sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

HTML incompetente

o blogue não anda a guardar as minhas definições, desconfigura o que eu configuro, altera as horas, coloca-me a dizer coisas noite dentro. ora não me parece justo que o HTML ande marado e em trocas e baldrocas comigo. apetece-me reclamar, onde está ele, no livro.

menina do olho de fora acordada

olho por dentro do olho da vida, que olhar a nu não há - há tu, margem a luz vestida, fímbria, abobadilha abraçada: lente de vidro perene, consabida, menina do olho de fora acordada.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

saída da casca

em viagem apreciei a lua ao volante. parece um ovo, irregular e amarelada, cozinhado a rápido no microondas e tenho a certeza de que a prefiro, à moda antiga, branca depois de sair, a brando, da casca.

quem manda sou eu

a propósito da parceria de desconto que a edp tem com o continente, um dos requisitos para se ser beneficiário é o débito directo em conta da factura. ora eu não gosto de débitos directos de facturas pela simples razão de que quem manda nas minhas contas sou eu. partir do pressuposto que só se dá desconto a quem se sujeitar à subserviência é um abuso de poder, além de colocar a lume o que é haver uma relação de confiança mútua - pode-se tanto falhar com o pagamento da factura por débito directo como por crédito indirecto. são, enfim, tretas manipuladoras para o consumidor. a mim, as tretas, dão-me ganas de reduzir o consumo e obter o meu, e à minha custa, desconto sem precisar deles para alguma coisa. vou começar hoje mesmo a alteração de hábitos.

não é usual eu ler à noite, prefiro a luz natural do dia,  mas tem vezes que ou por falta de tempo ou por acréscimo de vontade pode acontecer - de hoje em diante vou manter apenas duas velas grandes de presença à noite, quando estiver no computador em mero lazer ou a ver televisão, e a leitura ficará mesmo reservada a uma lâmpada em casos de extrema, imensa, vontade; antes de me deitar terei o cuidado de desligar, no quadro parcial, as tomadas da sala para acabar com as luzinhas vermelhas. apesar de não desligar a luz do quarto, porque convém prevenir-me face a uma qualquer emergência, vou treinar-me no escuro e quando sentir vontade, durante a noite, de urinar ou defecar vou fazê-lo às escuras e penso que só me trará vantagens: além de evitar acender e apagar as luzes, não espanto o sono e aprimoro-me como se de olhos tapados estivesse - embora haja a desvantagem de depois da descarga a sanita ficar eventualmente suja, estou a pensar, mas isso resolve-se pela manhã. outra coisa a fazer será evitar ligar a máquina de secar tantas vezes e aguçar a paciência no tempo de secagem da roupa.

(e veremos quem manda na minha conta e na minha factura e se o meu desconto não será bem maior do que o deles. veremos.)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

amor-gato e amor-cão

a este texto do José António, respondi assim: não: desculpas de humanos já que durante um dia naturalmente isso, dos desertos, acontece aos oásis. que boa definição de amor-gato, a tua. eu sou pelo amor-cão.

fungágá da bicharada: uma sugestão dourada



o coelho precisa de arejar os nervos neoliberais da transparência: que se meta a fazer um passeio pelo litoral norte, pode ir ouvindo as rádios locais, talvez passe a música do pintinho piu, apreciar o sol e os ociosos por conta dos subsídios recebidos ou por receber, que mais parecem lagartos secos esticados e pelados - como se a vida não corresse, andasse espraiada deitada, e o activo fosse peru gluglu enquanto a vaca mooooo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

bacalhau e emancipação

falar e pensar em bacalhau remete-me sempre, talvez porque me lembre disto

"(...)Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

, para a palavra emancipação, não como alforria, como auto-respeito.

bacalhau à negação

o bacalhau é um daqueles alimentos que dá para preparar com quase tudo ou, dito de outra forna, não há nada que com ele não se possa fazer. (tantas negações juntas e a ideia de fazer, inventar, bacalhau à negação)
não sei bem ainda mas talvez cozê-lo e escorrê-lo e lascá-lo. depois fazer puré caseiro, presumo que todos saibam como se faz, mas juntar um pacote de natas em vez do leite - torna-o mais macio. entretanto, saltear o bacalhau em azeite, cebola, alhos, salsa, loureiro e pimenta. depois adicionar-lhe, depois de o azeite estar absorvido, maionese e colocar em camadas alternadas de bacalhau e puré num pirex oval (pode ser de outra forma qualquer mas oval é, para mim, mais elegante), em que cada camada nega a anterior que é negada pela seguinte. no fim, no fim, o todo será um comjunto de negações de nada, porque estará lá tudo, barrado com maionese novamente e enfeitado com azeitonas pretas gordas - molhadas em azeite, salsa e alho picado. forno bem quentinho e em preparo uma mistura de legumes chineses a serem salteados em azeite e alho para acompanhar a negação do bacalhau impossível de negar.

leite e mel

por mera curiosidade, quis saber se o efeito seria o mesmo como quando escorrega pela garganta e a amacia, do título que o Pedro Mexia escreveu.

ao sol parida e na sombra esquecida

passo, amiúde, por uma casa quase-abandonada - e digo quase porque o jardim está cuidado, impecável - que me dá apetites automáticos de pensá-la. tem dias que lhe contorno o exterior, agora fiquei a pensar se os contornos não serão sempre exteriores e chego à conclusão que não são porque se assim fosse as más intenções triunfariam sempre, umas duas ou três vezes para captar pormenores que não tinha visto antes. trata-se, talvez, de uma observação traiçoeira ( mas não pérfida): não quero desvendá-la na imaginação sem antes lhe perceber as formas, os recantos e os encantos dos olhos porque os do nariz não passam da porta que está trancada e gasta. aquela casa rasteira e velha tem alguma coisa diferente das outras que são rasteiras e velhas só porque o jardim está impecavelmente cuidado - aquela casa rasteira e velha tem um segredo que não é segredo algum: está esquecida, abandonada, e vive na sombra das flores e do sol de quem um dia lá viveu, fugiu, e com vida de um outro que por fora a pariu.

domingo, 8 de janeiro de 2012

da mão

chamam-lhe arco-íris, uma mão cheia de cor - já eu, denego-me a repetir, chamo-lhe, apenas, amor.

espirrar, digo eu

gosto bem do choque térmico entre o bafo quente dos lençois e a geada da manhã - entre um espirro e outro adquirem-se imunidades para o dia, além de que os espirros são libertações tão pertinentes como outras quaisquer. mais: os espirros são crepitações, evidências reais de fervura, de vida.

sábado, 7 de janeiro de 2012

(shuuu: são dez minutos)

ora quando uma mulher se desloca a uma oficina mecânica, sem referências antecedentes, para mudar o óleo à sua viatura, pergunta o preço e o tempo estimado e o dono responde, convicto que regressa mais tarde, uma hora - está perante uma oficina de maçonaria que acredita, piamente, no desenvolvimento discreto das suas virtudes enganadoras.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

desabafo do ego até aos pés

os saltos altos, adoro-os, foram uma elegante invenção.

(mas só me fodem os pés e as costas, cretinos facciosos)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

dona delicadeza

chamam-lhe insecto, bicho de calcar,
coisa de afastar na mesa.
e eu, em bruega mesmo antes do sol,
vejo-lhe os pêlos e as cores, 
faço-lhe histórias em flor-de-amores
chamo-lhe dona delicadeza.

refluxar

lembrei-me do recém nascido D., de repente, durante a noite entre o sufoco, e do que lhe causou o refluxo diagnosticado, os sintomas, as noites e os dias de angústia dele, da mãe, e minha, que sou madrinha, e que tive de o virar ao contrário e sacudi-lo, como se faz a um saco com humidade, naquela tarde de medo - e estou convencida que não devo esperar mais.

e tudo é motivo de reflexão, antes reflectir do que começar a tinir, talvez a vida seja um refluxo constante.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

vai-te phoder, brasiu


as línguas, à semelhança das espécies, naturalmente evoluem e modificam e podem e devem ser consideradas como entidades vivas e, como tal, sujeitas a um processo evolutivo desde os primórdios da comunicação humana - adaptações aos novos usos a que seus usuários (a comunidade falante) as submetem. olha isto dele, fernando pessoa (1999), conhecedor da palavra e da alma portuguesa, “a linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.”

no campo dos estudos linguísticos, ambas as teorias sobre a evolução das espécies – a de darwin e a de lamarck – podem ajudar a explicar a evolução e a diversidade linguística. uma língua poderá sofrer modificações pelos falantes no sentido de comunicarem e se expressarem melhor porque, afinal, entre outras coisas, é para isso mesmo que ela serve: comunicação, exteriorização de ideias, de desejos, de pensamentos e de sentimentos. se a língua não for capaz de cumprir seu papel, provavelmente ela sofrerá modificações: novas formas sintácticas serão criadas, ou antigas serão modificadas; haverá criações de neologismos e formação de palavras inéditas, empréstimos linguísticos etc. dessa forma, há uma adaptação do idioma, o melhor possível, à sua comunidade linguística e, principalmente, às exigências dos seus falantes. tal como como as espécies de seres vivos, se dois grupos de falantes de uma língua forem separados geograficamente - a língua será modificada, sempre de forma lenta e gradual, de tal forma que, após se passarem muitos anos, poderão ser formadas duas novas línguas.

(isso aconteceu, por exemplo, com o latim falado na região onde agora é a frança  - que, obviamente, deu origem ao francês - e com o latim falado na península ibérica - que originou o espanhol e o português.)

o sentido natural das coisas, da língua, neste caso, seria – tal como projectei ainda andava no liceu – na viragem do século, talvez, haver definitivamente oito línguas diferentes fruto de usos e usuários diferentes, climas diferentes, geografias diferentes, culturas diferentes em que a única base comum assentaria na língua portuguesa que naturalmente foi absorvida e trabalhada por cada um dos países até originar línguas singulares não obstante a similaridade do português. pensando ainda melhor sobre o assunto, talvez seja este argumento – o da evolução natural – que mais e melhor explica a imbecilidade deste tratado que pretende exaltar, auto-exaltando-se, o brasil, através – não altruístas – de ideais egoístas.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

algaraviar é sinónimo de descobrir

quando os pensamentos são algaraviadas é porque são poliglotas? não creio. até porque pode-se ler, falar e escrever várias línguas mas conhecer, entrar nelas, as palavras é outra coisa. os pensamentos só conhecem um idioma e daí a desordem para a descoberta.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

vidros

não posso espreitar, eu sei, as vidas por dentro das janelas
mas posso fazê-las em vidro, 
transparentes,
damas antigas em vestidos centrados nelas -
ou pássaros, gaiolas de pé, que aguardam as sementes do frasco escondidas do gato Mané
virtudes em cada canto, defeitos a aspirar,
às casas limpa-se o pó do chão até ao tecto
e só o verbo amar fica ilibado,
de tão usado, de tão rendido, 
uma exaustão que não cansa
e ele chegado fecha a porta ao gato
descentra-lhe o vestido, botões a mais,
liga a música, com os olhos amansa, enfim,
permitem-se ao fim do dia, o deles começo, o início de uma dança

domingo, 1 de janeiro de 2012

prata e ouro, deus e touro

no primeiro dia de 2012 o mar, sereno e silencioso, veste-se, precioso como sempre, de prata pouco polida - faz parelha com o céu e aguardam, juntos, o ouro do sol que deus, sem promessa alguma, olhar de touro, desde sempre lhes prometeu.

sábado, 31 de dezembro de 2011

invenções

é estranho pensar em anos velhos e anos novos. é quase como estar numa fronteira e perceber com minúcia o quê que pertence a quem quando os recursos naturais e humanos são os mesmos. chego à conclusão que tudo não passa de invenção: o ano novo começa no dia em que completamos mais um ano e o país começa no real choque cultural. e depois há o estigma da celebração estóica - ah, e tal, estou com gripe mas não posso faltar; não tenho dinheiro mas arranjo; a forma como se começa o ano, afirmam convictamente, determina-o inteiro. talvez um dos segredos da felicidade, estou a pensar, esteja nos balanços, não diários, anuais onde tudo se transforma em generalidades suaves dissolvidas em champagne. talvez as pessoas só se sintam felizes bêbedas e a pensar em coisas novas. talvez a vida, afinal, seja mesmo simples de tão previsivel e alienavelmente maravilhosa de tão líquida. ou talvez seja a ignorância a mais feliz - a que, não desconhecendo, não quer saber que ela sabe, para tantos e tantas vezes, ser puta - filha da vida.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

os velhos que contam histórias sem amor

o pai de uma amiga decidiu reunir amigos e eu, convidada, aguçei-me toda para ouvir contar, os mais velhos têm sempre tanto para dizer. tudo se paga nesta vida, dizia o mais velho que toma dezoito comprimidos logo de manhã para controlar o cérebro, todas as asneiras que por aí andei a fazer. o brasil é a minha paixão - e tem um filho em cada estado, rematava um outro. mulheres, jogo, bom vinho, mentiras, uma vida de vícios e de prazeres ilusórios e por isso decidi chamar-lhe, a ele, ao dono, comprador de afectos. depois havia outro, mais calado, mais tímido, que apenas engana duas mulheres - a com quem casou e a com quem faz promessas de casar logo após o divórcio. faz duas vidas numa só, gere o seu tempo e o delas com a mesma facilidade que gere a justiça em tribunal - chamei-lhe o engraxador de juízos. e depois tantos outros, tantas histórias rotas e esfarrapadas, tantas curiosidades (fiquei a saber, entretanto, que o Zé dos Cães não é uma alcunha dum homem com histórias para contar mas antes um bordel), tantas, que fiquei a pensar nas lágrimas que hão-de estar por detrás de tanta gargalhada, de tanto dinheiro queimado em falsos e passageiros prazeres, sim, é verdade, nem todos os prazeres são passageiros, e de quem as chorou e chora. mas tudo se paga nesta vida, repetia tanta vez o comprador de afectos, tudo se paga e eu já comecei a abater à dívida. no fim, fez-nos saber que daqui a quinze dias estará no Brasil, esgar de satisfação e - não de derrotado - de vencedor, onde há-de recomeçar: onde há-de recomeçar a acabar-se e a começar fazer a máquina das lágrimas produzir para alguém.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ordinarices à lá carte

a classe de homens ordinários é aquela onde cabem os que, por hábito e costume, compram a companhia, as conversas, e até o sexo, de mulheres. ora um ordinário aleatoriamente sentado ao lado de uma mulher sem preço há-de sentir-se como um peixe fora de água ou um bacalhau sem todos ou um domingo sem missa ou uma retrete sem água. por outro lado, a mulher sem preço aleatoriamente sentada ao lado do homem ordinário tem a possibilidade de observar tudo isto e de fazer um pequeno diário, mental, de mesa concluindo que há alturas em que mais vale comer de pé e que comer em pé será proteger os ouvidos e a inteligência. em ambos os casos, porém, o arroto será sempre substituído por um, cheio de vontade, foda-se!.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

douradinha aos pedaços

alguém me disse, hoje, ainda agora, que tenho escrito pouco. é uma alegria imensa saber que nos lêem sem deixarem vestígios. e fiquei a pensar que não é nada disso - deixam vestígios, sim, todos os que valem a pena, os vestígios são atitudes, são actividade, são uma espécie de oláeuimportomecontigoecom ospedaçosqueaquivaisdeixando. (obrigada)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

arrotalidade

o que mais me atrai na ruralidade, além de tudo o que sem boca fala, é a bondade das gentes. apanhei o Senhor Joaquim no  largo e dei-lhe boleia com a mesma confiança com que ele me disse o nome e entrou no meu carro. como se já nos conhecessemos, uma espécie de não risco e de não perigo, pois um risco tem sempre um perigo associado, e pertencessemos ambos à mesma categoria de índole; como se usassemos um qualquer ship invisível apenas visível entre boas, muito boas,  índoles. O Senhor Joaquim, ainda nos oitentas, sabe que da próxima vez que eu passar por aquelas bandas vai receber-me com sol - disse-me onde mora -, salpicão e prosa. e eu vou devolver-lhe a simpatia com o entusiasmo e a brandura de um arroto de almoço, à antiga, de domingo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

sonhalidade

lá estava ela, a quinta, a casa, os vivos. a lama, porque chovia, o sol, porque depois a chuva passou. em torno, a realidade de um sonho. ou, quem sabe, um sonho a ser tornado realidade.

sábado, 24 de dezembro de 2011

pecadora

nunca esperei, nem espero, celebrar a amizade e o amor com boas palavras, actos nobres e comilanço do bom, num só dia. sou uma esbanjadora de todos os dias e sei bem que esbanjar, dizem, é pecado.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

enfeitar um cesto com tangerinas, ainda com as folhas, apanhadas a frio com as próprias mãos é uma delícia: vêem-se os cimos rasgados, pequena abertura redonda e irregular, que ainda as faz mais perfeitas - levanta-lhes a pele mimosa a ser descascada. a alegria também sabe a tangerina.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

alzheimer

aos noventa anos será expectável que o cérebro não esteja tão fresco como, em dias de vitalidade, antes mas custa muito ver um cérebro descontrolado e esquecido e desgovernado como quando um qualquer electrodoméstico portátil cai ao chão, e a piscar, tamanha é a descoordenação dos botões. chama-se alzheimer.

domingo, 18 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

depois de uma grande tempestade em terra, o frio vem mais forte e com sol. e o mar, que ontem estava cinzento e apenas agitado pelas gotas grossas da chuva e do vento, hoje aparece azul mas revolto e até dá dó ver e ouvir a força com que se enrola  na areia - a natureza é assim, solidária, troca uns por outros para dar para todos os gostos e feitios e descurar ninguém.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

especiarias

d'açafrão, salsa e pimentão, especiarias de olhar, emolduram-se as selvas de pedra - sem umas e outras são caldos mornos, vê lá bem se não são, afinal, apenas água com sal.

this one

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

música nos pés

epistolografia

sei hoje que é uma paixão tão natural como as assaduras nos tenros triângulos genitais, talvez uns pedissem a chupeta e eu lápis e aguça, as comparações absurdas nascem mais em tardes escuras do que em manhãs claras,e que tudo começa a acabar quando tudo o que se faz, do que não pode deixar de ser feito, é não epistolar.

que video delicioso, viva!; que nojo de música, inhacccc!

origami

ela ainda só tem treze anos e já passa o dia a contar calorias e a escapar-se da comida - é o espelho que lhe diz, a par da memória das palavras da pediatra, que está gorda e que para se fazer uma mulher bonita terá de fazer sobressair os ossos. ontem, comigo, comeu bem e com alegria: talvez precise apenas de muita atenção e de saber, com convicção, que uma mulher bonita é aquela que não vê mercenários de morte, perfeitos inimigos, na comida e que apalpa generosamente, ao espelho, o seu corpo consistente e curvilíneo - o resultado de uma alma forte, naturalmente recortada e dobrada, origami, de escolhas e de quereres.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

hoje é cor-de-rosa. que cor, arroz, amanhã?

cismei, uma cisma pode ser transatlântica e por isso caprichosa, que havia de cozinhar arroz cor-de-rosa. existem corantes alimentares mas optei, por agora, por arranjar outra forma, mais criativa e natural de fazê-lo. experimentei a beterraba e advirto, a quem interessar, que fazer a calda do arroz com a beterraba para lhe depurar a cor dá negativo - é depois de o arroz estar cozinhado que, a par de cozinhar a beterraba noutro recipiente, descascada, triturada, é misturada. o resultado é lindo e completamente... cor-de-rosa! e a alegria de comer multiplica-se, garanto.

mesmo gosto

teixeira?

de repente veio-me à memória - o vir da memória só acontece quando por muito bons, deliciosos, motivos - o sabor do doce da teixeira que eu comia, a mãe comprava sempre, quando havia festa na paróquia. fui ver por onde anda, onde nasceu, e tentar reproduzi-lo. é que só o vir da memória não me consola.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

riquezas

hoje deu-me para pegar outra vez no das memórias das minhas putas tristes, limpá-lo, cheirar-lhe as folhas, e voltar a colocá-lo na estante. talvez eu pense que os livros também precisem, amiúde, de mimo extra. sim, extra, porque o maior mimo que se lhes pode dar é guardar-lhes os vestígios que nos deixam depois das pausas que fazemos a pensar no que, em surdina, nos dizem. riquezas.

confusão

ai que ruído! em vão, gelo, cinzento a pulsar, em torno há um inverno pintado: confusão.

q'alegria

adorei isto que O Curador Digital da Videomusicalidade me deu a fruir:

arena-areia

arena gostosa
pousio
como se espanhola
invertida
de pernas para o ar
onde paz luta com paz
acho definição de lutar
espasmos ininterruptos
algodão
espuma
como faz a areia com o mar

domingo, 11 de dezembro de 2011

previsões

aplaude-se e paga-se muito bem aos pais as doçuras e travessuras - naturais ou encenadas - caseiras dos filhos no you tube da mesma forma que se repudia o trabalho infantil quando vem a lume. imagine-se um puto de três anos, daqui a vinte, numa entrevista a dizer que iniciou a sua actividade profissional aos três quando após os pais o terem filmado a dar um peido numa garrafa terá sido visto por mais de 90 milhões de cliques e ganho, além de videojogos, cerca de 80 mil euros. tenho a certeza que nessa altura será desclassificado do lugar a que concorre por um seu semelhante, CV muito mais interessante, cuja actividade profissional terá tido início, aquando do pai ter filmado aquele momento em que arrancou o bico do mamilo à mãe, aos dois anos de idade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

mentalidade de géneros- farinha do Tipo 55

repercebida, há coisas que andamos sempre a perceber na esperança de percebermos coisas diferentes, ainda ontem, de fresco, a mentalidade típica do português fala-barato em matéria de relacionamentos amorosos: ando a cobiçar o saco do pão pendurado na porta da vizinha a ver se lhe roubo, ao dono, dois ou três moletes.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

sobejar

em asfalto de olhar, ergue-se  o que só pode ser um lugar: local onde mora a alma empinada, alegria, sobejar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

boas notícias

o pássaro azul já pousa e segura a patinha. relaciono as suas grandes melhoras com o facto de o rabo estar em franco crescimento, talvez os rabos estejam para os pássaros como os bigodes para os gatos. talvez, não - de certeza: fui investigar e os rabos, digo antes caudas por ser uma palavra que exige, como se de um vestido de noiva imponente se trate, mais cerimónia, são uma espécie de radar-alarme de perigos e riscos. consoante o rabo cresce, cresce a sua segurança.
não podia, logo pela manhã, saber de melhores notícias.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

quando chegam vêm carregadas de força e qualquer luzinha ténue ou som tímido é motivo de interesse: abrem-se as persianas da alma como se o dia começasse a uma hora qualquer - e começa. o dia começa quando nós queremos que comece ou quando os interesses meios forçados e meios por forçar, como são os que não têm interesse nenhum, acordam numa algibeira manhosa, misteriosa e poderosa, a que chamam insónia. não faço ideia se desceu do latim ou do mandarim, mas quem me dera que rimasse com alecrim, pelo cheiro - não de peixe- de flor, seria forte sinal de deleite, não fossem obrigação dos prazeres serem prolongados, parece-me injusta a palavra, e como diz o outro quem diz que o mundo é justo, mal escolhida se é coisa de gente, inolinda de repente, mas pode bem estar a ser inrodrigo, parece que é mas não pode ser um castigo, só pode ser coisa da mente que pensa que sente e que mente ao pensar: a insónia nem sequer será filha da razão, tampouco do coração, será filha de uma puta qualquer - que deixou escapar os sonhos em troca de uma vigília constante, de engonhos, onde não cabe um único malmequer, onde só cabe o frio do vidro na entrada e na saída. os filhos aos pais, insónia, vai para quem te pariu.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

casamentir

quando o que une duas pessoas são dois projectos sem vida estamos perante um casamentem.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

achada

em redor faz-se luz. está, não perdida, achada no meio do horizonte. seduz.

haver

como é sábio o que diz, ser da terra aprendiz, quem precisa de cidade?, se é por entre as relvas de lã que se escondem os ecos de há.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

hoje d'écran

luzes, câmara, acção, vistas animadas de gente, fachadas de papelão, emoções embaladas em palco d'écran: dormentes fazem-se as dores, alegrias, pulula coração, luzes câmara, acção, o resto vê-se amanhã.

sebastiança

percebo agora porquê que é verde a esperança: nasce firme nos montes, bravia, e existe desde então - por entre névoas de vida, gotas molhadas de quereres, a aguardar sebastião.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

portugal a valer - o fado a que o Valupi me inspirou


de outra forma, não: animado e jovial,
feitas bem as contas,
porque a vida e a matemática só podem ser aplicadas,
a providência tem destas coisas: 
a estrela brilha, Óbidos por óbitos,
beira baixa, altos sabores, o pior
– ergue-se o melhor a quente, a escaldar, que sobe da cave para a linha do mar, 
que bem e seguro é estar nela,
que boa, minha e tua flor de lis, que te arrastas ao nosso jardim,
como não deixamos eu tu e ele que a fome se cresça, enfim, ainda havemos de conseguir travar as pilas
feitas pelo diabo doente, daqueles pobres diabos tristes que são da tristeza contente
e, assim, talvez, de fora para dentro
grandes a ser possamos mudar o fado, para animado e jovial, 
sermo-nos, por nós, grandes a valer – é isto o nacional, é isto sentir 
e respirar Portugal.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

isto cabe lá

não concordo nada com a definição de chantagem no dicionário. chantagem pode também muito bem ser  fazerem sentir culpa para se agir conforme outras, as deles, vontades.

sábado, 26 de novembro de 2011

descobrir a careca

quando Sócrates disse, metendo a mão na sua cabeleira pouco farta, que mato não cresce em ruas activas, estaria a projectar um novo conceito futurista do sector da beleza e bem-estar: o dos sexos carecas. 

(isto da filosofia para sezões abriu a minha curiosidade pelos cabelos e pêlos. vou investigar.)

o homem de coragem - mosca

as máquinas de senhas para aguardar a vez são uma invenção justa, custa-me dizer, custa-me porque poderiam bem ser desnecessárias se as gentes soubessem o seu lugar e respeitar o lugar do outro, se bem que não me agrada reduzirem-me a um número que quando lhe chega a vez ou vai em forma de barco ou vai quase desfeito prestes a ser pasta de suor com dedos. mas se é justa também não consegue ainda passar à frente das gentes que tiram duas ou três e optam pelo balcão que estiver livre primeiro - e lá se vai o respeito pelo seu lugar e pelo lugar do outro - não havendo espaço para reclamar ou, pelo menos, para reclamar como eu gosto com o único argumento possível: eu estou à sua frente e mantenha-se, por favor, atrás de mim porque cheguei antes. não há outro argumento e a máquina justa, perante as gentes injustas, abstem-se de culpa. depois há aquele tipo de homem com coragem de mosca que confrontando-se, igualmente, com a injustiça das gentes perante as gentes sob a justiça da máquina aproxima-se isoladamente de alguém, talvez de alguém que lhe pareça corajoso, e começa em bzbzbz a injectar o veneno da reclamação para não ser ele a fazê-la mas sim a suposta merda onde veio pousar. não se entranhando o veneno num, passa para outro - e assim vai rodando até chegar a sua vez pela justiça da máquina. quando isto acontece, nem uma palavra lhe sai ao balcão, nem um suspiro de impaciência, nem um esgar de reprovação; quando isto acontece, ele é o homem mais sereno e paciente do mundo e, voltando-se, quando sai, é para mim - a que só sorriu à mosca por não ser merda nem por querer aproveitar-lhe o veneno - que vai o suspiro de hálito impaciente e o esgar com cheiro de censura; quando sai, é o leão mais corajoso do mundo perante uma máquina justa que é ultrapassada pela injustiça das gentes; quando sai, leva com ele a certeza que quando se deitar será comigo que vai sonhar - vai sonhar com a única pessoa que lhe permitiu ter, talvez, uma erecção de coragem. chamemos-lhe o homem de coragem-mosca.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

luxam-me, não me lixem, não os luchem


vestem roupa de gala, os montes, sem esperar a noite - não são como as gentes, não me lixem, não são como as gentes, luxam-me de beleza, que lucham a natureza.

farpa, não: harpa





vêem música os meus olhos
dançam ao vê-la passar (ajeito, com licença, ao vê-la dançar)
em pontas pousa no ar e em bicos de sonho se enfeita
shiu!
na música não entra farpa: na música injecta-se a harpa

à antiga

adorei, confesso, que me tivesse enviado, ainda que por escrito, um abraço à antiga. interpreto um abraço destes como daqueles em que se sente os ossos por debaixo da roupagem, quentinho, onde podemos fechar os olhos e dormitar nos segundos, enérgica e energeticamente contagiantes. na verdade são estes os únicos abraços que me dá gana abraçar, tanto na carne como nos dedos. nos CTT folheei, sem abraçar, o José Luís Peixoto. serão os dele, os dos dedos, antigos?

lean dá para tudo

 a filosofia lean como gestão foca-se na redução, senão eliminação, de desperdícios, através de análise contínua, produção e controlo de falhas, com vista à melhoria da qualidade e do tempo e diminuição dos custos de produção.

também na gestão doméstica, doméstica da nossa casa onde por debaixo do telhado mora o corpo e da nossa casa onde por dentro do corpo mora a alma, aplicar esta filosofia poderá trazer benefícios e ajudar a transformar custos de oportunidade em optimização da qualidade de vida:

a) qualidade total imediata
 procurar o "zero defeito" não no sentido de não usar a louça para a não partir mas detectando e solucionando os problemas na sua origem;
b) minimização do desperdício
eliminar tudo o que não têm valor agregado nem redes de segurança, pela optimização do uso dos recursos escassos (capital, pessoas e espaço)
c) melhoria contínua
reduzir custos, melhorar a qualidade, aumentar a produtividade e compartilhar informação; 
d) processos "pull"
será o cliente final a retirar o produto, na vida somos todos clientes e fornecedores, este não é adiado nem atirado para o fim do processo produtivo como um fardo; 
e) flexibilidade
produzir grande variedade de produtos, sem comprometer a eficiência devido a volumes menores de produção;
f) construir e manter uma relação a longo prazo com os fornecedores, fazendo acordos para compartilhar o risco, os custos e a informação.

agora que está tudo racionalizadozinho, é deixar as emoções fazerem-se ouvir. mistura-se tudo, com colher de pau, à moda antiga, rapa-se com o salazar para não haver desperdício de ingredientes, e mete-se no forno a uma temperatura suficientemente quente - não exagerada para não queimar por fora e encruar por dentro - e já está: a água cresce na boca da vida. e a vida, ah pois, é para ser trincada e mastigada e engolida e arrotada. a cagada vem depois, depois da assimilação do bom para libertação do mau.

Esperanza

quando atravassei a ponte tive uma visão, daquelas que algumas gentes devem ter de vez em quando, um pouco mais demorada das que tenho amiúde: vi cavalos, coches e cocheiros e mulheres de vestidos armados e floridos a passearem no jardim. e depois o flash de tempo mostrou-me uma caixa de correio pendurada numa árvore, em ferro dourado pintado, onde ela, não sei nada dela, com uma chave estranha de tão grande e brilhante, foi buscar uma carta que encostou com força ao peito. hoje vou passar na ponte, em sentido inverso, e talvez saiba mais coisas, as coisas que estão no avesso, mas se não souber não faz mal - já decidi que a caixa de correio dourada é só dela.  e que ela se chama Esperanza.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

remendos? não.

quando à última da hora aparecem coisinhas que inibem ou atrasam, é como se uma parte daquilo que se está a fazer entrasse em greve geral do que está a fazer, temos de arranjar maneira de contornar e avançar, ignorar a greve - com todo o direito que ela tem a existir, a gritar, ou talvez ela só sussurre - e fazermos o que tem mesmo de ser feito. remendar é que não: os remendos só estão para os cotovelos, os joelhos, ou para as mantas.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

não há título nem borrões

será, talvez, quando os fardos na alma começam a ficar mais leves que nos sentimos mais pesados de vida. talvez os fardos não passem, não de mal, de péssimos entendidos que valem a pena ser riscados. não, riscados não: apagados a borrachinha, de goma-elástica, e bufados como acontece com a escrita manual a lápis de grafite afiados, porque na alma, e na vida, não há espaço para borrões.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

com vagar, devagar, sem pressa

não me agrada nada acordar com pressa, fazer tudo à pressa. o acordar tem de ser sempre em lentidão para as coisas importantes serem feitas no vagar. chamam-lhe stress, à pressa, chamam-lhe doença. e é, é a doença do depressa, com pressa, às pressas, do zonzo. devagar, com vagar, o dia começa mais cedo e não padece. talvez até se canse mais depressa - mas nunca é à pressa. é sem pressa.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

quando o frio se faz quente

estava a dar uma garfada de arroz de açafrão quando apareceu o Tino, sim era ele, o Tino de Rans, aquele cromita que há uns anos foi vedeta do ridículo. dentes cinzentos, talvez do azedo da fama, a fama que se veste de merda - qual reputação qual quê a não ser a de repetição da putação, do acto de putaria em sequência pública -, ou até do esquecimento da higiene oral como espelho da carência de higiene mental, não sei, fraldas de fora e calças cadentes, anuncia uma sessão de autógrafos de um seu livro que terá editado por sua conta, os pequenos geralmente engrandecem-se, não por conta própria mas à conta da sua conta, se eu o comprasse por dez euros. peço para folhear, desfolhar é em privado e é outra coisa, e surpreendo-me: sem me focar no conteúdo o homem tem ponta de criatividade e até se esforça por ter piada. não compro, decidi há muito tempo que um livro é um amigo e os amigos escolhem-se por muitos motivos mas nunca por solidariedade ou compaixão. o arroz ficou frio e o arrependimento de ter saído de casa aqueceu.

reciclomania

foram os nomes que prenderam a minha atenção: maria botelha, felismina cartolina e joão papelão, chico fantástico e palhaço avaria. depois fui cuscar e...

Era uma vez uma garrafa partida no coração que se chamava Maria Botelha. Sentia-se velha, cansada e vazia até que, um dia alguém pegou nela e levou-a até um vidrão. Assim começa a sua viagem pelo mundo da reciclagem onde fica a conhecera Rita Cola, a Rosa Cheirosa e o Zé Tinto. Esta será uma aventura inesquecível!

Poderão personagens de papel e cartão viver uma história de amor e paixão? Está é a pergunta que atormenta a Felismina Cartolina e o João Papelão. Filhos de reis inimigos recorrem aos amigos (quadrículas, mapa e irmãos fotocópias) para encontrarem uma resposta. Entra neste livro viaja e descobre! 

Chico Fantástico é um super herói de plástico que, um dia, viaja até ao reino de Poliméria onde as casas e os castelos são feitos de alguidares e bidões e os telhados e as torres são vasilhas e boiões. As flores não murcham, a chuva não molha os habitantes, que se chama polímeros, têm cara de poucos amigos. Algo de terrível está prestes a acontecer.

Era uma vez um circo onde os leões mecânicos, os trapezistas flutuantes e os cuspidores de fogo faziam, por assim dizer, um espetáculo de outro mundo! Ficava no planeta Bateria, onde todos funcionam a pilhas exceto o Palhaço Avaria. Certo dia, as luzes apagaram-se, a música parou e o circo acabou! O queterá acontecido!?

está tudo aqui.

a partir de agora...

temos encontros.

sábado, 19 de novembro de 2011

leite amoroso

pois claro que o leite - marca preta, marca branca, marca amarela -, é todo igual em termos de cálcio mudando apenas o sabor de mais ou menos gordura e outros. quero dizer, pode ter mais ou menos mas todo ele sai da vaca com cálcio e depois é temperado a gosto. as vacas não usam marcas e quanto mais amor recebem mais leite amoroso dão. é assim a natureza, não há nada que enganar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

o longe

há quem diga que de noite os caminhos são mais longe. na verdade, nunca ouvi alguém dizer. mas hão-de ser as crianças que muito bem assim pensam.

moderato cantabile

quando me lembro de moderato cantabile, bato palmas à teimosia que mais não é do que ser, por amor, obedientemente desobediente.

de fora para dentro é que há sexo vivo

ontem li que o derradeiro prazer dos homens é o sexo e o assassínio. talvez seja verdade, mas não creio, se pensarmos no que é o sangue, porque será o sangue a fazer toda a diferença. pode fazer-se sexo sem sangue e matar sem sangue. em ambos, sangue e prazer, há vitalidade, alegria e entusiasmo - o que pressupõe vida e não morte. então, embora não use pénis senão quando ando em reflexões, não me parece que seja verdade. eu diria que o derradeiro prazer dos homens será o sangue do assassínio do sexo - do sexo que ejacula por mera fricção, que é um sexo morto, será matar esse sexo morto e fazê-lo orgasmar-se de sangue - de vida. e a vida não passa em segundos de ejaculações expelidas: a vida vai ficando, e crescendo, também, pelos momentos de orgasmos absorvidos. o sangue, a vida do sexo, é coisa de fora para dentro - e não, ao contrário da vida dos afectos, o contrário.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

dar também é receber vida

não é que um caso isolado tenha mais importância que tantos outros mas, tem vezes, por vezes levamos um abanão colectivo que nos alerta, no meio de tantas outras, para uma pontualidade. eu vou fazer os testes de compatibilidade de genes no cromossoma 6 para, oxalá possa ajudar seja quem for, doar do meu tutano e salvar, se não for o pequenino noticiado, alguém - que interessa quem?

no Porto, pode ser aqui.

sem lamento





são cimentos crescidos de sonhos ou sonhos que em cimento ficam, mas são - são passados presentes de gentes,
são luzes com gentes por dentro: são vida a querer viver
sem vidas que trazem lamento.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

reclamando

de braços abertos, carrego tanto as maleitas como as romarias do mundo. divertem-me, apesar de muito me cansarem, as reclamações: consigo quase sempre, dizer sempre só me fica mal porque não sou de falar do alto da burra, sempre que tenho a razão comigo, desesperar a paciência dos que me afligem e beneficiar. a incompetência tira-me do sério e passo-lhes as palhetas mesmo a brincar. 

(saia uma passadeira bem engomadinha para eu me passar)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

que puta de voz castiça que contagia o cambar

viço

acender e manter a lareira acesa é uma espécie de ritual que me agrada muito: não me desanima ter de andar acima e abaixo a carregar lenha; tampouco o ter de limpar todos os dias o cagaçal - é daquelas coisas que valem a pena, o suor e as forças. o mais curioso é que ainda nem sequer senti frio e as canhotas já vão ao ritmo de inverno. e não, não é que esteja a chamar o frio mas estou a mostrar-lhe, não o descuro, é muito bem-vindo, cá o espero, que o trato com viço.

domingo, 13 de novembro de 2011

breve monólogo feliz

acordar com a tal ruralidade sonora. mas hoje estou caprichosa e também queria gri-gri de grilos, não vejo onde está o problema, resposta à segunda voz que me julga de eu tanto querer, de querer aumentar os músicos dos concertos. antes contratar um ou dois grilos que ir aos gambozinos de galochas. ah, estás indiganada - e isto mesmo antes de eu te chamar alguma coisa que justifique, cá da nossa casa, a célebre frase: és uma serigaita, uma ladina!

sábado, 12 de novembro de 2011

na vida e na comida quando o inimigo são elas

há pessoas que têm uma maldosa, estranha e de desamor, relação com a comida: escolhem-na, provam-na, enchem-se de prazer, e logo a seguir rejeitam-na, querem ver-se livre dela, tamanha a dificuldade e resistência em retribuirem, em aceitação, o que escolhram e gostaram.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

borbulhas de sorrisos nos ouvidos

agora sentadinha, menina cheirosinha

não digo proibir, uma ditadura na libertação é paradoxalmente agressiva, mas parece-me mesmo bem a ideia de os homens, tal e qual no restaurante edible canada na ilha de granville,  não urinarem de pé. aquela coisa do culto da pinguinha não traz benefícios nem ao portador.

(digo eu, mulher, que se fosse homem havia de andar sempre de consciência molhada por saber que a probabilidade de ir deixando odores e manchas por aí é mesmo grande. a ir deixando rastos que sejam de cheiros e de poças interessantes)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

porque não o colector menstrual?

desconhecia a sua existência até descobrir toda a informação aqui através daqui .

romper-romper

parece que vai nascer, traços pintados em romper.
parece que vai acabar, breve claridade de começar.
barcos na ria, rio, são como lírios no campo
ora doces carroças em calçada
e sopa quente de madrugada,
é isto o começar - que virado do avesso, estugado, estonado, sempre a condizer
será o outro
amanhado
estofado
estafado
aquele que do romper faz romper.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

funkaria

conjugar cenoura crua com chocolate pode parecer estranho - mas não é, é delicioso. e é nestas alturas que o ser funk adquire um novo significado.

passar com a varinha mágica três ovos, duas chávenas de farinha e outras duas de açúcar, duas cenouras partidas aos cubos, duas colheres de chá de fermento e uma chávena de óleo. (pormenores importantes: peneirar a farinha e o fermento antes da mistura permite alcançar a macieza suprema; derreter uma chávena de margarina em vez do óleo permite uma textura bem mais suave. as calorias? as calorias nem sequer são aqui desprezadas, são muito bem recebidas e apreciadas.) levar ao forno a 150º, durante quarenta minutos, em forma de silicone não será imprescindível mas evita que o fundo e os lados colem, mesmo com farinha e manteiga. derreter chocolate em pasta com açúcar e barrar todo o bolo, ou pintá-lo a gosto, depois de pronto, será o acabamento final: uma funkaria em doçura.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

pequena nota

a quem me escreveu chamando-me a atenção para a palavra cohabitar, que não está bem escrita, muito obrigada e aqui fica a explicação: o h, além de mudo não pode ser cego - de outra forma a deficiência comum será miseravelmente cabal.

atavismo e atadismo

durante a leitura deste texto, são raras as vezes que não sorrio ao ler o tempo contado por este Homem, e a propósito de atavismo, ocorreu-me, alguma relação deve ter se levarmos à letra o que a outra, de não haver coincidências, diz, que em relação ao casamento a coisa processa-se de forma inversa mas com tendência ao inverso do tal inverso. chamemos-lhe atavismo da geração vindoura. a geração anterior à minha, com as devidas excepções que fazem parte de qualquer assunto, ainda acreditava na conjugalidade via casamento que a geração dos pais e dos avós lhe passou - talvez por referências positivas dos tempos, de outros, e das vontades, não posso saber. na minha, ainda há uma parte que sim mas uma outra, grande, que não. na seguinte, muito menos. não estou a querer dizer que o amor não cabe tanto dentro como fora do casamento, não, até porque são poucos os que se unem, e muito menos os que se fundem, por amor mas antes a afirmar que os que recusam o amor são exactamente os que recusam apostar. sim, porque casar é fazer uma aposta, apostar - passo o pleonasmo - em si e no outro perante uma vida a três (a mim, a ti e a nós); já quase ninguém acredita que vale a pena apostar em alguém e nalguma coisa a não ser em si. e é daí que surgem as ligações de uma tal igualdade de contas bancárias e de contas correntes e de previsões, a curto prazo, de afectos.

garantias não há, em lado algum e sobre coisa alguma: pode-se casar e descasar; pode-se cohabitar e descohabitar mas a derradeira diferença entre o casar e o não casar reside no risco da aposta, na convicção de que partilhar o sono e o sexo tem exactamente a mesma importância que partilhar o riso e o choro. é como se o sentir que vou amar-te e respeitar-te, com todas as variâncias que o amor e o respeito possuem, todos os dias e todos os momentos da tua vida e aposto que vou conseguir apenas porque é o que de facto quero porque o sinto, andasse a ser trocado pelo o amor é um estado de espírito e por enquanto podemos tentar viver na mesma casa e dividir as contas, porque até temos bom sexo, até que apareça alguém que me encha todas as medidas. será uma espécie de cohabitação entre solteirões - ser solteiro é, muito mais que um estado civil, um estado de corpo e de alma - um estado de completo descomprometimento do corpo e da alma - incapazes de se entregar, ora porque não sentem ora porque cagam-se todos na possibilidade de perderem esse estatuto de estado. e assim se vive em conjugalidade solteira, tanto em casamento como por casar, nos nossos dias.

(e isto a propósito de atavismo. e de atadismo emocional também.)

a carta que esteve em banho-maria

quando acordei foi nisto que pensei em dizer. depois de alimentar os meus vivos e a mim, já não me apetece - talvez o melhor que lhe posso dizer, sem dizer, seja desvirtuar a importância que lhe dei. lamentavelmente, apenas o reconhecimento público da importância é, de facto, importante para, oxiúros de gente, muitos.

caro xx,

agradeço-te imenso a ausência de resposta ao pedido que te fiz sobre a autorização de utilização das tuas fotografias para fins literários - sei bem que é o que acontece a quem desconhece a acção que a palavra empatia potencia e também a quem não sabe, de todo, lidar com o elogio vernáculo. para que fiques menos pesado de vaidade, devo dizer-te que todos os outros donos de talento da captura de beleza, que eu reconheço, fizeram questão de, com retorno - positivo mas se negativo igualmente válido e pertinente -, mostrar serem merecedores e reflectores de tal beleza.

após este agradecimento resta-me, portanto, dizer-te que podes meter as tuas fotografias, todas as que tinha já seleccionado e também as outras, no cu, que é onde devem ser guardadas as coisas que já não cabem no umbigo do ego, e foder-te todo com elas.


agradeço, uma vez mais, o tempo que perdi contigo, pois ajudou-me a concluir que as fotografias não te espelham e por isso não fazem sentido no meu projecto, e apresento os meus cumprimentos.


Olinda de Freitas

ps.: curioso. agora que verbalizei o que pensei, definitivamente vou enviar-lhe, já de seguida, esta carta por email. simplesmente porque o que me é importante não pode deixar de ser feito.




a Rosa

chama-se Rosa e vive, não sei bem se vive ou apenas aguarda que morra, ou estará em morte progressiva, talvez a morte não pertença ao mundo do definitivo e escala-se, há oitenta e cinco anos. sei que passa os dias numa cadeira, a uma só perna, a um só olho; sei que não usa calcinhas para ser mais fácil urinar e defecar; sei que come apenas refeições preparadas segundo as suas indicações; sei que faz questão de demorar trinta minutos exactos, nem mais nem menos, a lavar os dentes; sei que lava também, todos os dias e no mesmo local, na cozinha, o seu olho postiço. mais não sei. mas imagino que seja uma mulher forte que persiste em ser independente. e que tenha muitas histórias para contar. pareceu-me precisar muito de mimo e de atenção, como precisam todos os que são fortes. a casa tem um cheiro feio, os cheiros feios sentem-se na temperatura ambiente: abre-se uma porta e a um passo do fora para o dentro a temperatura faz toda a diferença quando nos invade, com terrorismo, a zona superior da cabeça e o centro do estômago. a casa tem um cheiro feio e as janelas nem sequer abrem - e nem sequer fecham, estão sempre assim, quietas, tal e qual a Rosa.

não vou lá voltar porque não quero, não quero adoptar mais uma vida. não posso esquecer-me, ainda mais, de mim.

domingo, 6 de novembro de 2011

a beleza dos poios

acho bonito um poio numa estrada ou num passeio, em locais por onde os passos, não da pressa, são do vagar. e fico vaidosa a vê-la poiar, às voltas como se em festa e celebração, e deixar ali resquícios de vida que hão-de misturar-se com bichos e flores que crescem, também rebeldes, por lá.

sábado, 5 de novembro de 2011

Val Union






sem peso, soltas, soltam-se em mistério de momento
douradas, recortes de flores e de louças
repousam
como entretidos descansam os sentidos e o vento
que se agita, não grita, fica
sobrevive às quedas e ao tempo
ai que folhas de ramos de abraço!
ao que perduram, livres de cansaço, ai!
donas do chão, pisadas de mão
que emolduram, do ar, o altar
não sei se vão mas sei que ficam
nos olhos da face do meu olhar


pesadelo

já não existem terras de sonhos. mas a emigração e a imigração continuam a ser, na terra dos pesadelos, possibilidades impossíveis - não são os pesadelos que nos fazem andar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

harmonia dos sexos

a moda na capital, pelo menos é da capital que chegam os testemunhos da reportagem, é as mulheres de um casal cometerem adultério com outras mulheres. choca-me o uso da palavra adultério que me faz imaginar um clássico em que se vive o amor fora do casamento, por este ter sido imposto e preferível à morte, em que os amantes se encontram num lugar de uma pedra em cima de um monte só para se olharem e trocarem um lenço com o cheiro do outro. isto aqui, esta coisa da moda, não é adultério a não ser pelo dicionário; isto aqui será falta de imaginação para quebrar a rotina do sexo esgotado pela ausência de amor - será uma reles alternativa a um passeio na montanha russa da feira popular, hormona ao rubro, já fora de moda. e depois os maridos encornados prestam o seu testemunho de indignação positiva: é que não é de todo mau ser trocado por uma mulher, virilidade não afectada. a moda na capital é a de brincar à harmonia dos sexos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

rabanadas gordas

pensei assim: se gosto tanto de rabanadas, porquê fazer apenas de pão fatiado e não de molete - que é gordo e maior?

(cortar as extremidades aos moletes deve ser essencial para que o leite, açucar e canela penetrem e os encharque bem. será melhor, então, deixá-los bem molhados e espremidos a aguardar uma hora antes de passá-los por ovo e fritar.)


ao sol


ando aqui a pensar ao sol
que se fosse uma flor
queria ser um bem-me-quer
para decidir os dedos teus
sempre que me despisses as pétalas