domingo, 31 de julho de 2011

viver, diz ele

José Maria Rodriguez Madoz, Chema Madoz. assim: preto no branco. não interessa onde estudou, não interessa quantas exposições fez nem quantos prémios ganhou - interessa, isso sim, que, para ele, a natureza morta vive. e esta estranha forma de viver sem memórias, única, transporta-nos para uma nova forma de vida: a vida para além da morte. parece hermético o que digo, mas não é - é, em bela-arte, mórbido.




sexta-feira, 29 de julho de 2011

flanar

dá para flanar em e com tudo. mas é a viver que flano melhor - e deus, que não é o dos homens mas o das pedras e dos rios e das flores, passou a ser o meu revisor - do diário de vida que vou escrevendo - de textos.

cedo de seda

a brisa passa de fininho, por entre o rasgar dos olhos e o abrir dos lábios. são assim as verdadeiras manhãs que, cedo, são de seda.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

pés felizes

quem me dera que os vidros pudessem ser apertados como os papéis - assim os pés eram sempre felizes.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

jovem rapariga evadindo-se, 1968

gosto disto, gosto muito - talvez por a evasão se fazer a partir de materiais e objectos achados e ligados que serviam de base para fundição em bronze e que o transportavam, também a mim, para as coisas que amava: os talos de erva, os insectos, as rochas, os brinquedos. curiosamente, esta "recuperação" manual de materiais aparece, perspectiva minha, como o recuperar da felicidade no sentido de fazer viver memórias e cores e formas que saem fora do espírito de um homem de setenta e cinco anos. ainda viveu mais quinze em deleite de deixar as esculturas por debaixo do tecto do céu - dizia ele que o sol, a chuva, o vento e o pó faziam-nas melhores. e é esta criancice por dentro da velhice, o que está à vista que é igual ao que estaria escondido, que me fascina.

escrevo esta escultura, para ti Miró, assim:

são as formas redondas, roliças de carne, de coxas semi-enlaçadas, de paixão vestidas, que desnudam os olhos de um mundo, só de um, que na curva seguem em frente: contornam o mundo de todos, único é o seu - ancas redondas de amor que Deus, quando falou, lhe prometeu.

entre a lembrança e a esperança há tudo o que não há

dividir o tempo em três tempos, passado, presente e futuro, é a coisa mais absurda do mundo: o tempo só é o passado - o que já foi - e o futuro - o que ainda não foi. o presente é sem tempo: o que existe por dentro do que não existe. entre a lembrança e a esperança há tudo o que não há.

(uma salva de palmas, breve, ao presente- que daqui a nada já foi o que estava para ser. breve? breve não: se as palmas forem constantes, o que é - permanece)

terça-feira, 26 de julho de 2011

doce d'açoite

é o acordar que faz manhã
que faz tarde
que faz noite
é o sorriso do sol que nos cai como doce d'açoite - enche-nos os olhos de açúcar e, ai, a pele:
a pele fica-se-nos barrada, doçura, como se de esperma de luz com mel

ponta



há quem viva em ponta delgada; há quem enfrente horas de ponta; há quem não valha a ponta de um corno; há quem não tenha ponta por onde se lhe pegue; há quem não dê ponta sem nó; há - há pontas que nunca mais acabam que não chegam à ponta do meu nariz, bem visto, à ponta que o pariu.

(e basta-me pô-la de fora da janela, na abertura das persianas do dia, para adivinhar se a praia hoje vai valer a ponta - a ponta dos lacinhos do biquini na ponta do sol que se mete na ponta da água. estou ponta.)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

melenar

a rádio local hoje escolheu-me para, assim que acordasse, brilhar. eu era tão tenrinha quando ouvia isto - e ficava tão feliz. fazia castelos altos, inderrubáveis. mais: fazia castelos compridos. e talvez tenha nascido lá esta panca de tutear as minhas melenas.

domingo, 24 de julho de 2011

a vaidade usa rugas

a vaidade de ter oitenta e quatro anos e vivê-los com alegria é surpreendentemente maravilhosa: coisa muita para poucos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

sapatos, peixe e viver



muito mais do que morrer de aborrecimento, o que está perfeitamente comprovado pelos ratos de laboratório, o que está na moda é viver de aborrecimento. eles acordam de manhã, lado a lado, não dizem, pensam: não te mexas, não respires. e durante a manhã ela pensa nos sapatos de verniz que a outra tem e que também quer ter e mal tenha os dela serão imediatamente mais giros e mais caros e mais verdadeiros do que os da outra que teve primeiro e ela gostou e foi por isso que os foi comprar, no intervalo das cinco, durante a tarde; e ele não pára de pensar na peixeira, que vê todos os dias de relance quando vai almoçar, que é gorda, e quem disse que a gordura é casaco de tesão para uma sem espinha depois de uma patanisca durante a tarde. e ao fim do dia ou ao início da noite, conforme se pensa em luz ou em escuridão, lá estão eles lado a lado, não dizem, pensam: não te mexas, não respires.

pareceu-me mesmo bem o pão fresquinho com clã

o vento tem toda a razão

o mundo anda uma valente panelona de feijoada - e depois queixam-se que o vento não pára.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

minimini história

ouvi uma mulher chamar, aflita, pelo Pascoal. percebi, entretanto, que Pascoal era o filhote - aproveitando a distracção dos pais, saiu do local onde estava.

(e eu, eu vim logo a correr para casa com ganas de bacalhau)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

a ilusão das partes

há uma coisa que se pode concluir de um bolo de laranja caseiro: para se absorver toda a vitamina das laranjas que lá se colocam tem de se comer o bolo inteiro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

lucidez

"é o olho do cu o mais miraculoso em que se concentra toda a energia nuclear da nudez." Milan Kundera

barbas desfeitas de amor



por estes dias, à porta do Feira Nova que agora é Pingo Doce, um homem pediu-me dinheiro, nada de anormal portanto, e eu olhei para ele e vi qualquer coisa que não sabia explicar - como se ele tivesse alguma coisa para me contar e eu para ouvir. foi então que pousei tudo, sentei-me no banco do condutor, porta aberta e ele no lado de fora, e enquanto fazia sandes mistas e abria um sumo para lhe dar, disse-lhe: dinheiro não dou mas estou a preparar-te um farnel e em troca quero uma história. (hoje tenho a impressão que foram as barbas sujas e os olhos aguados que me fizeram distingui-lo dos outros) o homem ficou envergonhado, não pela minha proposta mas por parecer que  tinha uma história para contar há tanto tempo, uma história no prelo do alívio, que ninguém queria ouvir. mas queria contar muito mais do que queria comer. e assentiu. ao mesmo tempo que iniciava o farnel, libertava a sua história. tinha sido há muitos anos que conheceu a mulher com quem casou e que, até aquele dia, amou. tinha, igualmente, sido por aquela mulher que, para a defender, se envolveu numa luta que saiu torta e mesmo sem querer matar, matou. e foi condenado e preso e foi feito triste. a mulher por quem nunca pensou estar disposto a matar pelo simples facto de não querer ficar sem ela abandonou-o com simplicidade: deixou de visitá-lo e não esperou por ele - arranjou outro; as barbas, entretanto, foram crescendo como se tranças do tempo nele parado; os olhos foram ficando cada vez mais tristes, com águas mornas cada vez mais frias. mas, naquele dia, naquele dia a história que ele queria contar e que eu quis ouvir saiu do prelo, cumpriu-se. e num outro dia, lá estava ele - mas de barba cortada e olhos bem abertos - a perceber, aos poucos, que o amor só vale  a pena perante almas que não são pequenas de amar - perante corações que não são minguados de dar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

não te passes - passa-te ao lado

se tiveres, na tua vida, conhecido alguém do pior tens de ficar contente por ter sido o melhor que te aconteceu: conhecer o pior cheiro faz-te perceber o melhor dos aromas. e, depois, tudo o que cheira mal, a malina, passa-te ao lado.


vamos celebrar:

domingo, 17 de julho de 2011




estou confusa: o povo diz que melancia é água fria e os cientistas dizem que quando se come melancia há um relaxamento dos vasos sanguíneos através da citrulina - a mesma substância que é convertida em arginina e utilizada no viagra. 

na minha modesta opinião os hipermercados, pomares, e vendedores de beira de estrada deveriam apelar ao consumo de melancia - e até apostar no desencaroçar: pronta a comer - colocando o seguinte slogan:
 "seja comilão, se precisa de erecção. coma melancia e esqueça a água fria". é que as coisas do povo andam a foder o povo que quer foder. e, depois, o consumo de melancia faria disparar a procura. quem sabe não está na melancia a solução para o equilíbrio das contas? - até poderiamos passar as palhetas, na produção, à Espanha. e mais - se pensarmos que a erecção pode ser igualmente intelectual, era ver o poder de decisão completamente activo e tesudo.

(ainda vão a tempo do festival da melancia no ladoeiro. esquece lá o sonho da melancia de 50Kg, António Galante, e aposta na melancia, aos cubos, pronta a comer, sem caroço. conselho de Sinhã)



purpurinas de sem muro

é o porto mais seguro, a casa do seu monte: nem as janelas e as portam se fecham; nem os tectos tímidos escondem estrelas; nem os verdes parados páram de crescer - a casa do monte é o porto, seguro, das purpurinas dos olhos que vivem sem muro.

o verbo dar conjugado no presente indicativo da modernidade

eu recebo, tu dás, ele dá; nós (tu dás eu recebo) recedamos, vós dais, eles dão.

sábado, 16 de julho de 2011

cheiro da mata e terra

de repente, o que é ser de repente porque se é é porque já lá está, deu-me ganas de ouvir, ouvir em voz alta porque de onde vinha já estava a tocar, este cheiro da mata e terra.

fealar, digo eu



se a falação fosse virtuosa seria uma verdadeira felação e se a virtude da felação estivesse também no princípio e no fim, fosse completa, seria, um verdadeiro virtudo, fealação.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

intimidade de cabelos em pé



se os cabelos ficam brancos, se são uma das marcas do tempo tal e qual as rugas, é porque têm muita mais importância do que se possa sequer imaginar - razão pela qual não são para andar a ser esfregados e apalpados e mexidos à toa. da raíz até às pontas, os cabelos carregam histórias e músicas e segredos e aquilo a que chamam cabeleireiros deveriam chamar-se psicoterapêutas. para isso, porém, havia de haver esta consciência colectiva - que os próprios profissionais não têm. como não há, há a minha individual, há que evitar que desconhecidos toquem nos meus  - eles não precisam de tratamento. precisam, isso sim, de ser selvagens e felizes, de pontas em contentamento:  intimidade que me põe de cabelos em pé.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

ovos poéticos

 jantar ovos no terraço, quando a noite chega, é comê-los estrelados.

abracadabra: sentir


não podia ter vindo mais a calhar a palavra do dia, do priberam, ser impetrar. é que quando estamos em dilema, quando temos de tomar uma decisão, o que implica sempre uma escolha entre duas ou mais opções, todas com prós e com contras, podemos sentir ou pensar tudo menos impetrar. o exercício da resolução de dilemas passa por pegar na consciência e colocá-la, como uma rosa que se quer viçosa, ao peito. e ficar. e, depois, juntar-lhe, ao peito, os pensamentos - e sentir. fazê-lo para cada uma das opções e perceber, sentindo, se leve, se alegre, se pesado, se triste, como fica o coração: a resposta. simples. é bem simples escolher quando o sentir é tudo o que não pode deixar de ser.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

ai, ui, atirem-me água salgada

foi Deus
o que vive no meio do mar e da areia
e do vento
que as searas de peixe semeia
que preferiu a água salgada à água benta
a primeira mexe na pele da belezura
a segunda fica. parada. na benzedura

(ai, ui, atirem-me água salgada)

concerto de fadas

uma vez eu disse que tenho três fadinhas, a fador, a fadria, a fadiso, que me vigiam o sono. mas afinal são mais. há uma multidão de vigilantes, para lhes decorar os nomes a todas ainda terei de dormir muito, que asseguram um verdadeiro, o meu, acordar. esta noite fizeram-me um concerto, que adorei, com esta música:

terça-feira, 12 de julho de 2011

mensageira da reconciliação

já não me lembro onde li, mas li, que um momento de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade. se assim é, e como está visto que os vivos valorizam mais os vivos quando morrem do que os vivos e os mortos quando vivos, eu ofereço-me para levar cartas aos mortos. ser a mensageira da reconciliação, ler cartas de amor.

(já não penso noutra coisa)

ainda não sabias que as minas de merda são as melhores?

a maior vantagem competitiva que um país pode ter é o capital intelectual - são os activos intangíveis como a qualificação, a tecnologia de informação ou os incentivos à inovação que, aliados à força de trabalho, perfazem a agregação de valor e geram riqueza: é este o adubo, o maior bem que um país pode ter. e isto serve para tudo, para todos os sectores - principalmente para aqueles que estão na merda porque é, bem visto, a merda que faz crescer. levanta-se, com esta merda toda, um pseudo-paradoxo interessante: o investimento na merda aumenta as potencialidades de mobilidade social, de mobilidade do capital, da merda do cérebro humano como gestor do conhecimento. a parte do pseudo é aquela em que se aproveitarmos os recursos, a mão de obra e o material intelectual bruto (depois transformado em capital intelectual) para fazermos compostagem caseira - e entenda-se caseira como nacional -, transformando a merda em adubo, nenhum cérebro merdoso vai querer zarpar: quem é que não quer ter uma casa com jardim na sua terra?

o adubo é, portanto, a chave da vantagem competitiva, de aumento e facilitação do fluxo interactivo produtivo. porque adubar passa um pouco por cagar na aflição do ciclo de desenvolvimento, cada vez mais curto, dos produtos e meter a mão na merda, de forma cada vez mais crítica, na qualidade, no valor agregado, no serviço, na inovação, na flexibilidade, na agilidade e na velocidade.

ou ainda não sabias que as minas de merda são as melhores?

amor e vacas




se imaginares uma vaca, feliz, olhos brilhantes e doces, malhada, a pastar em lentidão num prado verde pintado de sol, não consegues comer um bife.

(com o amor acontece exactamente o mesmo - mas ao contrário)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

prendas estendidas


em dias tranquilos, de céu, como se em risco na tela, como se em pincel na mão dela, nasce a dança em planar: as gaivotas são prendas da vida, perdidas - são asas abertas em altura estendidas.

radiotécnica

andar de rádio desligado é, talvez, a melhor forma de assincronia - já que a sintonia é outra música.

domingo, 10 de julho de 2011

gambozinos ou uma imagem de viver

se eu fosse de valorizar os sábados e os domingos, passava-os a apanhar gambozinos. como, por uma questão de igualdade, os dias têm a mesma importância, prefiro apanhar gambozinos, todos os dias, a tempo parcial.

s. quase milagreiro

o que distingue um português de um outro qualquer é o quase: o português é aquele que corre mas que quase ficou aleijadinho com o acidente que teve; ou o que continua solteiro mas namorou muito tempo e quase casou; ou a auxiliar que quase acabou o curso e foi quase médica; ou o que está bem vivo e quase morreu de ataque cardíaco; ou o que continua teso como um carapau mas quase que acertou no euromilhões; ou o que se tivesse feito e não fez quase que foi feliz. o quase é, portanto, uma espécie de imagem de relaxação, uma espécie de passado potenciado em futuro que serve de consolo ao presente, uma inesperança que dura e dura e dura.

ouve, isto que estou a dizer é mesmo interessante - esta inesperança portuguesa é a única que não é quase. a inesperança é mesmo um placebo da certeza da desesperança e, por isso, milagreira. quase que arrisco dizer que, português que é português, faz e assiste a um milagre todos os dias. até o José quase que podia ter sido  reeleito se o povo não o tivesse posto no lixo; até eu quase que podia ter comido mais ao pequeno-almoço se não pensasse tanto. na verdade, a verdade é que eu rio de contente por estar a escrever com fome e o José chora de tristeza por saber que se fosse ele o lixo a coisa cheirava melhor.


sábado, 9 de julho de 2011

banda sonora

inexplicavelmente, acorda-se com uma música a tocar dentro - que mais ninguém ouve -: vem do estômago. será isso, talvez, a melhor definição de banda sonora.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

camas mentirosas a dobrar

após ouvir uma notícia em que o arguido teria sido considerado inocente de violação, por ter agido em estado inconsciente de sexossonia, resolvi fazer, por curiosidade de algo mais ou menos incomum, uma pesquisa no google sobre esta doença. e que espanto, o meu, quando a informação é tão escassa - três ou quatro apontamentos de páginas brasileiras, muito ao de leve, e as restantes, muito ao de pesado, indicam caminho para pornografia. enfim: o google anda murcho.

ora os meus sinos curiosos tocaram quando ouvi uma psiquiatra referir que esta doença, mais comum nos homens devido ao facto da testosterona ser produzida durante a noite, pode manifestar-se de forma física mas também de forma psicológica - visto que a vítima é sempre quem dorme ao lado deste doente que não sabe que é doente. quer isto dizer que a velha história, que já ouvi muitas vezes, do marido que acorda durante a noite para fazer sexo e ejacula e já está, demonstra que a doença não é assim tão fora do comum como se diz. o que acontece é que o homem (apesar de também haver casos no feminino - mas poucos), sem desejo (sim, porque o desejo só o é se for consciente), procura quem estiver a dormir com ele apenas para libertar a testosterona e a outra pessoa, mesmo sem desejo mas porque não quer dizer não ao suposto desejo do outro, torna-se imediatamente num despeja-testosterona. isto dá que pensar: quantos relacionamentos, quantas camas partilhadas dormem numa grande, acrescida à mentira consciente e de olhos abertos, mentira quando interpretam o balde de testosterona como um amo-te muito até a dormir?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

que é isto?

há quem se dê ao trabalho de ir até às cavalarias medievais enchê-las de contemporaneidade estética. um nojo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

máquinas de lavar roupa e finanças

percebo bem as máquinas de lavar roupa: quando estão com carga a mais, nem que seja um caso isolado numa lavagem, saltam, saem do sítio aquando da centrifugação - é tal e qual como, em bichas de ponta, nas finanças.

ainda vais a tempo de burilar o teu portuguesismo

Convite
Ciclo de Conferências

 - Novas Ideias/Novos Negócios -

 AEP - Leça da Palmeira   7 de Julho de 2011
14.30h - 18.00h


 

Em 2011 a AEP iniciou um ciclo de Conferências onde o lugar de destaque é dado a novos valores nacionais. Pessoas criativas, ousadas e que apostaram com persistência e coragem, trilhando novos caminhos e mostrando que há uma nova geração disposta a isso. Este ano daremos a conhecer alguns desses exemplos de Novas Ideias que se transformaram já em Novos Negócios, ou projectos de negócios, criando espaços de debate e de partilha de experiências, com especial ênfase na Nova Competitividade e Novo Empreendedorismo, apontando soluções e novas direcções.

Nesta segunda edição, apresentaremos três ideias finalistas do Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto (iUP25K) ideias que se poderão traduzir em novos negócios e que serão apresentadas pelos seus criadores.
Seguem-se dois casos de negócios inovadores já implantados no mercado, que surgiram de ideias iniciais simples e que foram desenvolvidos com base no espírito de iniciativa e persistência dos promotores.

 


O caso Mon Musée – Qualquer museu em qualquer parede
Finalista do Concurso iUP25k, o Mon Musée é um conceito que divulga de uma forma inovadora as exposições temporárias e permanentes dos grandes museus e galerias mundiais pela projecção em locais de destaque de imagens das obras de arte, seleccionadas pelo cliente numa Art Store online, intuitiva e simples.
Os apreciadores de arte terão acesso, temporário ou indefinido, às imagens de um conjunto de obras. Podem, por exemplo, apreciar uma selecção de obras da última exposição temporária da Tate Modern. Em síntese, o Mon Musée transportará as paredes dos museus para todos os locais onde houver um projector/ecrã, oferecendo uma solução de divulgação e decoração dinâmica com vantagens para apreciadores de arte, artistas, galerias e museus.

Equipa: Pedro Amorim (Doutoramento em Engenharia Industrial e Gestão - FEUP); Bernardo Maciel (Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores – FEUP); Pedro Pardinhas (Mestrado em Economia e Gestão Internacional - FEP).

 


O caso Scootzz
Scooter eléctrica de alta eficiência e totalmente personalizável

Segundo classificado do Concurso iUP25k, este projecto foi gerado a partir da paixão por veículos motorizados partilhada pela equipa promotora, estudantes do Mestrado em Empreendedorismo e Inovação Tecnológica (MIETE) da Universidade do Porto. A Scootzz aposta na produção e comercialização de scooters eléctricas, assentando em princípios como a vertente ecológica e a redução de custos associados às deslocações nos meios urbanos.
As recentes evoluções da tecnologia das baterias, a sua redução de custos e o aumento crescente do preço do petróleo, fazem com que economicamente as scooters eléctricas sejam competitivas comparativamente com as suas congéneres de combustão interna.

Equipa: Tiago Tavares Novais Barbosa (Lic. em Engenharia Mecânica - FEUP); Paulo Correia (Lic. em Economia – FEP); Pedro Oliveira (Lic. em Comunicação pelo Inst. Politécnico de Viseu); Alexandre Sousa (Lic. em Engenharia de Telecomunicações e Electrónica pela Univ. do Porto) e Paulo Silva ( Lic. em Ciências da Computação – Univ. do Minho
)

 

O caso My Home Cloud. A sua casa. Sempre consigo.

O My Home Cloud é um produto inovador na área da domótica, totalmente integrado, que permite interagir com a habitação a partir de um smartphone.
A ideia surgiu da necessidade de tornar cada vez mais a casa como um espaço acolhedor e confortável, melhorando a qualidade de vida do indivíduo. Esta tendência, combinada com as crescentes preocupações globais com as questões energéticas, tem vindo a despertar nas pessoas a procura de soluções inteligentes que lhes permitam poupar energia sem comprometer o conforto das suas casas.
Este produto pretende revolucionar o conceito de domótica, adicionando a possibilidade de controlo da casa através de um simples PDA ou smartphone.
Equipa: André Sousa (Mestrado em Engenharia Informática e Computação - FEUP); João Rocha Silva (Mestrado em Engenharia Informática e Computação – FEUP).

 

Caso Sucesso 24 – 24 horas pelas pessoas

A Sucesso24horas é líder no mercado de recrutamento, selecção e gestão de recursos humanos na área da saúde e da assistência social. Os serviços prestados dirigem-se a todos os profissionais de saúde e da área social que procuram mudar de tipo/local de trabalho ou realizar serviços adicionais como complemento da sua actividade profissional habitual.
Baseada na experiência internacional dos seus consultores, a Sucesso24horas apresenta uma evolução notável, contando hoje com uma extensa e variada base de profissionais do sector, espalhados por todo o território nacional. Um número que cresce diariamente e que confirma a qualidade do serviço prestado.
António Fernandes CEO da Sucesso 24 virá apresentar-nos um caso sério de sucesso que vale a pena conhecer melhor.


Moderador: Peter Kirby Higgs  B.Sc. Econ. com honras em Economia Monetária  pela London School of Economics. Trabalhou como Gestor em 5 países e quatro continentes para Multinacionais (empresas dos grupos Unilever, Pepsi-Cola e Esmark). Vice-Presidente Serviço a Clientes MBS Inc. e Palmer Bonner. Presidente da ADVP Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Portugal. Autor do “Ciência de Serviços: Marketing de Serviços” (ULHT)
 

Consulte o programa
Conferência gratuita mas com inscrição obrigatória.

Incrições limitadas


Para informação adicional mais detalhada contacte-nos através do Tel. 22 998 17 53 ou
 e-mail: isilva
@aeportugal.com

           
AEP – Associação Empresarial de Portugal
Av. Dr. António Macedo ◦ 4450-617 Leça da Palmeira ◦ Portugal
T:+351 22 998 1753  F:+351 22 998 1771
formacao@aeportugal.com◦ 
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terça-feira, 5 de julho de 2011

princesa

viva a irracionalidade sem género: uma pomba branca tem de ser também raposa, para fugir das armadilhas, e, para amedrontar os lobos, leão.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

e mais nada

não há dissonância alguma: o amor tem coração feudal, medieval, de compromisso, fidelidade, e abnegação; e tem alma que venceu a revolução francesa, a bastilha, de igualdade, confissão, de serafins iluminados.

é bem simples.

domingo, 3 de julho de 2011

solgredo

ando aqui a pensar ao sol
que se fosse uma flor
queria ser um bem-me-quer
para decidir os dedos teus
sempre que me despisses as pétalas



(texto produzido para participação na Fábrica de Letras)

pelo pé dorme o sono

nem sei se faz grande sentido dormir com um pé de fora se o resto do corpo tem, mesmo havendo calor, de estar tapado. a verdade é que tem noites que respiro pelo pé.

sábado, 2 de julho de 2011

?

sonhei que ao entrar no mar me fazia onda. agora vou ter de lá ir- vou descer a rua, com pressa, a ver se não lá fiquei.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

gomo a gomo

dizem ser a cor do amor, talvez por gomo a gomo se tomar o sabor, mas não tem cor o que no fogo e na água não há - porque é um que afaga o outro: no ontem que foi, no hoje que é, e no que será amahã.

em pose

quase que está cansada, quase que está dormida, pupila oval de menina, que parada descansa o monte: em pose aguarda o gesto - que será para a barriga, a sua, como água, pr'á boca, da fonte.

faniquinhõ

está quase a dar-me o fanico. não há nada pior do que estar numa bicha e ter alguém atrás de nós, mais alto, a respirar-se todo para cima de nós. vem aquele bafo quente que faz vento para os ombros e para o vale dos montes. e mesmo antes de pensar que teria de me lavar com urgência para tirar os murcões alheios da minha pele, pensei assim: porquê que não deixas de respirar? só que depois também pensei que se o gajo morresse ali mesmo, com aquele bafo pesado, tombava era em cima de mim. voltei o pensar todo atrás e fiquei-me pela urgência do gel de banho.

out of mesmice

ui, o que se passa comigo, não só pensei que hoje seria quarta-feira como desconhecia, até há um minuto, que é feriado. não sei a quantas ando, ando sem a mínima noção do tempo - talvez seja bom se pensar que não sofro de mesmice.

minhoca e peixe, moda e filosofia

foi em 2004 que Jum Nakao deu a conhecer ao mundo a costura invisível. muito mais do que roupas e estilo, o criador pretendia mostrar como a moda pode ser usada como instrumento para instigar o pensamento, na perspectiva de que são as roupas que, fisicamente, nos separam do mundo. nascia, assim, na São Paulo Fashion Week, a provocação da inquietação e consequente reflexão na moda - algo que parecia, de todo, impossível: Nakao confeccionou roupas em papel aptas a serem rasgadas durante o desfile: até que ponto anda a humanidade interessada além das formas?

numa época em que a aparência vale quase (senão) tudo - assemelhando-se à corte francesa de luxo e etiqueta, em muito ditada pelas regras da igreja católica para destrinçar os polidos dos rudes - vale, sim, abanar as estruturas sociais que se alimentam da imagem. mas não é esse, igualmente, o alimento de Nakao? depois do desfile e da minhoca lançada, surgiram-lhe imensos convites de moda, televisão, teatro, cinema. não haverá aqui um paralelismo ente Nakao e Hume pela simples demarcação de um estilo? sim, é que Hume também se interessou pela sedução das indomentárias para servir a reflexão e acabou por gostar de viver, em luxo, em Paris. lá está, são poucos os que não se vendem em nome do que fazem, supostamente, a bem do mundo. tretas. conversa de esfomeados e sedentos de ambição e de protagonisto e de exibicionismo e de vaidade. são estes, afinal, a minhoca e o peixe.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

promessa cumprida

algodão doce, feito à medida do céu, ignora o tempo dos Homens e do futuro: o céu só disse que se faria doce: e cumpriu com o que prometeu.

se assim é, tem de dar para tudo

os Homens falam de Deus a torto e a direito porque, e apenas, fizeram-no à sua semelhança. ora não pode ser pecador aquele que meter Deus na diarreia ou num simples arroto.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

eurekinhã

fiz uma descoberta, e toda a descoberta é poesia: a melhor forma de limpar cagadelas das moscas é cuspir para o pano imediatamente antes de o usar para limpar. vou esvaziar um frasco de detergente, ineficiente e ineficaz, e cuspir até ficar cheio. depois, é só usar e salivar as recargas.

apetites

ando com vontade de navegar numa piroga. e de ter lições de clavicórdio também.

fisiologia versus mentira

quando as gentes mentem com convicção quase que se tornam verdadeiras - quase. mas apenas porque só elas próprias sabem que não são a verdade. e há maior mentira do que a que, em si, não é verdade? ser, portanto, uma verdadeira mentira é o único triunfo de quem mente verdadeiramente. na verdade, a mentira, essa mentira convicta que tanta gente atrai, é uma sombra esquizofrénica e fraca que, de tão fraca que é, se torna no ponto forte dos portadores de mentiras convictas. regra geral, estes baseiam-se na verdade de alguém verdadeiro para tomarem a verdade, que não é sua, como sua - e passam a fazer da verdade, da única, porque a verdade é exclusiva e uma só, a sua bandeira.

é verdade: não faço sempre questão de me esquecer de mentir porque a verdade não é consciente - a verdade é como, e é tão lógico como a irracionalidade, o respirar fisiológico.

terça-feira, 28 de junho de 2011

lição de vida

quando o céu está cinzento, o verde não sobressai tanto. e é por isso que há sol encoberto: para lembrar as árvores e as ervas e as flores que a bazófia tem rédea curta.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

amor & amor & amor

ainda há quem pense, e bem, sobre o amor. e só pensa bem quem, bem, o sente ou já sentiu.

(só não vale amargá-lo - o amor não pode ser condenado porque só o é se for inocente)

double circuito

já dizia a minha avó, é o que se costuma dizer, sem nunca ter ouvido a minha, não dizia mas eu faria com que dissesse, porque a sabedoria vem de longe, pelo menos bem mais longe do que do instante, que é curto, que um curto-circuito nunca vem só.

domingo, 26 de junho de 2011

pois, está bem, por acaso, vão ter muita e boa sorte

gosto tanto de calor abrasador como de gelados - se chupar um por ano já é muito. e, depois, tanto um como outro têm a mania que me cativam, voz grossa e rouca, quando me dizem: até te derreto. pois, está bem, por acaso, vão ter muita e boa sorte.

sábado, 25 de junho de 2011

comósgatos

como os gatos, não. este gato não é traiçoeiro - é uma delícia de se ler e miar por mais.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

o ser foguete e brasileira de dicionário

acabar com os foguetes é uma medida urgente a ser tomada. os foguetes causam danos: os foguetes são barulhentos, cheiram mal e muito perigosos e nem por isso fazem com que se deixe de correr a foguetes; quem gosta de foguetes só pode mesmo ser como um foguete - artificial. é que quando há trovões o povo recolhe-se, tem medo, assusta-se com a naturalidade, com a singeleza e, no entanto, teve de inventar uma cópia reles dos trovões, uma cópia tingida e, ainda assim, sem viveza. porquê que quando sentem vontade de foguetar não ficam em casa e desfrutam dos próprios gases? há festa maior do que foguetar em privado junto dos que mais amam? façam concursos, experimentem odores, façam os gases em pino. divirtam-se a valer e mandem os foguetes atirar-se ao rio. já pensaram que se não houver quem vá para a rua as pirotecnias não dão o peido? se é uma questão de manutenção da empregabilidade nas pirotecnias não se preocupem -  elas sobrevivem para a indústria extractiva e para o nonel. faz assim: quando tiveres vontade de foguetes com gente, ligas a um amigo ou a um parente ou ao namorado e fazes o teu próprio show. e se é um barão que te falta não desanimes - há sempre um vão de escada à espera que libertes os foguetes que vivem dentro de ti.


(tenta ser brasileira de dicionário, de vez em quando - não é defeito, é ser foguete)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

pássaros de latão

são semelhanças de asas, como se boar fosse voar, imitações dos homens que não sabem  no céu andar - fazem pássaros de latão, como se deus artesão, com voo na mão: sonhar.

quero ser-me em bruto achada

não me apetece ir, não sinto motivação, à apresentação do meu próprio conto e não dormi a noite toda a pensar nisso: não fui eu quem o escreveu - foi ele que me escreveu a mim. e venceu. simplesmente não quero ver o meu ego feliz porque não preciso de ego - o ego é como se fosse outro, um outro vaidoso e prepotente, que, a viver dentro de nós, na mesma casa e numa outra assoalhada, nos lapida. e eu não quero ser lapidada. eu quero ser, continuar a ser, só eu. quero ser-me em bruto achada.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

médicas em folga permanente

não há hipótese: pela minha experiência os médicos são mais competentes do que as médicas - pelo menos comigo. são simpáticos, pacientes, respondem a tudo o que lhes pergunto e são dóceis. as médicas são, talvez em comum tenham um complexo de superioridade, cabronas. por mim, estão sempre dispensadas para gozarem a sua pseudo-superioridade à vontade. e fazerem bom proveito.

queralho?

o povo é sádico: fez da cabeça do S. João, trazida pela Rainha, que nem sequer viveu no Porto, uma festa, regada a sardinhas e vinho, para ficar. talvez daqui a meia dúzia de séculos a folia viva de outras cabeças que, no Palácio, andam a rolar, e o santo a querer alho seja o S. Bento.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Mexia? mexe. sempre.

"Porquê «mudança» e não «aceitação»? A mudança é em geral uma forma de logro. E a aceitação é talvez uma forma de felicidade."

Pedro Mexia

relva e luas

o contacto com a relva pode, muito mais do que a apreciação dos vivos pequenos (está bem, pequenininhos), resultar na apreciação dos olhos, dos teus. se te colocares de bunda para o sol, livro em sossego, e os óculos na ponta do nariz vais, entre um arranjo e outro, alcançar aquele ponto em que o efeito é de lupa. e o que vês é o reflexo dos teus olhos e da pele circundante e das pestanas - vês tudo ao pormenor e aumentado. é bem interessante: contar quantas pestanas, a sua direcção e espaços; a textura da pele e o brilho dos olhos. eu sabia que tenho os olhos muito brilhantes mas hoje tive a real noção de possuir duas luas. até merecem uma música.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

boa noite, influências africanas e caribenhas

coito e tal

ouve-se daqui, toques de ele e de ela - tão bom tão bom tão bom -, quando o mar e a rocha se amam: são os corações a pulsar que, em uníssono, sussurram espumar.

de perto se faz mesmo perto

entre um piu, piu, piu e uma onda a distância é mesmo curta - é a de misturar areia com árvore.

gentes-penedo

há gentes que são, efectivamente, como um penedo: quando uma mulher não é o feminino no seu pior, ah porque não tenho força e tal, não posso, não consigo, sou frágil, posso partir uma unha, é imediatamente tratada como um homem - o que se presume que homens-penedo e mulheres-penedo vivem colados a uma lista de potencialidades, perfeitamente ridícula, a que estão aptos e da qual, dali, não saem.

(eu havia de treinar todos os dias a carregar um touro às costas - no dia em que assumisse que, por ser mulher, não tenho força)

domingo, 19 de junho de 2011

respostas simples

 perguntaram-se o que penso de o mundo acabar. se o mundo acabar, acabou - não vejo problema algum nisso porque também já não estarei cá. e, depois, se tenho medo de morrer. se morrer, morri - terei a eternidade por minha conta para me debruçar sobre a morte.

sábado, 18 de junho de 2011

sorriso em flor

não sei o nome das flores. sei que as olhei e as fixei: aveludadas e fartas de pétalas e, todas juntas, fazem um efeito almofadinha recortada onde dá vontade de roçar a ponta das orelhas. voltei tudo para trás e fui buscá-las. quando cheguei, despi-as dos vasos apertados e molhei-as. sorriram-me. sorriram-me tanto que a cor ficou mais forte, mais fúcsia. e, depois, escolhi um vaso preto brilhante a ser penetrado pelas raizes das belas. delas. e aconteceu: sorriram em simultâneo e não voltaram a ser os mesmos - nem o cimo da mesa onde vivem, nem a sala, nem a casa. eu também sorrio mais: tenho mais um motivo para sorrir. cá em casa, há rugas de expressão.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

cetim com tule

é, por fundos nunca antes navegados, azul, mistura de doces e salgados, assim: linhas cruzadas em novo, tecido original, azul - mistura de cetim com tule.

provérbio recauchutado

às vezes o que parece é mesmo o que é.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

porquê que não queres ser marinheiro?

se há mais marés do que marinheiros porquê que cerca de um quarto dos estudantes portugueses continua a optar pelos cursos de gestão e de engenharia em vez de ir para a marinha?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

luadeira

em cornos de croissant, lua feiticeira, minga nua. e não, não é erro a nudez fazer minguar: a lua crescente gosta muito de brincar.

remédio santo e veloz

a melhor forma de espantar, quando se é obrigada a parar numa operação STOP, a polícia é dizer que abro, com muito gosto, a mala mas terá de ser um deles a abri-la em três tempos e um outro a segurar na porta para poder verificar a existência do triângulo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

encantamento

ai como é sensual, sentidos em espiral, o tempo a ficar no branco  - como se cheiro de chuva, com relva, nos dedos: em encantamento ouvem-se segredos.

eu sei bem a diferença, e tu?




a diferença entre um  inteligente e um  pseudo - inteligente reside na inteligência: enquanto o pseudo-inteligente anda munido, cheiinho de caganço, das inteligências dos outros e as converte na, supostamente, sua - o verdadeiro inteligente vê os outros converterem, como deve ser o fluxo do conhecimento, como processo de ciclo virtuoso, a sua inteligência na deles.

(é basicamente o mesmo que ser vaca natural e ser vaca transgénica - esta última teima em pingar e deixar a sua marca postiça, elaboradíssima, nos outros)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

os homens que lavam a louça têm uma vida sexual mais activa?

ouvi a pergunta na televisão e fiquei a pensar de onde virá tal associação. ora esta questão só poderá surgir de um dos seguintes pressupostos: os homens que fazem mais sexo têm mais vontade de lavar a louça ou lavar a louça potencia o apetite sexual? dependerá do detergente que é usado ou este não tem peso algum? dependerá da parceira ou do parceiro ou este não terá, igualmente, peso? isso quer dizer que um ajudante de cozinha de hotel poderá passar metade do seu turno a foder hóspedes? ou que um marido, após um dia de trabalho, que lava a louça após o jantar passou o dia a foder com outras?  - ou que está a mostrar, à sua mulher, de forma indelével, que quer ter uma noite de sexo? quererá também significar que quando a louça fica mal lavada o homem não presta na cama? e quando é que um homem não presta na cama - quando arrota ou quando precisa de palmadas para arrotar? - e isso terá que ver com os restos que rapa do tacho? e se partir um prato, quer dizer que anda com cãibras?

estou confusa, que é isto, como podem os Mêncios do século vinte e um não serem curiosos como eu?

domingo, 12 de junho de 2011

chama

zelo vigilante desde a base até ao fundo: importa manter a chama - a que chama do eu do mundo.

um nojo de luxo

não percebo o fascínio das gentes por piscinas - elas são uma pocinha de águas, onde os corpos carregados de lixo se lavam, mornas paradas: uma banheira, de banhos, colectiva. que nojo.

sábado, 11 de junho de 2011

quase mergulho

terra, ar e água, está quase, está quase tudo para ser um turbilhão, onde está, por onde anda o fogo, que em mergulho se atira à água - ficar em terra e no ar é que não.

que delícia de mistura de sotaques

quinta-feira, 9 de junho de 2011

como te amo, Sinhã

ontem descobri algo novo que pode fazer-se quando se está fechada dentro de um carro parado que não pode ir para lado algum: pegar num lápis preto, riscos aleatórios e sem direcção, olhos fechados em movimentos abertos, ora precisão ora falta dela, e pintar a cara toda. abrir os olhos e olhar o pequeno espelho; olhar para fora do carro e ver os olhares dos outros e perceber que a vida, a minha, é mesmo isto - pintar, riscar, acrescentar, a cada dia, uma linha incerta traçada de certeza que é no meu espelho - e não nos olhares dos outros - que vivo. e, depois, arranjar uma forma, a minha forma, à medida de mim, de limpar a cara: superar, com criatividade, a falta de recursos da hora certa no sítio certo para ter a minha pele, a minha pele, as cortinas de cetim das janelas do local onde vivo, limpinha.

(serviu bem usar lenços e baton em creme para, pedaço a pedaço, remover a experiência. e quando dei conta, o carro já estava a andar. sorrisos de orgulho de mim. muitos.)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

canas de vida

águas fortes, que paradas não ficam, correm - vão, as conchas e as pedras e os peixes, embalar: para que servem as pontes, senão para serem canas que levam ao pescar?

terça-feira, 7 de junho de 2011

pedras celestes

vitrais que são anais do tempo, da glória, pedaços de luz achados sem mestre, memórias de um, de todos: pedras esculpidas da abóbada celeste.

espirrar, ventar, solar, orvalhar

muito eu gosto quando ponho um pé fora da cama e, logo a seguir, um espirro fora do âmago - isso quer dizer, apenas, que está sol e vento fresquinho. e é quando o vento bate assim, que os aromas se alastram e as flores deixam fugir as saias e deixam que ele as leve para onde quer. depois, envergonhadas e nuas, ficam a aguardar que o sol,  mas só porque as ama decom verdade, se ponha nelas.

(ou não é o orvalho da manhã o escorrer dos liquidos felizes delas?)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

naturitários

natureza, solidão: ser só não é ser solitário: sós estão os infelizes, perdidos num mar de gente; os solitários são feitos de alegria - são natureza paciente.

mamiência

ora se mostrar sapiência num trabalho inibe um colega de querer ter-me como colaboradora, com medo de não brilhar, será que mostrar uma mama seria, para ele, meio trabalho andado?

(ai que risota: toma lá um manguito esperto para ficares a sonhar com elas arrepiadinhas, balastreiro)

domingo, 5 de junho de 2011

pois: sofrimento, não.

pois, pois claro, que foi na mudança que os portugueses votaram - não foi no cromo.

(quererá isso dizer que os que não votaram quiseram mostrar, de forma equivocamente metafórica, que o país não precisava de sofrer alterações?)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

pedras ao alto

e em pintura original, aguarela de civilização, os brancos contornam as pedras, pinceladas de convicção: frias e duras são elas - borratado está o coração.

parágrafo à pombarreia

não é que eu tenha alguma coisa contra a merda nem contra pombas  mas, atendendo ao facto da merda de pombas ser um veículo incrível de enfermidades, gostava de dizer à puta da pomba que caga sempre no mesmo sítio, no meu terraço, que cague uns metros mais ao lado e, desta feita, cagará nas flores e nas árvores e até na cabeça de algum esquilinho que vá a passar, que cague na natureza e deixe o cimento em paz, com certeza a ela não lhe fará diferença, a natureza agradece, e eu, eu, não tenho de a mandar para a puta que a pariu por mandar pombarreia para a língua da minha menina. obrigada.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

amor, electrodomésticos e vómito

nunca percebi a coisa de se comprar coisas às prestações com juros - principalmente porque essas coisas que se compram raramente são coisas importantes e de primeira necessidade: são coisas, coisices, que o povo quer, porque quer, ter. são mentalidades. ou melhor, são materialidades. de certeza que no amor o povo não pensa assim: dar e receber a cada dia com juros, por ser importante e valiosíssimo, por ser algo vitalício e, por isso, arduo. pensando bem, as gentes estão para o amor como estão para os plasmas: compram em prestações com juros só para poderem usar, até o novo modelo sair, o comando de 69 canais. depois compram outro e, fodidos, aliam os dois créditos só para poderem dizer que têm plasma, plasma que lhes faz companhia à distância de um sofá. e, depois, perante o plasma, estabelece-se uma indiferença cortante - mas só porque um amigo fala muito no novo frigorífico que faz leite fresco todos os dias. é: o amor das gentes (chama-lhe amor, chama; chama-lhes gente, chama), tem muito de electrodomésticos. só que, neste caso, o povo compra-o a pronto, com manual de instruções e com garantia de dois anos - é o regime consumista ideal de uma sociedade perfeita. e o comando é, não meo, teo.

(vou vomitar e já volto)