domingo, 12 de junho de 2022

escrevo como se ninguém me lesse

 isso, escrevo como se ninguém me lesse. esta espécie de ritual que antes era no papel, o original, de repente passou para aqui - uma janela que se abre para a outra janela, parece-me interessante que o de repente, o instante, fique registado assim, !ai! de mim, como se a baínha a descoser, tão linda, ficam as linhinhas soltas e marcadas até que nunca acabem as alvoradas. e penso no que é ser sacrificial neste jeitinho de ser, trrimtrrim, já não vais fazer a sesta, irmã preciso de ti, tragédia descomunal e o menino viu e ouviu e está mal.

arrependo-me assim que cheguei. pensei em alguma desgraça, um acudam que há inundação, terramoto ou coisa e tal mas afinal não. afinal foi mais uma cena conjugal, enfim, e deixei-me de me descansar, pobre de mim, penso já no fim, pelo menos fico mais descansada porque fui e já não estou tão pesada - ou se calhar agora é que fiquei com mais uma bagagem de preocupação, carregar as dores do mundo não é fácil, uma peregrina corcunda com a perninha a andar e a dar é uma rica imagem, não está mal.

escrevo como se ninguém me lesse, é verdade. assim como é verdade que escrevo por querer tanto que me entenda já que o carrego, noite e dia, no meu peito e na minha cabecinha de cristal, posso dizer estas coisas aqui e assim porque não há como ficar sem jeito. varre-se-me, sempre se me varreu, a timidez de lhe contar tudo; de contar, meu amor.



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