no sonho mau, ele concretizou a ameaça.
os sonhos, os bons e os maus, são uma espécie de grande película de cinema numa sala enorme, gigantesca, com uma só cadeira, uma poltrona larga e dourada com pés de animal que segura uma bola com as garras, em que os próprios são, ao mesmo tempo, actores e espectadores do filme. e lá estava eu na última vez que saí à noite, de branco vestida e trança a segurar uma rosa a roçar no peito. e lá estava ele, o homem que me assediou, olhos de predador angustiado habituado a mulheres reles, insultou e ameaçou com porrada após verificar que eu não seria uma presa e muito menos uma presa vulgar. mas no filme, no meu filme do sono, ele cumpriu com a ameaça e acordei sarapantada e em gotas de suor gordas de aflição.
no dia seguinte à tal noite, no entanto, a vida tratou de resolver o assunto e talvez nunca mais me volte a cruzar com ele - amigo de sexo de uma amiga de uma outra, aniversariante, que eu tinha como amiga - porque escolhi não mais voltar a sair à noite a não ser com excelentes companhias, as excelentes companhias não têm amigas nem amigos destes, com quem eu me sinta segura e protegida e que não me proporcionem momentos de solidão por forma a eu ser atacada por gente podre.
agora já respiro melhor.