quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
não resignar cansa
não sou de me resignar, nunca fui. mas diz-se, por aí, que aceitar o que nos acontece é bom e que será o primeiro passo para reverter, para ultrapassar. aceitar que o mau em aceitação é uma literal tradução do bom por vir, apenas por vir por aceitação do mau, não me faz grande sentido. mas fará, alguma vez, o que é mau, sentido além de ser profundamente sentido? hoje acordei confusa. e com fuso horário também. às 18h já estou a morrer de sono e às 5h começa a dar-me comichão para os cornos se levantarem da palha. há uns dias que é assim. penso que será cansaço de lutar tanto conta a tal resignação.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
ai mamma Mia, que Couto de beleza!
o que o anima, ao Mia Couto, enquanto escritor, é ensinar a sua escrita a dançar, dar ancas às consoantes, devolver seios às vogais e, enfim, reinventar sensualidades que foram sendo roubadas pela cega obediência às normas da gramática.
a miséria dos filhos que herdam dos pais
nunca precisei de provas científicas para ter a certeza disto. mas já que as há, melhor:
Susan Greenfield, cientista da universidade de Oxford, garante que "o uso excessivo da net provoca alterações no cérebro das crianças e adolescentes: não compreendem a linguagem corporal nem o tom de voz com que uma pessoa diz alguma coisa."
o mesmo se aplica ao uso dos videojogos. ou seja, faz falta a bola ou a corda ou o pião; faz falta a cultura da conversa e do livro; faz falta pais que em vez de estarem com os filhos estão na net. que miséria.
domingo, 28 de outubro de 2012
80ção: menu domingo gordo, por favor.
nunca mais fiquei em hotéis. há uns doze anos que não piso um hotel. por um lado não será um bom sinal por querer dizer que nunca mais fiz férias afastada de casa. mas por outro, é uma excelente notícia - em jeito de balanço - para mim: significa que, por não me sentir bem com companhias que não sejam excelentes, nunca me rendi - sequer vacilei - a fracas companhias. talvez há dez anos tive, em trabalho, de pernoitar em uma estalagem em Castelo Branco, na altura faziamos um trabalho para a REFER, e foi um grande sacrifício porque o Mário, na altura o meu patrão, uma empresa unipessoal, que ficou no quarto ao lado do meu, começou a dar batidinhas na parede como se em código para saltar para a minha cama. assustada com a repetição durante uma boa parte da noite com o tal código, o que fiz foi ignorar ao mesmo tempo que descarreguei o autoclismo vezes sem conta até ele perceber onde eu queria que ele fosse. e nem o pequeno almoço tomei na manhã seguinte por ter a certeza que a comida a ser comida na mesma mesa que ele e a olhar para ele me saberia a escroto. depois disso despedi-me, claro está, pela falta de confiança que nessa noite me tomou toda.
a verdade é que a única coisa que eu gosto em um hotel é o pequeno almoço. simulo muitas vezes em casa mas não sabe à mesma coisa. de qualquer modo não desisto porque logo pela manhã, uma ou outra vez, fazer diferente faz toda a diferença em um dia, em uma semana, em um mês. agora sei de um sítio onde tenho a certezinha que, não sendo hotel, sendo a 80ção, um pequeno almoço de hotel ao domingo faria as minhas delícias: ovos estrelados, regueifa para rebentar o sol do ovo e fazer a sande final em castelo como eu gosto, bacon, queijo, fiambre, bolo de chocolate, cevada, sumo de laranja. seria, assim, uma espécie de domingo gordo a começar pela manhã. porque os momentos felizes, a felicidade, são gordos.
sábado, 27 de outubro de 2012
ficar
fechados em seu tempo ao sol
e no sol que é uma flor
nuvens por cima e por debaixo
brisas fininhas em redor.
não são gentes, não,
qu'as gentes gostam do tempo a passar
são o gosto por detrás do gostar
que amam o tempo do ver com olhar
que gostam de ver o tempo a ficar
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
to bee, too be
a propósito de um episódio de ontem: to bee or not to bee chega para pensar na questão. e depois, está bem, a abelha foi-se mas ficou aquele brilho nos olhos que é único e nunca vi outro igual. ai que par de brilhos! ai que focos de luz como se fossem, e são, faróis em noite de nevoeiro! ai, arquitecto do too be, que olhar!
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
cuidado: aqui há vida
o Vicente já abre bem os olhos e sorri e é notório o seu crescimento em duas mãos cheias de dias. isto faz-me pensar no quanto as crianças, enquanto vivem naquele estádio do não falar, são parecidas com os bichos: tudo se apanha pelos olhos e pelo olhar e também pelos grunhidos imperceptíveis à falta de atenção. é como se existisse, e existe, um reino de silêncio onde a coroa estivesse pousada mesmo em cima de uma e outra cabeça da comunicação não verbal. e muito se conversa neste reino. ai as conversas! a narrativa que se desenrola pelos olhos leva-nos longe mesmo quando não saímos dali - dali, daquele espaço e daquele tempo parado e frágil em que qualquer descuido pode ditar o fim da vida. e é isso mesmo que é a vida: uma narrativa de ininterruptos silêncios que é preciso constantemente interpretar; uma narrativa de interpretações que temos mesmo de cuidar.
cuidado, olha bem para, por, mim, aqui há vida.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
aghá
que coisa curiosa. já no século dezasseis Fernão de oliveira dizia que só se deveriam escrever as letras que se pronunciam. esta função diacrítica da língua, ela é dos que a falam e não tem dono, constitui o maior argumento do arquitecto do acordo ortográfico no Brasil Evanildo Bechara.
as letras são tão bonitas. e a letra muda h é lindíssima. só de imaginar as crianças do primeiro ciclo a desconhecerem como se desenha a letra h parte-se-me o coração.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
o único soutien, sutiã é piroso que dói, que me convence
tenho a certeza absoluta de que se há cem anos, quando a Mary Jacobs trouxe esta invenção para as mamas ao mundo, eu andasse nascida e crescida e de mamas empinadas teria a mesma aversão aos soutiens como tenho hoje. falem-me em beleza ou em sedução do seu poder - mas não me venham com tretas de conforto e maravilhas de oposição à lei da gravidade. o soutien é a coisinha mais desconfortável - para quem tem realmente mamas que definem a silhueta - que há. obviamente que será um mimo bem grande para quem o usa apenas para as encher e apertar ou, pelo contrário, excesso em preocupação, para fazê-las encolher. poderá um homem, para ter uma leve ideia do que falo, imaginar-se com um nos testículos, por favor? toda a sensação de liberdade e de agilidade e exotismo desaparece. tenho, pois, obviamente, de usar em algumas situações mas evito sempre que posso e continuo solidária com a lei da gravidade em pleno: desiluda-se quem pensa que, por usar de dia e até de noite!, o soutien impede ou diminui a quebra da mama. isto que acabei agora de dizer é mais uma manobra de marketing, pois claro, para tornar imprescindível o uso deste colete de forças mamário. querem ver: será por isso que vemos tanta mulher frustrada por aí?, por não perceber da violência que atenta contra as suas próprias mamas?
bom, adiante, este é, de facto, o único soutien - por ser de diagnóstico e de uso de pouca duração - que me convence.
(talvez por ser o único que é inteligente)
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
romance versus lance
enquanto a culinária se ocupa pela confecção dos alimentos, a gastronomia vai bem mais longe e abrange não só a culinária como as bebidas, os materiais usados na alimentação - e respectiva apresentação final - e todos os aspectos culturais associados como o vestuário, a música, a dança. vem daqui a diferença entre um cozinheiro e um chef gourmet (conheço um excelente, penso com os meus botões. botões não, homessa, que estou a usar um fecho. recomendo, pois, a gastronomia do Chef PTorres). e o que possuem ambos irrefutavelmente em comum? o prazer pela comida e o prazer de proporcionar prazer com a comida.
cozinhar é, de facto, uma arte e toda a arte que se preza vem de dentro: a diferença, por exemplo, entre um arroz de pato amado e um outro mal amado reside no sabor e na apresentação da travessa. o arroz de pato amado é, como deve ser, comido pelos olhos e depois pela boca e quando está a fazer o quilo faz arrotar em verso e com cheiro a maçã verde. o mal amado, o arroz de pato que foi pulsão da pressa e da necessidade, é um arroz triste e, por isso, desenxabido e de ocasião - é um lance que nada tem que ver com o amor com que foi feito e feito, do pato, romance.
os animais são nossos amigos
até esta cobra venenosa é amiga do Homem. é, no fundo, igual, na sua natureza, ao Homem: primeiro mata e depois lá se vai à procura de resquícios de bondade. e encontra-se.
domingo, 21 de outubro de 2012
balanço positivo
aceitei, finalmente, o convite deles para uma saída ao sábado à noite. sabe bem sair com gente gira, com gira quero dizer interessante, para sítios giros - com gente que sai, não para se alienar em álcool nem para engates, para partilhar alegria e experiências com conversas e riso: faz bem.
concluo, agora, que talvez aceite mais vezes os convites. afinal, ao convidarem-me, têm muito bom gosto - assim como eu também tenho bom gosto, descobri no decorrer da noite, em sair com eles. balanço positivo.
sábado, 20 de outubro de 2012
patriotismo: força p(o)ortugueses
paradoxalmente é perante a escassez que se revela a abundância e o poortuguês, fazendo jus ao que é ser de facto rico, está mais solidário do que nunca. nunca vi tanta caridade e tanta vontade de entreajuda por cá. o poortuguês, que está sem trabalho ou que tem um salário miserável, é aquele que acrescenta mais arroz à calda e onde come um comem mais dois ou três. o poortuguês é aquele que arregaça as mangas e sai para a rua, debaixo de frio e de chuva, para levar pão e leite aos sem abrigo - donativos da padaria e da mercearia que estão esganados de impostos. o poortuguês é o que continua a fazer o assadinho dominical para reunir a família quando durante toda a semana come sopa. o poortuguês é o que vive na conta perfeita que deus fez - e o governo desfaz - e faz, bem visto, das tripas coração não fosse aí, no coração, onde está a verdadeira riqueza.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
era, e é, eros
tive um sonho erótico. tive um sonho poético.
o que distingue os sonhos de olhos fechados dos de olhos abertos não é, veracidade posta em causa fora de questão, a realidade. o que distingue a realidade dos sonhos do sono com os sonhos da vigília é o absoluto, espontaneidade desenfreada, não controlo da história. e acordei com o motor fragilmente tão forte a bombar: tutu-tutu-tutu-tutu-tutu; as águas rebentadas fizeram-se, até ainda há pouco, notar - assim como o inchaço das frutas como se de tão duramente maduras quisessem, e quiseram, e querem, também rebentar. os pêlos, como se a assistirem ao mais bonito bailado dos dois bailarinos (v)(d)estidos a rigor, bateram palmas erguidos de emoção como se fossem, e são, os mais fiéis observadores da vida da pele. e assim a vida nos tocou como se em dança de poesia comum. porque a intimidade que transpira na pele é poesia - a poesia, a beleza, que por detrás dos olhos se vai processando até sentir desejo incontrolável de sair.
(e lá estava a baguete com queijo derretido e oregãos. mas como era, e foi, para mim, para nós, tinha também azeitonas pretas gordas sem caroço e partidas às tirinhas e um pouco de pimenta a pintar-lhes as sardas - porque para mim, para nós, tudo tem de ser, e é, diferente. e melhor.)
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
as raízes e a garrafa
que ideia, e iniciativa, tão gira esta. daqui a cem anos abre-se, e descobre-se, a memória por quem a encontrar e de quem já não se encontra. gostava de ter participado com uma longa carta sobre este tempo que chegará a outro tempo através do tempo, uma carta de rir e de chorar, uma carta só para lembrar. e talvez ainda vá a tempo, vai-se sempre a tempo do nosso tempo, vou escrevê-la e e metê-la dentro de uma garrafa e enterrá-la bem fundo, as raízes são fundas, junto da minha árvore preferida aqui bem perto de mim. está decidido.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
não quero saber porque foi espontânea
ainda não tinha sentido hoje o bichinho de escrever a picar-me. regra geral começa logo de manhã, ainda eu estou a esticar-me toda na cama, pica aqui-pica acolá, comichão gostosa. chegou agora, sei bem porquê, depois de espontaneamente ter feito uma coisa com a mão, mão que desobedeceu ao cérebro e só ouviu a vontade. não sei bem se castigo a mão, a minha, ou se a beijo cheia de meiguice - com a mesma meiguice com que ela, rebeldia em bicos de dedos, se manifestou. julgo que não, não vou castigá-la. e não vou porque o meio olhar, que nem sequer foi inteiro, já me (a) castigou.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
amanhã: resiliência again.
nunca mais esqueci uma passagem, uma conversa de vão de escadas, da série o sexo e a cidade por ser, não particularmente interessante, um argumento que adorei sempre contestar com as minhas amigas - revirar-lhes as tripas do invisível do avesso, vê-las espumarem-se a favor do óbvio:
se não te liga nem convida para sair: não está interessado.
hoje lembrei-me disso pelo que ela me disse, tristeza na voz, ainda agora, ao telefone. talvez, não por estar a chover, por estar a chover-me toda, resolvi tomar partido do óbvio que chega a ser absurdamente estúpido de tão óbvio, e assenti: se não te liga nem convida para sair, não está interessado.
(amanhã é outro dia e com toda a certeza vou ligar-lhe, revirar-lhe as tripas do invisível e ouvi-la a espumar-se toda a favor do óbvio: quis sossegar-te, ser solidária contigo, dir-lhe-ei, mas hoje é outro dia - dia de resiliência.)
os nomes também servem para isto: vá-se foder Ricardo
dez menos cinco e não enconto o número da porta. ligo para o número fixo de onde me ligaram a marcar a entrevista - que não corresponde ao indicativo da localidade. atendem. descrevem o prédio como sendo salmão e com uma caixa de areia em frente - continuo a andar aos papéis porque o prédio é, efectivamente, castanho e na frente há um círculo em terra batida no meio do jardim. dez horas. dez e dez. dez e um quarto. dez e vinte. dez e vinte e cinco. chega um homem alto, moreno, remelado, e com aspecto de escarradela a pedal saído de um audi tt (é mesmo verdade que as primeiras impressões raramente nos enganam). passa por mim - que estou mesmo à porta -, mede-me ao centrímetro, e não dá, nem com o cu nem com a boca, sinal de vida. abre, com a tranquilidade de um governante roto, a porta e os estores. eu: continuo fora a aguardar mais uns segundos e a observá-lo. os nervos, os meus, começam a indiciar agitação. acalmo-os e decido entrar. bom dia, a chuva tem destas coisas e gera atrasos - não é? o meu nome é Olinda e tenho uma entrevista agendada hoje para as dez horas. sem me cumprimentar e me acolher, manda-me aguardar e dá-me uma ficha para a mão. pergunto-lhe para que serve a ficha e porque não me dá uma explicação para o atraso. diz-me que a ficha é para eu preencher e que a entrevista está marcada para as onze menos vinte e cinco. digo-lhe que não, que foi agendada para as dez. sem olhar para mim, diz-me que devo estar a mentir porque no pc não há essa indicação. peço-lhe para esclarecer junto da senhora que me ligou. diz-me que não precisa porque sabe que o erro foi meu. pergunto-lhe o nome e não me diz. pergunto-lhe qual é exactamente a função e não me diz. pergunto-lhe onde fica o escritório de onde me marcaram a entrevista e não me diz. chamo-lhe atrasado mental - não pela deficiência em si mas pela limitação óbvia de não poder estar atrás de um balcão a lidar com pessoas. pergunto-lhe novamente o nome e, já sem aquela tranquilidade de fedor a mofo, diz que me diz na condição de eu lhe dizer para que quero o seu nome. rasgo a ficha bem à frente dele e digo-lhe que sou muito bem educada e faço, por isso, questão de saber o nome a quem quero mandar foder. e digo-lhe: vá-se foder Ricardo. e saio, nervos lisos, orgulhosa - como sempre - por não me deixar corromper perante as vicissitudes da vida.
estará ainda por nascer quem julgue que me faz abdicar, o meu tesouro, dos meus valores e das linhas com que me coso.
repara como o sono repara
e depois existe o sono reparador, uma espécie de milagre, uma pequena morte balsâmica, que nos faz sentir o dia sempre diferente do anterior e do seguinte. não quer dizer que seja melhor, o dia, mas é, com toda a certeza, diferente.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
domingo feliz
o meu sobrinho bebé já pede o meu colo e m'abraça; o meu sobrinho adolescente vem do Algarve passar o natal connosco; o meu cozido à portuguesa continua a fazer as delícias dos adultos; e sentir saudades de alguém, de branco e de olhos de mel brilhantes, é bom sinal - e um bom segredo também.
sábado, 13 de outubro de 2012
os sacos do euro colhões
senti hoje, pela primeira vez na nova estação, frio matinal. mas é um frio gostoso que faz parelha com a geada, aquela manta branquinha, que cobre as ervas e nos invoca, também a nós, um aconchego diferente.
na natureza não há ignorância: tudo se processa just in time - ao contrário da ignorância das gentes, de algumas gentes, cuja sabedoria maior consiste no just in case. a maior sabedoria de um ignorante é ter a certeza que consegue manipular outro ignorante - só um ignorante aspira ter junto de si outro ignorante, que, por sua vez, por ser ignorante, nem dá conta que está a ser manipulado. quando dois ignorantes se juntam fazem um - não ímpar - impar de sabedoria e quando há um grupo de ignorantes temos um aglomerado de zeros à esquerda. é assim mesmo que os ignorantes se vêem e se tratam uns aos outros: como números e ainda por cima decimais. podia bem ter dado um exemplo com letras, podia, bastava dizer que cinco ignorantes juntos, cada um com a sua letra, formam uma bosta. mas não, nada disso, as letras são preciosas demais para serem usadas para e com os ignorantes. zeros à esquerda está óptimo para quem só vê na ignorância o euro milhão.
(e, já agora, o colhão. é que os ignorantes, as gentes ignorantes, andam com sacos de escroto no cérebro e na boca - tudo menos carregá-los bem no sítio. e não, não penses que por seres do feminino não cabes aqui: pelo contrário as mulhres são, até, as mais acolhoadas de todos nisto da ignorância. mas há quem lhes chame ovários.)
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
bella rizzota. ou simplesmente riso valente.
olha que coisa pirosa, esta: muçarela é o aportuguesamento de mozzarella. ora, pela mesma lógica, piça não deveria ser o aportuguesamento de pizza?
o livro fez-me parar, para pensar, nesta parte e, em geral,
interessa-me muito mais aquilo que não vejo do que aquilo que vejo - aquilo que vejo é apenas o que alguém quer mostrar e aquilo que não vejo, não quer dizer que esse alguém queira esconder, é o que esse alguém não quer mostrar. e se não quer mostrar é isso mesmo, simples, um não querer. e daqui, a partir desta conclusão, não pode ser de outra maneira, acaba-se o meu interesse tanto pelo que vejo como pelo que não vejo. a mera curiosidade não me desperta interesse por pessoas, talvez confundam não mostrar com mistério mas mistério é outra coisa - o mistério que estimula o interesse mostra-se, porém vestido, todo. conhecer alguém também implica fazer parte da vida, intima inclusivé, de alguém.
ou há alguém que fique moreno por inteiro se estiver metade dentro e metade fora do guarda-sol ou vestido por debaixo do sol ou despido por debaixo da sombra só porque vai à praia? é tal e qual.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
espelho na voz
cresceu a ser paparicado, o Manuel, convencido - porque o convenceram - ser o melhor do mundo. cresceu e, agora Eugénio, mudou de nome.
micro-relato de uma micro-personalidade com micro-carácter
quando ela começou a passar as noites com uma pila que, experimentando, gostou mais do que das outras - despachou o cão.
era uma vez
piscam-se os olhos, piscam, como se a morder dos lábios os cantos
jaz o triste, o mudo, o cego
perante beleza tamanha, sem manha, flor
como se ordenada em quarto de vestir
espelhos, folhos e laços
sem pudor e embaraços
se entregasse nos dele braços
era uma vez, nos braços de pano brancos, fluidos d'amor, uma flor
minimalismo ou apenas o mínimo?
há diálogos(?), assim, minimalistas - se os entendermos como um movimento sem qualquer movimento. sim, eu sei que é confuso, até eu fico confusa, quando no fundo trata-se de utilizar palavras apenas para assegurar o mínimo. um exemplo: olá. até logo. há, de facto, um movimento que é momento comunicacional mas que é completamente estático, parado, não avança para coisa alguma.
o ir e o estar são acções, per si, de desenvolvimento potencial. por outro lado, o nada fazer também será uma acção: aquela acção onde se situa o tal diálogo (?) minimalista ou que assegura apenas o mínimo.
conclusão: quando não há mudança será porque não há o que mudar. ou então, completamente o inverso, o minimalismo é a mãe de toda a abundância. pois, lá está, estou novamente no ponto de partida cujo diâmetro tão reduzido o coloca no ponto, que é o mesmo, de chegada. talvez a melhor imagem para este tipo de diálogos, que sugerem acção pela não-acção, seja a minha menina morena quando corre, incansável, em busca do próprio rabo peludo. que linda imagem. mereces uma homenagem, Valquíria.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Gauguin, o bicho. e também bicha.
estive ontem, na poltrona vermelha, a ler sobre Gauguin. pouco me apraz a sua obra mas encontro-lhe beleza - a das cores. o que transpira do homem para o artista, seja ele qual for, ou é o que é ou o que finge ser. e neste caso, sabendo de alguns pormenores da sua vida e observando cuidadosamente a sua pintura, concluo que a pintura é o que de facto ele foi e de como viveu: vejo festança, puro divertimento, sem preocupação pelos outros; vejo libido manhosa e doente; vejo ausência de afectos.
morreu quase sozinho, sexo apodrecido, depois de ter contraído sífilis e de querer salvar-se passando-a a uma virgem indígena de treze anos - protótipo de menina que desejava sempre violar. envolvera-se com Van Gogh, enquanto nos intervalos espancava a mulher e fazia questão que o filho assistisse, e levou-o à loucura tamanha a sua predisposição para a promiscuidade.
morreu, bem visto, sem a vida no sexo que maltratou em vida - porque os sexos também têm alma. morreu mesmo bem. será caso para dizer que a morte assentou-lhe, não como uma luva, como uma foda: teve uma morte fodida.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
peso
o Vicente nem sequer pesa dois quilos. no entanto, pegar nele pesa tanto - pesa a fragilidade e a inocência. pesa, essencialmente, a vida, a sua, que depende completamente do peso que tem na vida de outros. e é esta leveza, a leveza pesa sempre tanto, que nos mostra que o peso, afinal, nada pesa. apesar de pesar tanto.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
insulto
dizerem-me que sou demasiado honesta e sincera, não há honestidade sem sinceridade e vice-versa, é um insulto. tratando-se de características inteiras - ou se é ou não se é - não há espaço para manobras quantitativas. é, por isso, um insulto mensurar, pela falta delas em uns, o meu suposto excesso, quererem transformar a virtude em defeito por ser precisamente no defeito que cabem. é assim a gente reles.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
fico feliz por
38 ser um número feliz. ora faz as contas. já com o 30 fiquei com um nó: chega a certa altura e não sai do sítio. que nome dar-lhe?
começar. dar.
descobri uma livraria outlet, não consigo perceber como é que este conceito se adequa a livros - os livros são atemporais, e consegui comprar a um custo muito reduzido o presente para o Rodrigo, o meu segundo sobrinho que faz um ano. a minha ideia é que os pais comecem desde já a contar-lhe histórias, a pô-lo em contacto, por apalpamento e pelos olhos, cores e texturas, com o livro. e talvez daqui a quatro ou cinco anos ele o leia de fio a pavio e faça deste presente o mais belo exemplo para o conceito de, embelezar o mundo, viver em poesia. está lá tudo: está a realidade, está o sonho, e está a potencialidade para a capacidade de dissecar, misturar e distinguir o real e o fantástico. sim, é verdade, um ano parece-me uma idade mesmo boa para o começo.
agora vou, também não há idade para isto, partilhar do que eu tenho a mais e a fervilhar, dar sangue. vou partilhar vida.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
gana, olhos de delícia.
fica bem de todas as cores, olhos de delícia, inveja tem o arco-íris, mas o branco, o amarelo, o verde, o lilás e o azul bebé realçam-lhe os encantos - mesmo com aquela linguínha, que dá gana de morder, de fora.
fazer bicos
pode ser uma excelente ideia para reduzir a taxa de desemprego. à semelhança da Jennifer Lopez que tem um empregado com a função exclusiva de lhe apertar os bicos, relevar a sensualidade, antes de ela aparecer em público também Passos Coelho deveria promover esta ideia em casa e junto da Assembleia da República mas apelando à contratação de dois empregados, um para cada mama, por mulher.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
olhos em saudade
os olhos também sentem saudade. quando, ansiosos, aguardam ver e não vêem ficam pesados e sonolentos, uma espécie de comichão pisqueira, não sei se existe esta palavra mas passou a existir, piscam mais vezes como que a pulular pelo encanto dos outros que não estão. e, depois, exigem que se levante o cu do cadeirão vermelho, é quase sempre no vermelho, que estava ao sol e entretanto se fez sombra. e vão embora tristes, desconsolados, os olhos.
mamar
nasceu o terceiro filho de uma grande, querida, amiga - também rapaz, talvez tanta testosterona junta não desequilibre a casa. excepções existem. porém, terei de investigar sobre uma coisa curiosa que nunca parei para pensar: como é possível que um bebé que nasce não prematuramente tenha ausência do reflexo vital que é mamar? é uma espécie de aculturamento muito, imensamente, precoce a que a inocência não está familiarizada. é estranho pensar que se ele se cumpriu na placenta e nasceu a seu tempo, como sai para o mundo sem saber o que é sugar a mama ou a tetina? porque precisa ele de ser ensinado?
esta questão poderá levantar hipóteses acerca do mundo e da transformação do Homem: estará o Homem cada vez mais próximo daquilo que é a civilização e a afastar-se mais e mais da inocência da simples existência?
terça-feira, 2 de outubro de 2012
as coisas que eu descubro
há um infinito de coisas para aprender. ao acaso, por combinação de letras, descobri esta palavra: rumpologia. será caso para dizer que se trata de asstrology.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
deliciosamente sós
não possuo, confesso, grande cultura sobre cinema além de gostar de ler as narrativas que se escondem por detrás da narrativa, talvez por gostar muito simplesmente de histórias, e tenho uma memória péssima para decorar tudo aquilo que não me marca fortemente. digo, portanto, que nomes de actores e actrizes e filmes e cineastas e afins vai tudo para o galheiro e não me importo nadinha com isso: interessa-me reter as mensagens que de alguma forma alimentam a minha massa crítica.
mas sei o essencial sobre cinema. sei que quem faz filmes o faz para, na sua, poder estar com a solidão dos outros. porque quando vemos um filme ou lemos um livro, um livro é a espécie de filme mais criativa do mundo, estamos sempre deliciosamente sós.
toda - e aos pedaços
tenho um fascínio fora do comum pela cozinha - é na cozinha que se fazem, transformações espantosas, alquimias. é a paleta de cores e de cheiros e de sabores que fazem desta arte, e toda a arte só pode ser criativa, um amor. e é por isso que quem ousa criar, recriar e reinventar na cozinha merece um pedaço de mim, da minha admiração, do meu orgulho, da minha vaidade.
é curiosa a analogia do comer na mesa com o comer na cama porque é, de facto, a mesma coisa: o outro é sempre uma paleta de cores e de cheiros e de sabores, energia criativa, em arte. e não vale a pena chamar artistas aos que cozinham apenas por obrigação ou quando estão com fome porque não o são - cozinhar só pode ser com paixão e entusiasmo e dedicação porque não é depois, quando a delícia está pronta, só depois, que se sente o imenso prazer da obra: para ser arte, o processo é contínuo; a alegria e o prazer e o respeito por cada cheiro e cada sabor e cada sensação começa antes de arregaçar as mangas e continua durante a execução e é, precisamente, quando o salgado ou o doce está pronto a comer que, já comido, fará disparar a alegria e o prazer.
e é por isso que aproximar o que é degustar na mesa com degustar na cama me parece tão bem. pode acontecer que o tal pedaço de mim que falava no início, aquele pedaço, não seja afinal um pedaço. o que pode acontecer, penso, numa mistura tão intensa nesta arte de cuisine divine é alguém poder ficar-me com toda. o todo, afinal de verduras, é sempre o conjunto de pedaços.
(antes que me esqueça: começou ontem, galeria municipal de arte de barcelos, a exposição do querido João Cutileiro. há escultura, desenho, relevos e fotografia e também há quase um mês para visitar - termina a 24 de novembro.)
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