sexta-feira, 13 de setembro de 2013
um quilo de figos.
têm-me dito, amiúde, que escrevo de forma sensual. é um grande elogio, claro, e por isso decidi partilhar uma partes mais sensíveis e sensuais que há em mim: os intestinos. é verdade. há muito tempo, tinha eu oito anos, ainda as escolas primárias eram todas de perfil centenário e as mesas em madeira maciça e inclinadas, ainda as crianças vinham almoçar a casa e ficavam com a tarde livre para estudar e brincar, ainda não eram precisas mochilas com rodas para transportar o peso dos livros porque o saber - esse - estava dentro da sala de aula e por dentro do professor, nesse tempo, vinha eu a subir a avenida para chegar a casa da tia, por mais que corresse nunca mais veria a mãe, e começou a dar-me daquelas cólicas que que se aguentam não mais do que um minuto. e no minuto seguinte lá estava eu, completamente envergonhada. e cagada. usava uns calções pelo joelho, à toureiro, ao xadrez vermelho e cinzento - lembro com se tivesse sido ontem. e foi. ontem tive a sorte de estar a menos de um minuto de casa, e que sortuda sou por poder correr para o meu pai, e dar liberdades à caganeira. penso que serão os figos, ai os figos!, esses maravilhosos estimulantes da alegria das entranhas e das façanhas. ainda continuam a chamar-lhes cólicas. eu decidi chamar-lhes um quilo de figos.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
descobre as semelhanças
sem querer bater um coro, nem desrespeitar o corão, os burquinis são auênticas réplicas dos fatos de surf. no fundo, que é também à superfície, ambos existem para não meter água - os primeiros impedem o enrugamento da crença e os segundos o enrugamento da pele - que é, bem visto, a mesma coisa.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
arfar
veste-se de fogo
hoje
a lua
em cornos de croissant
talvez a sussurrar temperança
(ou talvez não)
talvez grite com as mãos na cintura
tal e qual vareira em mercado na jornada do pão
às tantas sorri na metade por tapar
ou não é assim quando em fogo
temos a alma a arfar?
hoje
a lua
em cornos de croissant
talvez a sussurrar temperança
(ou talvez não)
talvez grite com as mãos na cintura
tal e qual vareira em mercado na jornada do pão
às tantas sorri na metade por tapar
ou não é assim quando em fogo
temos a alma a arfar?
plagiarism checker ou como o entusiasmo pode crashar
esta ferramenta é um atentado à inteligência - mas só à de quem a tiver, claro. textos e mais textos, entusiasmo, muito, muitas horas a nadar. mas há momentos na vida que o que é mais seguro de se fazer, quando se está no meio do mar, é boiar. nadar não, não pode ser. passaram os meus textos na tal ferramenta, uma espécie de detector de mentiras à inglesa, e dois deles acusaram plágio e todos gramática completamente deficiente. honestidade, inclusive a intelectual, em causa, nadar é impossível. e depois a teimosia, a minha, no impulso de envergonhar a máquina e o acusador: agarrei em textos de gente que escreve gramaticalmente de forma exímia, tal como eu, e os mesmos resultados. e um ou outro plágio também. o que fazer contra um mercado que se rege por ferramentas falhadas e absurdas e que colocam em causa o nosso valor e os nossos valores? boiar. boiar é preciso quando o entusiasmo pode crashar.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
verbo frescar
são tão boas as manhãs frescas como as noites arrepiadas: o calor, esse monótono e monocórdico besunto, só serve para fazer derreter a paciência. não é tão melhor o frescar do que o calorir? e há alguma coisa, do reino das coisas, mais gostosa do que uma manta para frescar o aconchego?
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
é que era
que as palavras soltas se prendem
no meio dos concertos dos grilos
Quando o trabalho se torna em um vício: os trabalhadores compulsivos.
Não é que a família não exista, existe – mas não é uma prioridade. Nem os amigos – a não ser, claro, os colegas de trabalho. E a vida afectiva a dois, essa, resume-se a umas horas contadas, bem contadas, mero indicador de que se tem, e se consegue, tudo. Os trabalhadores compulsivos, vulgos workaholics, andam aí e têm vindo crescer nas últimas décadas, o que se torna um paradoxo em um mundo onde cada vez mais há falta de emprego.
Quem são, afinal, os trabalhólatras?
Os trabalhadores compulsivos pela altura de férias, por exemplo, ficam desnorteados e sem saber o que fazer (o que é o lazer?) simplesmente porque não estão a trabalhar. Mas comecemos pelo princípio. Há vinte anos rompia a globalização, a competitividade roncava entre as nações e as empresas, assim como a necessidade das pessoas demonstrarem – a si próprios e a outros – valor, o máximo de valor. É impossível não referir aqui que, na minha modesta opinião, não é o trabalho que dignifica o Homem mas o Homem que dignifica o trabalho. Salvo raríssimas excepções, o trabalho não passa de uma caixinha de processos minuciosamente controlados e monitorizados, com imputs e outputs - num espaço e num tempo -, devidamente expectáveis. E quando, nessa caixinha, aparece a alegria ou o amor ou o prazer, já não estamos a falar de trabalho. (ainda estou a aguardar que me expliquem em que dimensão é que a alegria, o amor, o prazer são remunerados através de uma folha de salários ou de um recibo verde)
O trabalho faz parte de uma rede social, mesmo enquanto actividade individual, absolutamente necessária apenas para se ter dinheiro, carcanhol, guito, que, por sua vez, alimenta a rede social. e é só isso, e é bom que tenha consciência disso - não é o trabalho que o faz feliz nem o dignifica. Desmonte um dia de trabalho e saque-lhe a tal alegria, o tal amor, o tal prazer (se está difícil, passe para uma semana ou depois para um mês) e verifique lá se nos momentos em que sentiu o trio de que falo, ou alguma parte isolada, não estava a agir enquanto gente ao invés de agente social. É verdade, convença-se: apanhar a carrinha de caixa aberta às cinco da manhã para chegar à obra às nove, debaixo de sol e de chuva, não dignifica ninguém; nem passar um dia inteiro sentado numa cadeira - ainda que ergonómica -, por si só, em frente ao pc; nem prescrever um medicamento, ao ser mais uma ajuda naquela viagem de sonho, sem saber porque verdadeiramente o paciente sofre; nem dar uma aula sem aquele brilho de sabedoria que marca o outro lado. Nem nada. o trabalho não serve para nada quando não passa de um tudo, porque não é só se deixar de respirar que morre: se deixar de trabalhar também. Perdas e ganhos contabilizados, os trabalhadores compulsivos ganham doenças e tristeza perdendo tudo e todos à sua volta. Adiante.
Conhece trabalhadores compulsivos? Conhece alguém assim? Pois, eu também. Vamos chamar-lhe Filipa. A Filipa é casada e tem um filho de três anos. Estão de férias e a cada dia de férias que passa a Filipa está com um ar mais cansado. Estranho? Não: ela pertence ao clã dos trabalhadores compulsivos. Explico. A vida dela é uma verdadeira rotina instalada tendo como ponto de referência o trabalho. Então o que fazer perante tempo livre? Stresse. A Filipa entra em stresse perante a possibilidade de não ter de trabalhar e de não ter um ritmo alucinante e, curiosamente, sofre das mesmas angústias e cansaços como se a trabalhar estivesse: dorme pouco e mal, faz refeições fugazes e com pouco valor nutritivo, é incapaz de se libertar do telemóvel e sente um medo gigante de falhar com o filho e com o marido. Resumindo: a Filipa está de férias e vive impaciente, ansiosa, stressada, intolerante e alheada (confira aqui e aqui) daquelas coisas que dão alegria à vida.
Se tem cura? Tem, claro – bastará que as Filipas, os trabalhadores compulsivos do mundo, queiram ser gente para dignificarem a vida. E o trabalho.
recado a um Joaquim José
80ção! 70s 3passar-me, 10iste: 100 romance nem adianta dizeres 20 ver. 5'um caneco! estamos em 7embro e nada. já sabes, 7 atrasas mais - com menos ficas, 15é.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Acabar de vez, não com o piropo, com a perseguição ao dito
Já muita tinta tem corrido acerca do piropo, assédio verbal em destaque, quando ele, o piropo, não é mais do que um elogio tantas vezes confundido com palavras incómodas – ruído e malina – de cariz sexual e ordinário. Chamam-lhe, agora machismo, atalho de chauvinismo, quando na verdade existe para, neste contexto de homens versus mulheres, marianizar a coisa. Mas o que faz de um piropo um lugar arejado, aquela brisa que pode refrescar um momento ou um dia ou uma memória?
Um piropo para mim, outro piropo para ti…
Olá. Olá. Até um olá pode bem ser um piropo, é verdade. Um piropo é, na realidade uma forma de expressão intensa – intensa porque genuína utilizada mais comummente na oralidade. E na oralidade cabe tudo, a oralidade é rica (tão rica que o Saramago sentiu vontade de colocá-la esticadinha na escrita), e quer-se – neste contexto – de chinelo e areia no pé, descontraída e espontânea. Um piropo pode ser, ou não, pronuncio de conquista – apenas expressão de agrado leve: o que é, senão uma leve expressão de agrado, uma queca ocasional? Ou também, conquista ininterrupta, pode durar uma vida inteira – o piropo pode ser um amor correspondido e vivido nos dias e nas noites. O piropo de um olhar, já pensou? Aquele olhar que mata, ou antes que faz viver, inesperado, cruzado com o seu de forma vadia. Ou simplesmente um bilhete com um número de telefone, ou email, deixado cair da cadeira de uma esplanada qualquer – um piropo é, como já disse, uma forma de expressão sem tempo e espaço definidos porém bem definido como um elogio ao outro se quer. Mas também pode ser um poema: já alguém lhe escreveu um poema cheiinho de metáforas e encruzilhadas para desmontar? Ou apenas de cinco linhas breves e rectas e penetrantes? Pois. Quando é um poema trata-se, garanto, de um piropo em potência – olhe, é um piropo a querer andar de mercedes. Se resulta? Vai-se lá saber…
Um piropo pode fazer rir quando lhe dizem que as suas meloas devem ser sumarentas. Mas também pode fazer chorar se lhe disserem que é bonita demais para sequer ousarem tocar-lhe. Um piropo pode aproximar – se quando apanha o bilhete escrito acaba por ligar – ou fazer fugir, se no bilhete está escrito que um estranho gostava de ter um filho seu.
Já pensou no que seria a vida sem romance? Tudo isto que acabei de dizer é, não se iluda, romance. E poesia – ou não fosse a poesia a beleza do pormenor. E o que é um piropo senão um pormenor e, por isso, poesia, romance? É isso. Agora já sabe que é um romântico mesmo que tenha estado convencidíssimo, até agora, de que isso é coisa de donzelas e de maricas.
Ou vai dizer que nunca piropou?
não é a brincar a forma mais séria de educar Segurança?
Sabemos todos serem as crianças a base
daquilo que queremos que seja o futuro: o lugar mais seguro do mundo. E nascem,
e crescem, cada vez mais e melhores, as iniciativas que promovem a Segurança. Interessa
levá-la o mais longe possível e, para chegar ao reino do que é pensar para ser,
a brincar. Diversão e aprendizagem, educação para a vida, é a aposta que fazem
os que sabem que a importância começa onde termina a convencionalidade daquilo
que é comunicar.
Se não lhe parecia ser possível cantar e jogar para fazer Segurança,
leia isto:
Esta campanha de sensibilização que me chegou
através do João Pedro da Costa levada
a cabo pela gigante agência de publicidade McCann com o
objectivo de promover a Segurança
Ferroviária mas não só - já que o alerta da música e das imagens nos
transporta a todos em geral, e às crianças em particular, para outras
realidades de perigo
e risco. Além de a música
nos remeter para um ritmo e letra facilmente apreendidos, também a cor e as formas
animadas são de uma simplicidade cativante. E depois há os jogos, ferramenta
igualmente certeira, que chegam daquela maneira divertida e eficaz à Segurança
por dentro do cérebro dos nossos traquinas.
Por cá podemos orgulhar-nos de já
ter sido desenvolvido um projecto semelhante, de sensibilização da comunidade
civil, para a problemática da Segurança e do acidente. Chama-se Tó & Kika, no âmbito do
projecto Prevenir para Inovar,
iniciativa da AEP (EURISKO). As actividades desenvolvidas assumiram diversas variantes desde
workshops, seminários, acções de formação/treino, exercícios de simulação de
emergência, análise de riscos das instalações, realização de ateliês de pintura
e escrita, exposições, sessões de jogos, entre outros, sendo que o objectivo
principal foi o de fazer com que as comunidades escolares se
consciencializassem sobre a temática da Segurança e da Prevenção – na escola,
em casa e na rua.
O resultado? O resultado deste tipo de iniciativas só pode ser, pois,
excelente! Por cá, conseguimos o envolvimento das crianças, dos pais, dos
professores, e demais funcionários das escolas, e também da protecção civil,
bombeiros, polícia municipal e sociedade em geral – até pela publicação da BD Tó
& Kika, durante muitas semanas, no Público
- para o bem comum que é a Segurança. No caso do vídeo Dumb Ways to Die, terá tido já 60 milhões de visualizações no You
Tube e premiado com um Cannes
Lions e 7
Webby Awards.
Será caso para dizer: obrigada a todos os que promovem o lema de que mais
vale prevenir do que acidentar – porque a Segurança não quer morrer. Nem de
velha.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Canal180
O tal canal, não há memória de um outro igual, é especial
E é o Canal180. Tomei conhecimento da
sua existência através deste blogue sobre videomusicalidade. Definindo-se
como o primeiro canal nacional sobre
cultura e criatividade, explora as várias plataformas digitais para nos
fazer chegar conteúdos originais e
criativos do mundo artístico: séries documentais, música, vídeos, ilustrações,
cinema, arte urbana. Apresenta-nos uma espécie de cardápio de criadores e de
obras – é só escolher.
Mas não estará
em falta, neste Canal, a arte da escrita - da escrita criativa?
Mergulhada no interesse das águas do Canal180, onde
cada link atrai a abertura do link que se segue, descobrindo mais e mais sobre
aquilo que são as artes
visuais deparei-me com (a meu ver) uma falha: nada de referência a conteúdos
ou criadores das letras que parece que dançam (e dançam) e que cantam (e
cantam) e que vivem (e vivem) e que morrem (e morrem). Falo, como não poderia
deixar de falar, de literatura e de escrita criativa.
Enquanto desfolhava, sim desfolhava e não folheava por
conta da imaginação que não pode nunca ser esquecida, cada link do Canal180
percebi que faltava ali qualquer coisa, sempre qualquer coisa, para abrilhantar
ainda mais o projecto. Tudo o que os olhos vêem e os ouvidos ouvem e o coração
sente serve de estímulo à verbalização. E
qual é a arte de verbalizar, oratória de dedos, a cor e a forma do mundo? Exacto:
é a escrita. Já pensou no quão magnífico seria poder ler uma ilustração? Na
verdade estaria a fazer duas leituras em uma só – a da imagem e a da imagem
escrita consoante o recanto desta ou daquela paragem criativa dos criadores. E
um vídeo? Quantas vezes uma música, que já possui uma letra, nos leva onde também
o vento vai que é o infinito? Já pensou como seria maravilhoso reescrever um vídeo
que já está escrito?
Seria uma ponte, sempre uma ponte, uma ponte é uma amiga,
uma união de artes que só poderiam resultar em força, em caminho, em criatividade
acrescida e em originalidade aumentada. Este, mais completo, mais justo, é o
tal canal que é bom. Mas, porque não, há sempre espaço para mais uma arte, pode
ser ainda melhor.
Consegue imaginar, por exemplo, no programa de A
Música Portuguesa a gostar dela própria, algo como agora faça-se silêncio
porque se vai cantar, e ver e ouvir e escrever, o fado. Que completude! Que
alegria!
o sexo e a idade
vai fazer noventa anos. noventa anos é muita frutinha, penso, muitos sorrisos e muitas lágrimas e muitas reflexões e muito amor e muito tudo. mas também são tão poucos! olha as árvores, aquelas reinas centenárias, que quanto mais velhas com certeza que mais rimam com beleza. na verdade ela continua a ser como era há vinte anos: o mesmo penteado de cabeleireira ao sábado, aquela banana de cabelo ripado, a mesma maquilhagem e o mesmo tom de batom, o rosa velho, as caminhadas para todo o lado, os livros que devora, o sudoku. ah, e os scones maravilhosos que faz sempre para o chá. e diz: quando eu ficar tolinha, ou inválida, deus pode levar-me porque não vou para casa de ninguém. vive sozinha e feliz, o marido morreu há mais de uma dúzia de anos e foi um consolo: passou grande parte da vida com amantes e, já velho, adoeceu. ora ela serviu apenas para a doença e também para lavar as toalhas cobertas de perfume das outras. então morreu e ela ai começou a viver. amou -o daquela forma que se ama a mobília e os bichos da madeira: quando estiver tudo carcomido vai fora e, no entanto, esqueceu-se de se amar. terá sido um amor de mãe, não de mulher. e eu disse-lhe: agora precisava de amar um homem e ser amada como mulher. à séria. e ela respondeu-me: agora é tarde demais: os homens velhos já só sabem amar também como fazem os pais porque o sexo, a parte sensual do amor, já o gastaram com outras. e depois vi o filme todo, RPG, que veio mesmo a calhar. os Homens só querem ser jovens por causa dos prazeres de sexo. (uma foda). por sexo os Homens estão dispostos a tudo. (outra foda). os Homens quando acreditam conseguem tudo - menos foder. (outra foda).
e quem, sendo jovem, não conhecendo os prazeres do sexo - desejará ser jovem quando velho for?
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Foi você que pediu um estágio?
Surgem, neste
Governo, como ervas selvagens, os estágios
profissionais. Trata-se, à primeira vista, de uma forte tentativa de
reduzir a taxa de desemprego por ciclo virtuoso: o estado apoia as empresas na
contratação, a chamada medida
estímulo 2013, que por sua vez fomentam a criação líquida de postos de
trabalho. Bem sei que parecem ser coisas distintas falar de estágios
profissionais e depois metê-los no mesmo saco da tal medida – parecem mas não
são porque, na realidade, ambos resolvem uma pequeníssima fatia de problemas de
uma outra, ainda mais fina, da população desempregada.
Quase vinte anos de carreira – quer um estágio?
A frequência
de anúncios ao abrigo da medida estímulo tem vindo a aumentar dia para dia e a
resposta, ou candidatura, aos mesmos está dependente de uma série de requisitos
para o tal estágio – que é como designam, entidade empregadora, o tipo de
trabalho: estar abrangido pela possibilidade de estágio na asa da medida
estímulo 2013 que significa exactamente estar na penúria das penúrias sem
descontar para a segurança social há mais de um ano. Ou seja até quem tem
trabalhado, e pouco, e mal, precariamente, a recibos verdes está inibido de
candidatar-se à oferta de emprego. Quer dizer o estado financia
as empresas e estas, por sua vez, exigem experiência e competência e
disponibilidade mas, ao mesmo tempo, recrutam pessoas que para cumprirem com os
requisitos exigidos só podem ser extraterrestres.
Exagero? Sim, um pouco – mas só no conteúdo e nunca na forma de sentir a
injustiça.
As empresas,
que aproveitam o financiamento – e sem olharem ao perfil académico e de experiência
no mercado de trabalho do candidato -, estão a ser estimuladas a dar uma
migalhinha aos desgraçados (desgraçado, anote aí, é o que é sozinho a tratar
dos filhos ou o que sustenta a casa porque
o outro está desempregado ou é ignorante ou é nada disto que disse, pelo
contrário, até tem quase vinte anos de experiência e trinta de formação mas no
último ano fez uns descontozitos para a segurança social) e aos que têm
necessariamente de cair em desgraça para poderem concorrer à tal oferta de
emprego que exige candidatos com disponibilidade de eleição ao abrigo da
medida. E a minha pergunta é a seguinte: o Governo não sabe que grande parte da
população desempregada tem formação superior? E que uma empresa é tão mais
considerada desenvolvida quanto maior for o número de quadros superiores? E que
a qualidade está directamente relacionada com a excelência que por sua vez se
traduz na aposta na investigação e
desenvolvimento que por sua vez faz a vantagem competitiva
e a expansão da empresa e o contributo no saldo positivo da balança comercial para o
país? Que vem a ser isto de chamar estágio a um emprego? E que vem a ser aquilo
de darem a entender aos empresários que o capital humano não tem valor
monetário agregado e que pode ser pago a miseráveis IAS
(valor do IAS em 2023 - €419,22)?
Estágio,
estágio, estágio, estágio. É preciso emprego, neste país, não é estágio – aquela coisa de experienciar
a novidade do mercado de trabalho para colocar no CV para, talvez um dia, se
conseguir um emprego. Perceberam?
o festo da rotina
quinze dias passaram a voar- vejo-os agora de tapete lá no alto, aos saltinhos, e em risota, como que a troçar -, uma mini viagem à volta da anarquia gostosa que é viver sem regras. a rotina regressou a casa, tristeza, mas faz todo o sentido que assim seja, malas arrumadinhas na mão, cabelos bem escovados e calças de festo perfeito, afinal de contas esta é a casa dela e quem cá ficou, erradinha e tortinha, fui eu.
domingo, 1 de setembro de 2013
sábado, 31 de agosto de 2013
dois ponto dois
decidi tentar - mais uma vez, desta vez decidida a conseguir convencê-lo, e tudo devido à pressão dos pneus que não está escrita em lado algum e tive de descobrir os números exactos, dois ponto dois, porque bem visto para convencê-lo terei de fazer a pressão certa, nem mais nem menos, a adequadíssima, a buriladíssima, a única - convencer o meu pai a ir para a universidade sénior.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
súbito
na vida
tudo chega de súbito
o resto
o que desperta tranquilo
é o que
sem darmos conta
já tinha acontecido
tudo chega de súbito
o resto
o que desperta tranquilo
é o que
sem darmos conta
já tinha acontecido
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
That's all folks!
Os EUA são, de facto, omnipresentes
A toda a hora alguém acorda com um
sonho, acordar com um sonho é aquilo a que chamamos esperança, um sonho cheio
de luzes: ir para os EUA.
Mais: o mundo nasce todos os dias a pensar em american-english.
Ouch. Quem quer realizar um sonho vai para os EUA – e quem quer endividar a
alma também. Os EUA estão, oh my god!
em todo o lado: na luta pela escravidão e também pela sua abolição e contra o
racismo e a favor de intervenções militares em países de outro mundo e no
esperma da sala oval e no dia das bruxas e no cinema e na cadeia McDonald's.
Mas serão omnipotentes?
Quase. A
indústria cinematográfica dos EUA é, sem dúvida, uma das maiores, e mais
influentes, do mundo – não fosse Hollywood o símbolo do
sucesso. Tenho, aliás, a convicção de que se a Linda de Suza, a nossa
Teolinda Joaquina de Souza, tivesse rumado aos EUA com a sua mala de cartão, em
vez de França, estaria hoje a dar continuidade aos papéis da Elizabeth Taylor na Universal Pictures.
Ou então não teria passado de uma IT-Girl,
o que nós por cá chamamos de pita que usa saias que mais parecem cintos e que
bebe penicos de álcool e outras drogas, à boa maneira americana: plus chic, plus mode, plus de glamour. Mas
não foi sempre assim. Já houve um tempo em que o espectáculo era outro, ora
triste ora contente, nos EUA. Houve um tempo em que a
escravatura não era como a de hoje – de fama e sucesso -, tinha que ver com
a cor da pele preta explorada nas plantações do sul. Mas depois conseguiram abolir
a escravatura, viva!, e conseguiram fazer dos EUA, UCB, United Colors of
Benetton. (Mas isso é de origem italiana, Olinda. Ó, isso não interessa nada –
o que conta é pronunciar em inglês americano, ignorando os tês). Por falar em cor, torna-se impossível não lembrar a da sala oval: rubra. Não, não me refiro à decoração. Adiante. A esta altura o leitor já estará com fome, está calor, é Agosto, o cinto já está esganado e, deixe-me adivinhar, vai passar no McDonald's. Como é que
acertei? Ora como Portuguesa que sou conheço bem alguns pratos típicos. Além da
particularidade de este prato ter algumas variâncias, como é o caso mais
recente da bifana com sabor a sabonete de glicerina, é bastante económico e
saciante: como o Governo
quer. Além disso esta comida é confeccionada aos mais altos padrões de
qualidade de HACCP
o que constitui, para os EUA, uma vantagem altamente competitiva: ninguém fica
de diarreia nem morre de E.
Coli no McDonald's, excelente! Mas morre mais cedo. É. Mas também não morre
sem festejar o dia das
bruxas entre, oh yeah, doçuras e
travessuras. Aliás, não servem as abóboras do Minho (não confundir com jerimum
que aqui diz ser sinónimo
mas é mentira. Porquê que é mentira? Porque o jerimum é usado apenas para
confeccionar doces) para outra coisa que
não esquartejar e desmiolar para incendiar - são elas e as políticas
altruístas, e intervencionistas, dos EUA. O que é importante é americanizar tudo, não
esqueçam. That’s all folks!
os dois
escolhi chamar-lhe, por razões musicais, Samantha.
ontem vi uma raposa. dizem que foi um cão, que me enganei, mas não: ontem vi uma raposa que se assustou comigo. saiu de dentro do milho alto e maçudo e depois espreitou para cá - para cá no lado onde não se podia esconder. estava noite fresca e recente e talvez precisasse de sair para o outro mundo. às vezes o outro mundo está quando abrimos os olhos ou acordamos ou adormecemos ou, e porque não, saímos do meio do milho. orelhas arrebitadas e focinho bicudo, como tem de ser, olhou-me fixamente durante uns segundos. e eu a ela. depois pensou e desapareceu. suponho que terá pensado em não estar com alguém, era o que faltava, esperou o dia todo pela fresca e agora aparece esta. mas estou convencida de que vai voltar a aparecer - hoje à mesma hora, talvez. ou amanhã ou depois, que importa, desde que não pense, só sinta, e venha lamber-me as mãos e as pernas e os braços - os braços espero que lamba os dois.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
verão triste
entra de mansinho, vai entrando, em conluio com o clarão escuro do nascer do dia - sobe as narinas e aloja-se na alma. os sentidos despertam e choram, também se vestem para confirmarem a tristeza, e, já na rua, o céu é uma mistura laranja com cinza, nuvens desenhadas a rigor de fatalidade. por aqui, por aí, por todo o lado morrem árvores e arbustos, ervas e caruma. por todo o lado o vento, mau conselheiro, exalta os ânimos. por todo o lado é verão. e o verão é, por isto, triste.
domingo, 25 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
(adenda ao post anterior)
: a expressão genuína que os do norte dizem e os do sul só pensam: foda-se!
o sul com os olhinhos no norte: que justa maravilha
quem gosta de blogues, e de blogueres, não sei se existe esta palavra assim mas é assim que gosto, como eu - de bons blogues, reforço -, tudo tem significância. aliás, no mundo tudo é para ter significância com excepção do que excluímos de significado e aí, não existindo, nada significa. desde os autores aos conteúdos, cada blogue é um amigo (e agora é impossível não lembrar a canção: que devemos bem tratar...) ou, melhor, a casa de um ou mais amigos, que frequentamos e tantas vezes nos sentamos a conversar. também os há que, apesar de sofá na sala, nunca, ou poucas vezes, estão com pachorra para conversas - tantas vezes lançamos perguntas e nem sequer nos respondem: olham-nos mas ficam calados. talvez a vida não lhes corra ou tenham dores de garganta ou barriga ou de dentes, quem sabe, mas disso alguns padecem e assim hão-de morrer. a verdade é que ao mesmo tempo que fazem destas suas casas espaços de exposição e discussão de ideias também as não asseiam - deixam acumular lixo e nem sequer abrem as janelas. isto é curioso para quem deixa a porta aberta. adiante. mas o pormenor que mais me fascina é aquele do você, está a ver? se são visitas esporádicas, entende-se. se são amiúde, com chá e biscoitos e prosa, onde é que cabe a distância fria e merdosa do você? também é verdade que no sul há bem mais merdeiro do que merda em relação ao norte mas podíamos todos melhorar isso: os do norte a continuarem a ser excelentes hospitaleiros e os do sul a reduzirem a taxa de merdices pondo o olhinho no norte. parece me justo.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
o criador
o criador apresentava, finalmente
ao mundo, a nova gama de vaselina que, dia após dia, durante sete longos anos,
tinha preparado. um pouco mais de óleo de rícino aqui, um cheirinho de petróleo
acolá até a parafina líquida estar no ponto: não num ponto qualquer mas no
ponto de exclamação das gentes perante a novidade que vinha aí.
(vir é sempre bom e a espera do
vir pode, de facto, surpreender)
começou por testar o seu bebé
(aquilo que fazemos com amor é sempre um rebento em branco) junto de vários
estratos sociais. visitou muitas, muitas, casas e foi oferecendo amostras para,
na semana seguinte, recolher informação sobre a textura e a utilidade que lhe
dariam. numa casa, foi recebido por um senhor abastado que tinha descoberto uma
utilização medicinal – aplicava a vaselina nos joelhos e cotovelos dos filhos
sempre que se esmurravam e estava bastante satisfeito com a sua suavidade; na
segunda casa tinham-na usado, na mecânica, para lubrificar os rolamentos da
bicicleta e do aparador da relva; numa terceira casa, um operário, barba
desfeita e hálito de intestinos de pato, disse-lhe que lhe tinha dado um uso
meramente sexual: besuntava, todas as noites, a maçaneta da porta do seu quarto
para os filhos não a conseguirem abrir.
entre todas as residências que visitou,
esta última foi realmente a que mais prendeu a sua atenção – não pela
utilização em si mas pela tomada de consciência de que, sem dúvida alguma, é a
inconsciência de cada um que acarreta tantas finalidades diferentes.
ninguém, porém, tal como ele, se
lembrou de simplesmente não experimentar, não sentir a textura, não dar
qualquer utilidade à vaselina; ninguém, tal como ele, se lembrou de,
simplesmente, lhe responder que se excluiu do teste sem, daquela parte sem
parte; da parte de não fazer, de não usar – o que o deixava a encher-se, pelo
vazio seu e só seu, de júbilo.
a parte sem era, foi, sem dúvida,
aquela em que, por enchimento, se excluiu. excluiu-se sempre de tudo o que o
enchia, do que o tocava – e tocava-se, isso sim. tocava-se para se orgulhar do
sem que era, do que com tudo sem tudo era. e abandonou o teste porque a única
experiência que afinal de contas lhe interessava era a de reconhecer, em si, a
exclusividade, a consciência da inconsciência. pensava, por todo si, que por
melhor que fosse a sua criação nunca iria de encontro a si.
(ouvia, amiúde, de si, para si, a
graçola do “e si sou boa comómilho porque não me queres?” e ria, ria, perdido
numa nuvem balofa que lhe dava sempre nota cem)
por mais que a criação fosse boa
como o milho, não se cansava de gritar que não era galinha – detestaria, aliás,
ser a típica galinha que vive a olhar os céus e a pedir a deus que lhe dê outro
sexo porque o único que tem (e a utilidade que lhe dá) enfada-o. por mais que a
criação fosse maravilhosa, não a queria, recusava-se a partilhá-la com a sua
outra parte que não a de criador – consigo mas sem si, sempre sem si,
percorreria os caminhos e até os atalhos da ciência, do laboratório, das ruas
com casas com gentes lá dentro, como num ciclo – não vicioso – virtuoso que o
ajudava, mais e mais, a reduzir-se, a desfalcar-se de si em honra de si.
**
passaram dez anos, entretanto, e
o criador explora o sem si no expoente máximo: bate na porta das casas das
gentes, sem mostrar alegria ou entusiasmo, e aguarda, sem agitação e
curiosidade, que adivinhem, sem consciência, ao que vai, qual o produto que
quer testar e o que pretende saber. pretende, agora, sem fim e sem cabo, dar um
novo significado à palavra sentir.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
nascia a ideia da Europa no século dezanove. valeu a pena?
estamos agora no
século dezanove, façamos uma breve viagem, e
bismark, o homem alemão da política pela força, falava em “falar europa”,
prelúdio do discurso de renouvin –
decano das relações internacionais de solidariedade entre povos -, que
apresentava ao mundo o problema da criação europeia como federação ou
comunidade. e dizia problema pela sábia visão da diferença daquilo que era, e
continua a ser, o discurso (com tudo o que os vocábulos comportam em termos
míticos, linguísticos, estéticos) e a acção que implica sacrifícios, opções,
integração no real organizado e dependente das circunstâncias.
sem querer
esquecer qualquer outro contributo importante no percurso da ideia da europa é
impossível não referir emeria curcé que
publicou, em 1633, o livro "nouveau
cyrée", em que defendia a criação de uma assembleia permanente de
arbitragem, que ao mesmo tempo garantiria
a paz e favoreceria o desenvolvimento das trocas internacionais; e depois o
“grande desígnio” que sully, seu
conselheiro, atribuiu a henrique iv
defendendo a europa em quinze estados e um conselho comum; e william penn
quando publicou, em 1693, o "ensaio
pela paz presente e futura da europa", no qual considerava que deveria ser
constituída uma assembleia de
representantes dos estados europeus que tomariam decisões por maioria de 3/4
dos estados - as decisões tomadas poderiam ser impostas coercitivamente por uma força armada a formar; do abade de saint-pierre, 1712, em "projecto de
paz perpétua", defende a criação de um parlamento europeu que teria
competências legislativas e judiciais; ou de kant, espírito liberal individualista, onde os
colectivos identitários que denominamos de nações deviam ser diluídos em troca
de uma “pacífica” colecção de indivíduos sob o mesmo estado federal; ou quando,
em 1849, victor
hugo lança um apelo a favor da criação dos estados unidos da europa.
poder. generosidade. solidariedade. coerência. todos estes
homens, estadistas ou pensadores, que importa?, projectaram – muito mais do que
um continente de força – valores. curiosa e lamentavelmente assistimos, mais de
cem anos depois, a um problema – ao mesmo problema que renouvin, o decano lá de
cima, explanou: a união do discurso não acompanhou a acção: ficaram, têm
ficado, de lado os valores – vence o poder. os sacrifícios de uns são a glória
de outros; as opções de alguns são ganância e de outros circunstância.
existe comunitarização de todas as matérias?
as decisões em domínios cruciais são adoptadas por maioria?
a comissão tem um grande poder de iniciativa?
o parlamento europeu tem um enorme poder no processo
legislativo e exerce um efectivo controlo político?
o tribunal de justiça tem real competência perante todas as
matérias?
valeu a pena?
ouvi assim
as palavras, algumas, deixam a alma lavada.
(sim, é verdade, mas e as outras, outras, não são pêlos soltos e esquecidos, porque imprestáveis, no bidé?)
(sim, é verdade, mas e as outras, outras, não são pêlos soltos e esquecidos, porque imprestáveis, no bidé?)
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
viveliotecas
as bibliotecas
já não são o que eram: são, têm vindo a ser, melhores. as primeiras,
materializadas em placas de argila, onde se registavam contas de tempos e de
trocas comerciais, datam de há 3000 anos antes de cristo. a primeira biblioteca
pública de que há conhecimento localizava-se em atenas e constituía, na
graciosa grécia clássica, além de consulta de manuscritos, local de encontros
para discussão e elaboração de projectos. na história ficou igualmente a
biblioteca de alexandria – espaço com milhares de rolos de pergaminhos para
leitura, oficina de copistas e arquivo de documentação oficial. mas terão sido
os romanos os primeiros a fazerem das bibliotecas públicas instrumentos de
dominação intelectual - propagando-se, assim, as bibliotecas particulares como
símbolos de riqueza e prestígio -, uma moda.
foi nesta época
que os copistas começaram a surgir em massa – trabalho desempenhado por
escravos – assim como os codex em
pergaminho que substituíram os, até então, rolos de papiro. seguiram-se guerras
e destruições que travaram a expansão das bibliotecas e a concentração dos
resquícios manuscritos em mosteiros, conventos e castelos feudais: aqui aqueles
eram conservados, copiados, traduzidos e ilustrados mas também monopolizados e
tornados inacessíveis ao povo. no mundo árabe a expansão destes locais foi
impressionante durante a alta idade média, fazendo a delícia de professores e
estudantes no reino da matemática, astronomia e filosofia.
com o surgimento das universidades, na europa,
os livros passam a ser um luxo intelectual, apesar de acorrentados para inibir
o roubo, partilhado. o livro reencontra o simbolismo de riqueza e de prestígio
na idade moderna que gutemberg,
esquecê-lo é pecado, em muito contribuiu. que maravilha. nascia o primeiro
livro impresso que vinha a permitir a transmissão do conhecimento a uma escala
nunca antes vista. apenas, no entanto, no século dezassete as bibliotecas
viriam a ser públicas quebrando-se a excepção de frequência a sábios. é no
século dezoito que surgem as bibliotecas nacionais e no século seguinte é
fundada a maior biblioteca do mundo, nos eua, a do congresso. aos antigos
conceitos e actores do mundo do livro juntavam-se o autor, o impressor, o
livreiro, o editor, o bibliotecário e, finalmente livre, o leitor.
mudaram-se os
tempos, assim como as vontades e as necessidades: o combate ao analfabetismo e
a cada vez maior preocupação com a educação deixaram, de vez, as portas abertas
ao livro no século vinte, século que fez desenvolver, e instituir, um novo
mundo ao mundo do livro. nos nossos dias as bibliotecas não possuem apenas um
carácter documental e informativo in loco
– antes deixaram que o tempo lhes refrescasse as tecnologias e os recursos
e, ninguém lá longe alguma vez imaginou, entra-nos casa adentro, espaço físico
superado, por via virtual. e esta, hein?
terça-feira, 20 de agosto de 2013
gang dos cotas
raramente um programa de riso me faz rir e há muito tempo que não gargalhava a ver um - chama-se gang dos cotas e além de promover o riso, ai o riso!, promove igualmente o trabalho sénior. e lá estão eles, sete actores séniores e malandros a mostrarem que são bons e os melhores. a componente do inesperado e, ao mesmo tempo, do inesperado com banda sonora foi a que me cativou. e depois a naturalidade com que fazem aquilo vem dar-nos a certeza de que a idade em frequência acumulada é fonte de experiência e sabedoria. façam mais. quero mais.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Judite Cabra Sousa
não havia, certamente, nada mais interessante a explorar, em horário nobre, do que a vida de um puto que nasceu e há-de morrer rico: eis a primeira miséria. depois começam as perguntas em tom sarcástico e esgar de nojo, uma atrás da outra, como se ter dinheiro, muito dinheiro, fosse um crime horripilante - uma falha que desmerecidamente não sofre castigo. cabra. acaso a Judite vive de algum salário miserável e veste roupas da avó ostentanto, desta feita, valores anti consumistas? não. a cabra da Judite ganha uma fortuna mensal para dar aos portugueses notícias interessantes e que, de alguma forma, lhes aumente a bagagem de informação útil. ao invés, a cabra decide transportar a crise e a incompetência do governo para um miúdo que caga notas e que, por isso, havia de as distribuir por cá para a curva da recessão minguar; a cabra nem se lembra de que também ela é uma privilegiada e fútil - ou não daria importância à vida de alguém que apenas vive o dinheiro que tem da forma que melhor lhe convém - e invejosa. sim: a Judite além de ser cabra é invejosa.
(mas pode ser que para o ano o moço lhe pague a viagem e a estada para o seu aniversário. e um lifting ao cérebro, já agora, que o saláriozinho dela não deve chegar.)
alguém
tempo que fala, calando, é tempo de ficar
tempo que fala, calando, é tempo de andar
só não é tempo a correr - como ao tempo que se diz que é o tempo a passar
domingo, 18 de agosto de 2013
guerra das trinchonas
vai lá saber-se porquê ando, há uma dúzia de dias, a receber convites de mulheres para exploração de intimidades em diversas e diferentes frentes da internet. andará o meu email a circular em uma espécie de guerra das trincheiras, trinchonas vá, da homossexualidade? a umas ainda respondi com graça e desdém mas a outras, às que se seguiram, decidi ignorar-lhes as pretensões - não por falta de educação mas por considerar que cortesia não é mandá-las a todas para a puta que as pariu, já que não me apraz o assédio sexual, per si, seja em que categoria de gente for. andor carrapatices!
sábado, 17 de agosto de 2013
manifestação dos pessoinhas
quando começam a rebentar os balões os pais zangam-se, não há direito. não há direito de as festas de aniversário dos pequenos serem, do início ao fim, para os grandes. tudo começa na escolha das comidas: camarão, frangos, empadas, rissóis e pataniscas, bolos gordos de creme, batatas fritas, refrigerantes, vinho, cervejas. está bem, há o bolo em pasta de açúcar do homem aranha e a mousse de chocolate mas e o resto? qual é a criancinha de três anos que pode beber um copo, seja do que for a não ser água, ou encher a pança de fritos ou lambuzar-se de marisco? pois. depois a música ambiente é aquela agradável à conversa, à conversa dos convidados dos pais obviamente, não havendo espaço para cantigas para saltar e berrar por conta de o barulho ficar insuportável. e depois há os balões, coloridos e de todos os feitios, que são interditos ao estouro. ora não é justo. as festas de crianças, e em particular as de verão, são para encher a casa de pirralhinhos que querem andar descalços e com a fruta de fora; são para encher e rebentar balões com água; são para enfartar as mesas, mesas proporcionais ao seu tamanho e não aquelas para eles inalcançáveis, de guloseimas e sumos naturais e as comidas preferidas; são para as vozes adultas se calarem a ouvir as barafundas dos pessoinhas. e é por isso que eu proponho uma manifestação dos miúdos a favor das festas de aniversário exclusivamente infantis. querem aproveitar as festinhas para estarem com os amigos, beberem uns copos e deitar conversa fora, querem? então arranjem tempo, pais. arranjem outro tempo - é que esse é deles e para eles. certo?
Moinho abandonado em 1866, Sorrento, Itália.
parece miragem, já foi moagem, mas é castelo de ver - para que servem os olhos, pérolas da fronte, senão para deslumbrar o ser?
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
se
se ela fosse molho era ele guardanapo
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
terapia
há uma boa dose de gente que, sem dúvida, precisa de terapia da boa: ter a pia cheia de cuecas sujas para lavar deixando, assim, de se meter na vida dos outros. é a chamada terapia get a life acaso sejas um amante dos vocábulos estranjas para ornamentar a coisa.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
a propósito de uma conversa que ouvi
disse assim, uma para a outra: claro que vamos de férias para fora e em vez de uma batata come-se meia.
ou seja, há pessoas que preferem cortar em bens essenciais do que nos acrescidos - tal e qual em parelha com o governo. não perceber que a saúde depende muito da alimentação é a mesmíssima coisa que compartilhar a ideia de que a reforma do IRC traz o consequente aumento dos recursos para investir no futuro. enfim.
sound + vision: John Turturro & Woody Allen
sound + vision: John Turturro & Woody Allen: Um homem recebe do seu amigo mais próximo uma sugestão inesperada para resolver os seus problemas financeiros. A saber: a venda de favores s...
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
pensamento das cinco e meia da tarde
não sei bem se o meu cérebro está mais cansado que o cavalo do Quixote ou que um órgão barroco.
descoberta
(Malinev Marinov - se não é assim, inventei)
quando era pequenina tinha amiúde o mesmo pesadelo: acordava sufocada depois daquela sensação terrível de cair numa espiral e nesses dias, nessas noites, julgava ser o pesadelo uma das piores coisas da vida - como se fosse, e era, um castigo que eu não podia, de todo, controlar. o que fazia de mim impotente. agora sei que pior do que ter um pesadelo e acordar sufocada é estar a dormir tranquilamente e acordar com realidades tristes e, um sufoco, não conseguir voltar a adormecer.
creio que ainda sou pequenina, pelo menos até à próxima descoberta.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
panelaterapia
tens pão? então parte às fatias, em abundância, e enche - até tapar - o recipiente com água fria. deixa ficar. bastantes alhos partidos, ou esmagados, são precisos. mete-os no tacho com uma folha de louro e rega com azeite, carrega na generosidade. entretanto, porque ainda é cedo, esfia quatro lombos de bacalhau. então, mete o alho a alourar e de seguida o bacalhau. mexe lentamente e quando sentires que está a colar ao tacho é porque é horinha de juntares o pão em água fria. afina o sal e dá um cheirinho de pimenta preta. vai mexendo lentamente e desembaraça quatro ovos lá no meio até ficarem em fios cozidos. desliga. a salsa está picadinha? muito bem, agora só falta azeitonas pretas e muito apetite. no fim, vais esboçar um sorriso enorme e a língua teimosa não vai querer sair dos cantos para dentro.
é açorda-maravilha de bacalhau, pois claro! e vai bem com este som à moda dos 80:
jefe
há dez anos, mais ou menos, esta canção estranha fazia, e ainda me faz, galopes de riso. na verdade, esta é a lengalenga que ensino aos filhos das minhas amigas mal começam a falar - não há um único que não saiba dizer: jefe, ven aca pa ca! e hoje, a menina que cantava isto quando vinha de Sanxenxo já está uma senhora adolescente. ontem lembrou-se de enviar para partilhar riso - e resultou.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
como se distingue um homem altamente básico dos outros?
o homem altamente básico possui um grau de boa disposição directamente proporcional ao processo de esvaziamento dos testículos.
olhos em chuva que fazem olhos de sol
há homens assim. acabara de completar setenta e seis anos, é um ano mais novo do que ela, mas aparenta bem menos. taxista de profissão passa o tempo fora de casa. foi sempre assim: duas famílias, um filho de cada uma, muitas mulheres reles, e uma só vida. cheia. não conta muitas histórias a não ser sobre Penafiel, a terra onde nasceu e cresceu - fala das vinhas cortadas a corridas e saques de fruta, das quelhas em terra batida e do arroz do forno a lenha. ela nunca saiu de casa nem deixou de ter o almoço pronto ao meio dia em ponto para ele, por causa dele, que vinha de trabalhar e de ir de seguida ter com a outra família que ela desconhecia. e hoje, entretanto ele teve de assumir o outro filho e fazer descair a mentira, ainda é assim. e ele resiste, como nunca vi antes, à idade: faz questão de manter a mesma alimentação, de fazer os mesmos horários com o táxi, de ler muitos jornais e encher de tinta as palavras que por lá se cruzam. recusa-se a fazer qualquer actividade onde haja um aglomerado de pessoas da sua idade. e é por isso que lhe chama velha quando se irrita, em enxurrada de palavrões, e repete, velha és uma velha. os olhos dela mantêm-se firmes mas molhados, talvez por se sentir velha. mas ser mulher é esta maravilha: conseguir, sabendo o que se é, não chamar velho ao homem mais velho do mundo para que os seus olhos, pequenos sóis de uma vida, nunca fiquem em chuva molhados.
domingo, 11 de agosto de 2013
estomas
desconhecia-lhes a beleza - e o nome: parecem rosas, ou talvez também camélias, mas não são. não têm espinhos como umas nem vestem tantas saias como as outras. senhoras e senhores, apresento-vos as estomas.
sábado, 10 de agosto de 2013
é proibido
não chupar os miolos aos peixes
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
coisas que fazem corar
Labirinto ou Alguns Lugares de AmorO outono
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
vontade
escrevia agora tanto daquilo
daquilo tão simples
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
a fazer
ando cheiinha de vontade de fazer o que a minha cadela faz, tem feito, e que consolada eu vejo que fica: caga no campo de milho, bem lá no meio.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
trança
só quem tem paixão por cabelos compridos percebe a curiosidade por saber fazer tranças. sim, porque as tranças não são um penteado qualquer. as primeiras tranças percebem-se nas estátuas de Vénus de Brassenpouy e Vénus de Willendorf, vinte e dois mil anos antes de cristo, mas é na imagem da Cleópatra, no antigo Egipto, que elas aparecem perfeitas, lindas, inspiradoras, simbolo igualmente de riqueza e de proximidade das divindades. depois, no império romano, a forma arredondada com que elas enfeitavam os cabelos pelas tranças era deliciosa - tal como na Grécia antiga, idade média. igualmente os celtas e os chineses faziam delas rendilhados importantíssimos. ademais, a literatura e o cinema estão repletos de tranças e de significância, qual o pormenor que o sendo não a tem? a verdade é que hoje em dia o frenesim das cidades desmotiva o uso da trança - até os penteados são escolhidos levando em consideração, não a beleza potencial que um cabelo comprido oferece, o tempo de secagem e de arrumação. mas não lamento: cada um usa o que quer e eu não prescindo das tranças. vai daí, tinha muita curiosidade em aprender a fazer a trança embutida e a outra que é espinha de peixe. e agora já sei, iuuuuppiiiii!
La Cage Dorée
viva Portugal, por entre o Douro e as vinhas e a alegria da mesa com bacalhau e vinho e riso - a família -, é o início por ser o fim. explico: é esta mensagem de união e de alegria tosca de que somos feitos que interessa agarrar. está bem, o português é aquele a quem custa dizer não, honesto, trabalhador, um aguentador por natureza - mas por uma natureza simples, como se quer. Portugal é o fado na voz e na vida, lágrimas imprescindíveis; é a soltura das palavras bravas, genuínas; é o riso dos parentes, porque presentes; é a mesa farta, porque grata.
e é por isso que nós, portuguesezinhos, não podemos deixar que homens corruptos e sujos nos ofusquem o dentro - havemos de conseguir não deixar que Portugal deixe de ser aquilo muito mais do que isto: é ali, no fim do filme em fundo de Rodrigo Leão, que temos de ser e estar. e será essa a luta maior a travar - tornar intocável a nossa identidade, aquilo de que somos feitos, aquilo que nos faz - a todos - chorar e rir: aquilo que é sentir no peito o orgulho de ser português. não obstante a merda que o homem do poder fez.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
scones al cá & nela
300gr de farinha
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
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