segunda-feira, 3 de setembro de 2012

eu não: elesphoria

chama-se euphoria e intitula-se uma loja de produtos naturais.

já não os via há algum tempo e resolvi convidá-los para almoçar quando me ligaram a dizer que estavam de fim de semana no parque de campismo. chegaram contentes e com novidades: descobriram a euphoria e têm andado a experimentar os fertilizantes de plantas. despreocupados com a polícia de caça nocturna, porque a loja passa factura e tudo, preparavam-se para mais uma noite eufórica. relatam-me as sensações desta droga legalíssima: cerca de quarenta minutos depois de a ingerirem diluída em água, sentem vontade de abraçar e beijar toda a gente e com uma energia que chega a durar dois dias sem o descanso do sono. é como se tivessem mesmo sido fertilizados com aquilo que na verdade não têm - alegria. e depois, ao terceiro dia, sentem-se a morrer, corpos cansados e impotentes e cérebro inactivo. aguardam, no entanto, a próxima fertilização para se sentirem, enfim, vivos.

a alienação não deixa de ser um fenómeno social curioso: os produtores alienam-se quando se convencem que estão a fazer surgir algo diferente e legal para o mercado; os logistas alienam-se quando colocam a vender o tal algo diferente, nome alienado, que é legal e ainda por cima irá fazer as gentes sentirem-se mais legais; os compradores alienam-se com o consumo da falsa alegria; a polícia aliena-se quando revista os consumidores e se depara com a factura da droga absolutamente legal. e com alguma boa sorte, e muita alegria, ainda recebem uns beijos e uns abraços durante a operação stop. quem sabe um dia destes estas operações não poderão vir a chamar-se space-stop; quem sabe não será este fertilizante de plantas o grande motivador das actuais políticas de austeridade: serão os cortes e os aumentos decididos sempre ao terceiro dia?