quinta-feira, 29 de agosto de 2013

os dois

escolhi chamar-lhe, por razões musicais, Samantha.

ontem vi uma raposa. dizem que foi um cão, que me enganei, mas não: ontem vi uma raposa que se assustou comigo. saiu de dentro do milho alto e maçudo e depois espreitou para cá - para cá no lado onde não se podia esconder. estava noite fresca e recente e talvez precisasse de sair para o outro mundo. às vezes o outro mundo está quando abrimos os olhos ou acordamos ou adormecemos ou, e porque não, saímos do meio do milho. orelhas arrebitadas e focinho bicudo, como tem de ser, olhou-me fixamente durante uns segundos. e eu a ela. depois pensou e desapareceu. suponho que terá pensado em não estar com alguém, era o que faltava, esperou o dia todo pela fresca e agora aparece esta. mas estou convencida de que vai voltar a aparecer - hoje à mesma hora, talvez. ou amanhã ou depois, que importa, desde que não pense, só sinta, e venha lamber-me as mãos e as pernas e os braços - os braços espero que lamba os dois.







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