimitas, uma palavra nova meia hispano-dramática que me saiu mesmo agora, para nada de novo, eram, são, o suor da solidão.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

novidade estranha. entranhará?

prometi hoje aos meus colegas de trabalho uma crónica sobre homens e mulheres, vulga guerra dos sexos. decido, entretanto, acrescentar a bonança dos sexos ao mote. mas isso fica para depois porque, em boa verdade, apetece-me discorrer de forma selvagem sobre as guerras do Homem. nem sei bem se faça juízos de valor - não sobre o valor do Bob Dylan - sobre o prémio, o melhor prémio, da literatura. não é de descurar a prosa poética que se trata. trata-se, isso sim, de percebê-la ao milímetro do som. por que raios e coriscos um génio da música, música acrescida de letras - uma espécie de alquimia perfeita por dentro da irreverência, ingerência e (im)pertinência completamente imperfeita - é feito galo da literatura?

percebo. faço por isso. aceito. fico feliz, sim, de ver uma união verdadeiramente perfeita - a das letras com música - ser aclamada. mas precisava de ser assim, a kind of mestre literário, o homem que revolucionou a música lá atrás bem no início da sua já longa vida? o homem não nasceu para escrever, o homem nasceu para criar música, aquela linguagem universal cujas letras apenas acrescentam pitada de magia.

do outro lado lá está ela: a alma das letras que se fazem palavras, a coisa de aquela música sem aquela letra não ser mesmo a mesma coisa. serão todos suspeitos, claro, os que se desgraçam nas letras. voltando à vaca fria: e por que não ofertar um prémio literário a um homem que transpira música quando toda a música tem em si mesma, sem encerrar, uma narrativa? não me parece bem nem mal. antes parece (me), e é, uma novidade estranha que, pelo menos, nos está a dar música.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Vivalder um ano e pico depois

de repente a gana de voltar como se voltar fosse, é é, muito mais do que um verbo, dar a volta e recomeçar. e se o eterno retorno não for mais do que um sereno voltar? a coisa simplificada resume-se ao passar pelas quatro estações, enfrentar a chuva fresca e o sol abrasador e o vento cortante e - que manta de vinil natural! - o nevoeiro. e depois, por dentro da simplicidade, há o complexo mundo das alegrias e das desgraças e das esperanças e das derradeiras dores. é a vida, ouço amiúde, são vidas.

e decide-se voltar a pisar, com a simples naturalidade de Vivaldi, a complexidade do mundo das quatro estações.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

a urina, um carinho

dizem os mais antigos cá na rua que andava por cá há mais de vinte anos. não me lembro dele antes de daqui sair para viver e conheci-o há cerca de três anos e meio quando para aqui regressei. no olhar tinha doce, nos passos a sabedoria de um velho - de um cão velho. seguia-nos para todo o lado mesmo com o tesão já afrouxado e limitava-se a lamber a urina dela. um carinho. e ela, desafiando-o, não o deixava tocar-lhe mas sentia-lhe a falta sempre que dando meia volta ele voltava para trás e não finalizava o passeio connosco. 

na segunda feira adivinhei-lhe a morte quando também ele sabia que ia morrer. vi a puta da morte nos seus olhos e vi-a também no seu desapego pelos humanos e no passear das lembranças enquanto vagueava no campo feliz onde cresceu, virou moço e depois homem e depois velho. disse ao meu pai: o cão está a morrer, tenho a certeza. não acreditou. ontem morreu ainda a manhã ia a meio e já sinto a sua falta. era um silêncio calmo e meigo apesar de distante. era o silêncio de um cão velho. porque os velhos que não são cães não são silêncio bom.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

tanta vez eu penso em ti, Frida, ingenuidade e folclore em bicos de surrealismo que era, afinal, a tua vida real.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

o mistério não está na morte

em uma espécie de universos paralelos, existimos. cruzamo-nos com este e com aquele - aqui ou acolá. depois trocamos palavras ou sorrisos ou silêncios. toleramos ou aguentamos ou resistimos ou fruímos. choramos ou rimos ou não sentimos. isto tudo, tão pouco, para dizer que há sempre outro dia - o dia que aí vem ainda limpinho e sem linhas. porque os dias são sempre em branco por mais que os agendemos no anterior. e isso é, sem dúvida, a maior beleza da vida.

viver é, já não tenho dúvidas - nem dívidas -, sentir os dias envoltos em mistério.

domingo, 21 de junho de 2015

entristece. entristece perceber que perante a escolha acertada em liberdade as pessoas preferem as regras impostas. e isso nota-se claramente em uma simples acção de formação. mas é assim também na vida: o chicote, ai! o chicote!, é o eleito porque simplesmente saber viver em liberdade parece ser difícil. muito. que tristeza.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

cretinos: coisa leve

quer dizer, lemos e lembramos - é também para isso que servem as leituras. levam-nos para longe ou para perto e também para tempos do incerto, o tempo sem tempo carregado de imagens ora nítidas ora que tremem sem descuido. e se a lembrança tem cheiros e cores, a grande maravilha do cérebro, também nos dá o prazer da amargura: prazer porque tê-la é um privilégio e amargura por conta do outro lado do doce sem a qual, a amargura, se torna impossível conhecê-lo. conhecer o doce.

e lembramos. lembramos daquele detalhe que nem sabíamos não ter esquecido. às vezes é um esgar e outras vezes trata-se de um andar. marcou, isso é mais do que certo, quanto mais não seja o chão se se tratou de uma grande patada. e tudo porque acabei de ler um texto sobre crápulas. gostava de lhes chamar cretinos mas, bem visto, os crápulas vão muito mais além e um cretino à beira de um crápula é um menino que canta no coro da igreja da paróquia.

cretinóide, pá, ficas a saber que até te acho piada - leveza em bicos de pé - quando passas bem ao lado de um crápula. .

domingo, 7 de junho de 2015

certeza absoluta

a garganta profunda é já um clássico dos anos setenta que revolucionou a cultura sexual de então. o clitóris da personagem principal situava-se na garganta e, por isso, tenho a certeza de que este espermatozóide aqui em baixo está contra a campanha de exclusão do sexo oral.


sábado, 30 de maio de 2015

e se o ciúme sem doença, picada imprevista de agulha sem dedal, for de roxo paixão? há, ah! se há, mistura, conta de somar, e vão dois, de ternura mais tesão.
e se por entre pingos de esforço, silhueta nobre, se dançarem sonhos que a impossibilidade cobre?

terça-feira, 19 de maio de 2015

esse cara sou eu

a pátria como uma lady laura; o povo preocupado com o que vai contar aos netos acerca das baleia que cruzavam os oceanos; a alegria, além da crise, a buzinar no calhambeque: pi!pi!.
peles arrepiadas e corações erectos, sim, são a prova de que os portugueses não são cornos mansos nem macambúzios e enchem a música de alegria com a alegria que a música lhes diz: esse cara sou eu.
e ignorando o acordo ortográfico, insignificância, Portugal e Brasil mostram que podem ser, cada um em si, um só. quem me dera que o Roberto Carlos me cante, voz de mel e serenidade em bicos de excursos de sabedoria, para sempre.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

será que o pós dia da mãe é o da madrasta? E o da véspera, será o da grávida? se calhar bem, amanhã será o dia da avó.

sábado, 25 de abril de 2015

e se em vez de cravos
usássemos todos
e sempre
rosas imperfeitas ao peito - daquelas que são apenas, não decapitadas, semeadas,
o mundo seria um lugar como eu queria, ai! como queria!,
daquele jeito, jeitinho gostoso,
livre e apaixonado, selvagem e amoroso. a preceito.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

contar azulejos

criatividade, talvez, da ordem católica de clausura monástica, Beneditinos, no século doze, no Mosteiro de Tibães.

obs: terá vindo daqui o famoso cliché do mandar alguém, tal e qual como os monges, contar azulejos...


terça-feira, 21 de abril de 2015

:-(


horizonte

diz o google que faz hoje oitenta e um anos que andamos à procura da serpente do Loch Ness. andamos, ouviste bem. para uns, a serpente é a felicidade metida em um cesto ao estilo cabaz de natal; para outros será o AmOr; há também aqueles que transpiram pelo sucesso no trabalho. de uma coisa eu sei: entre cépticos e crentes não há alguém que escape na procura da serpente - uma serpente que é sempre um monstro, tal o tamanho extraordinário, o tamanho que lhes dá sentido, que ocupa nas nossas vidas.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

o merdas, cognome do ministro da saúde

o serviço nacional de saúde é altamente progressista e espelha o desfasamento do actual ministério da saúde perante a realidade: sim, o ministério assumido pelo ministro que acha normal o amontoar de macas - porque são sofisticadas e moderníssimas e isso arrebata na saúde dos cidadãos - nos corredores dos hospitais. e mesmo que tal sinalize com evidência a falta de capacidade de resposta dos profissionais assim como do próprio sistema em si que se traduz, ou vai traduzindo, naquilo que é uma nação doente, a enfermidade paira no ar, uma espécie de poeira invisível, aerossóis de mau estar político e económico e social.

mas voltando à carga do sistema nacional de saúde, a oferta de um aparelho simpático e funcional para os doentes diabéticos é, à primeira vista, um resquício do tal progresso e modernidade de que o merdas do ministro da saúde gosta e tanto exacerba. mas depois, o espanto é total quando percebemos que a prenda que os idosos recebem só é recarregável através de um computador. saberá o ministro da saúde, vulgo merdas, que uma grande fatia da população idosa em Portugal vive em situação de isolamento e de pobreza? e que não se cumprindo, felizmente, estas duas premissas ainda há famílias sem computador em casa - assim como sem saneamento básico?

segunda-feira, 13 de abril de 2015

por isso mesmo, por não haver nem dia nem hora para beijos, hoje é um bom dia para lhe dares um. carnudo. na rotunda da sua boca. fazias-te ao piso molhado, em voltas, sem cuidado, para ires dar, em escalada irracional descendente, ao tal beco sem saída. percebeste bem: esbarra-te todo.

e logo eu que prefiro coisos


domingo, 12 de abril de 2015

boa, rica, maravilhosa, ideia. ainda por cima com riso


qual acordo qual caralhos? despir a antiga ortografia é de uma alienação mental atroz. e depois é ver as palavras decapitadas a esvaírem-se em sangue, escoadas coxas e manetas, ora sem letras - ora sem acentos. bem visto, o novo acordo ortográfico é uma espécie de sociopatia que merece um aviso: cuidado com o que pensa, com o que diz e com o que escreve, os sociopatas andam aí com rede.

quarta-feira, 25 de março de 2015

anos, e ânus, tric-tric

ilustrados

para sempre fica. HH


(...)Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.

sexta-feira, 20 de março de 2015

a sustentável leveza de ser feliz


e à meia luz, em uma espécie de convite ao romance, a lua decidiu envergonhar o sol que resta timidamente corado no primeiro dia da Primavera. eclipsar é preciso - diz ela. ela a natureza.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Balanço do branco na fotografia


Falar do balanço do branco na fotografia é pensar em um mundo tão vasto quanto a existência e nos paradigmas que, mudando, chegaram à nossa era – a era da fotografia digital que, indubitável e irreversivelmente ampliou o domínio da fotografia.

Nas fotografias andamos à procura da emoção e da animosidade. Curiosamente, há uma trilogia imprescindível nas fotografias desde sempre. Há o assunto, há o interessado no assunto e depois os olhos sobre a mistura do assunto com o interesse: uma significância repleta de branco. E de preto. Bem doseados.

A fotografia nasceu a preto e branco, não esqueçamos, e terá sido, neste contexto de mudança que se aperfeiçoaram técnicas e tecnologias que minimizaram custos, reduziram etapas, aceleraram processos e facilitaram tanto a manipulação como o armazenamento e a reconstrução das imagens. Tudo envolto em um silêncio que fala, que conta, que comunica e que estabelece a ponte da memória com a emoção.

Preto sobre branco – assim tudo começou antes das tonalidades actuais que nos oferecem as imagens coloridas da realidade. Mas terá a fotografia colorida o mesmo alcance dinâmico do que as pioneiras a preto e branco?

Balanço do branco na fotografia, uma questão de caça aos detalhes

Uma câmara fotográfica, todos o sabemos de uma forma mais ou menos leiga, capta uma faixa de luminância que mais não é do que o tal alcance dinâmico. O ideal será, pois, agarrar os detalhes e as subtilezas do ambiente que se pretende captar doseando o preto e o branco. Acabamos, mesmo agora, caso não tenha dado por isso, de dar a definição de uma boa câmara fotográfica e também do que será tirar uma boa fotografia…

Tudo se resume, bem visto, à utilização da luz e da sombra – uma espécie de filigrana – que se reflecte, pelo olhar, nos olhos. E independentemente da tecnologia utilizada quer nas mais recentes fotografias coloridas, quer nas tradicionais e apaixonantes a preto e branco será o alcance dinâmico que permite criar – e recriar – os mais artísticos efeitos estéticos que passam, agora já não temos dúvidas, pelo balanço também do branco na fotografia. Porque o branco faz toda a diferença.

Uma dose certa de branco na memória: não, não há paradoxo

São as fotografias que tantas vezes nos aquecem a memória – trazem-nos tanto os presentes como os ausentes. Com as fotografias perpetuamos instantes sempre com a dose certa de branco, e de preto, para que não escapem nem os detalhes nem a proximidade que queremos manter e conservar.


Há uma espécie de prolongamento da vida na imagem que queremos ver a ficar. Sublimada. E a imagem que fica, a memória, liga o presente ao passado e ao futuro. Nada fica em branco quando o balanço do branco na fotografia é o ideal: não há paradoxo, portanto, naquele salto que é o momento em que a realidade é captada e o presente de contemplação da imagem, aquela maravilha – espécie de milagre - de unir o antes com o agora e o depois com a dose certa de prazer. E de branco.


Bela Paisagem de Branco Caiada: Expedições ao Árctico

Bela Paisagem de Branco Caiada: Expedições ao Árctico

domingo, 15 de fevereiro de 2015

há coisas do caraças. se olharmos para o ponto vermelho que está no nariz da rapariga durante meio minuto e logo de seguida olharmos para um tecto ou uma parede branca - conseguimos vê-la na perfeição e a cores. ah!


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

então, byte byte coração

ja não está a escaldar, porque tem uns dias, mas quentinha fica sempre que sai. e depois é ver, entre tanta paisagem, como bytar é fazer bater o coração pela arte criativa - uma forma de mostrar o amor. o amor pela arte.
não sermos entendidos naquilo que é a nossa mais fiel forma de vermos, pensarmos e sentirmos o mundo é das piores fatalidades que existe. porque é como se não existíssemos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

em uma ilha absolutamente deserta, antes a internet era uma espécie de fogueira onde sozinha me sentava a contar os sonhos. agora já nem isso é.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

parei a riso, montes de riso, quando a escrever sobre luas-de-mel dei por mim a ter um monólogo completamente reaccionário. a conversa já ia na invenção do mercado, completamente o contrário de onde terá surgido o cliché, sim porque a lua-de-mel é um cliché, debaixo das luas no mês e a beber mel era como ficavam os casais recém casados e escondidinhos do mundo na Roma Antiga. e eu acredito muito em luas-de-mel, ai se acredito!, mas a tempo inteiro sem que a inteirice não exclua o fel e com ele saiba bem estar.

e depois do riso, ora assim a agência de viagem em vez de vender viagens passaria a vender a ideia de antítese, pensei seriamente no quanto um bom copywriter tem também de ser um bom actor de ideias. e lá fiz um texto coberto de luas e de mel, à moda antiga romana, porém com uma nuance completamente actual: um destino que, fora da Europa, talvez seja um bom local para fazer crescer a família. uma pitada de emigração misturada com lua de mel será uma inovação regada a doce. falar de falsos casais e de falsos tesões e de falsas sociedades é que não podia ser...porque o que faz vender viagens é, não a realidade lunar, a ilusão.


sábado, 31 de janeiro de 2015

pensando bem é mesmo isto que saiu da boca do coração: os pêlos púbicos são os aperaltes das claves de sol dos homens e das mulheres. vivam os pêlos púbicos!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

sábado, 24 de janeiro de 2015

por extenso, em rendinhas nos olhos, o intenso




isto é literalmente a lógica da batata - e da contraproducência. é uma dica de sobrevivência que dá vontade de rir: o rapaz leva uma batata e um ovo para o monte mas esquece-se do tacho e, ainda assim, acha que mata a fome com o truque depois de demorar, entre os preparos e a confecção da delícia minguada, mais de meia hora.


terça-feira, 20 de janeiro de 2015