domingo, 16 de setembro de 2012

a propósito da conferência os portugueses em 2030

que decorreu ontem no ccb, vi a parte que passou em directo e começo pela última interveniente - não por os últimos serem os primeiros (dizem) - por me ter sido uma das intervenções mais desinteressantes, talvez pelas minhas expectativas serem bem mais altas atendendo à profissão da Maria Filomena Mónica, socióloga. abordou a temática da imortalidade de uma forma tão superficial e óbvia que me fez lembrar uma conversa circunstancial de café: referiu a morte como o fim e a imortalidade como simples longevidade enfatizando a sua percepção pessoal de serenidade e agnosticismo. a única coisa que gostei foi mesmo quando disse, de relance, que a imortaloidade está no amor e na lembrança. uma pobreza, é nestas coisas que a crise se instala, de discurso.

antes dela, um pseudo engraçado que não me caiu - de todo - em graça: João Miguel Tavares, escritor, tentou fazer uma crónica em alta voz e em directo e o que saiu foi uma mixórdia de ideias com conceitos porventura interessantes contudo mal explorados e sempre a roçarem a sátira política: a luta de classes terá dado lugar à luta etária e estaremos perante um marxismo demográfico em virtude de a esperança média de vida tender sempre a aumentar cujo resultado será a revolução grisalha e respectivos custos da imortalidade, a eternidade terrestre. ademais, a horrienda dicção do rapaz e a falta de riso da audiência à sua pretensão de engraçado fizeram da sua intervenção um circo. e eu, vi um palhaço frustrado.

que delícia o maestro Rui Massena: uma breve introdução à cultura mundo e à máquina que ultrapassou o homem, a problemática da adaptação a esta realidade e depois aquilo que constitui a garantia da imortalidade - a criatividade que se opõe à prudência porque ser criativo é ser espontâneo, é criar o próprio gesto que faz sonhar, e sonhar é ter uma identidade, é aprender a tolerância e é, em sumo, a felicidade. apontando a orquestra como o melhor exemplo para ilustrar o que é uma sociedade criativa - com identidade, tolerância, enfim - e feliz apresentou e tocou, ao piano, uma música mostrando como será o futuro através dos sons. belíssima intervenção; belíssima criação.

igualmente deliciosa a intervenção do padre Mendonça, teólogo. conceitos interessantíssimos sobre a ficção da imortalidade em que vivemos: o ignorar da morte que nos faz pós-mortais, o viver como se imortais fossemos, a ideia maravilhosa de que é necessário consumar e não apenas consumir a própria existência porque a vida é um dom que transcende a existência individual e urge fazer renascer a esperança, a esperança que espanta o próprio deus, já que a fé não cai em desuso nem a caridade - apesar de esta última ter de ser reinventada. que orador cativante.