vai fazer noventa anos. noventa anos é muita frutinha, penso, muitos sorrisos e muitas lágrimas e muitas reflexões e muito amor e muito tudo. mas também são tão poucos! olha as árvores, aquelas reinas centenárias, que quanto mais velhas com certeza que mais rimam com beleza. na verdade ela continua a ser como era há vinte anos: o mesmo penteado de cabeleireira ao sábado, aquela banana de cabelo ripado, a mesma maquilhagem e o mesmo tom de batom, o rosa velho, as caminhadas para todo o lado, os livros que devora, o sudoku. ah, e os scones maravilhosos que faz sempre para o chá. e diz: quando eu ficar tolinha, ou inválida, deus pode levar-me porque não vou para casa de ninguém. vive sozinha e feliz, o marido morreu há mais de uma dúzia de anos e foi um consolo: passou grande parte da vida com amantes e, já velho, adoeceu. ora ela serviu apenas para a doença e também para lavar as toalhas cobertas de perfume das outras. então morreu e ela ai começou a viver. amou -o daquela forma que se ama a mobília e os bichos da madeira: quando estiver tudo carcomido vai fora e, no entanto, esqueceu-se de se amar. terá sido um amor de mãe, não de mulher. e eu disse-lhe: agora precisava de amar um homem e ser amada como mulher. à séria. e ela respondeu-me: agora é tarde demais: os homens velhos já só sabem amar também como fazem os pais porque o sexo, a parte sensual do amor, já o gastaram com outras. e depois vi o filme todo, RPG, que veio mesmo a calhar. os Homens só querem ser jovens por causa dos prazeres de sexo. (uma foda). por sexo os Homens estão dispostos a tudo. (outra foda). os Homens quando acreditam conseguem tudo - menos foder. (outra foda).
e quem, sendo jovem, não conhecendo os prazeres do sexo - desejará ser jovem quando velho for?
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.