decidi tentar - mais uma vez, desta vez decidida a conseguir convencê-lo, e tudo devido à pressão dos pneus que não está escrita em lado algum e tive de descobrir os números exactos, dois ponto dois, porque bem visto para convencê-lo terei de fazer a pressão certa, nem mais nem menos, a adequadíssima, a buriladíssima, a única - convencer o meu pai a ir para a universidade sénior.
sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
súbito
na vida
tudo chega de súbito
o resto
o que desperta tranquilo
é o que
sem darmos conta
já tinha acontecido
tudo chega de súbito
o resto
o que desperta tranquilo
é o que
sem darmos conta
já tinha acontecido
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
That's all folks!
Os EUA são, de facto, omnipresentes
A toda a hora alguém acorda com um
sonho, acordar com um sonho é aquilo a que chamamos esperança, um sonho cheio
de luzes: ir para os EUA.
Mais: o mundo nasce todos os dias a pensar em american-english.
Ouch. Quem quer realizar um sonho vai para os EUA – e quem quer endividar a
alma também. Os EUA estão, oh my god!
em todo o lado: na luta pela escravidão e também pela sua abolição e contra o
racismo e a favor de intervenções militares em países de outro mundo e no
esperma da sala oval e no dia das bruxas e no cinema e na cadeia McDonald's.
Mas serão omnipotentes?
Quase. A
indústria cinematográfica dos EUA é, sem dúvida, uma das maiores, e mais
influentes, do mundo – não fosse Hollywood o símbolo do
sucesso. Tenho, aliás, a convicção de que se a Linda de Suza, a nossa
Teolinda Joaquina de Souza, tivesse rumado aos EUA com a sua mala de cartão, em
vez de França, estaria hoje a dar continuidade aos papéis da Elizabeth Taylor na Universal Pictures.
Ou então não teria passado de uma IT-Girl,
o que nós por cá chamamos de pita que usa saias que mais parecem cintos e que
bebe penicos de álcool e outras drogas, à boa maneira americana: plus chic, plus mode, plus de glamour. Mas
não foi sempre assim. Já houve um tempo em que o espectáculo era outro, ora
triste ora contente, nos EUA. Houve um tempo em que a
escravatura não era como a de hoje – de fama e sucesso -, tinha que ver com
a cor da pele preta explorada nas plantações do sul. Mas depois conseguiram abolir
a escravatura, viva!, e conseguiram fazer dos EUA, UCB, United Colors of
Benetton. (Mas isso é de origem italiana, Olinda. Ó, isso não interessa nada –
o que conta é pronunciar em inglês americano, ignorando os tês). Por falar em cor, torna-se impossível não lembrar a da sala oval: rubra. Não, não me refiro à decoração. Adiante. A esta altura o leitor já estará com fome, está calor, é Agosto, o cinto já está esganado e, deixe-me adivinhar, vai passar no McDonald's. Como é que
acertei? Ora como Portuguesa que sou conheço bem alguns pratos típicos. Além da
particularidade de este prato ter algumas variâncias, como é o caso mais
recente da bifana com sabor a sabonete de glicerina, é bastante económico e
saciante: como o Governo
quer. Além disso esta comida é confeccionada aos mais altos padrões de
qualidade de HACCP
o que constitui, para os EUA, uma vantagem altamente competitiva: ninguém fica
de diarreia nem morre de E.
Coli no McDonald's, excelente! Mas morre mais cedo. É. Mas também não morre
sem festejar o dia das
bruxas entre, oh yeah, doçuras e
travessuras. Aliás, não servem as abóboras do Minho (não confundir com jerimum
que aqui diz ser sinónimo
mas é mentira. Porquê que é mentira? Porque o jerimum é usado apenas para
confeccionar doces) para outra coisa que
não esquartejar e desmiolar para incendiar - são elas e as políticas
altruístas, e intervencionistas, dos EUA. O que é importante é americanizar tudo, não
esqueçam. That’s all folks!
os dois
escolhi chamar-lhe, por razões musicais, Samantha.
ontem vi uma raposa. dizem que foi um cão, que me enganei, mas não: ontem vi uma raposa que se assustou comigo. saiu de dentro do milho alto e maçudo e depois espreitou para cá - para cá no lado onde não se podia esconder. estava noite fresca e recente e talvez precisasse de sair para o outro mundo. às vezes o outro mundo está quando abrimos os olhos ou acordamos ou adormecemos ou, e porque não, saímos do meio do milho. orelhas arrebitadas e focinho bicudo, como tem de ser, olhou-me fixamente durante uns segundos. e eu a ela. depois pensou e desapareceu. suponho que terá pensado em não estar com alguém, era o que faltava, esperou o dia todo pela fresca e agora aparece esta. mas estou convencida de que vai voltar a aparecer - hoje à mesma hora, talvez. ou amanhã ou depois, que importa, desde que não pense, só sinta, e venha lamber-me as mãos e as pernas e os braços - os braços espero que lamba os dois.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
verão triste
entra de mansinho, vai entrando, em conluio com o clarão escuro do nascer do dia - sobe as narinas e aloja-se na alma. os sentidos despertam e choram, também se vestem para confirmarem a tristeza, e, já na rua, o céu é uma mistura laranja com cinza, nuvens desenhadas a rigor de fatalidade. por aqui, por aí, por todo o lado morrem árvores e arbustos, ervas e caruma. por todo o lado o vento, mau conselheiro, exalta os ânimos. por todo o lado é verão. e o verão é, por isto, triste.
domingo, 25 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
(adenda ao post anterior)
: a expressão genuína que os do norte dizem e os do sul só pensam: foda-se!
o sul com os olhinhos no norte: que justa maravilha
quem gosta de blogues, e de blogueres, não sei se existe esta palavra assim mas é assim que gosto, como eu - de bons blogues, reforço -, tudo tem significância. aliás, no mundo tudo é para ter significância com excepção do que excluímos de significado e aí, não existindo, nada significa. desde os autores aos conteúdos, cada blogue é um amigo (e agora é impossível não lembrar a canção: que devemos bem tratar...) ou, melhor, a casa de um ou mais amigos, que frequentamos e tantas vezes nos sentamos a conversar. também os há que, apesar de sofá na sala, nunca, ou poucas vezes, estão com pachorra para conversas - tantas vezes lançamos perguntas e nem sequer nos respondem: olham-nos mas ficam calados. talvez a vida não lhes corra ou tenham dores de garganta ou barriga ou de dentes, quem sabe, mas disso alguns padecem e assim hão-de morrer. a verdade é que ao mesmo tempo que fazem destas suas casas espaços de exposição e discussão de ideias também as não asseiam - deixam acumular lixo e nem sequer abrem as janelas. isto é curioso para quem deixa a porta aberta. adiante. mas o pormenor que mais me fascina é aquele do você, está a ver? se são visitas esporádicas, entende-se. se são amiúde, com chá e biscoitos e prosa, onde é que cabe a distância fria e merdosa do você? também é verdade que no sul há bem mais merdeiro do que merda em relação ao norte mas podíamos todos melhorar isso: os do norte a continuarem a ser excelentes hospitaleiros e os do sul a reduzirem a taxa de merdices pondo o olhinho no norte. parece me justo.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
o criador
o criador apresentava, finalmente
ao mundo, a nova gama de vaselina que, dia após dia, durante sete longos anos,
tinha preparado. um pouco mais de óleo de rícino aqui, um cheirinho de petróleo
acolá até a parafina líquida estar no ponto: não num ponto qualquer mas no
ponto de exclamação das gentes perante a novidade que vinha aí.
(vir é sempre bom e a espera do
vir pode, de facto, surpreender)
começou por testar o seu bebé
(aquilo que fazemos com amor é sempre um rebento em branco) junto de vários
estratos sociais. visitou muitas, muitas, casas e foi oferecendo amostras para,
na semana seguinte, recolher informação sobre a textura e a utilidade que lhe
dariam. numa casa, foi recebido por um senhor abastado que tinha descoberto uma
utilização medicinal – aplicava a vaselina nos joelhos e cotovelos dos filhos
sempre que se esmurravam e estava bastante satisfeito com a sua suavidade; na
segunda casa tinham-na usado, na mecânica, para lubrificar os rolamentos da
bicicleta e do aparador da relva; numa terceira casa, um operário, barba
desfeita e hálito de intestinos de pato, disse-lhe que lhe tinha dado um uso
meramente sexual: besuntava, todas as noites, a maçaneta da porta do seu quarto
para os filhos não a conseguirem abrir.
entre todas as residências que visitou,
esta última foi realmente a que mais prendeu a sua atenção – não pela
utilização em si mas pela tomada de consciência de que, sem dúvida alguma, é a
inconsciência de cada um que acarreta tantas finalidades diferentes.
ninguém, porém, tal como ele, se
lembrou de simplesmente não experimentar, não sentir a textura, não dar
qualquer utilidade à vaselina; ninguém, tal como ele, se lembrou de,
simplesmente, lhe responder que se excluiu do teste sem, daquela parte sem
parte; da parte de não fazer, de não usar – o que o deixava a encher-se, pelo
vazio seu e só seu, de júbilo.
a parte sem era, foi, sem dúvida,
aquela em que, por enchimento, se excluiu. excluiu-se sempre de tudo o que o
enchia, do que o tocava – e tocava-se, isso sim. tocava-se para se orgulhar do
sem que era, do que com tudo sem tudo era. e abandonou o teste porque a única
experiência que afinal de contas lhe interessava era a de reconhecer, em si, a
exclusividade, a consciência da inconsciência. pensava, por todo si, que por
melhor que fosse a sua criação nunca iria de encontro a si.
(ouvia, amiúde, de si, para si, a
graçola do “e si sou boa comómilho porque não me queres?” e ria, ria, perdido
numa nuvem balofa que lhe dava sempre nota cem)
por mais que a criação fosse boa
como o milho, não se cansava de gritar que não era galinha – detestaria, aliás,
ser a típica galinha que vive a olhar os céus e a pedir a deus que lhe dê outro
sexo porque o único que tem (e a utilidade que lhe dá) enfada-o. por mais que a
criação fosse maravilhosa, não a queria, recusava-se a partilhá-la com a sua
outra parte que não a de criador – consigo mas sem si, sempre sem si,
percorreria os caminhos e até os atalhos da ciência, do laboratório, das ruas
com casas com gentes lá dentro, como num ciclo – não vicioso – virtuoso que o
ajudava, mais e mais, a reduzir-se, a desfalcar-se de si em honra de si.
**
passaram dez anos, entretanto, e
o criador explora o sem si no expoente máximo: bate na porta das casas das
gentes, sem mostrar alegria ou entusiasmo, e aguarda, sem agitação e
curiosidade, que adivinhem, sem consciência, ao que vai, qual o produto que
quer testar e o que pretende saber. pretende, agora, sem fim e sem cabo, dar um
novo significado à palavra sentir.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
nascia a ideia da Europa no século dezanove. valeu a pena?
estamos agora no
século dezanove, façamos uma breve viagem, e
bismark, o homem alemão da política pela força, falava em “falar europa”,
prelúdio do discurso de renouvin –
decano das relações internacionais de solidariedade entre povos -, que
apresentava ao mundo o problema da criação europeia como federação ou
comunidade. e dizia problema pela sábia visão da diferença daquilo que era, e
continua a ser, o discurso (com tudo o que os vocábulos comportam em termos
míticos, linguísticos, estéticos) e a acção que implica sacrifícios, opções,
integração no real organizado e dependente das circunstâncias.
sem querer
esquecer qualquer outro contributo importante no percurso da ideia da europa é
impossível não referir emeria curcé que
publicou, em 1633, o livro "nouveau
cyrée", em que defendia a criação de uma assembleia permanente de
arbitragem, que ao mesmo tempo garantiria
a paz e favoreceria o desenvolvimento das trocas internacionais; e depois o
“grande desígnio” que sully, seu
conselheiro, atribuiu a henrique iv
defendendo a europa em quinze estados e um conselho comum; e william penn
quando publicou, em 1693, o "ensaio
pela paz presente e futura da europa", no qual considerava que deveria ser
constituída uma assembleia de
representantes dos estados europeus que tomariam decisões por maioria de 3/4
dos estados - as decisões tomadas poderiam ser impostas coercitivamente por uma força armada a formar; do abade de saint-pierre, 1712, em "projecto de
paz perpétua", defende a criação de um parlamento europeu que teria
competências legislativas e judiciais; ou de kant, espírito liberal individualista, onde os
colectivos identitários que denominamos de nações deviam ser diluídos em troca
de uma “pacífica” colecção de indivíduos sob o mesmo estado federal; ou quando,
em 1849, victor
hugo lança um apelo a favor da criação dos estados unidos da europa.
poder. generosidade. solidariedade. coerência. todos estes
homens, estadistas ou pensadores, que importa?, projectaram – muito mais do que
um continente de força – valores. curiosa e lamentavelmente assistimos, mais de
cem anos depois, a um problema – ao mesmo problema que renouvin, o decano lá de
cima, explanou: a união do discurso não acompanhou a acção: ficaram, têm
ficado, de lado os valores – vence o poder. os sacrifícios de uns são a glória
de outros; as opções de alguns são ganância e de outros circunstância.
existe comunitarização de todas as matérias?
as decisões em domínios cruciais são adoptadas por maioria?
a comissão tem um grande poder de iniciativa?
o parlamento europeu tem um enorme poder no processo
legislativo e exerce um efectivo controlo político?
o tribunal de justiça tem real competência perante todas as
matérias?
valeu a pena?
ouvi assim
as palavras, algumas, deixam a alma lavada.
(sim, é verdade, mas e as outras, outras, não são pêlos soltos e esquecidos, porque imprestáveis, no bidé?)
(sim, é verdade, mas e as outras, outras, não são pêlos soltos e esquecidos, porque imprestáveis, no bidé?)
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
viveliotecas
as bibliotecas
já não são o que eram: são, têm vindo a ser, melhores. as primeiras,
materializadas em placas de argila, onde se registavam contas de tempos e de
trocas comerciais, datam de há 3000 anos antes de cristo. a primeira biblioteca
pública de que há conhecimento localizava-se em atenas e constituía, na
graciosa grécia clássica, além de consulta de manuscritos, local de encontros
para discussão e elaboração de projectos. na história ficou igualmente a
biblioteca de alexandria – espaço com milhares de rolos de pergaminhos para
leitura, oficina de copistas e arquivo de documentação oficial. mas terão sido
os romanos os primeiros a fazerem das bibliotecas públicas instrumentos de
dominação intelectual - propagando-se, assim, as bibliotecas particulares como
símbolos de riqueza e prestígio -, uma moda.
foi nesta época
que os copistas começaram a surgir em massa – trabalho desempenhado por
escravos – assim como os codex em
pergaminho que substituíram os, até então, rolos de papiro. seguiram-se guerras
e destruições que travaram a expansão das bibliotecas e a concentração dos
resquícios manuscritos em mosteiros, conventos e castelos feudais: aqui aqueles
eram conservados, copiados, traduzidos e ilustrados mas também monopolizados e
tornados inacessíveis ao povo. no mundo árabe a expansão destes locais foi
impressionante durante a alta idade média, fazendo a delícia de professores e
estudantes no reino da matemática, astronomia e filosofia.
com o surgimento das universidades, na europa,
os livros passam a ser um luxo intelectual, apesar de acorrentados para inibir
o roubo, partilhado. o livro reencontra o simbolismo de riqueza e de prestígio
na idade moderna que gutemberg,
esquecê-lo é pecado, em muito contribuiu. que maravilha. nascia o primeiro
livro impresso que vinha a permitir a transmissão do conhecimento a uma escala
nunca antes vista. apenas, no entanto, no século dezassete as bibliotecas
viriam a ser públicas quebrando-se a excepção de frequência a sábios. é no
século dezoito que surgem as bibliotecas nacionais e no século seguinte é
fundada a maior biblioteca do mundo, nos eua, a do congresso. aos antigos
conceitos e actores do mundo do livro juntavam-se o autor, o impressor, o
livreiro, o editor, o bibliotecário e, finalmente livre, o leitor.
mudaram-se os
tempos, assim como as vontades e as necessidades: o combate ao analfabetismo e
a cada vez maior preocupação com a educação deixaram, de vez, as portas abertas
ao livro no século vinte, século que fez desenvolver, e instituir, um novo
mundo ao mundo do livro. nos nossos dias as bibliotecas não possuem apenas um
carácter documental e informativo in loco
– antes deixaram que o tempo lhes refrescasse as tecnologias e os recursos
e, ninguém lá longe alguma vez imaginou, entra-nos casa adentro, espaço físico
superado, por via virtual. e esta, hein?
terça-feira, 20 de agosto de 2013
gang dos cotas
raramente um programa de riso me faz rir e há muito tempo que não gargalhava a ver um - chama-se gang dos cotas e além de promover o riso, ai o riso!, promove igualmente o trabalho sénior. e lá estão eles, sete actores séniores e malandros a mostrarem que são bons e os melhores. a componente do inesperado e, ao mesmo tempo, do inesperado com banda sonora foi a que me cativou. e depois a naturalidade com que fazem aquilo vem dar-nos a certeza de que a idade em frequência acumulada é fonte de experiência e sabedoria. façam mais. quero mais.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Judite Cabra Sousa
não havia, certamente, nada mais interessante a explorar, em horário nobre, do que a vida de um puto que nasceu e há-de morrer rico: eis a primeira miséria. depois começam as perguntas em tom sarcástico e esgar de nojo, uma atrás da outra, como se ter dinheiro, muito dinheiro, fosse um crime horripilante - uma falha que desmerecidamente não sofre castigo. cabra. acaso a Judite vive de algum salário miserável e veste roupas da avó ostentanto, desta feita, valores anti consumistas? não. a cabra da Judite ganha uma fortuna mensal para dar aos portugueses notícias interessantes e que, de alguma forma, lhes aumente a bagagem de informação útil. ao invés, a cabra decide transportar a crise e a incompetência do governo para um miúdo que caga notas e que, por isso, havia de as distribuir por cá para a curva da recessão minguar; a cabra nem se lembra de que também ela é uma privilegiada e fútil - ou não daria importância à vida de alguém que apenas vive o dinheiro que tem da forma que melhor lhe convém - e invejosa. sim: a Judite além de ser cabra é invejosa.
(mas pode ser que para o ano o moço lhe pague a viagem e a estada para o seu aniversário. e um lifting ao cérebro, já agora, que o saláriozinho dela não deve chegar.)
alguém
tempo que fala, calando, é tempo de ficar
tempo que fala, calando, é tempo de andar
só não é tempo a correr - como ao tempo que se diz que é o tempo a passar
domingo, 18 de agosto de 2013
guerra das trinchonas
vai lá saber-se porquê ando, há uma dúzia de dias, a receber convites de mulheres para exploração de intimidades em diversas e diferentes frentes da internet. andará o meu email a circular em uma espécie de guerra das trincheiras, trinchonas vá, da homossexualidade? a umas ainda respondi com graça e desdém mas a outras, às que se seguiram, decidi ignorar-lhes as pretensões - não por falta de educação mas por considerar que cortesia não é mandá-las a todas para a puta que as pariu, já que não me apraz o assédio sexual, per si, seja em que categoria de gente for. andor carrapatices!
sábado, 17 de agosto de 2013
manifestação dos pessoinhas
quando começam a rebentar os balões os pais zangam-se, não há direito. não há direito de as festas de aniversário dos pequenos serem, do início ao fim, para os grandes. tudo começa na escolha das comidas: camarão, frangos, empadas, rissóis e pataniscas, bolos gordos de creme, batatas fritas, refrigerantes, vinho, cervejas. está bem, há o bolo em pasta de açúcar do homem aranha e a mousse de chocolate mas e o resto? qual é a criancinha de três anos que pode beber um copo, seja do que for a não ser água, ou encher a pança de fritos ou lambuzar-se de marisco? pois. depois a música ambiente é aquela agradável à conversa, à conversa dos convidados dos pais obviamente, não havendo espaço para cantigas para saltar e berrar por conta de o barulho ficar insuportável. e depois há os balões, coloridos e de todos os feitios, que são interditos ao estouro. ora não é justo. as festas de crianças, e em particular as de verão, são para encher a casa de pirralhinhos que querem andar descalços e com a fruta de fora; são para encher e rebentar balões com água; são para enfartar as mesas, mesas proporcionais ao seu tamanho e não aquelas para eles inalcançáveis, de guloseimas e sumos naturais e as comidas preferidas; são para as vozes adultas se calarem a ouvir as barafundas dos pessoinhas. e é por isso que eu proponho uma manifestação dos miúdos a favor das festas de aniversário exclusivamente infantis. querem aproveitar as festinhas para estarem com os amigos, beberem uns copos e deitar conversa fora, querem? então arranjem tempo, pais. arranjem outro tempo - é que esse é deles e para eles. certo?
Moinho abandonado em 1866, Sorrento, Itália.
parece miragem, já foi moagem, mas é castelo de ver - para que servem os olhos, pérolas da fronte, senão para deslumbrar o ser?
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
se
se ela fosse molho era ele guardanapo
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
terapia
há uma boa dose de gente que, sem dúvida, precisa de terapia da boa: ter a pia cheia de cuecas sujas para lavar deixando, assim, de se meter na vida dos outros. é a chamada terapia get a life acaso sejas um amante dos vocábulos estranjas para ornamentar a coisa.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
a propósito de uma conversa que ouvi
disse assim, uma para a outra: claro que vamos de férias para fora e em vez de uma batata come-se meia.
ou seja, há pessoas que preferem cortar em bens essenciais do que nos acrescidos - tal e qual em parelha com o governo. não perceber que a saúde depende muito da alimentação é a mesmíssima coisa que compartilhar a ideia de que a reforma do IRC traz o consequente aumento dos recursos para investir no futuro. enfim.
sound + vision: John Turturro & Woody Allen
sound + vision: John Turturro & Woody Allen: Um homem recebe do seu amigo mais próximo uma sugestão inesperada para resolver os seus problemas financeiros. A saber: a venda de favores s...
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
pensamento das cinco e meia da tarde
não sei bem se o meu cérebro está mais cansado que o cavalo do Quixote ou que um órgão barroco.
descoberta
(Malinev Marinov - se não é assim, inventei)
quando era pequenina tinha amiúde o mesmo pesadelo: acordava sufocada depois daquela sensação terrível de cair numa espiral e nesses dias, nessas noites, julgava ser o pesadelo uma das piores coisas da vida - como se fosse, e era, um castigo que eu não podia, de todo, controlar. o que fazia de mim impotente. agora sei que pior do que ter um pesadelo e acordar sufocada é estar a dormir tranquilamente e acordar com realidades tristes e, um sufoco, não conseguir voltar a adormecer.
creio que ainda sou pequenina, pelo menos até à próxima descoberta.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
panelaterapia
tens pão? então parte às fatias, em abundância, e enche - até tapar - o recipiente com água fria. deixa ficar. bastantes alhos partidos, ou esmagados, são precisos. mete-os no tacho com uma folha de louro e rega com azeite, carrega na generosidade. entretanto, porque ainda é cedo, esfia quatro lombos de bacalhau. então, mete o alho a alourar e de seguida o bacalhau. mexe lentamente e quando sentires que está a colar ao tacho é porque é horinha de juntares o pão em água fria. afina o sal e dá um cheirinho de pimenta preta. vai mexendo lentamente e desembaraça quatro ovos lá no meio até ficarem em fios cozidos. desliga. a salsa está picadinha? muito bem, agora só falta azeitonas pretas e muito apetite. no fim, vais esboçar um sorriso enorme e a língua teimosa não vai querer sair dos cantos para dentro.
é açorda-maravilha de bacalhau, pois claro! e vai bem com este som à moda dos 80:
jefe
há dez anos, mais ou menos, esta canção estranha fazia, e ainda me faz, galopes de riso. na verdade, esta é a lengalenga que ensino aos filhos das minhas amigas mal começam a falar - não há um único que não saiba dizer: jefe, ven aca pa ca! e hoje, a menina que cantava isto quando vinha de Sanxenxo já está uma senhora adolescente. ontem lembrou-se de enviar para partilhar riso - e resultou.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
como se distingue um homem altamente básico dos outros?
o homem altamente básico possui um grau de boa disposição directamente proporcional ao processo de esvaziamento dos testículos.
olhos em chuva que fazem olhos de sol
há homens assim. acabara de completar setenta e seis anos, é um ano mais novo do que ela, mas aparenta bem menos. taxista de profissão passa o tempo fora de casa. foi sempre assim: duas famílias, um filho de cada uma, muitas mulheres reles, e uma só vida. cheia. não conta muitas histórias a não ser sobre Penafiel, a terra onde nasceu e cresceu - fala das vinhas cortadas a corridas e saques de fruta, das quelhas em terra batida e do arroz do forno a lenha. ela nunca saiu de casa nem deixou de ter o almoço pronto ao meio dia em ponto para ele, por causa dele, que vinha de trabalhar e de ir de seguida ter com a outra família que ela desconhecia. e hoje, entretanto ele teve de assumir o outro filho e fazer descair a mentira, ainda é assim. e ele resiste, como nunca vi antes, à idade: faz questão de manter a mesma alimentação, de fazer os mesmos horários com o táxi, de ler muitos jornais e encher de tinta as palavras que por lá se cruzam. recusa-se a fazer qualquer actividade onde haja um aglomerado de pessoas da sua idade. e é por isso que lhe chama velha quando se irrita, em enxurrada de palavrões, e repete, velha és uma velha. os olhos dela mantêm-se firmes mas molhados, talvez por se sentir velha. mas ser mulher é esta maravilha: conseguir, sabendo o que se é, não chamar velho ao homem mais velho do mundo para que os seus olhos, pequenos sóis de uma vida, nunca fiquem em chuva molhados.
domingo, 11 de agosto de 2013
estomas
desconhecia-lhes a beleza - e o nome: parecem rosas, ou talvez também camélias, mas não são. não têm espinhos como umas nem vestem tantas saias como as outras. senhoras e senhores, apresento-vos as estomas.
sábado, 10 de agosto de 2013
é proibido
não chupar os miolos aos peixes
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
coisas que fazem corar
Labirinto ou Alguns Lugares de AmorO outono
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
vontade
escrevia agora tanto daquilo
daquilo tão simples
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
a fazer
ando cheiinha de vontade de fazer o que a minha cadela faz, tem feito, e que consolada eu vejo que fica: caga no campo de milho, bem lá no meio.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
trança
só quem tem paixão por cabelos compridos percebe a curiosidade por saber fazer tranças. sim, porque as tranças não são um penteado qualquer. as primeiras tranças percebem-se nas estátuas de Vénus de Brassenpouy e Vénus de Willendorf, vinte e dois mil anos antes de cristo, mas é na imagem da Cleópatra, no antigo Egipto, que elas aparecem perfeitas, lindas, inspiradoras, simbolo igualmente de riqueza e de proximidade das divindades. depois, no império romano, a forma arredondada com que elas enfeitavam os cabelos pelas tranças era deliciosa - tal como na Grécia antiga, idade média. igualmente os celtas e os chineses faziam delas rendilhados importantíssimos. ademais, a literatura e o cinema estão repletos de tranças e de significância, qual o pormenor que o sendo não a tem? a verdade é que hoje em dia o frenesim das cidades desmotiva o uso da trança - até os penteados são escolhidos levando em consideração, não a beleza potencial que um cabelo comprido oferece, o tempo de secagem e de arrumação. mas não lamento: cada um usa o que quer e eu não prescindo das tranças. vai daí, tinha muita curiosidade em aprender a fazer a trança embutida e a outra que é espinha de peixe. e agora já sei, iuuuuppiiiii!
La Cage Dorée
viva Portugal, por entre o Douro e as vinhas e a alegria da mesa com bacalhau e vinho e riso - a família -, é o início por ser o fim. explico: é esta mensagem de união e de alegria tosca de que somos feitos que interessa agarrar. está bem, o português é aquele a quem custa dizer não, honesto, trabalhador, um aguentador por natureza - mas por uma natureza simples, como se quer. Portugal é o fado na voz e na vida, lágrimas imprescindíveis; é a soltura das palavras bravas, genuínas; é o riso dos parentes, porque presentes; é a mesa farta, porque grata.
e é por isso que nós, portuguesezinhos, não podemos deixar que homens corruptos e sujos nos ofusquem o dentro - havemos de conseguir não deixar que Portugal deixe de ser aquilo muito mais do que isto: é ali, no fim do filme em fundo de Rodrigo Leão, que temos de ser e estar. e será essa a luta maior a travar - tornar intocável a nossa identidade, aquilo de que somos feitos, aquilo que nos faz - a todos - chorar e rir: aquilo que é sentir no peito o orgulho de ser português. não obstante a merda que o homem do poder fez.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
scones al cá & nela
300gr de farinha
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
terça-feira, 6 de agosto de 2013
caçadeira
a propósito desta notícia. à primeira vista é apenas mais um caso de salvaguarda dos direitos da criança e que não refere em que se baseia o tribunal para quarenta e oito horas depois de ser parida meter uma criança em uma alcofa e levá-la dos pais, da mãe. depois, bem vista e atendendo aos factos - e não apenas à interpretação que nos é oferecida pelo jornalismo sensacionalista e redutor - bem explicados pelo Quintino Aires, percebe-se que já não podem haver crianças, adolescentes neste caso, rebeldes - por um lado - nem autonomia de os pais castigarem os filhos - por outro -, nem sensibilidade por parte da segurança social naquilo que é inibir um recém nascido de ser amamentado e provar do calor materno. em que mundo é que os pais não podem atribuir castigos, privando-os do que querem ou dando-lhes o que não querem, aos filhos sob o argumento de humilhação? não estamos a falar de cortar um dedo mas do cabelo nem de a obrigarem a comer merda mas sopa - é isto uma humilhação sendo que todo o castigo tem obviamente a componente de humilhação porque de outra forma seria elogio? e a rebeldia de uma adolescente é, em que mundo, motivo para os pais decretarem uma filha delinquente e digna de viver fora do seio familiar? e em qual mundo, digam-me por favor, as agentes da Segurança Social aguardam que um bebé nasça para o retirarem imediatamente do colo da mãe por forma a evitar castigos humilhantes? de facto só mesmo uma caçadeira, penso, para acabar com esta miséria repartida. e depois os testes da universidade do minho a comprovarem que os pais têm perfil para serem pais apesar de precisarem de acompanhamento. desculpem? existem duas crianças, uma mais do que outra, a sofrerem com o desequilíbrio dos adultos - em casa, na Segurança Social e nos meios de comunicação social. e o pai faz greve de fome. o pai havia de sofrer de fome quando lhe dá o apetite de foder a mulher sem preservativo. e a mulher, a mãe, havia de sofrer da mesma anorexia quando não faz planeamento familiar. e os testes têm de ser feitos antes de haver pais e filhos porque, está visto, ser pai e ser mãe e ser filho é de uma responsabilidade que não advém apenas de ser fodida.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
foguetes & Compª
creio ser Agosto o mês dos foguetes. em todo o lado e a toda a hora lá se ouvem os falsos trovões a anunciar que há festa e a verdade é uma só: onde há foguetes há farturas e carrinhos de choque e venda ambulante de singles e LP's. ó, disparate, isso era dantes - agora é tudo corrido a CD e se só gostares de uma, paciência, é da maneira que ficas a conhecer - mesmo mesmo com conhecimento de ouvido - o resto. depois há procissões e romarias e fazem-se missas em alta voz que obrigam os demais a desejar o silêncio do fundo da voz dos pássaros ou do vento ou até dos carros a buzinar. Agosto não é só o mês dos foguetes afinal, também há os filhos que foram e voltam a estrangular a saudade. e para esses agora há-se ser uma alegria triste ver o pai fraco e em crise, maltratado. mas é como digo, uma alegria triste porque no meio dos foguetes e das farturas e dos carrinhos de choque e dos CD's e das missas o pai fica sentadinho a um canto. e ainda bem que assim é.
domingo, 4 de agosto de 2013
sábado, 3 de agosto de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Homem do subsolo, personagem de “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski (Editora L&PM)
“Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito. Não creio nos sentimentais encabulados, nos líricos disfarçados que se benzem quando os raios caem. Meu materialismo é integral. Nasceu no mesmo ventre que me concebeu. Mas voltemos ao irmão. Dentro da predestinação que fez Caim matar o inocente Abel e Jacó passar o conto-do-vigário em Esaú, o torturado irmão foi coisa que sempre desprezei. Nunca fiz indagações em torno de nossas diferenças. Sei, o problema é dos muitos que aguçam a ignorância dos sábios e demais desocupados que teimam explicar coisas inexplicáveis, como a vida. Não sou entendido em cromossomos. O que sei de genética é pouco mas divertido: está espalhado nos mictórios do mundo.”
ai e ai
acho, como dizer, engraçado ouvir dizer que não querem parto normal por conta de a mulher não ter sido feita para sofrer. ora aqui está um belo argumento: o sofrimento. pergunta minha às mulheres em geral e às grávidas em particular: o trabalho de parto não faz parte do processo de gravidez que começa no prazer? bom, respondem-me então que se é possível minimizar a dor pode-se e deve-se. minimizar a dor. interessante. será dor a sensação - sim o sentir tudo literalmente - de parir quando parir é um acto de vontade e de responsabilidade e de amor? não creio. todas as fêmeas da natureza o fazem. e sozinhas. fracas, são todas fraquinhas as que monopolizam os ais de prazer e descartam os de dor.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
quem fica, morre
dez metros quadrados, dez pessoas. vozes altas que se cruzam em tentativa de conseguirem pelo menos uma - pelo menos uma venda que salve a manhã ou a tarde. uma toma valium para dormir e uma outra ao acordar. outra já não tem cabelo, usa peruca, de tanto que esticou o sistema nervoso. outra fecha os olhos e baixa a cabeça amiúde, tique nervoso, enquanto lê o manuscrito ao telefone. outra senta-se e levanta-se entre uma chamada e outra. outra e outra e outra. acresce ser o mês de agosto e as empresas estarem em fecho de férias ou fechadas. os três focos de luz artificial por cima das cabeças queimam os olhos e o ar. mas queimam, sobretudo, a sanidade mental de quem lá está - e de quem quer ficar.
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