encontrei-os ontem - já não os via, seguramente, há cinco ou seis anos. ele na altura tinha-a traído com uma ex-namorada e foi pai. (tu dormes em uma arca congeladora, pergunta-me, olha a tua pele e o teu cabelo que não envelhecem.) ela sofre daquela coisa de não conseguir estar sozinha, de não conseguir respirar sem uma pila na cama. disse-me que teve vários companheiros entretanto e que voltou a casar e que não deu certo com o tal rapaz. e agora encontraram-se, encontrarem-se é sinónimo de eu liguei-lhe, estão juntos outra vez, um mês depois do divorcio dela. o filho dele tem já seis anos. os mesmos tiques, a mesma mania da grandeza dela: agora vivo em um apartamento com quatro casas de banho, diz-me orgulhosa. isso é muito bom, disse-lhe eu, assim podes fazer uma pinga em cada uma delas, remato. e o riso veio dar um toque de graciosidade àquele encontro mesmo ocasional.
é interessante pensar que podemos estar anos sem ver alguém, alguém que não nos faz a mínima falta, e de repente vemos - quando a falta que faz é exactamente, nenhuma, a mesma. penso, até, que este tipo de encontros serve para percebermos, da importância das pessoas, isso mesmo: há pessoas que apenas se cruzam connosco, na vida, para sabermos, e sabermos distinguir bem, quem - e o que - nos faz falta.