bastou perceber que teria de se esforçar muito para a meter num lar imediatamente, nem tempo tive de me despedir e de lhe deixar uma brisa no rosto, sim, porque marcada de mim já ela estará para sempre. como as coisas são rápidas e simples quando são um peso pesado para alguns, penso, enquanto acelero na estrada para chegar onde já não tenho vontade de chegar. a noite foi dura: houve foguetes, aquele artifício nojento que os cães e que eu odeio, a acordarem-me com susto, o sangue que não pára de jorrar e a saudade do que nunca mexi. anda, dorme, adormece, amanhã é outro dia novo a estrear, viro para um lado, viro para outro, levanto-me, passo a pomada uma e outra vez, parece a assadura dos bebés que não passa e arde muito, desconforto, persianas que fecham mas não se apagam, cérebro a mil, carros que passam sem pantufinhas de lã, deve estar a chover porque os pneus caem nas poças, senão não ouvia o grosso chapinhar, gatos vadios, ou com o cio, parecem crianças a chorar, essa é uma razão porque não lhes aprecio a companhia, depois uma campainha a tocar ininterruptamente, mas o que é isto, o mundo inteiro a azucrinar-me o sono, o riso e o amor, vou fazer queixa ao kundera depois de contar tudo ao do meu derriço, conchinha não há, calam-se os cabrões dos gatos finalmente, ou as poças secaram ou os carros deixaram de passar, o meu sangue continua a correr e talvez a pimenta no rabo seja agora açúcar. adormeci, sono que se esticou como um elástico, se calhar foi o que está a aguardar a saia, !ah!, e acordei realmente em beijo de derriço como se fosse real, abraço a almofada e deixo-me escorregar até à banheira para me levantar. bom dia, Olinda, chegou ao seu destino: tem meia hora para entrar na realidade fantástica e travar a batalha de alljubasrotas do dia. até já.
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