sábado, 18 de fevereiro de 2012
de repente: aceitar.
as decisões difíceis tomam-se num repente, o que é importante acontece sempre de repente, quando aceitamos que Ele, o gestor da energia que nos faz existir (e iludir que afinal somos nós que nos fazemos Deuses), não nos dá o que queremos mas o que precisamos. e a fé é continuarmos a acreditar que o que precisamos há-de ser como nós queremos.
mulheres & flatos
no delito de opinião, não me apetece colocar link, num post sobre uma declaração do cardeal a favor do aumento do tempo para as mulheres estarem com os seus filhos, quem quiser que procure, parece que acham graça ao meu estilo consciente do que é ser mulher na sua completude. ao riso das senhoras que querem ter pilas, pedi para acrescentarem flatos. e, agora, que se governem.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
da hermenêutica do riso e da vontade
suponho que não terei aquilo que quero, em relação a um assunto, por ter mandado o seguinte recado, por telefone, ao intermediário do negócio: faça assim - se amanhã o senhor tornar a desmarcar a visita diga-lhe, por favor, que se suicide. a questão está na interpretação do riso que não segurei quando me apercebi do que disse em parceria com o riso do intermediário que ouviu o que eu disse. como há dementes em todo o lado, talvez o intermediário dê o recado de forma literal. a minha dúvida não está na eventual consumação literal do recado, até porque acabava-se mesmo a possibilidade daquilo que eu quero, mas no desvio ao negócio pela hermenêutica maliciosa ser exactamente proporcional à minha vontade explicita no recado. só aguardando e, nos entretantos, rir-me, à fartazana, de mim.
cordas
dos telhados vê-se a luz: as pontes são cordas, esticadas, que unem dois pontos de abrigo, que aos olhos dos homens seduz.
e quando consegui recuperá-la, finalmente, foi para o lixo.
desde os tempos de andar na Carlos Cal Brandão que me apaixonei pela música do Bryan Ferry e dos Roxy Music - tudo era pretexto para ouvir a cassete que a minha irmã uma vez me ofereceu. o efeito electrizante, apenas comparável a duas ou três coisas que não vêm ao caso, que me provocava - e provoca em outro formato, agora - acompanhou-me sempre e quando comecei a conduzir aquela cassete rodava tanto, tanto, que chegou um dia, talvez há sete anos, que ficou encravada, metida lá para o fundo do buraco do rádio, e lá ficou. confesso que também nunca forcei a retirada - bastava uma martelada bem dada -, talvez pela certeza de que a fita, cansada, recusava-se a correr. e ontem, não sei bem porquê, decidi carregar bem fundo o botão e ela sem qualquer esforço saiu. e, tal como sempre pensei, não toca. mas veio lembrar-me, a cassete que foi para o lixo, de que é preciso ouvir, continuar a ouvir, sempre.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
conversa da água da torneira
ele: estás a dar outra calinada - a água só ferve a 100º.
ela: anda comer.
ele: já liguei dezassete vezes e ainda não consegui falar - estou a trabalhar!
ela: viste o caso daquele que afinal é pai da neta?
eu, em excurso mudo: (não há água que vos una quanto mais que se ferva - vão-se ferver)
ela: anda comer.
ele: já liguei dezassete vezes e ainda não consegui falar - estou a trabalhar!
ela: viste o caso daquele que afinal é pai da neta?
eu, em excurso mudo: (não há água que vos una quanto mais que se ferva - vão-se ferver)
possibilidade
acordar com a possibilidade de trocar um t2 por um t0, sem tristeza e sem vontade de chorar, não é bom: é óptimo indício de prosperidade.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
é de pequeninos que se castram os pepinos podres
nunca tendo apanhado uma simples(?) reguada na escola, causa-me fervura no sangue quando ouço crianças dizerem que apanharam beliscões nos braços, coques na cabeça, puxões nas orelhas ou estaladas no rosto. mas mais fervura ainda causa-me a indiferença dos pais perante estes abusos. tinha eu doze ou treze anos quando o meu irmão mais novo, na primeira classe, chegou a casa com as orelhas roxas de tanto que foram puxadas pelo professor Costa. e foi nesse, e a partir desse, dia que a tal fervura despoletou. desci a calçada, árvores arrepiadas ao verem-me passar, entrei na sala de aula onde ele ainda estava a arrumar a mala e disse: sou irmã dele e vim dizer-lhe que foi a primeira e última vez que lhe tocou, com maldade ou intenção de castigo, no corpo ou na alma. na verdade, nunca mais o meu irmão se queixou nem apareceu com resquícios de abuso de autoridade. e ainda hoje, se o professor Costa se cruzar comigo lembra-se de mim e das minhas palavras. talvez seja mesmo de pequeninos que se castram os pepinos podres; talvez nesse dia ele tenha aprendido mais sobre ensinar do que durante todos os anos de professorado. e o meu irmão aprendeu a dizer-me sempre quando se sentia infeliz - pela garantia de que nunca lhe mostraria indiferença.
desde a folha até à semente
espetada de flores, branco de sabores, sem estar reservada ao jantar: flores assim abraçadas, juntas para saciar, só podem ser agres e doces de sempre: petisco de vida desde a folha até à semente.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
demagogia de pseudo-macho
deparei-me com um homem daqueles que só aparecem nos filmes de humor: dentes cerrados e olhos, por detrás dos vidros, que fixam sem piscar. o assentir com a cabeça é constante e a palavra obrigado, muito obrigado, sai-lhe cinco vezes a cada dez segundos. indica-me a saída e quando eu já me dava por aliviada por sair dali, ei-lo. sem ser como uma sombra - porque as sombras mostram-se e são grandes e escuras e bem visíveis aos olhos -, como um pássaro que por cima acompanha sem fazer barulho e sem se fazer notar, na suas palavras preferidas e, por iteração, irritantes: muito, obrigado, muito obrigado.
fiquei a pensar, entretanto, e não costumo enganar-me, que, no meio dos outros quatro, aquele tipo de homens simpáticos mas machistas em que se nota que dizem uma coisa quando estão a pensar numa outra completamente diferente só para conseguirem parecer que valorizam e que estão de acordo com a interlocutora fêmea e levarem a cabo o projecto que de outra forma não há, o ajeitadinho-sossegadinho-obrigadinho destacado para me acompanhar durante um dia inteiro é o único que está a ser sincero, por mais que a expressão corporal dele me irrite, e talvez agradeça tanto apenas por sentir mesmo e muita vontade: afinal de contas, e pelo menos durante um dia inteiro, vai livrar-se dos outros marretas mentirosos e machos à pressão, em demagogia, que não acham piada mudarem de opinião - ainda que buriladamente forçada - à custa de argumentos de uma fêmea. são, bem visto, uns vendidos.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
psicologia nos recibos
os recibos verdes electrónicos foram criados para, supostamente, aumentar a rapidez e diminuir a burocracia e o papel. mas se as entidades, além do envio por email, exigirem a assinatura na respectiva impressão isso é o quê - reforço positivo ao prestador do serviço? cambada de ignorantes.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
não à anulação dos peidos& companhia
o marido de uma amiga, um quase amigo apenas por arrastamento por casamento, diz que são as pequenas coisas - como ressonar e peidar - que acabam com as relações. bem visto, e pensando um pouco sobre o assunto, não será de todo mentira: é que tenho a impressão de que se as gentes se vissem ao espelho cada vez que comem ou cantam ou sexam ou libertam a biologia, fugiam de si. ou seja, as nulidades que supostamente acabam com as relações reflectem a nulidade de quem as percebe como motivo para acabar relações - a nulidade que são por não se permitirem ser com espontaneidade e, obviamente, a da não permissividade do ser do outro.
casa-ninho
tenho quatro piriquitos a viver num prédio de cinco andares, em open-space, o que significa que lhes sobra uma assoalhada para vingarem as tolices que lhes passa pela cabeça. e mal a luz do dia rompe de mansinho eles fazem questão de me dizer, da sala onde quentinhos adormecem,: queremos ir para o terraço menina. eu eu arranjo um pretexto qualquer, o mais frequente é pensar que tenho uma bexiga sôfrega por esvaziar, para dar-lhes luz. há já algum tempo que verificava penas adicionais no chão e algum frenesim na terra dos canteiros mas sempre atirei com as culpas para a dona, por direito adquirido por antiguidade e por paixão, da maior fatia do meu coração - a cadela -, visto que a peixa Clotilde em águas compenetrada estaria fora de questão, e hoje constato a injustiça que tenho vindo a cometer: são os resquícios de comida e da harmonia que eles deixam durante um dia inteiro que atraem as pombas para o terraço. e são também elas que com meiguice descontrolada remexem a terra. só não me parece pertinente que comam e caguem logo de seguida, não por ter de limpar, por ser sabido que as suas secreções são pouco ou nada saudáveis a narizes curiosos como o da Dona Cadela Valquíria. posto isto, não posso deixar de dizer em contentamento desmedido que a minha casa é um verdadeiro ninho de amor incondicional.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
o mantra do bombo
não sei bem por que raios e coriscos quando se toca bombo, mas ainda vou investigar, o mantra de sons é sempre o mesmo: pom, pom, pom. pom, pom, pompom. pom, pom, pom. pom, pom, pompom. e todos os cães ladram, e todos os pássaros resmungam e os carros buzinam e as gentes aglomeram-se para ouvi-lo tocar. e quem, finalmente, dorme - acorda. talvez tenha algum significado especial o pom, pom, pom. pom, pom, pompom que eu (ainda) desconheço; talvez seja uma espécie de flauta, sem ser flauta, mágica que ao invés de encantar, porque o encantamento não traz desassossego à natureza - só à alma-, desencanta. de uma coisa eu já sei: a expressão corporal de quem carrega um bombo, que é ao peito, é de desespero e de sacrifício - tal e qual a expressão de quem carrega um pom, pom, pom. pom, pom, pompom nos ouvidos.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
telefones
tenho saudades daqueles telefones fixos antigos que quando tocavam era por coisa importante, como se fossem sinos. conheci um que era dourado, todo rendilhado, e que era preciso mais jeito do que força para discar os números. depois era um preto - adorava passar-lhe uma camurça com ajax para virar espelho. esses, sim, eram verdadeiros telefones, com uma presença forte e a ocupar espaço. o que é bom ocupa espaço.
monólogo das febres
não sei bem se a gripe traz efeitos não previstos nas outras pessoas mas em mim isto vira tudo: não é suposto apanhar frio mas não consigo estar de janelas fechadas; é suposto ficar de cama mas a cama durante o dia sufoca-me; parece que dá sono pelo cansaço dos olhos mas a mim troca-me as horas: às quatro da manhã estou a tomar o pequeno almoço, às sete ou oito estou a levantar-me para depois às onze almoçar e às vinte estar a dormir. mais hora menos hora é assim - um corpo que se arrasta a tresandar a vicks, aquela pomada em boião que cheira a mentol potente e se espalha nas fossas e no peito. bem sei que todos sabem o que é mas tive mesmo de fazer uma descrição para valorizar este cheiro, este pingo, esta respiração cansada e estes espirros tão fortes que de cada vez que se soltam, estremeço e mijo-me toda. até pode parecer brejeiro mas é a mais pura urina. quero dizer, a mais pura verdade: estou num canho. talvez agrave a descrição se disser que não caía numa cama há anos. suponho que deva ter sido do entra e sai em locais de ar condicionado na semana que passsou. rabugenta, sim, estou, porque trabalhar não deveria dar para ficar doente nem piegas nem preguiçosa. deixa-me mas é estar calada, por recear que o outro ouça, o primeiro, porquê?, se a palavra do homem vale bem menos do que a minha que estou a falar sozinha? homessa.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
filmes
tem acontecido amiúde apanhar um filme que sei que nunca vi mas que lhe conheço a história, uma espécie de retalhos de outros filmes que, em detalhes, se misturam. e sabe tão bem adormecer no decorrer da história assim como sabe mal o espaço carcomido da imprevisibilidade.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
cem glórias
como se na seda encorrilhada passasse um ferro sem vapor, escondido o vigor, paciente no seu jeito de ser, ouvem-se do silêncio histórias, dias contados a minutos de glórias - cem glórias, a morrer de riso, de rir a viver.
estou sim? só há destas? está bem, calham-me a mim.
tenho a impressão que posso assemelhar mulheres-mães de fresco a homens-militares de fresco, com as primeiras tenho pleno conhecimento presente de causa e com os segundos já tive, no passado, altura da obrigatoriedade da tropa para todos os amigos rapazes: tantos umas como outros só sabem falar do mesmo, qualquer assunto que se puxe vai dar à mesma estrada. e todo o interesse que o assunto em destaque, tanto numas como noutros, possa ter - é absorvido pelo desinteresse que suscita o tal interesse saturado. a análise que faço é tratar-se de muita insegurança e medo de falhar, como se pensar e fazer e sentir várias coisas ao mesmo tempo seja missão impossível e incontornável. (eu) olha, a tarifa bi-horária anda a causar polémica - parece tratar-se de fraude porque não está a ser praticada, estou a dizer-te porque sei que tens. (ela) ai é? por acaso ainda não olhei para a factura. o Gonçalinho quando chegou a casa esteve uma hora a comer papa, vinha com fome. (eu) então, chegaste a ver adjudicada a proposta que tanto querias? (ela) ainda não, esta noite o Gonçalinho chorou e tive de o trazer para a minha cama; tem estado muito frio mas eu não gosto de lhe vestir meia-calça. tenho de desligar, está na hora da papa. e passam-se quinze dias até haver novo telefonema. piadar será dizer que o Gonçalinho, a continuar a comer assim, acabará com obesidade mórbida. piadas à parte, duvido que estas mulheres continuem - partindo do pressuposto de que alguma vez foram - interessáveis aos seus homens. o cúmulo do desinteresse é quando me pedem para eu escolher e comprar, por elas, um presente para eles. gravidade no limite é quando descontraidamente lhes dizem que se não gostarem eu posso trocar. e o mundo, o delas, reduz-se - não à beleza das fraldas e da maternidade e do amor incondicional da família - ao sustentável peso do egoísmo mascarado de maternidade e de conjugalidade. outro dia qualquer, solidão nua e culpas - atribuidas aos seus homens- em punho, telefonam a chorar. uma boa amiga sabe ouvir durante horas mesmo que abomine telefones nos ouvidos. e quando chega, finalmente, aquela parte do já me sinto bem melhor e então tu como é que estás, é hora do tenho de desligar porque ainda tenho de tomar banho e depois acordar o Gonçalinho para lhe dar a papa a ver se dorme a noite inteira. beijinhos, quando tiver tempo, ligo!
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
jubilo eu
a propósito, mas sem qualquer propósito de ser a propósito, do jubileu de diamante da reina, lembrei-me que esta seria a altura indicada para a Imperial lançar uma nova variante da marca, em lata de 460g, não para fazer jus à doçura de Isabel, para engordar os ingleses e igualmente as nossas receitas.
Antoni Tàpies:
é sempre bom quando vozes, a tua como tantas outras porém anónimas no mundo, se erguem contra as ditaduras. mas arte, para mim, é outra coisa e não te reconheço talento.
(posto isto não tenho por que lamentar a tua morte - é uma como tantas outras na vida. bon viatge. )
(posto isto não tenho por que lamentar a tua morte - é uma como tantas outras na vida. bon viatge. )
esquina do céu
desdobram-se, pouco caiadas, as paredes do andar, enquanto no cimo, no alto, na esquina do céu, ela respira de vaidade e diz, pensamentos por dobrar, o que eu andei p'ráqui chegar.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
doodles
nunca tinha dedicado a minha atenção, quando uso o google, a ver o que seria o estou com sorte mesmo ao lado do rectângulo do pesquisar. hoje de manhã, decidi começar a explorar e dei com os olhos nos doodles. gostei tanto - há tanta variedade de formas e cores e temas que até parece, apesar de não ser, interminável. e agora é para ir descobrindo.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
(cavalo alado)
invento o mercado do ar
da minudência
onde a beleza que carrego nos olhos apregoa alto, bem alto, em voz já rouca e desafinada
que o ar da minha barraca é o melhor da temporada.
e do particular para o geral o ar emudece
esgazeado e cansado
não querendo ser, de minúcia,um burro
depois de saber o sabor do que é ser um cavalo.
(um cavalo alado)
da minudência
onde a beleza que carrego nos olhos apregoa alto, bem alto, em voz já rouca e desafinada
que o ar da minha barraca é o melhor da temporada.
e do particular para o geral o ar emudece
esgazeado e cansado
não querendo ser, de minúcia,um burro
depois de saber o sabor do que é ser um cavalo.
(um cavalo alado)
corredor
estende-se em calçada, o corredor da vida - descendente de amarelo a torrar, comprido de luz ao peito, de fininho ao ledor, onde o céu é senhor doutor juíz: ora de dias de dano, ora de ledo proveito.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
m. de macaca
incrível é como alguém consegue escrever algo assim. poderia começar por minha querida mas não vou à bola com mentiras e fico com azia só de pensar que o poderia mesmo assim entender, a tal m.. fico a aguardar que aprove o meu comentário, lá no seu sítio dos macacos - ou se o lê, engole, e enche de vergonha.
planear sem ressalvar vai dar ao intestino
um mapa de planeamento de actividades tem tanto de profissional como de escorregadio - prever, com antecipação, o decorrer de meses que não apenas dependem da nossa parte do trabalho poderá ser um bom argumento de objectivos não atingidos. o melhor, mesmo, será colocar uma notinha bem gorda de que está sujeito, durante o tempo de implementação, ao número de revisões que forem necessárias. será esta, pois, a única forma de não passarmos por sermos um membro, infiltrado, do governno que tem mais olhos do que barriga e no fim, vai-se a ver, só fica o intestino.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
a justiça precisa de champô para lavar os colhões
o que é isto, um sem abrigo condenado a pagar duzentos e cinquenta euros por roubar um polvo e um champô ou, se não pagar, vai preso? seria, o champô e o polvo, para vender e realizar capital para acumular numa conta na suíça? que pena aplicar, então, a quem roubou, ainda há pouco na época do natal, o subsídio de milhões - talvez um pequeno trabalho comunitário, uma acção de sensibilização aos cidadãos para perceberem que a taxa de desemprego no auge é um mero exercício, não simulado, de evacuação?
estou consternada. apetece-me sair já, de imediato, para roubar um champô e um polvo só para me mostrar solidária com a fome e a higiene - necessidades básicas por satisfazer, em crescente, no país.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
a culpa é sempre do fibroso
em violino, toca-se a música rompida dos muros - onde se deitam, erguidos, surdos, vozes secretas, alegrias na mão. e a culpa é sempre do fibroso, bate- que- bate-que bate, muito pendente, sangue em circulação.
estreito do peito
pingos
são pingos
que sobem aos cimos dos pêlos do peito
pequenos passos
marcha
rumo ao aprumo do espaço tão estreito
são pingos
que sobem aos cimos dos pêlos do peito
pequenos passos
marcha
rumo ao aprumo do espaço tão estreito
dica de amêndoa doce
descobri uma coisa fabulosa: o óleo de amêndoas doces, produto do melhor que há para hidratar, acessível em qualquer loja da esquina ou super ou hiper-mercado, cujo preço anda a rondar um euro, resulta muito bem nas pontas dos cabelos se vertido para um frasquinho do tipo doseador. faz assim: quando o sérum acabar, sim aquele sérum que custa os olhos e o nariz e a boca da cara, verte de um frasco para o outro e já está. experimentei ontem e já só passo a usar deste - os cabelos acordaram rebeldemente macios e felizes.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Napa-lhe
o Napo agrada a miúdos e a graúdos - o Napo é uma poderosa ferramenta de auxílio à construção de uma cultura de segurança em qualquer sector de actividade: napa-lhe em casa, napa-lhe na escola, napa-lhe a trabalhar - é, sem parar, napar ao acidente.
(e eu prometo que tudo começa a mudar - tudo o que, sem contar, acontece num repente.)
domingo, 29 de janeiro de 2012
alevanta o pau
manhã passada a investigar legislação sobre licenciamento e funcionamento de creches, para ajudar uma amiga, por conta de negligência da que acolhe o seu filho. missão cumprida, apesar de o prato ainda ir no começo, e grande gargalhada, a minha, quando ligo a televisão e deparo-me com alguém a dizer que, além dos enchidos, a feira de fumeiros de montalegre também é boa para beber "alevanta o pau". curiosidade levantada - fiquei a saber tratar-se de um licor, obviamente sem "a" porque o povo quando quer levanta tudo, também tradicionalmente bebido na mesma região por ocasião da noite das bruxas. aqui ficam os ingredientes:
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deixados em maceração todos ingredientes, aproximadamente 45 dias, são bem agitados de cinco em cinco dias. tudo coado depois e o preparado está pronto a ser bebido.
(atendendo à dedicação e tempo de produção do licor, de facto faz pensar se será justo ser disponibilizado, de golada, a um qualquer transeunte em busca de momentos felizes. justo ou não, elas e eles - sorrisos e palavras de contentamento -, consolam-se quando dizem (será placebo pela palavra?) "alevanta o pau".
a mim este licor soube-me a muito, imenso, riso.)
pneunhar
tive um sonho mesmo estranho: estava a voar de pneu e, aterragem não programada, fui parar ao meio, talvez nacional pelo barulho e movimento de que tenho memória, de uma estrada. lembro-me de não estar careca, o pneu gigante, porque empurrei-o sozinha para a berma num breve intervalo no tráfego. ora se não estava desgastado, porque aterrou? por outro lado, parece-me um pneu inteligente - podia bem ter escolhido uma auto-estrada, ou via com scuts, e a esta hora lá estava eu encurralada no sonho porque não me lembro de carregar com a carteira enquanto voava. pode ser que esta noite o pneu volte a aparecer-me para mais uma aventura - gostei da sensação de envoltório de protecção. e da banda sonora.
sábado, 28 de janeiro de 2012
autismo, adição, processo somático, paradigma auto-erótico/autístico.
Nasci furado [...] preciso
de ódio e de inveja, é a minha saúde.
MICHAUX, 1998
de ódio e de inveja, é a minha saúde.
MICHAUX, 1998
lógica douradinha
ouvi uma coisa pouco interessante que se revelou interessantíssima. ouvi dizer que as mulheres enganam os homens quando, vendo-os como fracos, deixam de respeitá-los. (aqui reside o pouco interesse)
interessantíssimo será fazer o exercício ao contrário, assim numa espécie de molde por lógica dissociada de lógica, a não ser a minha própria lógica, que me faz todo o sentido de lógica: os homens enganam as mulheres quando se sentem fracos e sem o mínimo de respeito por si próprios.
interessantíssimo será fazer o exercício ao contrário, assim numa espécie de molde por lógica dissociada de lógica, a não ser a minha própria lógica, que me faz todo o sentido de lógica: os homens enganam as mulheres quando se sentem fracos e sem o mínimo de respeito por si próprios.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
os rectângulos da vida
dou por mim a pensar como são sempre as coisas simples que nos fazem perceber tudo e, até, o quanto a noção de tempo e de espaço é frágil. como quando acordamos na noite, sem sabermos se está a meio ou no início ou no fim, à procura da luz do candeeiro e não o encontramos porque estamos deitados ao contrário e virados para o lado oposto. depois começamos, já mais despertos, a apalpar tudo o que está em volta para nos dar pistas do espaço. e o tempo fica focado, todo ele, ali naquele rectângulo que nos acolhe todos os dias e onde o mistério se cobre de lençóis e de edredons. depois, finalmente, conseguimos ligar-nos à terra e voltamos a adormecer, entre pensamentos apressados por descansar, consolados, por sabermos onde estamos e que a aurora ainda tarda. é simples: até o mistério da pequena morte precisa, mesmo sem saber para onde vai, mesmo ali naquele rectângulo, de se sentir seguro e dono do seu tempo.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
menstruação
a propósito de existirem monstros em forma de gente, chamo-lhe - a esta mistura pterossaurica - menstruação.
vomitórios sociais
a petição a favor de um presidente muito menos Cavaco já vai em 35 000 pseudo-assinaturas que servem, apenas, para demonstrar o peso do desagrado colectivo. que bom - eu também colaborei para o número e sinto-me fragilizada com palavras, actos e omissões. mas podem, por favor, mudar de assunto porque o mundo não gira à volta de falhanços e coisas tristes e aguerridas? muito obrigada: é que os blogues dos dinossauros políticos, e das dinossauras cuja erecção dos bicos das mamas e da alma só acontece pela imitação dos dinossauros, transformaram-se em verdadeiros vomitórios sociais.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
ao quilo mas pouco
porque um mal nunca vem só- dizia-me ela, voz em bicos de pés e ânimo em soalho de chão, pelo aparelhinho, aquele aparelhinho a que chamamos telefone e que encurta a distância e faz com que não nos sintamos, amiúde, pássaros viajantes de estações. por ele enviei-lhe uns quilos de consolo e umas gramas de alegria, coisa pouca, não por incompetência ou incapacidade mas por malogro de longuidão de espaço, porque há alturas em que as preciosidades só são suficientes, ou pelo menos um pouco mais do que palavras carregadas de boas vontades e intenções, aos olhos e ao calor de um abraço amigo. poucas são as vezes que meras palavras podem amar.
espera-se uma boa tarde
Energia e Ambiente
Factores de Competitividade Empresarial
AEP – Edifício de Serviços
26 de Janeiro de 2012
14h00 – Recepção
14h15 – Boas-Vindas
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
Moderador: Carlos Rodrigues, Universidade de Aveiro
14h45 – Apresentação dos Resultados dos Projectos da AEP
“BENCHMARK A+E” e “RESIDUOS MENOS”
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
15h30 – “A Sustentabilidade Empresarial: Desafios e Instrumentos para as PME em Portugal”
Carlos Borrego, Presidente do IDAD- Instituto do Ambiente e do Desenvolvimento
“A Directiva Resíduos”
Luísa Pinheiro, Directora Geral da APA - Agência Portuguesa do Ambiente
“As Boas Práticas Energéticas e as PME´s”
Miguel Águas, Lisboa E-Nova – Director da Agência da Energia-Ambiente de Lisboa
16h30 – Instrumentos Financeiros ao Serviço do Ambiente e da Energia
Nelson de Souza, Gestor do Compete
16h45 – Entrega dos Troféus “Práticas de Excelência Ambientais, Eficiência e Racionalização Energética”
17h00 - Encerramento
José António Barros, Presidente da AEP
Assunção Cristas, Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
Factores de Competitividade Empresarial
AEP – Edifício de Serviços
26 de Janeiro de 2012
14h00 – Recepção
14h15 – Boas-Vindas
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
Moderador: Carlos Rodrigues, Universidade de Aveiro
14h45 – Apresentação dos Resultados dos Projectos da AEP
“BENCHMARK A+E” e “RESIDUOS MENOS”
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
15h30 – “A Sustentabilidade Empresarial: Desafios e Instrumentos para as PME em Portugal”
Carlos Borrego, Presidente do IDAD- Instituto do Ambiente e do Desenvolvimento
“A Directiva Resíduos”
Luísa Pinheiro, Directora Geral da APA - Agência Portuguesa do Ambiente
“As Boas Práticas Energéticas e as PME´s”
Miguel Águas, Lisboa E-Nova – Director da Agência da Energia-Ambiente de Lisboa
16h30 – Instrumentos Financeiros ao Serviço do Ambiente e da Energia
Nelson de Souza, Gestor do Compete
16h45 – Entrega dos Troféus “Práticas de Excelência Ambientais, Eficiência e Racionalização Energética”
17h00 - Encerramento
José António Barros, Presidente da AEP
Assunção Cristas, Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
mira que riqueza que ye la dibersidade
acho muita piada ao mirandês, à sua luta por conta do Anstituto de la Lhéngua Mirandesa, e principalmente à (boa) utilização que fazem do português - ao cantá-lo. é, dizem eles, por ser uma língua culta, fidalga e importante.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
mamas em arrebol
quais maminhas despidas ao sol, qual quê, luz fugaz e passageira: mamas em arrebol, grandeza que manda no céu, não pode ser de outra maneira.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
navios de poesias
mora na zona do meio
o mistério
espelho de fímbrias paradas
reflecte a verde
(que não é receio)
os troncos das folhas
(raízes contentes)
que são árvores
(não são sementes)
navios de poesias amadas.
o mistério
espelho de fímbrias paradas
reflecte a verde
(que não é receio)
os troncos das folhas
(raízes contentes)
que são árvores
(não são sementes)
navios de poesias amadas.
paradigma
a propósito de ter ouvido um médico falar na televisão, que já nem sequer me lembro do nome - não por lhe não atribir importância mas porque simplesmente não fixei -, estou de acordo que a medicina trata da doença ao invés de tratar da saúde.
domingo, 22 de janeiro de 2012
haida's guardião
em Haida Gwaii, Canadá, há um homem - um avô de todos - que luta para não deixar morrer a língua Haida original, falada apenas por três habitantes na aldeia. apesar da idade bastante avançada dá aulas em três escolas, inclusivé num jardim de infância, para deixar sucessores da língua-mãe. isto, esta lufada de força e de celebração à vida que sobrevive às intempéries das modas da modernidade, esta bofetada de luva branca em dedos de véu palatino, aos países em conluio de acordo ortográfico, merece uma ovação - a minha.
sábado, 21 de janeiro de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
fastio
um conhecido de há muitos anos pede-me ajuda para elaborar uns documentos. e afinal seria pretexto.
uma abordagem de engate sempre me meteu, e mete, fastio - não no sentido de uma engrenagem de assuntos e pensamentos e estares eventualmente positiva mas no outro, no que só pode ser, para quem a faz, uma espécie de happy meal em forma de fast food com uma importância very fast. daí que a palavra, a minha, para designar a consequência de episódios assim, bem mais tristes do que as putas do Gabriel, mais apropriada, seja fastio.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
cão do monte
em sussurro telepático, de frente, leio-lhe o miolo da fronte: gosto de ser embelezado, parede rosa caiada de fundo, cenário de horizonte, como um verdadeiro cão que (não) se (des)preza - o cão é sempre do monte.
ao verbo o que é do verbo
parece-me miseravelmente incrível que nas escolinhas do primeiro ciclo, dos nossos dias, não se ensine o que é um verbo e se exija que saibam detectar o tempo verbal mesmo antes de ensinarem como o tal verbo se conjuga. paradoxal? não: real.
(cambada de do(c)entes)
feira das vaidades
a actualidade cansa. e porque cansa, vale mais mudar de cenário - e de tempo - para descontraír e rir: hoje vou à feira, tão giro o título como o da anita, olinda vai à feira. (à feira das vaidades.)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
dias fecundos
porra!, digo com agrado contrariamente ao usual, há dias mesmo certeiros em que aquilo a que nos propomos, enquanto trabalhamos, não falha. vou chamar-lhes dias fecundos.
convicção
tenho uma amiga, em idade de bodas de prata, que não sabe exteriorizar afectos, ainda que sejam pequeninos, com os rapazes que vai tendo, a não ser quando está na horizontal.
(isto faz-me ainda mais convicta de que a verticalidade está bastante mais relacionada com a corporeidade do que a horizontalidade que é, bem visto, afecto em interiorização.)
(isto faz-me ainda mais convicta de que a verticalidade está bastante mais relacionada com a corporeidade do que a horizontalidade que é, bem visto, afecto em interiorização.)
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
retratos-zoo
vi estes três retratos pintados: um de Descartes, outro de Mettrie e o último de Brentano. dou por mim, pela mesma ordem, a visualizar um cão de aspecto apaneleirado, uma cabrita espevitada e um urso sisudo.
lembranças que nos lembram coisas para relembrar
ainda agora, durante o asseio diário do meu oásis, o lugar onde vivo por fora, a minha casa, é sempre o meu oásis, pensava no momento íntimo e intransmissível que é o esmero, e lembrei-me do primeiro local onde estagiei enquanto terminava o meu primeiro curso, uma instituição cultural, e do João Cutileiro com quem tive o gosto de falar e encetar contactos. começara aí, talvez, não me recordo de ter sido antes, a minha vontade de desenvolver a curiosidade que desde sempre carrego. na verdade, penso até que aquele estágio servira apenas para isso, para essa competência, visto que a entrada de rompante no mercado de trabalho aconteceria no estágio seguinte. e deu-me uma enorme, imensa, vontade de rever as esculturas dele, tão femininas, tão bonitas, de escolher uma, e decido chamar-lhe a mulher que engole o tempo e o espaço.
bebedeira
há cerca de duas semanas, num blogue onde sou leitora e comentadora assídua, alguém me disse para eu largar o vinho - seria, pois, bêbeda por não ter caixa aberta de comentários aqui e comentar por lá. não fosse eu, também, uma pastora de coisas felizes decidi oferecer-lhe, ao tal comentador que me chamara de bêbeda, um voucher de sobriedade com durabilidade secreta e, como não poderia deixar de ser, por mim limitada. e porque andamos todos por cá também para nos fazermos felizes, espero ter conseguido ir de encontro às expectativas do leitor - que talvez tenha pensado, erradamente pensado, que é um desafio que muda a ebriedade de uma douradinha de palavra na boca.
retomo, desta feita, o estatuto de bebedolas por gostar de ler e comentar, quando possível, coisas e pessoas interessantes sem ter de ouvir o que dizem quando passam aqui pelo meu quintal tão viçoso.
(aqui vai outra de golada)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
brisas de pincel
é assim a minha casa, de campo, de sonhos estendida: mais perto do sol e do céu, em árvores colada, onde o fim de tarde picante se mistura, brisas de pincel, com doce de madrugada.
dupla incapacidade
amiúde, quando não me conhecem, confundem a minha personalidade de carácter com uma outra coisa qualquer. chamo-lhe, à confusão indigna, estrabismo ou miopia mesmo antes de, fazendo-a aceitar a sua deficiência, perdoá-la com a oferta de uns óculos de vida. constato, porém, que em muitos casos a correcção é lenta e em muitos outros impossível. nestes casos, e porque sou justa, aceito-lhes - resignação a dobrar - a dupla incapacidade.
domingo, 15 de janeiro de 2012
sábado, 14 de janeiro de 2012
vivegrafar
a propósito de fotografias amadoras, ou outras, e do seu interesse, eu confesso-me completamente ignorante sobre as técnicas e apenas me concentro no resultado final. chamam a minha atenção as imagens extemporâneas, pormenores que me transportam para, quase sempre, curtas metragens com vida. há, no entanto, um estereotipo de imagens que não se me revelam interessantes, que me castram - nem chegando a haver coito e muito menos aborto - a imaginação: são as que são escolhidas e pensadas antes de serem em pose tiradas. e se eu pudesse, e porquê que não posso, mudar a designação de natureza- morta, seria assim: são os seres inanimados, gentes, que castram a imaginação - fruto de vida castrada em pose, essa sim, verdadeira vida em suspensão. são as nossas lentes, e não as do fotógrafo, que fazem a fotografia e daí o encanto, o meu, de - pensando, vendo e sentindo - escrevê-las. e porque na fotografia, para mim, cabe tudo menos o retrato: vivegrafar eu preciso.
e o que é a vida senão grafar tudo o que os olhos vêem e o que, sentindo, não vêem? isto remete-me para a extemporaneidade do que são as relações, os laços, os afectos e do sentido que lhes dou pela complementaridade - de sentidos, de pensamentos, e de convivência - que exigem para serem inteiras e felizes longas - metragens.
e o que é a vida senão grafar tudo o que os olhos vêem e o que, sentindo, não vêem? isto remete-me para a extemporaneidade do que são as relações, os laços, os afectos e do sentido que lhes dou pela complementaridade - de sentidos, de pensamentos, e de convivência - que exigem para serem inteiras e felizes longas - metragens.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
HTML incompetente
o blogue não anda a guardar as minhas definições, desconfigura o que eu configuro, altera as horas, coloca-me a dizer coisas noite dentro. ora não me parece justo que o HTML ande marado e em trocas e baldrocas comigo. apetece-me reclamar, onde está ele, no livro.
menina do olho de fora acordada
olho por dentro do olho da vida, que olhar a nu não há - há tu, margem a luz vestida, fímbria, abobadilha abraçada: lente de vidro perene, consabida, menina do olho de fora acordada.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
saída da casca
em viagem apreciei a lua ao volante. parece um ovo, irregular e amarelada, cozinhado a rápido no microondas e tenho a certeza de que a prefiro, à moda antiga, branca depois de sair, a brando, da casca.
quem manda sou eu
a propósito da parceria de desconto que a edp tem com o continente, um dos requisitos para se ser beneficiário é o débito directo em conta da factura. ora eu não gosto de débitos directos de facturas pela simples razão de que quem manda nas minhas contas sou eu. partir do pressuposto que só se dá desconto a quem se sujeitar à subserviência é um abuso de poder, além de colocar a lume o que é haver uma relação de confiança mútua - pode-se tanto falhar com o pagamento da factura por débito directo como por crédito indirecto. são, enfim, tretas manipuladoras para o consumidor. a mim, as tretas, dão-me ganas de reduzir o consumo e obter o meu, e à minha custa, desconto sem precisar deles para alguma coisa. vou começar hoje mesmo a alteração de hábitos.
não é usual eu ler à noite, prefiro a luz natural do dia, mas tem vezes que ou por falta de tempo ou por acréscimo de vontade pode acontecer - de hoje em diante vou manter apenas duas velas grandes de presença à noite, quando estiver no computador em mero lazer ou a ver televisão, e a leitura ficará mesmo reservada a uma lâmpada em casos de extrema, imensa, vontade; antes de me deitar terei o cuidado de desligar, no quadro parcial, as tomadas da sala para acabar com as luzinhas vermelhas. apesar de não desligar a luz do quarto, porque convém prevenir-me face a uma qualquer emergência, vou treinar-me no escuro e quando sentir vontade, durante a noite, de urinar ou defecar vou fazê-lo às escuras e penso que só me trará vantagens: além de evitar acender e apagar as luzes, não espanto o sono e aprimoro-me como se de olhos tapados estivesse - embora haja a desvantagem de depois da descarga a sanita ficar eventualmente suja, estou a pensar, mas isso resolve-se pela manhã. outra coisa a fazer será evitar ligar a máquina de secar tantas vezes e aguçar a paciência no tempo de secagem da roupa.
(e veremos quem manda na minha conta e na minha factura e se o meu desconto não será bem maior do que o deles. veremos.)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
amor-gato e amor-cão
a este texto do José António, respondi assim: não: desculpas de humanos já que durante um dia naturalmente isso, dos desertos, acontece aos oásis. que boa definição de amor-gato, a tua. eu sou pelo amor-cão.
fungágá da bicharada: uma sugestão dourada
o coelho precisa de arejar os nervos neoliberais da transparência: que se meta a fazer um passeio pelo litoral norte, pode ir ouvindo as rádios locais, talvez passe a música do pintinho piu, apreciar o sol e os ociosos por conta dos subsídios recebidos ou por receber, que mais parecem lagartos secos esticados e pelados - como se a vida não corresse, andasse espraiada deitada, e o activo fosse peru gluglu enquanto a vaca mooooo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
bacalhau e emancipação
falar e pensar em bacalhau remete-me sempre, talvez porque me lembre disto
, para a palavra emancipação, não como alforria, como auto-respeito.
"(...)Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
bacalhau à negação
o bacalhau é um daqueles alimentos que dá para preparar com quase tudo ou, dito de outra forna, não há nada que com ele não se possa fazer. (tantas negações juntas e a ideia de fazer, inventar, bacalhau à negação)
não sei bem ainda mas talvez cozê-lo e escorrê-lo e lascá-lo. depois fazer puré caseiro, presumo que todos saibam como se faz, mas juntar um pacote de natas em vez do leite - torna-o mais macio. entretanto, saltear o bacalhau em azeite, cebola, alhos, salsa, loureiro e pimenta. depois adicionar-lhe, depois de o azeite estar absorvido, maionese e colocar em camadas alternadas de bacalhau e puré num pirex oval (pode ser de outra forma qualquer mas oval é, para mim, mais elegante), em que cada camada nega a anterior que é negada pela seguinte. no fim, no fim, o todo será um comjunto de negações de nada, porque estará lá tudo, barrado com maionese novamente e enfeitado com azeitonas pretas gordas - molhadas em azeite, salsa e alho picado. forno bem quentinho e em preparo uma mistura de legumes chineses a serem salteados em azeite e alho para acompanhar a negação do bacalhau impossível de negar.
não sei bem ainda mas talvez cozê-lo e escorrê-lo e lascá-lo. depois fazer puré caseiro, presumo que todos saibam como se faz, mas juntar um pacote de natas em vez do leite - torna-o mais macio. entretanto, saltear o bacalhau em azeite, cebola, alhos, salsa, loureiro e pimenta. depois adicionar-lhe, depois de o azeite estar absorvido, maionese e colocar em camadas alternadas de bacalhau e puré num pirex oval (pode ser de outra forma qualquer mas oval é, para mim, mais elegante), em que cada camada nega a anterior que é negada pela seguinte. no fim, no fim, o todo será um comjunto de negações de nada, porque estará lá tudo, barrado com maionese novamente e enfeitado com azeitonas pretas gordas - molhadas em azeite, salsa e alho picado. forno bem quentinho e em preparo uma mistura de legumes chineses a serem salteados em azeite e alho para acompanhar a negação do bacalhau impossível de negar.
leite e mel
por mera curiosidade, quis saber se o efeito seria o mesmo como quando escorrega pela garganta e a amacia, do título que o Pedro Mexia escreveu.
ao sol parida e na sombra esquecida
passo, amiúde, por uma casa quase-abandonada - e digo quase porque o jardim está cuidado, impecável - que me dá apetites automáticos de pensá-la. tem dias que lhe contorno o exterior, agora fiquei a pensar se os contornos não serão sempre exteriores e chego à conclusão que não são porque se assim fosse as más intenções triunfariam sempre, umas duas ou três vezes para captar pormenores que não tinha visto antes. trata-se, talvez, de uma observação traiçoeira ( mas não pérfida): não quero desvendá-la na imaginação sem antes lhe perceber as formas, os recantos e os encantos dos olhos porque os do nariz não passam da porta que está trancada e gasta. aquela casa rasteira e velha tem alguma coisa diferente das outras que são rasteiras e velhas só porque o jardim está impecavelmente cuidado - aquela casa rasteira e velha tem um segredo que não é segredo algum: está esquecida, abandonada, e vive na sombra das flores e do sol de quem um dia lá viveu, fugiu, e com vida de um outro que por fora a pariu.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
vem pelas tuas pernas, diz o Alvim. (j'Alfoste)
a editora cego, surdo e mudo, que só não é deficiente motora, leva a designação social à letra visto que o único contacto disponível que existe é o endereço postal.
domingo, 8 de janeiro de 2012
espirrar, digo eu
gosto bem do choque térmico entre o bafo quente dos lençois e a geada da manhã - entre um espirro e outro adquirem-se imunidades para o dia, além de que os espirros são libertações tão pertinentes como outras quaisquer. mais: os espirros são crepitações, evidências reais de fervura, de vida.
sábado, 7 de janeiro de 2012
(shuuu: são dez minutos)
ora quando uma mulher se desloca a uma oficina mecânica, sem referências antecedentes, para mudar o óleo à sua viatura, pergunta o preço e o tempo estimado e o dono responde, convicto que regressa mais tarde, uma hora - está perante uma oficina de maçonaria que acredita, piamente, no desenvolvimento discreto das suas virtudes enganadoras.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
desabafo do ego até aos pés
os saltos altos, adoro-os, foram uma elegante invenção.
(mas só me fodem os pés e as costas, cretinos facciosos)
(mas só me fodem os pés e as costas, cretinos facciosos)
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
dona delicadeza
chamam-lhe insecto, bicho de calcar,
coisa de afastar na mesa.
e eu, em bruega mesmo antes do sol,
vejo-lhe os pêlos e as cores,
faço-lhe histórias em flor-de-amores
chamo-lhe dona delicadeza.
refluxar
lembrei-me do recém nascido D., de repente, durante a noite entre o sufoco, e do que lhe causou o refluxo diagnosticado, os sintomas, as noites e os dias de angústia dele, da mãe, e minha, que sou madrinha, e que tive de o virar ao contrário e sacudi-lo, como se faz a um saco com humidade, naquela tarde de medo - e estou convencida que não devo esperar mais.
e tudo é motivo de reflexão, antes reflectir do que começar a tinir, talvez a vida seja um refluxo constante.
e tudo é motivo de reflexão, antes reflectir do que começar a tinir, talvez a vida seja um refluxo constante.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
vai-te phoder, brasiu
as línguas, à semelhança das espécies, naturalmente evoluem e modificam e podem e devem ser consideradas como entidades vivas e, como tal, sujeitas a um processo evolutivo desde os primórdios da comunicação humana - adaptações aos novos usos a que seus usuários (a comunidade falante) as submetem. olha isto dele, fernando pessoa (1999), conhecedor da palavra e da alma portuguesa, “a linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.”
no campo dos estudos linguísticos, ambas as teorias sobre a evolução das espécies – a de darwin e a de lamarck – podem ajudar a explicar a evolução e a diversidade linguística. uma língua poderá sofrer modificações pelos falantes no sentido de comunicarem e se expressarem melhor porque, afinal, entre outras coisas, é para isso mesmo que ela serve: comunicação, exteriorização de ideias, de desejos, de pensamentos e de sentimentos. se a língua não for capaz de cumprir seu papel, provavelmente ela sofrerá modificações: novas formas sintácticas serão criadas, ou antigas serão modificadas; haverá criações de neologismos e formação de palavras inéditas, empréstimos linguísticos etc. dessa forma, há uma adaptação do idioma, o melhor possível, à sua comunidade linguística e, principalmente, às exigências dos seus falantes. tal como como as espécies de seres vivos, se dois grupos de falantes de uma língua forem separados geograficamente - a língua será modificada, sempre de forma lenta e gradual, de tal forma que, após se passarem muitos anos, poderão ser formadas duas novas línguas.
(isso aconteceu, por exemplo, com o latim falado na região onde agora é a frança - que, obviamente, deu origem ao francês - e com o latim falado na península ibérica - que originou o espanhol e o português.)
o sentido natural das coisas, da língua, neste caso, seria – tal como projectei ainda andava no liceu – na viragem do século, talvez, haver definitivamente oito línguas diferentes fruto de usos e usuários diferentes, climas diferentes, geografias diferentes, culturas diferentes em que a única base comum assentaria na língua portuguesa que naturalmente foi absorvida e trabalhada por cada um dos países até originar línguas singulares não obstante a similaridade do português. pensando ainda melhor sobre o assunto, talvez seja este argumento – o da evolução natural – que mais e melhor explica a imbecilidade deste tratado que pretende exaltar, auto-exaltando-se, o brasil, através – não altruístas – de ideais egoístas.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
algaraviar é sinónimo de descobrir
quando os pensamentos são algaraviadas é porque são poliglotas? não creio. até porque pode-se ler, falar e escrever várias línguas mas conhecer, entrar nelas, as palavras é outra coisa. os pensamentos só conhecem um idioma e daí a desordem para a descoberta.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
vidros
não posso espreitar, eu sei, as vidas por dentro das janelas
mas posso fazê-las em vidro,
transparentes,
damas antigas em vestidos centrados nelas -
ou pássaros, gaiolas de pé, que aguardam as sementes do frasco escondidas do gato Mané
virtudes em cada canto, defeitos a aspirar,
às casas limpa-se o pó do chão até ao tecto
e só o verbo amar fica ilibado,
de tão usado, de tão rendido,
uma exaustão que não cansa
e ele chegado fecha a porta ao gato
descentra-lhe o vestido, botões a mais,
liga a música, com os olhos amansa, enfim,
permitem-se ao fim do dia, o deles começo, o início de uma dança
domingo, 1 de janeiro de 2012
prata e ouro, deus e touro
no primeiro dia de 2012 o mar, sereno e silencioso, veste-se, precioso como sempre, de prata pouco polida - faz parelha com o céu e aguardam, juntos, o ouro do sol que deus, sem promessa alguma, olhar de touro, desde sempre lhes prometeu.
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