Surgem, neste
Governo, como ervas selvagens, os estágios
profissionais. Trata-se, à primeira vista, de uma forte tentativa de
reduzir a taxa de desemprego por ciclo virtuoso: o estado apoia as empresas na
contratação, a chamada medida
estímulo 2013, que por sua vez fomentam a criação líquida de postos de
trabalho. Bem sei que parecem ser coisas distintas falar de estágios
profissionais e depois metê-los no mesmo saco da tal medida – parecem mas não
são porque, na realidade, ambos resolvem uma pequeníssima fatia de problemas de
uma outra, ainda mais fina, da população desempregada.
Quase vinte anos de carreira – quer um estágio?
A frequência
de anúncios ao abrigo da medida estímulo tem vindo a aumentar dia para dia e a
resposta, ou candidatura, aos mesmos está dependente de uma série de requisitos
para o tal estágio – que é como designam, entidade empregadora, o tipo de
trabalho: estar abrangido pela possibilidade de estágio na asa da medida
estímulo 2013 que significa exactamente estar na penúria das penúrias sem
descontar para a segurança social há mais de um ano. Ou seja até quem tem
trabalhado, e pouco, e mal, precariamente, a recibos verdes está inibido de
candidatar-se à oferta de emprego. Quer dizer o estado financia
as empresas e estas, por sua vez, exigem experiência e competência e
disponibilidade mas, ao mesmo tempo, recrutam pessoas que para cumprirem com os
requisitos exigidos só podem ser extraterrestres.
Exagero? Sim, um pouco – mas só no conteúdo e nunca na forma de sentir a
injustiça.
As empresas,
que aproveitam o financiamento – e sem olharem ao perfil académico e de experiência
no mercado de trabalho do candidato -, estão a ser estimuladas a dar uma
migalhinha aos desgraçados (desgraçado, anote aí, é o que é sozinho a tratar
dos filhos ou o que sustenta a casa porque
o outro está desempregado ou é ignorante ou é nada disto que disse, pelo
contrário, até tem quase vinte anos de experiência e trinta de formação mas no
último ano fez uns descontozitos para a segurança social) e aos que têm
necessariamente de cair em desgraça para poderem concorrer à tal oferta de
emprego que exige candidatos com disponibilidade de eleição ao abrigo da
medida. E a minha pergunta é a seguinte: o Governo não sabe que grande parte da
população desempregada tem formação superior? E que uma empresa é tão mais
considerada desenvolvida quanto maior for o número de quadros superiores? E que
a qualidade está directamente relacionada com a excelência que por sua vez se
traduz na aposta na investigação e
desenvolvimento que por sua vez faz a vantagem competitiva
e a expansão da empresa e o contributo no saldo positivo da balança comercial para o
país? Que vem a ser isto de chamar estágio a um emprego? E que vem a ser aquilo
de darem a entender aos empresários que o capital humano não tem valor
monetário agregado e que pode ser pago a miseráveis IAS
(valor do IAS em 2023 - €419,22)?
Estágio,
estágio, estágio, estágio. É preciso emprego, neste país, não é estágio – aquela coisa de experienciar
a novidade do mercado de trabalho para colocar no CV para, talvez um dia, se
conseguir um emprego. Perceberam?
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