depois de pouco mais de três anos cruzei-me, pela primeira vez, com ela na rua. falou-me, mostrou-me a filha e eu sorri. fez questão de me acompanhar ao café e começou a falar sem parar. tentou explicar-me como não tinha sido uma grande cabra comigo e eu tranquilamente ouvi. o ex, aquelas duas letras que significam passado distante e frio e esquecido, tem um peso pouco significativo para algumas pessoas. a amiga que durante tantos anos eu cuidei e mimei e amei via-se agora, ontem, perante mim e confundia perdão com aceitação. quanto mais ela falava menos eu sentia - apoderava-se de mim qualquer coisas que não soube descrever na altura mas que após metade da noite a analisar o sucedido agora sei: compaixão. esqueci todos os pormenores que me levaram a romper com ela, a minha memória é fantástica quando toma decisões, e foquei-me no, eventual, por vir. força o afecto de querer vir a minha casa e eu à dela mesmo naquele instante como se fosse, e é, um ritual de intimidade e confiança - mas não foi. deixei-a entrar no meu oásis como que a buscar definições para o que estava a sentir ou, melhor ainda, para o que eu não estava a sentir. e deixei-a observar cada canto meu, cada poesia do meu viver. depois aceitei, por insistência, ir a casa dela e deixei que me abraçasse - sentir nada foi o máximo que senti. e já em casa, sono afastado, finalmente senti: senti que perdoar assim, naturalmente e com espontaneidade, é bom. é bom eu sentir que aquela ex-amiga continuará a ser uma ex no meu mundo, não a quero de volta à minha vida, aos meus dias. já aconteceu uma outra vez, com outra, e eu senti uma alegria imensa perante a sua vontade de me voltar a ter, desejo reprimido também meu que apenas aguardava sincero arrependimento. mas desta vez, não. desta vez eu escolho, não será ela a escolher em nome do perdão, perdão não é aceitação mas mais um tranquilizante para quem o pede porque quem o dá não o faz em consciência, eu escolho não a querer na minha vida. fui-lhe amiga, mãe, avó - fui tudo o que podia ser até ela, depois de me esfaquear, me morrer. agora será um breve cumprimento sem a devassidão de vidas e a pornografia de evidências que é, para mim, a amizade.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
sábado, 11 de agosto de 2012
os peixes dormem?
levantou-se-me esta questão ontem, mesmo antes de me deitar, quando olhei a peixa Clotilde. vim investigar ao de leve quando acordei e não cheguei a uma conclusão séria. também não aprofundei o tema, ainda, foi só uma pesquisa básica: uns dizem que sim e outros que não embora tenham estados de repouso. fiquei com a curiosidade ainda mais aguçada e tomei a decisão de saber ao certo disto, talvez para fazer uma chalaça dedicada à minha Clotilde - a reina da vigília.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
fé electrónica
vou acender duas velinhas para ti, amanhã, quando for à missa - daquelas que se mete a moeda. vou pôr duas de vinte cêntimos, disse-me ela. eu agradeci, fé é fé, mas ri e pensei em acender outras duas para que o sistema electrónico da caixa das esmolas nunca entre, fios descarnados possíveis, em curto circuitar.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
despersonalidades
há personalidades que simplesmente mudam de cor consoante o espaço onde permanecem. na verdade são personalidades cuja característica principal é, precisamente, a não permanência. à semelhança do camaleão, mesclam-se do que está em redor: no início e no meio e no fim são, isso sim, não ser.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
breve história de vida
o sonho dele era o canto lírico. um dia cortaram-lhe os cantos e, à semelhança das unhas, encravaram-lhe a vida.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
obituário
mulher.
mulher de letras.
mulher sem muita letra.
mulher de levar à letra.
mulher de palavras.
mulher de palavra.
mulher.
mulher de letras.
mulher sem muita letra.
mulher de levar à letra.
mulher de palavras.
mulher de palavra.
mulher.
domingo, 5 de agosto de 2012
chover, comunicar
há macacos tímidos, na Birmânia e ao que parece também na China, que espirram quando chove e para encontrá-los basta seguir o som dos espirros. uma maravilha. a parte de ficção seria a da história do primeiro espirro depois de anos de silêncio ao sol. uma aldeia de espirracos onde nunca chovia quando o sol, aliado do marasmo e dos olhos e das bocas cerradas, um dia se fez tapar por nuvens roliças e húmidas dispostas a uma revolução sem igual. e choveu. e o primeiro espirro, imitado por todos os habitantes da aldeia, os espirracos a partir daí, vingança do sol ao silêncio, tornou-se num marco da comunicação universal.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
gargalhada
quando o meu pai vem almoçar comigo traz sempre broa. gosta, sabe-lhe bem. e a mim sabe-me a alegria, perante o meu comentário, a sua gargalhada: ela é broa comómilho.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
câmara lenta
se a pressa é a sola dos sapatos da modernidade - a lentidão, ai! como eu adoro a lentidão!, é a planta do pé, não de aquiles porque esse era dado aos calcanhares, daqueles que sabem como manter o bom e extinguir o mau. abrandar o ritmo seja do que for, orgânico ou mental ou espiritual, só pode fazer crescer ou fazer desaparecer - tudo se apanha, tudo se consciencializa e tudo se transforma. e a espontaneidade em câmara lenta é mais bonita ainda, não há paradoxo algum: nunca se atrasa a uma hora que não está marcada mesmo não usando relógio. já assim era, a bonita espontaneidade, mas em lentidão não precisa sequer fugir do trânsito porque já não há trânsito (o trânsito é uma invenção da pressa). afinal, começa a ser mais fácil e simples viver.
vamos celebrar.
vamos celebrar.
terça-feira, 31 de julho de 2012
meditação
chorar. precisar chorar tanto quanto precisar de rir. chorar é uma libertação muito mais aproximada de urinar do que de defecar - quantas vezes não precisas de fazer força, de laxantar a vontade para defecar? urinar é sempre naturalmente espontâneo. é como chorar. é como rir. chorar com toda a intensidade, fazer catarse, expiar por elas, pelas gotas, o que está a mais. e lambê-las: reciclar desperdícios; e depois rir, rir muito, rir com as gotas até depois da última gota ter-se exibido nua, as gotas não usam sequer triquinis - último grito de modernidade, e rematar assim o que te dita, com o que me dita.
pára tudo.
choro, vá, agora sou eu e tu; vem, riso - só estamos nós os dois. vamos petrificar o instante, fazer a casa, o jardim nasce depois - e é por isso que chorar, e é por isso que rir, é uma das melhores formas de, te ditar e me ditar, meditação.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
(trecho do relato do jogo)
algures, em campo, entre a divergência e a traição está Relvas - o árbitro com apitos de vidro.
sábado, 28 de julho de 2012
são as árvores de natal que apontam o dedo
é bizarra a imagem de quando apontamos um dedo: vá visualiza, e se precisares faz o gesto para que não restem dúvidas, o apontador em riste e os outros três dobrados como que escondidos para não serem vistos. evito sempre fazê-lo, as visões afuniladas - ao contrário das periféricas - conduzem quase sempre ao engano. no máximo, quando a necessidade de verdade obriga, encho bem a minha mão, que é pequena, e esfrego-a bem nos olhos. os olhos são um oceano de conhecimento, um alfabeto de expressão, uma tabuada de memória. e é quando precisamente eles fogem, eles os olhos, que a mão - não é um dedo meramente esticado a esconder os outros - é tão certeira como as missas das dez ao domingo ou como as sardinhas prateadas nas festas populares ou como os ciclos de sangue nas mulheres ou como as algas no mar ou ou ou.
isto porque pensei nas árvores em geral e no pinheiro que continua a crescer no canteiro da minha janela em particular: à altura acompanha-se-lhes a profundidade; o que está à vista tem exactamente a mesma beleza das raízes que vivem no mundo do debaixo. isto porque os olhos são os ramos e as folhas verdes com as raízes ao fundo quando não são, caixa com um kit montável de ramos pintados e suporte instável, plástico feio que é preciso cobrir, árvores take away de natal.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
água justa
entro numa empresa bem cedo. observo tudo à minha volta e confirmo, sentido de humor bem apurado, se na carteira não trago, efectivamente, um regador. dou duas ou três gargalhadas mentais - por fora apenas se me adivinha um sorriso tranquilo: em todos os vasos e recipientes com plantas há etiquetas que dizem "proibido regar as plantas". depois de algumas horas de formação sobre a cultura da empresa cujas palavras sonantes são amor incondicional, verifico a razão de ser das etiquetas: eles esperam que quem colabore com eles seja uma daquelas plantas frágeis - esperam que os colaboradores sejam capazes de crescer e de dar flor sem que os alimentem; esperam que sejam capazes - por amor incondicional à entidade - de dar sem receber, trabalhar sem esperar remuneração. pego no telemóvel para ver as horas, penso rapidamente e enceno um compromisso inadiável. saio. já a toque com a ignição volto para trás e dirijo-me à máquina da água - encho com completude um copo e escolho a planta do vaso redondo e verde. despejo-o como que num brinde, com água, à justiça. e agora sim, sigo o meu caminho de amor incondicionalmente justo.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
sakuras, beleza efémera, não
qualquer uma das muitas filosofias japonesas se rege pelo princípio da melhoria contínua como um processo do bem-estar de dentro para fora e sempre na aproximação à natureza: é assim nas práticas de administração e gestão, na arte, na vida quotidiana. viver cada dia em cerimónia de chá, elegância de kimono, sol - não nascente - renascente, primaveras quentes em montanhas vulcânicas, em perfeita harmonia com o que somos, identidade de olhos em bico, só pode ser - e é - maravilhoso.
(e os fazedores de corpo presente nas massas, cambada de imitadores que vão na corrente, identidades manetas e pernetas - incapazes de baterem punhetas porque o sexo sem personalidade é o ópio do povo - que se vão encher, bichinho comum, de moscas)
terça-feira, 24 de julho de 2012
breve tratado sobre a lealdade da não-lealdade
a lealdade é, sem dúvida, o pilar da amizade. e esta última distingue-se, por isso mesmo, do coleguismo. entre colegas a lealdade existe apenas no sentido de firmar, finca-pé de superficialidade, que para ela não há lugar.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
não te deixarei morrer, poesia
chama-se Transporte Sentimental e é o novo blogue do que me é tão querido José do Carmo Francisco, o Zézinho, uma das figuras que durante tantos anos encheu de beleza o Aspirina B. na mesma linha a que nos habituou, escreve memórias passadas e as por vir - não fossem estas últimas, porventura, momentos criativos que se transformam em eternidade, as melhores.
fica, então, a minha sugestão para uma leitura assídua de um dos homens que continua a jurar ao mundo que a poesia não há-de morrer. ele invoca e eu convoco: com uma grande, enorme, salva de palmas.
fica, então, a minha sugestão para uma leitura assídua de um dos homens que continua a jurar ao mundo que a poesia não há-de morrer. ele invoca e eu convoco: com uma grande, enorme, salva de palmas.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
epítase
a questão da dúvida sobre a autoria de grande parte das obras de Shakespeare, o bardo, está agora mais levantada do que nunca. é como se o Homem, em história, precisasse de inventar histórias para fazer História. pegando no "ser ou não ser, eis a questão", passou a haver dificuldades em se aceitar se afinal a criatura terá feito somente uma hamleta depois de misturar amor em romeu e julieta. a importância passa a ser dada - não à obra - ao que poderá não ser (ou se afinal for que bom que é). desonestidade intelectual em causa, quase quatro séculos depois de o bardo deixar de respirar, é uma epifania prolongada fodida - principalmente por ele não poder defender-se. é o que se poderá chamar de epítase à medida das frustrações da modernidade.
terça-feira, 17 de julho de 2012
sexo oral
uma mulher acha que já ouviu de tudo. e engana-se. ah, pois: quando se chega de uma maratona psicológica com o pai, ser filha é sempre uma corrida prolongada de grande fundo, e de uma espera infernal em plena VCI por conta de trabalhos nocturnos, nervos em bicos de pés, com a estupidez do povo que prefere pendurar-se nas pontes a ver as obras andar do que fazer uma outra coisa qualquer que não inclua capacetes, botas de biqueira de aço e coletes reflectores, e se estaciona no café - não é num café qualquer mas no café, naquele, no the one -, como se remédio para a descompressão, ouve-se histórias do arco da velha. melhor - ouve-se histórias do arco daquilo que é apanágio do ser irreverentemente jovem: histórias de sexo que não é brando, é bravo. diz-me o mestre da barca, adulto de barba cerrada e charmosa, particularmente interessante, que tenho de experimentar aquando da minha pergunta sobre a definição; diz-me o discípulo tenro, barba por romper, que é daquele do tipo trigolimpofarinhaamparo, traztraztrazjáestá. riso, muito riso, boa disposição, ouvidos apurados que captam o essencial do acessório - os meus.
o início da vida no mundo dos adultos tem a particularidade dos viços: a exuberância que faz com que tudo pareça leve e forte, a força que contagia. e é, pois, saudável que os adultos, de quando em vez, se misturem com adolescentes, adultos ainda por madurar, que nos dão a ideia de sermos poderosos pela admiração que nos devotam e pela alegria que nos fazem nutrir.
(eu só posso dizer que ambos, tanto o sexo bravo como o outro, o que não é bravo, o que merece que no fim, aquele fim que é sempre um recomeço, se diga exactamente como se pensa e sente: bravo!, são deliciosos temas de conversa - trata-se, bem visto, de sexo oral. porque tudo pode ser motivo de conversa. porque conversar, fazer oral, tanto quanto navegar, é preciso.)
domingo, 15 de julho de 2012
ó Relvas, ó Relvas, Badajoz à vista: és contrabandista
Relvas é um homem muito à frente do seu tempo, do pensamento do mundo contemporâneo, e conseguiu fazer em um ano o que eu - em tempo mínimo exigido - levei cinco, a bolonhesa só se justifica em estudos d'alquimia de mesa, a fazer. isto pode levar-nos a concluir que talvez o senõr Relvas, sem qualquer outro motivo que não altruísta, viva já em regime de eurocidades, futuro à vista, tamanha é a quantidade de caramelos, sem fronteiras, que amealha.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
o escandaloso lobbie do mundo dos autores
participo, amiúde, em campeonatos e concursos de escrita. da última vez, uma obra de oitenta e muitas páginas que ao que parece seria a vencedora foi excluída pelo júri através de uma metodologia muito simples e eficaz: alteraram alguns items do regulamento a que estava sujeita e passei, sem sequer ter conhecimento a não ser por conta própria à custa de muita curiosidade irrequieta, a estar fora da avaliação por não ter idade até trinta anos.
não fosse eu suficientemente convencida do meu talento e da minha raridade enquanto mulher, porque são as pessoas que dão dignidade às obras e não as obras que dão dignidade às pessoas, a minha pudicícia aplica-se a muitas outras coisas que não estas, estaria agora banhada em choro, estima rasteira, de manifesto. mas não: eu quero que todos os culpados, que vêm ao caso, de serem corruptos vão apanhar no cu com um ferro bem quente e que restem queimaduras irreversíveis que os façam sangrar, até com um simples e leve flato, até ao fim dos seus dias.
(obrigada aos autores das fotografias que tão carinhosamente se deixaram escrever e obrigada ao grande Rentes de Carvalho pelo maravilhoso elogio que me ofertou)
não fosse eu suficientemente convencida do meu talento e da minha raridade enquanto mulher, porque são as pessoas que dão dignidade às obras e não as obras que dão dignidade às pessoas, a minha pudicícia aplica-se a muitas outras coisas que não estas, estaria agora banhada em choro, estima rasteira, de manifesto. mas não: eu quero que todos os culpados, que vêm ao caso, de serem corruptos vão apanhar no cu com um ferro bem quente e que restem queimaduras irreversíveis que os façam sangrar, até com um simples e leve flato, até ao fim dos seus dias.
(obrigada aos autores das fotografias que tão carinhosamente se deixaram escrever e obrigada ao grande Rentes de Carvalho pelo maravilhoso elogio que me ofertou)
quinta-feira, 12 de julho de 2012
e esta, hein?
é assim mesmo: o racismo, a xenofobia, o terrorismo, a violência, a ignorância de quem não quer saber, a indelicadeza - são-me altamente inibidores de tesão e de desejo. por outro lado estimulam a minha glândula, de estimação, da repulsa que se chama - acabei de baptizá-la - Gabriela.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
reflexão de quarta-feira
com tantos avanços e recuos no preço dos combustíveis é mais que certo que o primeiro ministro não quer assumir que está apaixonado, aquela instabilidade estável, pela crise.
terça-feira, 10 de julho de 2012
o que eu gosto de uma boa ventania
quase sempre são correntes frescas que agitam as multidões - gosto mais de lhes chamar ventaneiras pela imagem de volta à tripa que me sugerem. isto a propósito da notícia sobre a senilidade de Gabriel Garcia Marquez, de Gabito, de um dos escritores dos meus olhos, amigo de tantas travessias, o melhor contador de histórias do mundo. e é isto que é ser senil neste mundo de sãos: é conseguir ver o que não está ao alcance dos olhos; é entrar por dentro do que está dentro; é viver repleto de alegria e humor, o que só conseguem fazer os sãos quando estão alienados. a senilidade é isto, é viver para contar até ao fim dos dias que temos. e eu recuso-me a aceitar que o Gabito esteja a ficar são. escrever-lhe-ei a mais linda carta para que renuncie a esta cólera que são os tempos de sanidade - vou lembrá-lo do amor.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
bom dia apurados
a palavra do dia do priberam é rotacismo e não podia ser melhor: é à segunda feira de manhã que os érres, ora por excesso ora por defeito, se fazem sentir - érres em rescaldo de rotos, de rudes, de rascas, de roscofes, de reles, de ruins.
(a cortesia, a delicadeza, a elegância, a suavidade, enfim, a variedade de letras é tão deliciosa que só está acessível a poucos: aos apurados.)
(a cortesia, a delicadeza, a elegância, a suavidade, enfim, a variedade de letras é tão deliciosa que só está acessível a poucos: aos apurados.)
domingo, 8 de julho de 2012
expectativas versus esperanças
são difíceis de gerir, as expectativas. e dão um trabalho enorme para conseguirmos mantê-las - acabar com elas poderá ser a coisa mais fácil do mundo se o caminho por onde queremos seguir é o da facilidade. e não, não quero o fácil porque o fácil sabe - não a merda porque a merda faz crescer e o sabor deve ser de pôr as pupilas em saltos de banhada de água -, provavelmente, e digo provavelmente porque não lhe sei o sabor, a mijo ácido. foi sempre assim: os atalhos, caminhos quase sempre manhosos e rápidos, sempre me atulharam de sentidos proibidos; as cartas sempre as escrevi - e escrevo - à mão; nunca entendi o fascínio pela epídural nem pelo puré de saco; neguei sempre o quase e o mais ou menos com olho no tudo. são difíceis de gerir, as expectativas, e se há alturas em que, tal e qual como um copo que cai no chão, as queremos ver fragmentadas, táxi de apanhador rumo ao caixote do lixo, outras - as bem mais assíduas outras - cuidamos delas como se de bebés se tratassem: amámo-las incondicionalmente com o leite da imunidade e limpamos-lhes o rabinho vezes sem conta por conta de evitarmos assaduras. e vamos vendo o bebé crescer com a única garantia, a melhor, do mundo: sabemos o que lhe damos sem sabermos no que se irá tornar aquando da passagem de adolescente para adulto. e é nessa altura, e só nessa, que - ao contrário do que é ser mãe ou ser pai - devemos decidir se deixamos cair o copo ou não.
o dicionário também lhes chama, às expectativas, esperanças. mas não posso concordar: as esperanças são sopros do coração e as expectativas são lufadas da razão. gosto das duas mas falo apenas das primeiras porque a inutilidade de falar das segundas impera - as esperanças são tão intensas que rejeitam as palavras; as esperanças só sabem sentir.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
terça-feira, 3 de julho de 2012
o homem é o animal mais fraco da selva
meia noite, sono espantado, leitura, zapping por excepção. Cathouse na SIC Radical, nunca tinha ouvido nem visto nem lido, e curiosidade a mil. castings para a profissão: duras. uma delas tinha como talento conseguir enfiar uma banana inteira, esquece lá isso que podia ser das da madeira, pela garganta sem a danificar; outra transformava-se em uma boneca articulada passível de meter ao bolso; uma outra baseava-se no histerismo para se diferenciar das demais. as peças funcionam ao mesmo tempo como reportagem e reality show: depois do proceso de selecção, e instalação delas na quinta, vêem-se excertos do trabalho de cada uma com os clientes e também as experiências que fazem entre si. dizem-se viciadas em sexo mas fiquei convencida que serão viciadas em dinheiro pela forma como negoceiam cada performance. nada me chocou mas tudo me surpreendeu. surpreendeu-me a falta de intimidade, os risos encenados, os sexos sem rosto. mas o que mais me surpreendeu foi constatar que qualquer um dos homens que ali entrou - vi três peças -, como que bezerrinhos frágeis a aprenderem a andar, se rendeu perante a possibilidade de ser controlado e ainda pagar por isso. questionei-me, mesmo antes de decidir adormecer, se cada um daqueles homens alguma vez satisfez, ou tentou satisfazer, as suas vontades e fantasias com a mulher com quem dorme ou se será a adrenalina provocada pelo desconhecido, pecado implícito a ser evitado pelo afecto, que dita a procura por sexos usados e gastos como se fossem, e não são, tanques do povo que lava no rio - nada se compara ao cheiro fresco da roupa acabada, não de sujar, de lavar.
observo, em outro dia, o processo de acasalamento entre um macho e uma fêmea em plena selva e percebo tudo: é à fêmea que cabe o papel de escolher quem nela vai pousar e o homem é o único animal que, medo em punho de ser rejeitado, paga, não para pousar, ser pousado. o homem é o animal mais fraco da selva.
(às excepções, que o ser reles não é obviamente universal, aqui fica a minha admiração)
segunda-feira, 2 de julho de 2012
hoje já lá vão dois golos na baliza da alegria
está explicado o porquê de cá em casa as plantas, beleza que salta à vista, serem tão felizes: vêem cor, intensidade e direcção.
gooooooooosssssssssss
Goethe é uma daquelas palavras que nós, por cá, não sabemos como se pronuncia - ora sai goude ora entra guete. e é aborrecido quando queremos dizê-la em alta voz, materializar pensamentos, e há necessariamente uma pausa forçada quando chega ao nome deste senhor genial na arte que é, saber pensar, escrever.
fui à procura de material audio para suportar as minhas dúvidas. pelo caminho, descobri esta frase tão interessante - do homem do nome que é difícil pronunciar - que veio apoiar inequivocamente a minha teoria de que a arquitectura também é poesia: "a arquitectura é música petrificada".
(fiquei feliz. é muito bom sentirmos retorno, retorno do que é mesmo bom, daquilo que pensamos acerca dos detalhes do mundo)
http://diekarambolage.wordpress.com/2012/02/13/como-pronunciar-goethe/
fui à procura de material audio para suportar as minhas dúvidas. pelo caminho, descobri esta frase tão interessante - do homem do nome que é difícil pronunciar - que veio apoiar inequivocamente a minha teoria de que a arquitectura também é poesia: "a arquitectura é música petrificada".
(fiquei feliz. é muito bom sentirmos retorno, retorno do que é mesmo bom, daquilo que pensamos acerca dos detalhes do mundo)
http://diekarambolage.wordpress.com/2012/02/13/como-pronunciar-goethe/
domingo, 1 de julho de 2012
reflexão de domingo
ambos, o bom humor e o bom amor, são filhos da embriaguez sem vinho. mais: um homem que sem vinho é mal humorado só pode ter aquilo que merece - ser mal amado.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
(shuuuuuuuuuuu)
parada na av. da boavista naquela parte em que casa sim casa sim as paredes são altas e tapadas por árvores seculares, uma maravilha, imagino uma história por dentro da casa amarela e por musgos verdes raiada. mas agora não vou, não posso, contar: na história, a madame carlota byrne pediu-me para guardar segredo.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
prosápiar
prosápia no falar das pudendas de umas e outras é buçal. ou boçal, vogal bem à medida, se a pudenda lhes acerta na boca.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
quando as vaginas batem
é na multidão que tanta vez se nos embacela o silêncio. e o silêncio é sempre uma sinfonia de vozes mudas, de nós para nós, alegro vivo, harmonia. no outro dia o silêncio contou-me que afinal se confirma: há mulheres que possuem o coração, máquina antiga porém com tecnologia de ponta a bombar, na vagina.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
no meu rol não entra
lembro-me de, naquela altura quando o estudei, me orgulhar dele - ouvia e lia com entusiasmo das vicissitudes e glórias da unificação do império acrescido, curiosidade minha nos intervalos do essencial da política externa, das cartas que escrevia à mulher citando Shakespeare e Byron.
agora faço uma comparação entre Bismarck e a mulher mais poderosa do mundo, Angela Merkel, e percebo por que não lhe presto a mesma, nem a mínima, admiração: nunca escreveu cartas de amor.
agora faço uma comparação entre Bismarck e a mulher mais poderosa do mundo, Angela Merkel, e percebo por que não lhe presto a mesma, nem a mínima, admiração: nunca escreveu cartas de amor.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
o hamburguer e o sexo
são os aditivos de açucar, artificialidade controlada, nas comidas mcdonalds que promovem o vício pela comida rápida. para ela, para elas, os encontros de pasto com ele ora em camas usadas e surdas de motéis ora nos bancos cansados do carro, tempo absolutamente contado, onde ele passeia com a mulher, o que a vicia, as vicia, é o sexo - amarga máscara, doce cobertura, de açucar.
(escolho esta melodia, cozinha em lentidão, para congratular as mãos que cheiram a alho e a cebola)
(escolho esta melodia, cozinha em lentidão, para congratular as mãos que cheiram a alho e a cebola)
terça-feira, 19 de junho de 2012
bilhetes sem regresso
desabrocham lentamente como se soltos não estivessem - e não estão.
soltam amarras, gritam abriladas
brindam ao acabar de mãos cheias de nadas
brilham: vestem-se de estrelas airosas, pungentes
que se fodam, pois, as cadentes
mostram alllegria, éles que mostram - tão contentes - os dentes
e aguardam, poesia de cá, os trémulos passos de lá.
bolinhas frágeis de sabão, bilhetes sem regresso
eu vos destituo, para sempre, confesso,
da cadeira barroca, amorfa, padiola
tenho o chaveiro! tenho o chaveiro!
ouve bem, roto, furado, vulpino cativeiro!
soltam amarras, gritam abriladas
brindam ao acabar de mãos cheias de nadas
brilham: vestem-se de estrelas airosas, pungentes
que se fodam, pois, as cadentes
mostram alllegria, éles que mostram - tão contentes - os dentes
e aguardam, poesia de cá, os trémulos passos de lá.
bolinhas frágeis de sabão, bilhetes sem regresso
eu vos destituo, para sempre, confesso,
da cadeira barroca, amorfa, padiola
tenho o chaveiro! tenho o chaveiro!
ouve bem, roto, furado, vulpino cativeiro!
segunda-feira, 18 de junho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
súbito
há sempre qualquer coisa de inesperado na certeza - como se nem a certeza tivesse a certeza de estar certa. é como se a certeza nascesse da dúvida que a pariu e a ela sempre voltasse para mamar. e quando crescida, e autónoma, a certeza abana perante a possibilidade de estar - não errada - mesmo certa como se, de repente, um bicho atravessasse a sua rua e parasse: e lá se vai a certeza de que rua estava deserta.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
e não precisa de selo
querido Passos Coelho,
alerto-te, desde já, que escrevo - e escreverei - sempre sem resquícios do novo acordo ortográfico mas com ironia que baste: de outra forma, seria obrigada a substituir querido por cabrão. escrevo-te hoje por resolver fazer um balanço. minto. escrevo-te porque acordei com vontade de purgar o meu descontentamento e não encontro melhor destinatário para a minha carta que não tu - tu és o meu saco de boxe, a minha bacia de limpeza linfática, o meu rolo de papel, preferido; quem melhor do que tu perceberá a minha frustração, o meu lamento e a minha gana de justiça? és, portanto, um privilegiado por também seres um construtor de ideias falido, um mentor do think tank de nicles, um apoiante à ajuda externa, vai-se o azeite e vem-se o vinagre, com picles.
hoje acordei e fui à janela ver se as finanças estavam estabilizadas e apanhei com a cagadela de uma pomba fodida com a vida.
hoje acordei e fui à rua, a correr, ver a alegria dos mais necessitados: fui assaltada por esticão e, de seguida, atropelada por um assaltante de carros em fuga.
hoje acordei e ainda estou de olho no crescimento da economia e do emprego. e sabes que mais? ainda não tomei o pequeno almoço por preguiça e marasmo - a padaria que fica mais perto também já fechou e os bons padeiros devem estar a coçar a pulga no centro de emprego da póvoa de varzim.
mas se eu vivesse em massamá, não escrevia aqui nem acolá: tocava na tua campaínha e, sem esperança que me abrisse a porta a das doce, a ex-bem-bom, tinha uma olho-no olho contigo, conversa de pé de orelha, onde soltava a minha língua fugidia e havias de torcer o rabo à porca. faria, assim, uma espécie de cozido à portuguesa, com ares de selecção, porque afinal o que é nacional é bom, e metia-te um frango dos de verdade por não me falhar a vontade.
com pimentos e sardinhas porque os santos não vacilam,
Olinda
(agora vou ver se chove, que é para colocar bacias a apanhar desperdício de água para as descargas)
alerto-te, desde já, que escrevo - e escreverei - sempre sem resquícios do novo acordo ortográfico mas com ironia que baste: de outra forma, seria obrigada a substituir querido por cabrão. escrevo-te hoje por resolver fazer um balanço. minto. escrevo-te porque acordei com vontade de purgar o meu descontentamento e não encontro melhor destinatário para a minha carta que não tu - tu és o meu saco de boxe, a minha bacia de limpeza linfática, o meu rolo de papel, preferido; quem melhor do que tu perceberá a minha frustração, o meu lamento e a minha gana de justiça? és, portanto, um privilegiado por também seres um construtor de ideias falido, um mentor do think tank de nicles, um apoiante à ajuda externa, vai-se o azeite e vem-se o vinagre, com picles.
hoje acordei e fui à janela ver se as finanças estavam estabilizadas e apanhei com a cagadela de uma pomba fodida com a vida.
hoje acordei e fui à rua, a correr, ver a alegria dos mais necessitados: fui assaltada por esticão e, de seguida, atropelada por um assaltante de carros em fuga.
hoje acordei e ainda estou de olho no crescimento da economia e do emprego. e sabes que mais? ainda não tomei o pequeno almoço por preguiça e marasmo - a padaria que fica mais perto também já fechou e os bons padeiros devem estar a coçar a pulga no centro de emprego da póvoa de varzim.
mas se eu vivesse em massamá, não escrevia aqui nem acolá: tocava na tua campaínha e, sem esperança que me abrisse a porta a das doce, a ex-bem-bom, tinha uma olho-no olho contigo, conversa de pé de orelha, onde soltava a minha língua fugidia e havias de torcer o rabo à porca. faria, assim, uma espécie de cozido à portuguesa, com ares de selecção, porque afinal o que é nacional é bom, e metia-te um frango dos de verdade por não me falhar a vontade.
com pimentos e sardinhas porque os santos não vacilam,
Olinda
(agora vou ver se chove, que é para colocar bacias a apanhar desperdício de água para as descargas)
terça-feira, 12 de junho de 2012
funiculì funiculà
Strauss pensou tratar-se de folclore para plagiar - como se, mesmo não o sendo, o povo fosse argumento para fraude lícita. como se musicar um vulcão que é o amor, ou o amor que vive num vulcão, fosse coisa vulgacha, daquela coisa de quem conta acrescenta um ponto ou de quem canta seus males espanta. não: celebrar um plano inclinado para chegar ao vulcão é nobre; gritar que o topo gira à volta de alguém é maravilhoso.
escolho esta versão:
escolho esta versão:
sábado, 9 de junho de 2012
o silêncio dos inocentes
e se me perguntarem se gostava agora, depois de tantos outros, de tirar um curso de gestão eu sei bem que respondo que não - ando a aprender, a meu ritmo e tempo, a fazer gestão do silêncio.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
da putíssima verdade
pois bem: li ontem de relance uma frase bem curta, o que quer dizer que se não fosse de relance de relance igualmente seria, que levanta a ponta do véu sobre a possível homossexualidade de Fernando Pessoa. talvez, penso, isso explique a misoginia e o anti-feminismo, sim, mas não constitui argumento para a sua putíssima, valente, falta de acção, e de erecção, com a Ophélia. ou a sexualidade não é inteira que abrange ao mesmo tempo, e de igual forma, tanto o corpo como a alma? e ele, tão apaixonado que estava, não se fez homem nem dela mulher porque saciava a alma nela e o corpo noutros corpos, ou num só, iguais aos dele - um mundo de pénis e testículos duros obedientes à vontade alheia? fiquei confusa e cada vez mais simpatizo menos com ele. e ainda bem que ela, a Ophélia, casou com outro. vai-se a ver e o flagrante delitro foi mesmo uma mensagem, em imagem, para mostrar - escondendo - o que sempre escondeu. e se assim foi, ela foi um mero objecto de dilúvio do que ele realmente queria ser e não do que na verdade era - posso pensar tudo, este FP tira-me do sério. mas também li uma crónica do Pedro Mexia sobre a verdade em que se não pode amar a verdade se não se a conhece. agora é que acabei de nomear a confusão miss universo.
(como se a beleza fosse universal. Olinda, ordeno, vai dar de comer aos vivos que isso passa)
(como se a beleza fosse universal. Olinda, ordeno, vai dar de comer aos vivos que isso passa)
quinta-feira, 7 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
amor-próprio
decidiram viver juntos para namorar, na modernidade viver junto é namorar - não no sentido real do que é, seduzir, encantar, viver o amor com paixão, namorar - experimentar o outro com disponibilidade para conhecimento de outros. na realidade, decidiram separar juntos: as contas não são partilhadas, são divididas; as refeições processam-se à medida dos horários e das vontades de cada um; as conversas e os olhares não existem senão para fazerem prevalecer posições do que ficou pré-estabelecido. na cama, dividem o sexo em uma luta desenfreada, sono e riso por partilhar, para ver quem se sacia mais e mais vezes. cada um sovina para umas férias nas maldivas - o mealheiro, porco gigante a barro pintado de rabo retorcido e frágil perante o chão, é o privilegiado da partilha -, as férias são sempre a lua-de-mel dos adultos, ai as férias!, aquele pedaço de realidade fictícia, o pau de cabinda dos amores de mala de dez quilos. depois acabaram-se as férias, o mealheiro já não é um porco mas, souvenir, uma garrafa de formas estranhas com ranhura grossa. os dias recomeçam a nascer como se fossem um ditado detector de erros ortográficos: cada um é apenas responsável por si porque não há forma de saber escrever palavras pelo outro. e o ciclo de morte a dois segue o seu caminho, nadinha sinuoso, tenebroso: finge que nasce, não cresce, não se reproduz e, em processo de decadência contínua, renasce.
chamam-lhe amor. e é - amor próprio.
terça-feira, 5 de junho de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
cúmulo
o cúmulo do defeito é o excesso. exemplo prático: todos os alcoolizados se sentem os maiores condutores do mundo.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
volare
e de dentro para fora
entre sol e chuva
nos toca a vida.
crescem plantas, brotam flores, os sapos seduzem as rãs
e os patos, que acasalam sempre com as patas, escolhem cotovias.
e o rio corre num samba tranquilo, lambendo as margens de fio a pavio, em originalidade de hortelã, freios de chocolate amargo, que doce já há
funicular até ao céu!, ouço em voz de autoridade, sem zangar, e a cumprir com gosto, que os ouvidos que se tocam e se cheiram foram um presente,
dos seus,
do amor que é deus.
do amor que é deus.
http://youtu.be/V5PJ0YXrIOA
entre sol e chuva
nos toca a vida.
crescem plantas, brotam flores, os sapos seduzem as rãs
e os patos, que acasalam sempre com as patas, escolhem cotovias.
e o rio corre num samba tranquilo, lambendo as margens de fio a pavio, em originalidade de hortelã, freios de chocolate amargo, que doce já há
funicular até ao céu!, ouço em voz de autoridade, sem zangar, e a cumprir com gosto, que os ouvidos que se tocam e se cheiram foram um presente,
dos seus,
do amor que é deus.
do amor que é deus.
http://youtu.be/V5PJ0YXrIOA
sexta-feira, 25 de maio de 2012
o que eu gosto de bombas de gasolina muito mais do que o Jacinto Lucas Pires
é universal: não se pode nem usar telemóvel nem fumar em bombas de gasolina pelo grande risco de explosão. ora eu, que não sou leiga em energias de activação nem em fontes de ignição, questiono se a energia de um telemóvel será suficiente para produzir uma explosão e vou procurar, quem procura acaba sempre por encontrar, alguma coisa e voilá: Enrique Velázquez, professor de electrónica do Departamento de Física Aplicada da Universidade de Salamanca [Espanha], concorda comigo e diz que "Um telemóvel tem uma energia muito baixa, além de produzir uma radiação electromagnética muito baixa, menos de um Watt".
são as boas e as más, as falsas e as verdadeiras, teorias que suportam as boas e as más, falsas ou verdadeiras, práticas. o que é que se costuma fazer quando está um deficiente motor, o empregado mais antigo da casa, de serviço na bomba e que esperamos cerca de meia hora em fila para sermos aviados de combustível? usa-se o telemóvel nem que seja apenas, como eu, para apagar as 543 mensagens acumuladas. na verdade, se o mito for desfeito, as empresas de telecomunicações e as gasolineiras só têm a ganhar - uma campanha de aliança faria aumentar as receitas para ambas: estás a ligar de onde querido? da bomba, estou a aguardar e a aproveitar para falar contigo. sério? isto merece uma comemoração quando chegares mais logo. e ele, entusiasmado, feliz, quando chega à sua vez de carregar, ou pedir para carregar, no pistão da gasolina ou do gasóleo, vai atestar o depósito (a satisfação antecipada do que vai acontecer acontece mesmo ali a segurar num pistão, e chamo-lhe pistão para dar ares de música, numa bomba de gasolina).
passemos agora à questão de fumar: enquanto o tal deficiente motor anda para lá e para cá, moletas raivosas, a causar filas de trinta metros para abastecer, sabe-me pela vida acender um cigarro. ou dois ou três. mas não se pode - não se pode fumar nas bombas de gasolina que são o local mais acessível para comprar cigarros. onde é que vamos comprar cigarros a esta hora? vamos à bomba. é verdade, a demência vive na lei. se por um lado eu (não) me sinto obrigada a sentir que estou a pecar por fumar dentro do meu carro quando estou, parada e ignição desligada, a aguardar o serviço - por outro devo sentir-me aliviada por finalmente renovar o meu stock de cigarros. e onde? na bomba.
é bem mais provável que o pingo doce expluda pela elevada concentração de cheiro a chulé e a sovacos aquando do milagre da promoção da carne do que um cigarro provoque explosão num posto de gasolina onde, supostamente, se as regras de segurança estão a ser cumpridas, não há perigos à espreita - assim como será mais provável que seja a energia da bateria de uma viatura qualquer a causar uma explosão. mas nessa altura a culpa será do telemóvel ou da pirisca.
são as boas e as más, as falsas e as verdadeiras, teorias que suportam as boas e as más, falsas ou verdadeiras, práticas. o que é que se costuma fazer quando está um deficiente motor, o empregado mais antigo da casa, de serviço na bomba e que esperamos cerca de meia hora em fila para sermos aviados de combustível? usa-se o telemóvel nem que seja apenas, como eu, para apagar as 543 mensagens acumuladas. na verdade, se o mito for desfeito, as empresas de telecomunicações e as gasolineiras só têm a ganhar - uma campanha de aliança faria aumentar as receitas para ambas: estás a ligar de onde querido? da bomba, estou a aguardar e a aproveitar para falar contigo. sério? isto merece uma comemoração quando chegares mais logo. e ele, entusiasmado, feliz, quando chega à sua vez de carregar, ou pedir para carregar, no pistão da gasolina ou do gasóleo, vai atestar o depósito (a satisfação antecipada do que vai acontecer acontece mesmo ali a segurar num pistão, e chamo-lhe pistão para dar ares de música, numa bomba de gasolina).
passemos agora à questão de fumar: enquanto o tal deficiente motor anda para lá e para cá, moletas raivosas, a causar filas de trinta metros para abastecer, sabe-me pela vida acender um cigarro. ou dois ou três. mas não se pode - não se pode fumar nas bombas de gasolina que são o local mais acessível para comprar cigarros. onde é que vamos comprar cigarros a esta hora? vamos à bomba. é verdade, a demência vive na lei. se por um lado eu (não) me sinto obrigada a sentir que estou a pecar por fumar dentro do meu carro quando estou, parada e ignição desligada, a aguardar o serviço - por outro devo sentir-me aliviada por finalmente renovar o meu stock de cigarros. e onde? na bomba.
é bem mais provável que o pingo doce expluda pela elevada concentração de cheiro a chulé e a sovacos aquando do milagre da promoção da carne do que um cigarro provoque explosão num posto de gasolina onde, supostamente, se as regras de segurança estão a ser cumpridas, não há perigos à espreita - assim como será mais provável que seja a energia da bateria de uma viatura qualquer a causar uma explosão. mas nessa altura a culpa será do telemóvel ou da pirisca.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
deturpar também é preciso
a propósito dos sonhos, ah! os sonhos!, aquela terra onde todos chegamos sem sabermos como e sem exercermos qualquer tipo de controlo porque cada vez mais ser humano é ter controlo, dos sonhos durante a pequena morte que é o sono, é mesmo importante considerar que apesar de a maioria das vezes serem revelações de desejos escondidos - ou por concretizar - nem sempre é assim: tem vezes que sonhamos, tenho a certeza, com as cabeças trocadas de gente. talvez o mais importante, na experiência que é o sonho, não seja o que vemos, aquilo parece tão real - e é - que até mete cor (se fossem a preto e branco a sensação de passividade e de estado de repouso chocava com o que é ser movimento de realidade), mas o que cheiramos e sentimos. é como se os sonhos fossem cegos, parcos de visão e maneiros de outros sentidos. os sonhos são sentidos - e também sem tidos nem achados - entram sem bater e saem porta fora sem sorriso nem cumprimento, os sonhos são rudes no trato. mas é durante o tempo que só fica, sem aviso nem promessa de voltar, que o sonho vive: umas vezes faz-nos felizes e outras deixa-nos miseravelmente tristes, como quando nos tira alguém que amamos e acordamos esganados de aflição. nessas alturas os sonhos são dor que desatina sem doer.
nos sonhos nada se cria, nada se transforma: tudo acontece sem controlo e sem coador. se o Freud, ao invés de relacionar tudo o que é ser humano com o desejo sexual, se tivesse focado na posição horizontal do sonho pelo sono como um forte indício de equilíbrio - talvez hoje a necessidade de controlo estivesse em processo de esvaziamento. é o controlo que fode tudo e será a foder que se perde o controlo, penso. só que se não houver, antes e durante e depois, catártica vai tudo a correr para o sonho.
(há-de ser mais ou menos assim a minha deturpação sobre os estudos do Sigui.)
terça-feira, 22 de maio de 2012
olha o provérbio actualizado
em maio come-se cereja p'ra caralho
(e fica em aberto, a frase, porque entretanto tudo o que as caganeiras não precisam é de barreiras arquitectónicas. é verdade, as caganeiras têm uma costela de mobilidade deficiente - vão e vêm de rampante)
(e fica em aberto, a frase, porque entretanto tudo o que as caganeiras não precisam é de barreiras arquitectónicas. é verdade, as caganeiras têm uma costela de mobilidade deficiente - vão e vêm de rampante)
sexta-feira, 18 de maio de 2012
mistério, digo eu.
obviamente que tenho nada, absolutamente nada, contra Lisboa ou contra os lisboetas. gosto muito, até, da elegância com que pronunciam as palavras como se estivessem constantemente a fazer biquinho à boca fechada; gosto tanto da luz, da claridade e da largueza das ruas; gosto muito, também, do maneirismo a roçar o espanhol, aquela coisa de esticar o dia noite adentro de convívio. gosto de muitas mais coisas. só não gosto que o sitemater insista em dizer que estou em Lisboa, não obstante a elegância, a luz, a claridade, a largueza e a festa - não gosto porque sou do norte, nascida e crescida no Porto e Vila do Conde escolhida, há três pares de anos, para viver. e como nunca rejeito nada daquilo que me faz, que me faz ser, fico ofendida com isto de aquela coisa afirmar com convicção que estou em Lisboa, como se tivesse o direito de mexer na minha identidade, alterar-me o sotaque, acrescentar-me pastéis de belém em vez de natas, fazer-me um biquinho quando sou portadora de uma bocarra. e depois ainda festeja, ignorando o que quero, como se eu gostasse de foguetes e de canas. por que caralhos é que isso acontece, não sei: é um mistério. e o que vale é que gosto de mistérios.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
acossar: já chega
a propósito de perseguir, de acossar, há disso em todas as variantes possíveis: há quem seja constantemente inoportuno na rua ou no talho, no emprego, nos sonhos (até nos sonhos) e nos blogues. o problema da perseguição nos blogues é nenhum, se atendermos ao facto de só haver efectivamente um problema quando é passível de resolução. ora havendo um problema que é facilmente resolvido, ou contornável, o caso fica bravo quando de cariz público passa, a sarna, para privado. temos sempre a opção, em qualquer uma das variantes mencionadas exceptuando o sonho, de activamente travarmos o abrupto cuja iteração o torna perfeitamente expectável. menos quando a abordagem salta de um blogue, um local público que pertence talvez a um cae criativo ligado à indústria da saúde e bem estar, para um endereço de correio electrónico - morada de um lar, local absolutamente privado, como se nos metessem cartas abertas, sem envelope, por debaixo da porta. somos, então, obrigados a ler e a ficar, nem que seja por segundos ou minutos, com as mãos sujas e os olhos manchados. passamos depois a limpo que o que é lixo ao lixo pertence e não deixamos que nos afecte - ou pelo menos assim queremos. mas as palavras têm força, talvez a força se muscule de intenção, e por vezes são, de facto, punhais. espera-se, então, que o tempo, pelo menos o tempo que conhecemos nesta dimensão, transforme o acossar e o dissipe. talvez estas minhas palavras tenham força. talvez.
terça-feira, 15 de maio de 2012
por que raios e coriscos havia de pensar, como queriam, em uma antena?
pedem-me que relacione, muito rápido, parabólica com maçã. sem dificuldade respondo que, sem rapidez, se não a como apodrece.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
foder não é para qualquer um
dizem uns que ler é sexy, outros dizem que é um acto de amor. eu digo que é entre o instinto e a intuição - esta última que é bem visto o instinto da alma -, o pensar, o saber pensar, que se situa a base da sedução que depois traz o amor. ler, per si, não é sexy - é sexy conseguir fazer da leitura um joelho a descoberto ou uma copa larga de mama onde se adivinha um mamilo grande; é sexy escolher e cruzar o que se lê, joelho e mama a descoberto em intimidade, concretizar amor. e depois não há leitura sem escrita, novamente volto a dizer: escrever, per si, não é sexy nem resulta em amor - só pode seduzir quem sabe bem pensar e só pode amar e ser amado quem depois de sucumbir à descoberta do joelho e da mama se faz iterativamente amor. também a alma tem carne, tal e qual como o corpo tem alma, e se cumpre de amor em fluidos agitados e fundidos. e é quando, precisamente, a alma está fundida, e fodida, que, sedução sempre erecta, há amor de ler e de escrever. e é por isso que foder não é para qualquer um.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
de alva sete sois
cumpre-se a estrela
fundo barrado a canela
romance no quarto do céu
mais brilhante do que nunca
é de alva
é fundida
em torno o tempo é de moios
como se num momento sete sois
domingo, 6 de maio de 2012
uns falam em economia verde como motor de arranque para contornar a crise, outros em economia social. falam, falam, falam e esquecem que para haver arranque tem de haver investimento no motor. e enquanto isso, arranque por arrancar, o povo canta e bebe e encontra nas farpas e alucinações a maior alegria do mundo. é mais ou menos assim:
sábado, 5 de maio de 2012
estação de serviço
quando um desconhecido chama, raiva na voz, lésbica a uma mulher, após algumas horas de penetra de conversa mole, é porque, garantidamente, se sente frustrado. o que quis mesmo dizer, coragem murcha, foi porque caralhos esta gaja não se deixa seduzir por mim? mais: andará o resto da noite com uma nuvem preta por cima da cabeça, como se a mijar-lhe em cima, a pensar que a tal mulher só pode ser lésbica. e frígida. e cega. e burra. e acabará por ejacular, ego ferido no peito, na oportunidade mais próxima. o processo de sedução da modernidade é, sem dúvida, uma estação de serviço.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
https://www.youtube.com/watch?v=g2KstIkFPIU
é a solidão a fonte e a foz: um mundo gigante por debaixo do mundo dos mundos onde a fixação pela descoberta da existência se mistura entre o palco encenado e o palco da vida- tamanha a triste miséria egoísta da solidão, inocente e frágil bebé, sempre a solidão. e o amor escondido, adiado, sempre adiado, e a urgência de inadiar o inadiável, sempre adiado, é cruz nas costas: ininterruptamente pesado corrompe-se, sem nunca se deixar corromper, com a leveza pesada do sexo. é a solidão, menina velha, a fonte e a foz: um mundo destruído, gigante, por cima, do debaixo, do mundo, pequeno, dos mundos, grandes, onde a existência se perdeu em existir - tamanha é narrativa em desejo por narrar.
a solidão é um lugar estranho, um bicho, corrosivo e contagiante; a solidão vive no mundo das bactérias, grandeza erecta, e, deixando rastos, contagia. e mata. e é assim a vida dos mortos em travessia de vida.
a solidão é um lugar estranho, um bicho, corrosivo e contagiante; a solidão vive no mundo das bactérias, grandeza erecta, e, deixando rastos, contagia. e mata. e é assim a vida dos mortos em travessia de vida.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
borrões
há a chuva, há o sol, há o vento, há as palavras, há a música, há os cães, há as árvores e as plantas, há a cozinha, há os pêlos dos homens e as vozes e os cheiros. e depois há o irs e o iva e as facturas e as filas e os rolos de papel higiénico que metem nojo para abrir, borrões de tinta empastados na minha tela.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
olhir
ver um pássaro voar é tal e qual sentir uma lágrima cair: é tanta, tanta, beleza que vês - como quando cai uma, miss transparente, delicada, vê(e)m-se logo duas ou três.
domingo, 29 de abril de 2012
é couto e quero souto
nebrina mas pouco
mais do que da noite couto
porém tanto a navegar
é janela ante janela, vidas feitas por trás dela
outras tantas de fogos amenos
por apagar
faz-lhe falta o souto
por entre vielas cuspidas
filhas da noite que esquecem o dia
a verdade do que é ser janelas
do que é ter janelas garridas
dom marrom
dom marrom, bico aguçado
em bicos de olhar pendurado
assobia
sabe bem mais do que ontem sabia
das sombras de fundo de fim de dia
códigos de vida barrados
simples
sem amanhãs, depois, pendurados
quinta-feira, 26 de abril de 2012
um mimo de mima
está bem, gosto de poesia e de romance - de embelezar tudo o que a vida tem: fazer dela rainha. e o que é que a casa mima tem de romântica? tem, precisamente, tudo aquilo que eu lhe poderia, e posso - a fantasia é um principado -, acrescentar.
terça-feira, 24 de abril de 2012
suicídio
não conheço dor maior do que a de ouvido - e será por ela, um dia - na noite - nele, que cometerei suicídio.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
fodeu-se, quilhou-se
bastou um dia para me encher daquilo: caixa de email a abarrotar de notificações e eventos e nhanhanhãs. a derradeira conclusão é que não tenho, de facto, paciência para a treta do fb. a reactivação em uma mão e a desactivação em outra parece-me uma excelente acção de abril. viva a falta de pachorra e a revolta da convicção!
sexta-feira, 20 de abril de 2012
bem-vindo novamente ao facebook
as vontades são espontâneas, não podem ser de outra maneira. de repente, reactivei a minha conta do facebook, pouco mexi naquilo que tem que ver com há alguns anos, percebi que percebo quase nada das ferramentas, vi que posso colocar um fundo, não sei como colocar coisas que me interessam, continuam a ser mais do que muitas as pessoas que não conheço e que me enviam convites de amizade. está bem, não vejo por que não aceitar, mas fica o aviso à navegação: sou uma calada, não bato papos inúteis, não tenho grande paciência para fotografias de gente - mas gosto de cuscar, corre-me nas veias a curiosidade e o vírus do interesse.
andar
retrato de brasão, riso em punho, moldura a cavalgar, são homens - diamante a ouro lembrados, filhos do reino de junho, calor a abraçar, prata polida, titânio suado, nevoeiro sem mistério: andar.
dicas enganosas
a propósito das dicas amigas do ambiente e da carteira, que mostraram na televisão, para limpeza da casa, em que são usadas claras em castelo para limpar molduras douradas e repolhos e sal para limpar carpetes tenho a dizer o seguinte: fica mais barato, e não há desperdício de comida, comprar uma embalagem limpa vidros que é o melhor removedor de sujidade que conheço - além de que o sal entranhado nas carpetes é quase impossível de aspirar.e o repolho massacrado cola-se ao piso. deviam começar, as senhoras das dicas, por experimentar o que sugerem, evitando assim o engano dos espectadores, antes de deixarem as sugestões milagrosas que tanta falta fazem na cozinha. a única coisa que efectivamente resulta é a passagem de limão, ou vinagre, no calcário das torneiras.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
pascer
emoldurado olhar
tom sobre tom
pascer
mónade
(pára quieto, !truão!, !chocarreiro!, não se brinca c'a saudade)
terça-feira, 17 de abril de 2012
as casas de banho não iludem
consegui, finalmente, convencer uma amiga que na noite tudo é ilusão - as luzes, os sorrisos, o brilho dos olhos - menos as casas de banho.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
arrostar é preciso. estamos cá.
vi ontem, pela primeira vez, esta publicidade e gostei mesmo muito - cativam-me os contrastes que dão sempre vontade de arrostar. e é por isso que eu mudava o slogan já, de imediato, retirando o "Portugal está a chamar. Vamos lá." substituía por arrostar é preciso. estamos cá.
domingo, 15 de abril de 2012
relações de número atómico 14
o pai de uma grande amiga é o maior cirurgião do mundo: consegue convencer, após poucos meses de convivência sexual, as namoradas que vai tendo a colocarem silicone nas mamas.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
serpente, rouxinol, cotovias, caracol
lampeira explora o lugar
docemente
assim como faz com astúcia a serpente
importa luz exalar
por lá e por aqui
qu'a vida é isto de se ver
:
corar a alma ao sol
sabão e água dos dias
a canto de rouxinol, anjos de cotovias, em cornos de caracol
quinta-feira, 12 de abril de 2012
fixidade
afasta-se os verdes com as mãos em silêncio
delicadeza
como quem descortina um conto de era uma vez na natureza
agarra-se o frasquinho de tampa risonha
à homem inventado
cidade
e cheira-se o aroma
mistura de sol com chuva
ventos de tempo
fixidade
quarta-feira, 11 de abril de 2012
saudades
ai que saudades. acordei com saudades das minhas avós. a Maria Argentina, mãe do meu pai, conheci-a teria aí doze anos quando chegou do Brasil para uns dias na quinta da tia Filomena, no Douro, onde passei alguns verões. foi com ela que aprendi a fazer renda e malha e foi ela quem me deu as primeiras agulhas e os primeiros fios. em Tões, na aldeia onde se chegava em caracol depois de passar a Régua, tudo era calmo e foi lá que descobri a beleza da fonte do largo, dos tremoços secos do monte, dos passeios dos bois que madrugavam com merda colada no rabo e das gentes aperaltadas em domingo de missa. a Carolina, a avó materna, tinha-me um amor gigante: aos oito anos quando a mãe morreu e vivi com ela e com os padrinhos, os banhos que eu lhe dava eram uma festa de perguntas e de espuma. foi com ela que aprendi a fazer tranças - fascinava-me a finura e a brancura dos seus cabelos. certo dia apareceu com um presente, um dos meus preferidos até hoje, uma saia amarela que usei vezes sem conta até gastar. morreram ambas ainda eu era adolescente. ai que saudades.
terça-feira, 10 de abril de 2012
olá, gostei muito.
fascinam-me as retrosarias. e quanto mais antigas, melhor. são as fitas, e os botões, e as rendas, e os apliques, e os tecidos, e as pedras, e os brilhantes, e os saquinhos de papel onde se embrulham estas preciosidades. hoje descobri uma que tem uma voz gravada, mal se entra, que diz: olá, espero que gostes. e também eu respondi olá na entrada. e quando saí fiz questão de lhe dizer que sim, que gostei muito.
risos na voz
fim de tarde em reclamação a serviço de apoio a cliente, ouço aquela voz. pergunto novamente o que já tinha perguntado para ouvir mais, não o que ele tinha para dizer, da voz. uma coisa é gostarmos da voz de alguém que conhecemos e gostamos - gostar de alguém e também da voz; outra coisa é gostar da voz sem conhecer o que quer que seja de alguém - gostar da voz sem gostar de alguém - como se a voz fosse, e é, alguém. interrompo-o e pergunto-lhe o que está ali a fazer. diz-me não estar a perceber. explico que deveria estar na rádio, incansavelmente, a dançar palavras. risos. pergunta se pode ajudar em mais alguma questão e digo que sim: pergunto se vive perto e, questionando-me porquê, diz-me que não. porque se vivesse tinha mesmo de vir lanchar comigo. mais risos, risos na voz.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
rabiças
rabiças de uvas desfeitas são como bois de arado no dorso: em água ou em terra traduzem o momento, quadro de cor em tela , jornada de sustento.
sábado, 7 de abril de 2012
lustre, lustre, lustre
ai! lustre de lustre
em lustre mais uma vez
conta-se a que derrama raízes e fios d'ouro vivos
e depois a que carrega o afastar da 'scuridão
ai!, lustre, por fim,
o conjunto, tripé de lustrina,
beleza em imensidão
(em imensidão fina)
sexta-feira, 6 de abril de 2012
a favor
passou, por mim, um carro da GNR e, olhares cruzados, lembrei-me da Catarina Eufémia, ah ceifeira de ovários caseiros e bem alimentados, mas este tipo de flashes ainda levará o povo a dizer que sou comunista, comunista filiada. penso, entretanto, pelo caminho, que para ser uma revolucionária como ela eu teria de me sentir oprimida e reagir contra. mas eu sou uma rebelde, que é bem diferente, vivo fora da bolha, e todas as minhas reacções são a favor. a favor da minha alma. é isso.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
mário soares em analogias na estrada
(parece-me mesmo bem que o estado seja obrigado a pagar uma multa por andar, fora da lei, em excesso de velocidade)
quarta-feira, 4 de abril de 2012
(vagina triste a dela)
ouvi dizer que a ginecologista lhe receitou pomada e outras coisas para uma inflamação na vagina . disse-lhe que sei de outra cura porque uma vez, talvez causada por um qualquer insecto que terá gostado das minhas cuequinhas enquanto secavam ao sol, experimentei isto: arranjei aloe vera natural - por aqui é fácil arranjar, há em qualquer jardim -, lavei muito bem. depois aparei-lhe os picos dos lados e cortei-lhe as pontas e, sempre com uma tesoura, recortei a peça em rectângulos finos e do tamanho do dedo mindinho. (apenas uma pequena observação muito importante: só se pode recortar mesmo antes de usar senão não faz efeito porque seca todo aquele molho que vai largando) antes de deitar, introduzi três ou quatro rectângulos na vagina e dormi tranquilamente. o que aconteceu foi que durante a pequena morte toda a seiva maravilhosa da planta passou para mim. e de manhã, naturalmente, quando fui libertar as primeiras àguas saíram os pequenos rectângulos, como que chupados pela vagina, incrivelmente secos. e bastou repetir duas a três noites para repor o vagilíbrio.
não acreditou, riu, e prefere andar a colocar pomadas e outras artificialidades. está bem - não sabe, como eu sei, que as vaginas devoram, porque adoram, o molho de aloe vera. talvez façam, até, de propósito para inflamarem só para poderem chupar os rectângulos como se fossem gomas frescas.
(vagina triste a dela)
não acreditou, riu, e prefere andar a colocar pomadas e outras artificialidades. está bem - não sabe, como eu sei, que as vaginas devoram, porque adoram, o molho de aloe vera. talvez façam, até, de propósito para inflamarem só para poderem chupar os rectângulos como se fossem gomas frescas.
(vagina triste a dela)
terça-feira, 3 de abril de 2012
olhos de ficar
pardos são os olhos
veranistas, obcónicos, que vêem sem cor
as águas fortes como se paradas
as cúpulas como se cimeiras de dor
são pardos os olhos, são,
que atentam o meu olhar
pracejam não praziam
trambicam por aí o ficar
pardos são os olhos, são,
debatidura, detruncar
veranistas, obcónicos, que vêem sem cor
as águas fortes como se paradas
as cúpulas como se cimeiras de dor
são pardos os olhos, são,
que atentam o meu olhar
pracejam não praziam
trambicam por aí o ficar
pardos são os olhos, são,
debatidura, detruncar
segunda-feira, 2 de abril de 2012
domingo, 1 de abril de 2012
pormenores gigantes
depois de descobrir exactamente que nome dar à enorme fatia folhada, maravilhosa, cujo recheio se torna quase - quase - indecifrável ao olhar e paladar, blimunda, descobri também que não sabiam, nem sabem, nem vão procurar saber, o que é ser blimunda e, depois, blimunda renovada.
(até dá vontade de dizer: sim, é blimunda. mais sete vezes vão todos para a puta que vos pariu)
(até dá vontade de dizer: sim, é blimunda. mais sete vezes vão todos para a puta que vos pariu)
quinta-feira, 29 de março de 2012
fantasias de piriquitos
imaginei-os ao sabor de uma chuva torrencial, esboaçar de alegria, com o mesmo entusiasmo com que saltitam ao sol. e não tive mais nada: liguei a mangueira e encharquei-os com abundância. agora, ficamos todos consolados - eu satisfiz a minha fantasia e eles, na realidade, adoraram. talvez isto tivesse acontecido, penso com convicção, porque simplesmente terei absorvido o desejo deles e o que imaginei foi, nada mais nada menos, o que eles queriam e me passaram naquela língua estranha e aguda, que sai dos bicos de ponta fina e arqueados, que é a deles.
quarta-feira, 28 de março de 2012
funlo
a definição de fungo, no dicionário, diz que é uma excrescência esponjosa na pele ou nas mucosas. a minha é bem mais simples: fungo é um parasita filho da puta, um chulo, que anda a viver à custa do meu pé.
terça-feira, 27 de março de 2012
reclamo - logo existo.
a maior diferença entre deus e o quintal do vizinho é que o vizinho reclama se alguém lhe atirar com lixo. será esta a maior, e mais irrefutável, evidência de que deus não existe?
domingo, 25 de março de 2012
filetes de peixe gato (ou outros quaisquer) no forno
numa frigideira, ou sertã à moda do norte, deita as cebolas cortadas em rodelas, um dente de alho picado, uma folha de louro e rega generosamente com azeite. tempera com sal e leva ao lume até que a cebola fique mole. retira do lume, deita fora o louro, e espalha no fundo de um tabuleiro que possa ir ao forno.
lava bem os filetes e seca-os com um pano ou rolo de cozinha.
num prato, coloca o ovo e bate; noutro, o pão ralado - tempera com sal e pimenta e mistura muito bem. passa um filete de cada vez pelo ovo e de seguida pelo pão ralado (o chamado panar).
no tabuleiro, por cima da cebola, coloca um filete panado e por cima deste bastante queijo e por cima do queijo coloca outro filete. e vai fazendo assim até que se acabem os filetes, colocando-os uns ao lado dos outros.
corta as batatas em meias luas e mete-as ao lado e em volta dos filetes. polvilha tudo com o alho picado, rega com um pouco de azeite e leva ao forno até que os filetes fiquem bem douradinhos e as batatas assadas.
serva bem quente e entra no reino dos céus.
sábado, 24 de março de 2012
bombaré
e no momento da fusão
uma e outra sussuram o corar
é asas com asas, é,
é riso com riso, é,
é orelha com orelha
e colocam o biombo, fecham-se ao mundo em couces
assim é a parelha onde não cabe sensaboria
é fabordão
dabom
gabão
e depois pabulam-se, sim senhor, ai! como é pabular
quando um beijo não é beijo
é bombaré
que atravessa o tempo e o lugar
sobrevoa o céu, cânhamo de ar
e aterra, sempre a planar, no pé
uma e outra sussuram o corar
é asas com asas, é,
é riso com riso, é,
é orelha com orelha
e colocam o biombo, fecham-se ao mundo em couces
assim é a parelha onde não cabe sensaboria
é fabordão
dabom
gabão
e depois pabulam-se, sim senhor, ai! como é pabular
quando um beijo não é beijo
é bombaré
que atravessa o tempo e o lugar
sobrevoa o céu, cânhamo de ar
e aterra, sempre a planar, no pé
menuro
viemos, e estamos, sozinhos e do vestido se faz nu: em redor há menuro, há, que ora pinta a garrido ora despeja tons de cru.
cantil
é beleza
como se água a tiracolo
cantil
espalhada no alto
no baixo
no centro dos olhos que procuram
e encontram
existência elevada a mil
como se água a tiracolo
cantil
espalhada no alto
no baixo
no centro dos olhos que procuram
e encontram
existência elevada a mil
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