terça-feira, 23 de julho de 2013
geografia familiar
enquanto que no Reino Unido nasce mais um príncipe, na Alemanha crescem os pais tiranos - já em Portugal, reproduzem-se os filhos da puta.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
hey!
tem setenta anos e vive, desde 1964, a dar-nos música. tem uma voz inconfundível, uma espécie de mel com canela, tal e qual como esta mistura fervida em água faz em jejum ao estômago, que me afina a alma. e não é só a onda de doçura e de romance - enriquecida pela língua soalheira que é a espanhola, que ele tem: carrega, igualmente, uma beleza masculina arrebatadora indissociável. nenhuma figura pública teve tanto encanto como ele - nem mesmo, em outra categoria, o Pierce Brosnan, homem igualmente esculpido a agulha de crochet.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
caralho!
Goethe também falou em "contar os ossos dos mortos" - o que o aproxima, muitíssimo, do que é abraçar um cadáver quanto a homenagens póstumas. abracem os vivos, caralho!
quarta-feira, 17 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
segunda-feira, 15 de julho de 2013
quando a morte é uma lufada de vida
faz-me confusão ver as viúvas de cara amarrada mas pomposas: passaram a garantir visita ao cabeleireiro todas as semanas, a usar saltos altos e a tingir a boca de vermelho-alívio. e faz-me confusão porque antes, antes deles morrerem, eram idosas conformadas a chinelos e picho. mas alguém as obrigava a estar com eles, pergunto. não: a prostituição caseira é sempre até que a morte os separe.
domingo, 14 de julho de 2013
exaltação do canal da merda em que o país se tornou
vimos por este meio agradecer a sua candidatura. informamos, no entanto, que não foi seleccionada apesar de cumprir com todos os requisitos exigidos, pois estamos à procura de alguém recém-licenciado.
muito obrigada pelo contacto. resta-me dizer-lhes que um recém-licenciado cumpre apenas com o requisito académico e que ânus e ânus de experiência servem, neste caso, para vos mandar à merda.
cumprimentos,
Olinda de Freitas
muito obrigada pelo contacto. resta-me dizer-lhes que um recém-licenciado cumpre apenas com o requisito académico e que ânus e ânus de experiência servem, neste caso, para vos mandar à merda.
cumprimentos,
Olinda de Freitas
sexta-feira, 12 de julho de 2013
quinta-feira, 11 de julho de 2013
conclusão
"as boas cozinheiras francesas põem de quarentena, durante dez dias, os caracóis grandes da bourgogne, até ficarem limpos da sua baba. metem-nos, às centenas, em grandes cabazes de arama que suspendem numa trave. todos os dias lavam muito bem o cabaz, que entretanto cobriram com uma bola de mucosidades, e depois suspendem-no de novo. quando os caracóis expurgarem toda a baba é altura de os alimentar com ervas aromátcas. estão finalmente prontos para a cozedura"
(Diálogos no Purgatório com Jean Guitton)
o purgatório será maravilhoso na purificação espiritual, sim. mas só para quem não goste suficientemente dos seus defeitos para se separar deles.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
podia ser sempre assim
acordar com a frescura é imensamente feliz: sente-se o bafo frio do sol galante a arrepiar a pele esgotada do sal líquido que sai sem licença pedir. a frescura energiza.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Bonobo na floresta do Congo
The bonobo, once called the pygmy chimpanzee, is a unique species of ape, native only to forests on the left bank of the Congo River. Recent research casts new light on their sexual and other behavior.
See more pictures from the March 2013 feature story "The Left Bank Ape."
Explore 125 years of National Geographic
falta-lhe mesmo falar e gesticular para ser, ou estar, feliz? não creio. são olhos de esperança, os dele, como se pedissem, e pedem, aos macacos da objectiva, para o deixarem a continuar ser assim tal e qual é e onde está.
See more pictures from the March 2013 feature story "The Left Bank Ape."
Explore 125 years of National Geographic
falta-lhe mesmo falar e gesticular para ser, ou estar, feliz? não creio. são olhos de esperança, os dele, como se pedissem, e pedem, aos macacos da objectiva, para o deixarem a continuar ser assim tal e qual é e onde está.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
era bom
sentia-me uma personagem dos livros do Eça quando passávamos a temporada de verão no Douro, na Régua, em Tões, em uma das casas senhoriais da Tia, nunca percebi o grau de parentesco durante essa altura mas também não interessava por conta de ela ser uma senhora já sexagenária e divertidíssima, Filomena. a cama que escolhi para dormir desde a primeira vez tinha o colchão em palha e uma boneca das que eu gostava, as únicas, de trapos; os móveis faziam aqueles barulhos típicos do antigo e as paredes eram bordadas a tinta naqueles tectos imensamente altos e estampados em relevo. a sala de jantar, até hoje nunca mais vi uma sala assim, era tal e qual um salão de dança, cheio de janelas e de luz, chão de madeira, tábuas corridas, onde imaginava sempre ter sido pisado por moças de vestidos compridos e folhados que escondiam corpetes sensuais a apertarem nas costas com tiras de cetim. na cave, o local mais fresquinho e escuro da casa, eu não gostava muito de estar - cheirava ao vinho guardado e às pipas gordas que se misturavam com o azedo do mofo e da noite fingida. mas quando ia, fazia histórias de amores escondidos e desfeitos ali mesmo. depois cansava-me e queria ir fazer renda, aprender-lhe o pormenor e captar-lhe a paciência, antes de voar nos patins e sonhar de bicicleta e da apanha dos tremoços. ao domingo a Tia nunca me obrigou a ir à missa, nem ela nem o pai, - percebeu logo que eu gostava mesmo era de ficar no adro, sentada no cruzeiro a apreciar as poucas dezenas do povo da terra aperaltados com as melhores roupas: as mulheres com os pés a gritarem por socorro pelos sapatos, sempre novos, apertados e os homens, ar esganado, pinguços de suor, pelas camisas abotoadas até ao caroço. aquele Deus devia merecer tanto sacrifício, pensava eu. e entretanto, hora feliz, o cheiro do assado a lenha no prelo já me chamava para eu ir aprender na alquimia da cozinha com a Tia. era bom.
domingo, 7 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
museu falológico
(foto sacada da net)
vi, tomei conhecimento, ontem pela primeira vez no canal TLC. não fiquei surpreendida pelo tema mas antes pela designação de museu pois nunca antes me ocorreu que, apesar de perfeitamente legítimo, alguém se lembrasse de coleccionar pénis. há-os para todos os tamanhos, larguras, espécies e formas, conservados em frascos ou secos ao ar - uma curiosidade de se ver na Islândia e que movimenta milhares de visitas por ano.
na verdade, a história antiga identifica a pila - chamemos-lhes pilas para nos sentirmos todos menos científicos e mais subjectivos - como sendo o sexo activo e verdadeiramente gerador de vida. Giulia Sissa «Il Corpo della Donna» explica isto muito bem: o macho fornece a forma e o princípio do movimento enquanto que a fêmea dá o corpo e a matéria. em um breve resumé, o fluido masculino que se mistura no sangue é o que dá a vida, a alma, ao invés do feminino que resulta em menstruação e serve para absolutamente nada. a mulher assume, bem visto, o papel da matéria, o ateliê onde tudo inicia e cresce e gera. interessante.
música e vida e viver
(fonte desconhecida)
esta imagem podia bem ser, e é, demonstração de vida: Burrhus Frederic
Skinner, baseado nas descobertas de Pavlov, expandiu os estudos do behaviorismo
Watsoniano que se baseiam no comportamento observável para a ideia de
aprendizagem que se designa por vertente associativa (como mudança no comportamento manifesto).
segundo ele, a resposta
a um determinado estímulo é condicionada ou adquirida. desde então, a escola
associativa entendeu que a associação entre um estímulo e uma resposta ocorre
quando há conexão entre os dois e que a repetição dessa associação é
fundamental para o processo de aprendizagem.
o que é, senão composições associadas e repetidas e recomeçadas e re(i)novadas, música, a vida e viver?
sexta-feira, 5 de julho de 2013
pensamento da madrugada
há vidas agitadas que por mais activas que sejam vestem a passividade da espera.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
a namorada do meu pai é uma ogre
cheguei a pensar, um dia, que ela seria diferente. e ao dizer diferente não quero dizer especial. não. ser especial já é muita fruta boa. diferente no sentido de o que considero normal para quem está em uma relação amorosa há muito tempo. cheguei, no entanto, à conclusão de que as mulheres e os homens estão cada vez mais iguais e sem idade no que concerne ao outro: querem passear e copular e pouco mais. e aos sessenta continuam a querer passear para ver se conseguem copular mais. aos setenta talvez queiram passear menos um pouco para conseguirem copular um pouquito mais mas vai dar ao mesmo: já se perdeu, ou vai se perdendo, vá, para não estar a acabar de vez com a esperança, aquela magia que traz o compromisso do sentir, do querer bem, do dormir melhor se o outro está mais feliz; aquela coisa da refeição cheia de poesia, bem confeccionada que alimenta o corpo que faz o amor, então, deu lugar à massa de atum e cogumelos enlatados; aquela coisa da conquista diária, do tu és valioso e por isso quero cuidar-te e estimar-te deve andar no cesto da roupa suja impregnado de meias enchulezadas. enfim. cheguei a pensar, um dia, que a namorada do meu pai seria diferente das outras que já teve, não especial, mais normal. mas hoje sei que a namorada do meu pai, a minha mãe há-de concordar comigo porque o amou até à morte, é uma ogre.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
lady godiva
por ter acabado de ler algo que mencionava a lady godiva, lembrei-me disto: a nudez pode cegar tanto quem se despe como quem a aprecia. a nudez é, assim, nuinha e forte e recatada, como que exclusiva aos olhos que por ela querem cegar para verem cada vez mais. a nudez é complicada de tão simples.
(...)
(a experiência de perdermos tudo dá-nos a nítida noção de com quem podemos contar: ficamos surpreendidos com a capacidade de omissão dos outros. quando tudo temos e tudo damos ficamos com a casa cheia de amigos e de amigos de amigos que ligam a saber quando podem aparecer para uma tarde de sol no terraço ou para almoçar ou jantar petiscos e que também convidam para festas e passeios e para ajudarmos quando estão mal. depois, quando nada temos, conta-se pelos dedos de uma mão, e ainda assim ficam a sobrar, os que ligam só para saberem como estamos ou que aparecem para dar um abraço ou os que convidam para almoçar a um domingo. para festas então nem pensar - ninguém convida gente que tem nada para festas. e é esta a experiência mais enriquecedora de dor que ficamos a ganhar. está tudo bem, há-de passar, pensamos, convencemo-nos à força. é isto que é ser fino e delicado e gentil e amigo na Cidade: é fazer voluntariado para colocar no CV e omitir-se do amor com quem um dia, por ter tudo e não importar se a quem dava tinha, incondicionalmente amou.)
terça-feira, 2 de julho de 2013
medida número um da número dois
o Reader? desapareceu do Google, sumiu-se. só pode ter sido obra da Maria Luís Albuquerque.
domingo, 30 de junho de 2013
opinar-relâmpago
mais do que a escrever é muitas vezes a ler que acalmamos a força dos fantasmas e enchemos os vazios dos baús assombrados e calamos as vozes, tantas, que zumbem por dentro. e se a história do capuchinho vermelho fosse escrita agora, agorinha, aquela parte do para que servem os olhos tinha como resposta - são para te ler melhor.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
consolo
é um consolo quando sabemos que não queremos mas somos pressionados a querer e depois a coisa, ao não se manifestar, fica resolvida por natureza como se a apoiar o nosso não querer. e depois só pensamos em excurso mudo (desenganem-se as empresas que querem enganar-nos praticando o engano. a mim não me enganas tu, a panela ao lume e o arroz está cru)
quinta-feira, 27 de junho de 2013
em exploração
interessantíssimo o poema de Simónides de Amorgos que subdivide o género das mulheres em uma série de géneros - caracterizando cada um deles por defeito: a gula, a sensualidade, a mentira -, cuja origem é um animal.
terça-feira, 25 de junho de 2013
metáfora
às vezes apetece-me gritar que a metáfora não é simples substituição, mera transferência. a metáfora é achar um ponto comum pela associação de ideias, uma virtude.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
novelo de cá
ontem vi a coisa mais bonita, e também a mais triste, que poderia ter visto - em simultâneo - naquele minuto e durante uma festa: vi um homem e uma mulher sentados em uma mesa vazia, despida até de toalha, por debaixo de uma videira. a música que fizeram questão de colocar no gira-discos, notava-se que era um som mais limpo, romântico e quente, fazia lembrar a frança dos anos vinte. todo o cenário cativou a minha atenção, os meus pensamentos. mas depois. depois olhei para o rosto de ambos e consegui chegar ao fundo daquela solidão monstruosa e terrivelmente triste - estavam os dois a celebrar uma festa como gostavam que ela fosse, talvez transportados para outras festas de há muito tempo, o cenário, a música; na verdade estavam ali, juntos, a implorarem a morte um do outro como se morrer começasse, e começa, no novelo - não de lã - de cá dos pensamentos.
domingo, 23 de junho de 2013
nem tudo escasseia por cá: temos uma lua farta que vem mesmo a calhar em celebração da festa do S. João.
ó meu rico S. João
dás um gostinho às gentes
seres da lua cheia a parir
alegria e almas contentes
porque em altura de crise
a magreza é para amanhar
ao contrário da sardinha
e da lua
qu'as entranhas são d' amar
ó meu rico S. João
dás um gostinho às gentes
seres da lua cheia a parir
alegria e almas contentes
porque em altura de crise
a magreza é para amanhar
ao contrário da sardinha
e da lua
qu'as entranhas são d' amar
sábado, 22 de junho de 2013
a essência do amor
se o primeiro impacto é de desconsolo o segundo e o terceiro, marinada completa, vem justificar o desconsolo que nem sempre é negativo. temos uma longa metragem aos pedaços, narrativas de narrativas em momentos, lugares e emoções - temos uma espécie de poesia explícita em prosa obtusa no sentido geométrico se entendermos o filme, não como um quadrado, como um triângulo que se quer o amor: os três lados que emborcam em apenas um só, o nós, havendo um eu e um tu. universalidade bem conseguida pela mudança constante da língua, são os silêncios que mais alto falam naquilo que é o amor que ama e que odeia por amar e que odeia amar. o desconsolo vem dos vazios que poderiam bem ligar os pedaços, aquela massa cremosa de que também é feita o amor, quando amar serve - não para esvaziar- simplesmente para encher. interessante focalização no feminino e nos pormenores já que o amor, que é forte, é feito de filigrana frágil tal e qual mulher. e é por isso que o aportuguesamento do título me parece bem: o que é, senão uma maravilha, a essência, o que sem resquícios de evidência porque só se sente, o sítio onde nasce o amor - aquilo que não é construído nem pensado e que brota do coração para as veias e nos ataca os ovários e os rins e as pudendas, e até as unhas e os dentes. é amor daquele que não se vê nos filmes mas apenas em um esgar na linha daquele poema ou na esquina da memória daquele sentir ou, melhor ainda, que ainda está por vir.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A cidade dos Simpsons tornada realidade
a belíssima caricatura do maneirismo americano continua para durar. e muito eu gostava que o João Lopes escrevesse sobre isto - é que julgo ser mais uma inspiração do que, expiração da fantasia, o contrário.
(fiquei ainda com mais vontade depois de o ver, e ouvir, na sic notícias a dissertar sobre isto)
(fiquei ainda com mais vontade depois de o ver, e ouvir, na sic notícias a dissertar sobre isto)
quinta-feira, 20 de junho de 2013
quando o plástico reluz como ouro
fila para as receitas do estado. gente ora apaziguada ora sem travão na língua. uma mulher nova, na casa dos quarenta anos, decide falar em alta voz. barafusta, lamenta-se, e conclui: mas o homem que está a trabalhar como um cão para erguer o país não tem culpa - culpa tem o governo anterior porque esta criatura só está a fazer o que é preciso. pois é, assentiu uma outra sexagenária de aparência, este é pior que o Salazar mas só quer o nosso bem, coitado, está a ser difícil mas ele vai endireitar o país. e eu, ouvidos electrizados e mãos ofegantes de murros em uma mesa que não havia, decidi levantar-me e dizer que afinal o quarto mundo existe: o mundo dos subnutridos mentais que vivem e pensam por contágio e que gostam, bem visto, de serem desgovernados. e segui, triste, por passar-me, mesmo ali, pela cabeça que o povoléu vai continuar a amá-los nas urnas - tamanho o romantismo, reluzente como ouro, de plástico que carregam.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
é bom
só quem repara nos campos de milho vê a diferença - a diferença de um dia de chuva. chove e pimba, crescem e enverdecem e ganham viço. portanto: quem fica zangado com esta chuvinha maravilhosa em tempos de esganar o calor que não fique, é bom, e ademais há provérbios ainda por inventar: chuva no milho, cheio se faz silo.
terça-feira, 18 de junho de 2013
frequência de futuro
a origem não sei, não dizia, talvez tenha vindo do futuro: onde, senão no futuro, a vida selvagem é completamente controlada e monitorizada e em evidências de civilização?
segunda-feira, 17 de junho de 2013
memórias e rosas
sábado último a minha mãe, que morreu mais nova do que eu quatro anos, apagava as velas se cá estivesse em carne e em osso. servem as rosas dos jardins para serem cheiradas e, pétalas aveludadas, sentidas; servem as rosas para nos ajudarem a celebrar o que já não há mesmo nunca deixando de haver; servem as rosas, sim as rosas, para nos fazerem lembrar daquilo que nunca esquecemos - são uma espécie de soneto mudo como se fossem, e são, inadimplências contudo carregadas de vida. as memórias são tão confusas como as rosas: banham-nos de realidade a alegria da breve fantasia de olhar e delas nos apoderarmos em arrepio sorridente. arrancamos as rosas dos jardins para lhes captarmos a beleza em abraço de nós e nem sequer pensamos que horas depois estão cansadas e de aroma murcho de em nós se serem, tal e qual como elas - como as memórias. depois chovemos e deixamos o carreiro d'água descer pela caleira da alma e encontrar na pele o consolo de fazer inchar os olhos e os lábios, não fosse a doce tormenta de salgar a mais bonita canção do que é amar apenas memórias e rosas.
peixe: justiça sem passo de caracol. ponto.
o peixe-caracol não consta na lista das espécies que podem ser comercializadas em Portugal desconhecendo-se, no entanto, o valor nutricional visto que em causa está a mera ilegalidade e não o risco que eventualmente poderá apresentar para a saúde pública. neste caso, tratando-se apenas de tráfico ilegal de peixe vendido a baixo custo e rotulado como sendo um outro - o bacalhau -, parece-me um caso de fácil resolução: além das medidas correctivas que estão já em curso, nomeadamente a averiguação junto do fornecedor e, digo eu, a devolução ao mesmo e destruição dos lotes dos produtos em questão, pouco mais há a fazer visto que o limite crítico da utilização do produto ser zero por ser ilegal e as medidas de controlo terem sido completamente corrompidas pelos vários agentes, rastreabilidade lógica, desde a produção primária - entenda-se a venda imediata do pescado como bacalhau que terá posteriormente falhado em análises laboratoriais, por ausência ou nova corrupção, ao ser rotulado como bacalhau em detrimento de peixe-caracol e que, por sua vez, foi adquirido - novamente sem certificado de garantia - para transformação em indústria de pré-cozinhados. sendo uma má prática absolutamente intencional, relembro que em causa não está qualquer perigo para a saúde pública nem tampouco a falta de qualidade nutricional, o caso deverá ser tratado, sem o alarido de calamidade, apenas com a força da justiça. ponto.
domingo, 16 de junho de 2013
dois cavalos para Cavaco
ufa, onde vais com tanta pressa?
vou a Belém: disseram-me que o senhor Cavaco Silva anda de cavalo para burro e que não gosta que o mandem trabalhar.
e então, percebi nada.
é por isso que tenho de ir a correr - tenho de lhe ir dizer, antes de ir trabalhar, que tenho um citroen para ele se meter a andar de carrinho.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
breve explicação
para a pacificidade da visita de Passos Coelho a Santarém:
a natureza é, per si, pacífica. e diante de uma porca a amamentar os seus filhotes o povo só quis mostrar que vale a pena ser, não filho da puta, filho da porca - de uma porca portuguesa, com certeza.
a natureza é, per si, pacífica. e diante de uma porca a amamentar os seus filhotes o povo só quis mostrar que vale a pena ser, não filho da puta, filho da porca - de uma porca portuguesa, com certeza.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
vou ali e já venho
o rectângulo à beira mar plantado, filho pai e irmão de D. Afonso Henriques, conquistado e conquistador, está, neste exacto e preciso momento, intoxicado em pensamentos e palavras e actos e omissões por legião de vivos e de mortos e de mortos-vivos - efeitos colaterais em uns de causas directas de outros que não são, pois claro, especialistas em gente. ser especialista em gente significa, naquilo que é trabalhar para o bem comum, conseguir levar em consideração - e priorizar - questões inerentes ao cargo que se ocupa:
estamos a ser tudo o que podemos ser?
estamos a ser mais do que podemos imaginar?
temos feito aquilo para que o país de nós se possa orgulhar?
quem somos como governantes?
conseguimos reflectir nos governados que somos gente?
pois, a resposta a todas estas questões está fechada a vácuo por causa das bactérias - que se entram fodem tudo - da verdade. porque na verdade o país está em falência emocional, uma espécie de doença contagiante que vai minando tudo por onde passa, e precisa de ser provocado para reagir. ora já por isso mesmo estamos a precisar, de facto, de emigrar, sim, isso mesmo, emigrar - mas uma emigração emocional antes que sejamos considerados neuróticos. comigo não contem para a neurose: vou ali e já venho que tenho mais o que fazer do que intoxicar-me por contágio de incompetência e imbecilidade e cabronice e filhadaputice e ordinarices de palitó como se o governo de uma nação fosse, como tem sido, um mero corpo usado e abusado para contenções e descargas tamanho é, obviamente, o deserto emocional resultante de.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Populaire
ouvi o Mário Augusto falar deste filme e vi um pormenor de olhares, logo a seguir, que me provocou cócegas de curiosidade.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
o riso da rejeição
assim, já a frio, rio da rejeição e sorrio por me ter exposto o suficiente a ponto de não me quererem como se ser fosse, é é, uma barreira enorme no mercado de trabalho. assim, já a frio, sorrio à conta da falta de vocação apontada: não se quebra o ciclo triste da falta de salário mas sim o da enorme tristeza que deve ser o fingir apenas para ter. vir ao mundo para expor, para mostrar, para ser é o propósito; expor sem medo do ridículo dos olhos dos outros e sem o medo da rejeição é maravilhoso. assim: aqui estou, aqui sou, não gostam, não lhes convém - não queiram. e assim fazer o caminho dos nãos dos outros que são sempre os sims, de nós, de mim. e isso não nos iliba do erro, ah o doce erro!, antes faz dele o aliado da exposição: o que importa mesmo é reagir ao erro e à exposição e ao ser com o carinho de quem abraça e sobe mais. porque subir é sempre o rumo do ser.
terça-feira, 4 de junho de 2013
desalento
eu ia falar do exercício engraçado que é aproveitarmos o tempo em salas de espera para associarmos as pessoas sentadas lado a lado e o respectivo parentesco - há sempre um nariz, um esgar, um gesto que denuncia tudo. mas agora só me apetece mesmo dizer que as notícias frescas pela manhã nem sempre são boas - é como o pão que muitas vezes em vez de estar cozido e crocante chega cru e mole.
domingo, 2 de junho de 2013
miserável
sol e calor e tempo para fruir. e os pais optam por levar os filhos ao parque dos centros comerciais, aquele espaço minúsculo e escuro em que a criançada se descalça para andar em filas de espera no escorrega de plástico. não há cheiro de relva nem brisa nem pássaros a chilrear: há chulé e ar condicionado e vozes que entoam nos andares de quem passa. e depois os pais amontoam-se nos bancos disponíveis, ou encostam-se ao pedaço de parede (ainda) livre, a apreciar a merda que fazem: fazem com que os filhos acreditem que amar é aquilo - duas horas a escorregar em plástico, sem sapatos, e em austeridade de espaço e de cheiro e de luz. miserável.
sábado, 1 de junho de 2013
ideia de colo
sexta-feira, 31 de maio de 2013
estrabismo
e agora diz lá: qual é a parte do mundo de que gostas mais?
os olhos.
estava à espera que me referisses uma região, um país... mas então diz-me como são os olhos do mundo.
são estrábicos - ou nunca te sentiste a cair?
os olhos.
estava à espera que me referisses uma região, um país... mas então diz-me como são os olhos do mundo.
são estrábicos - ou nunca te sentiste a cair?
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
cogus box
oito e pico ou talvez nove e tal, análise da árvore de decisões e procura de pontos críticos de controlo e a desconcentração paralela, pertinentíssima e saudável, riso e palhaçada, que mete cogus box e descortina. fala-me do quanto é intransigente em casa e da forma austera com que lida com a família para conseguir tudo o que quer - resulta, diz ela. e pergunto-lhe de seguida se não sente uma enorme frustração por não ser respeitada mas antes vencedora, falsa vencedora, pelo medo que obriga os outros a sentirem só para não terem de a ter, perda falsificada, emburrada e muda. fica desconcertada talvez por ser psicóloga de formação e agora a noção de cabra no viver. descubro-lhe o perfil fraudulento ao mesmo tempo que a vejo alinhar na desconcentração e no riso quando a prioridade é o exercício. nada acontece a não ser aquela picadela que sentimos quando alguém nos toca naquele exacto ponto que vendemos como o mais forte: o ponto fraco. e ela ontem foi para casa diferente. e eu vim mais feliz porque o mundo existe para nos abraçar e permitir o embalamento do que é fazer a diferença.
terça-feira, 28 de maio de 2013
sabes o que é filha da putice? é isto.
só tenho vontade de dizer que este desgoverno me obrigou a recuar mais de quinze anos na minha vida profissional e a começar , não do zero, do menos um. e que está a obrigar-me a aceitar, finalmente, a aceitar por ser a única oportunidade em mais de um ano, um salário miserável em uma função quase indiferenciada. e que me obriga a transformar a raiva em tolerância e sensatez por sentir que trinta e três anos a estudar e a investir em conhecimento têm de ser colocados em segundo plano das minhas prioridades básicas que satisfazem a minha carência intelectual. e que a minha única linha de percurso neste momento passa por ignorar que perdi a minha casa e a minha vida e a minha liberdade - é um mero exercício de programação neurolinguística: colocar em ênfase o pouco como se muito fosse comparativamente ao nada. e eu chamo a isto, a este exercício que estão a obrigar-me a fazer, a esta exploração, a esta escravidão social, a maior filha da putice de que tenho memória.
e o sangue das lágrimas é transformado em sumo doce - só para afastar a morte e conviver com a vida.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
o Aníbal, é um camelo
a propósito da palhaçada custa-me perceber a gravidade da coisa. mesmo. principalmente pelos argumentos. “Se a injúria ou a difamação forem feitas por meio de palavras proferidas publicamente, de publicação de escrito ou de desenho, ou por qualquer meio técnico de comunicação com o público, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a três anos ou com pena de multa não inferior a 60 dias.” ora estaria presa grande parte da blogosfera portuguesa. mais: quase a totalidade dos portugueses estariam, ora desempregados ora falidos, atrás das grades por expressarem precisamente a imagem que vêem quando ouvem o Presidente da República proferir, mais do que piadolas, silêncio. pelo respeito aos animais de quatro patas o Aníbal merecia que o MST lhe tivesse chamado camelo e aí, sim, estaria tudo tranquilinho. (cantemos, então, para espantarmos o mal do chilindró)
o Aníbal é um camelo
tem duas mossas e muito pêlo
tem uma lata do caraças
para brindar no governar
mas é assim quem gosta
de no deserto desertar
e lança logo um grunhido
aquando ventos de vencido
é um camelo popular
é engraçado e espertalhão
só não gosta que lhe chamem palhaço
prefere qu'os portugueses andem a ser roubados
pelo governo d' esticão
o Aníbal é um camelo
tem duas mossas e muito pêlo
tem uma lata do caraças
para brindar no governar
mas é assim quem gosta
de no deserto desertar
e lança logo um grunhido
aquando ventos de vencido
é um camelo popular
é engraçado e espertalhão
só não gosta que lhe chamem palhaço
prefere qu'os portugueses andem a ser roubados
pelo governo d' esticão
reflexão ao sol
há muito material para ler sobre o que disse e pensar acerca de. e no entanto uma certeza: as pessoas só fantasiam acerca do que não podem ter na realidade. e é por isso que fantasiar, a criatividade é outra coisa, em consciência de que não nos atrevemos a ter é por si mesmo uma fantasia do caralho - porque tudo o que queremos no que concerne à natureza humana é possível em um tempo ou lugar ainda misterioso, frequência de futuro desconhecida mas não, por isso, impossível. e o mais importante é mantermos a capacidade de acreditarmos que não somos errados naquilo que queremos e sentimos simplesmente porque o sentir não é da nossa responsabilidade e não pode ser forjado. e quem se refugia em superficialidades, economia de prazeres rápidos, até o prazer se quer livre, apenas para não chegar ao fundo foge - mais do que de outros, de si mesmo.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
uma fé estranha
vontade desenfreada de escrever - daquela vontade que pica e faz cócegas intermitentes.
há pessoas que aparecem nas nossas vidas e chamamos-lhes acasos. chamamos-lhes sem chamar, pensamos apenas. e depois fazemos birras e insistimos e chateamos e fazemos uma matriz do grau de possibilidade e de severidade - isto para apurarmos a tolerância e a paciência em termos de significância. parecem sacos rotos de boa vontade e de simpatia e de bom humor. estragam-nos o plano mais ou menos intuitivo de sabotarmos a coerência pela incoerente demonstração de sensatez que nos demonstram. e inchamos de alegria, escondendo-a, para a deixarmos respirar. fazemo-lo por acreditarmos que são pérolas e sabermos que as pérolas são raras e, por isso, são precisas validar. trocamos tudo, confundimos conceitos, apresentamos propostas e tudo bate tão certo como se fossem, e são, caminhantes que nos mostram que a serenidade existe. e depois concluímos que ainda que tudo não passe de um bem-entendido mal amanhado é bom. e é bom acreditar no que não se vê quando tudo o que não se vê nem sequer nos dá motivos para acreditar. uma fé estranha no meio de tanta estranheza.
bora lá desencadear a pulsão sexual
assim como o melhor do pensar é o escrever na folha em branco também o melhor do sentir é o sexo na matéria, na carne. o sexo oferece-nos aquela dimensão de sermos homens e mulheres como se a pulsão sexual fosse, e é, um indicador de vida, uma composição do sentir.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
melhor do melhor
havia de ser sempre assim: a natureza e o Homem - o Homem a aproveitar-se dos excedentes da natureza - em parceria justa. ela, em harmonia perfeita a fazer para si e também para nós. e nós a não tocarmos no que é seu e a aceitarmos explorar o que de bom grado ela faz, e dá, para nós. olha o mel que as abelhas produzem em uma organização e método infalíveis sem absoluto controlo de qualidade e em perfeita melhoria contínua inerente constante. é fascinante, estonteante, fantástico este detalhe da natureza. lá está, depois o Homem organiza-se com elas e consegue uma produção primária de ganho-ganho que nem sequer precisa de controlo institucional, apenas um código de boas práticas que as salvaguarda um pouco da ambição desmedida e também nos salvaguarda em bem estar. outra vez ganho-ganho. e depois o excedente, aquele que queremos explorar, aquele que com tanta generosidade ela faz por sobrar, adaptamo-lo à nossa capacidade de invenção e criatividade: destampamos os favos e raspamos para extrairmos o mel e filtramos para depurar os vestígios da cera que vão em açúcar ser cristalizados e reaproveitados. e criamos frascos onde depois de limpos a vácuo embalamos a preciosidade. simples. a felicidade é simples: no melhor de cada um juntamos tudo e depuramos o melhor dos dois. e depois, no pior, com o excedente do melhor, fazemos melhor.
terça-feira, 21 de maio de 2013
à palavra e à semente
a imagem de cada semente cada palavra é riquíssima - isto para reforçar a ideia de que, cada vez mais, os ventos que antes arrastavam as sementes são agora manipulados por forças externas. estará em causa uma crise de identidade da nação? sim, pode ser, mas não nos revoltemos. comecemos por cuidar da crise pessoal, cada um por si, antes de querermos abraçar a crise da nação. não vamos a andar a semear sementes de revolta, MEC, porque isso sim é perder completamente o acesso à palavra. e à semente.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Púbisgal
reparar bem que o sítio, com referência a ser mal frequentado, situa-se exactamente na zona da púbis. ora nada é por acaso e acabei de chegar à conclusão de que Portugal é um site da púbis governado por chatos.
graças a Prometheus
Inner Silence
prometeu, Prometeu, o fogo
faúlas d'homem e de mulher
a arder
a Zeus roubou o reino
(assim ele o entendeu)
quando criar foi o que fez Prometeu
ilimitado não és - vociferaram os deuses
limitado sou, cantarolou Prometeu
mas trago o limite, o único, que não cabe em vosso papo de Deus
o daquela que começa e acaba nos céus
a criatividade, valha-nos Prometheus!
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
(azar)
truz,truz,truz - antes fosse assim o azar a bater-nos à porta. mas o cabrão, não. o cabrão entra de soslaio pela janela sem deixar o mínimo resquício de barulho ou intenção. e ainda deixa as cortinas ao vento, indiscretas, só para se regozijar da safadeza e se esfregar todo nos danos que provoca. é isso: o azar chafurda na angústia e no desespero dos outros como os cães estão para a relva fresca em dias de calor desinibidos de barrigas felizes no ar e pernas inquietas. e que esgar matreiro tem o estupor quando ouve dizer que foi azar, ah!, com que consolo enche a pança e a esperança de que mais dias dele virão.
terça-feira, 14 de maio de 2013
breve explicação bonita e com dedo em riste
o PIB cresce quando o Porto é campeão simplesmente porque o azul é cor de céu e o céu, já se sabe, é o limite.
o amor é a essência de tudo
raramente dou importância à crítica, sou como o S. Tomé - ninguém me mata a fé ou, como costumam dizer, tenho de ver para crer - e tenho, sim, muita curiosidade em ver, lá terei de esperar por agosto, a essência do amor. não dá para confiar no instinto prático e boçal da maioria das pessoas nem no alarvismo desfundamentado com que falam, e antes pensam, do amor. mais: as pessoas sequer consideram o amor um assunto com interesse para ser explorado e serão, por isso, condicionadas por esta pré-indisposição. talvez a crítica, esta crítica, até faça sentido. talvez. mas mais sentido faz esperar para ver - tenho a certeza de que vou descobrir coisas imperceptíveis aos olhos do Luís e do Miguel e do Oliveira. e serão olhos mais comuns os que se focam na linearidade do prazer take away, sim, porque o amor também é puro prazer, mas em camadas e em lentidão do banho-maria que se quer absolutamente gostoso e pesado e leve e quente e fresco e doce e salgado e seco e molhado, a única foda em que vale a pena ganhar tempo.
domingo, 12 de maio de 2013
incompatíveis e não só
havia dois homens - um de aparência cuidada que falava ao telefone durante uma relação sexual (o que é uma relação sexual? se uma relação é uma ligação então neste caso não havia visto que a mulher desandou o traseiro da cama e, ao telefone, o tal homem continuou mecanicamente os movimentos de vai e vem) queca e para ascender profissionalmente desconhecia, por não necessidade, quais eram afinal os seus valores e um outro, espontâneo e lutador e também pai, cuja roupagem fazia crer tratar-se de um homem absolutamente baldas. e a fraca trama desenrola-se em ambiente de crime misturado com riso - uma espécie de bolo de pacote francês com cobertura de chocolate light. foi escolhido, cinco minutos antes de começar, pelo título, ai como os títulos enganam!, e precisamente por começar dali a cinco minutos. não, isso não tem nada de estranho - é a vida. e depois não é qualquer uma que paga seis euros e quarenta para ter uma sala de cinema só para si, sem cheiro de gente a tresandar a desodorizante axe nem de pipocas a roçar a semelhança ao chulé. é interessante a perspectiva de fazer rodar um filme durante duas horas para uma só pessoa. apeteceu-me fumar lá dentro, confesso. mas só me descalcei e estiquei. ah. e também dei um peido calçado, não de pantufas, de socas.
a parte melhor foi quando cheguei ao carro e, em espera, ouvi esta música.
a parte melhor foi quando cheguei ao carro e, em espera, ouvi esta música.
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
código de barras com letras dos desempregados portugueses
o código de barras, ou EAN, aplica-se em embalagens primárias (EAN 13, com 13 dígitos) - que envolvem directamente o produto - e em embalagens secundárias (IFT 14, com 14 dígitos) que serão o embalamento da embalagem. uma boa imagem a servir de exemplo será imaginarmos uma caixa com várias embalagens dentro. ora os desempregados, se considerados IFT 14, isto porque a embalagem primária nas pessoas se quer intocável, apresentam-se assim, seriados em números, em Portugal:
o primeiro número é criado internamente pela empresa e designa quase sempre a quantidade do tipo - será o centro de (des)emprego;
os três seguintes números são sempre iguais e correspondem como que ao indicativo do país (560);
os quatro números seguintes são respeitantes à empresa - serão zeros;
os cinco seguintes pertencem ao código do produto - será a combinação de zeros resultante da (a)política do governo;
o último número é calculado automaticamente após a atribuição do primeiro.
neste momento, e levando em consideração de que as pessoas são tratadas como números, o código de barras dos desempregados portugueses afiguram-se assim:
1 560 0000 00000 1
em letras, que é mais digno, e a toque de desespero, o único código de gente que a gente quer:
Maria Feduncio, Portuguesa, sem emprego, nova para a reforma e velha para trabalhar, existe.
o primeiro número é criado internamente pela empresa e designa quase sempre a quantidade do tipo - será o centro de (des)emprego;
os três seguintes números são sempre iguais e correspondem como que ao indicativo do país (560);
os quatro números seguintes são respeitantes à empresa - serão zeros;
os cinco seguintes pertencem ao código do produto - será a combinação de zeros resultante da (a)política do governo;
o último número é calculado automaticamente após a atribuição do primeiro.
neste momento, e levando em consideração de que as pessoas são tratadas como números, o código de barras dos desempregados portugueses afiguram-se assim:
1 560 0000 00000 1
em letras, que é mais digno, e a toque de desespero, o único código de gente que a gente quer:
Maria Feduncio, Portuguesa, sem emprego, nova para a reforma e velha para trabalhar, existe.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
palavras em festa
lindo de se ver: espalhados aleatoriamente pelos muros e de cornos, não ao sol como na cantiga que crescemos a ouvir, à chuva. são os caracóis ranhosos. e nunca, o ranho e os ranhosos, as palavras viscosas gostaram tanto de serem celebradas porque é assim mesmo - a utilização é a festa das palavras.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
elevador para o céu e terraço nas estrelas
quando casou recebeu, como uma das prendas, um monte. casou há três anos e ainda nem sequer foi vê-lo. fala dele como se de um conjunto de tachos se tratasse com a utilidade de fazer crescer muitas árvores para abater na reforma - quando chegar esse tempo hão-de vender a madeira e viver também disso, diz. quase que a convenci a levar-me ao monte, curiosidade em comichão, queria vê-lo e apalpar-lhe a terra e cheirar-lhe as axilas daninhas. sei lá, parece-me bem, parece-me sexy, parece-me seguro alguém ter um monte só para si - aquele bocado de terra com elevador para o céu e terraço nas estrelas.
terça-feira, 7 de maio de 2013
linha 3
o agudizar do arranque em conformidade com as borbulhas bravas do rosto dela, borbulhas em fase de crescimento e prestes a atingirem uma velocidade incontrolável até ao destino. o destino quer-se, aqui, como paragem como se quer em um comboio. os telemóveis, ai os telemóveis! que funcionam nas mãos das gentes como muletas de pés partidos: sentam-se os corpos e levantam-se os telemóveis como se fossem, e são, o que pedem os olhos - os olhos a pedirem mensagens e jogos e nada. é isso, os olhos pedem nada quando sentados no meio do mar que é a gente, uma triste solidão essa que as impossibilita de se escreverem o que vêem e ouvem, de produzirem crónicas surdas de vida em momentos de morte. porque é morte, sim, precisarem de um telemóvel para afastar leituras e até travessuras do espaço; porque é morte, sim, usarem o telemóvel para verem o tempo, não a ficar como ficam as paisagens que pintamos do lado de dentro do vidro, a passar.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
quando a fantasia não é, de todo, a realidade
é preciso deixarmos que ela, a fantasia, se sinta rainha. e, como meros espectadores, permitimos que se sinta capaz de cobrir a luz da claridade que é a realidade. deixamo-la entrar de fininho e ficamos a apreciar como se instala e como quer convencer-nos de que é real e de que a realidade é, bem visto, uma fantasia do caraças. não o fazemos com maldade, tampouco mentimos nos factos da vida real - simplesmente deixamos que pense que está a abafar-nos nos seus lençóis ávidos de converter-nos naquilo que pretendem. e o que pretendem todos aqueles que querem convencer-nos de que a distância física não existe e que imaginar é viver realmente é isso mesmo: sentirem o poder da imaginação deles na nossa, como se manipular a nossa lhes desse o poder da deles. é, portanto, mentira de que a ideia que fazemos de alguém ou alguma coisa é a realidade e que esta ideia fantástica é real - e essa é que é a verdade. damos a descobrir aos outros o quão poderosos podem ser, escondendo fingimento solidário, para percebermos realmente quem são e o que querem. e o que querem é sempre o mesmo: fazer da imaginação a mais forte arma de arremesso, não a favor como pretendem que seja, contra a realidade. a realidade é sempre maravilhosa se vivida de forma fantástica e em conformidade com o que sentimos ao contrário do que é viver a fantasia realmente. e esta passagem tantas vezes tão ténue em tantas cabeças cheias de ego é quem dita, mais do que quem queremos ser, quem somos. eu proponho um brinde a todos aqueles que, mascarados de fantasia, se propõem a manipular a realidade estando certos de que o conseguem - há espaço para todos. e proponho dois brindes a quem que por algum tempo deixa que pensem que a realidade possa ser inequivocamente manipulada pela fantasia - afinal de contas ajudar os outros a encontrarem o seu caminho será sempre uma prioridade.
sábado, 4 de maio de 2013
Garcês, o feio
há coisas feias. há coisas que espantam. há coisas que ferem. há coisas que nos fazem rir por dentro da imbecilidade que carregam. há coisas impossíveis de passarem ao lado porque se apresentam de frente. há coisas que nos impõem uma prosa chata e desprovida de leveza. há coisas que são como cagadelas de pássaros birrentos que decidem simplesmente fazer desabar as entranhas mesmo por cima da nossa cabeça. é, há coisas assim. e não, não foi nada de grave talvez para quem passa na pressa e no descuido do olhar. mas terá sido gravíssimo para quem ostenta a atenção pelo redor e procura, em cada esgar do movimento e do paranço, significado. há coisas, assim, que me são feias tão feias quase tão feias como um amarelo pálido que nem é pérola nem português. há coisas que, tenho a certeza, não foi o universo que fez mas antes um taxista manhoso, com ares de farinha em frequência acumulada nas unhas, a quem se pode chamar Garcês.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
ilustração da maravilha de engano
consegui, entretanto, arranjar uma figura que ilustre o romantismo no superlativo absoluto da tal mensagem que inventei e que contempla as duas versões:
maravilha de engano ou as pazes insólitas
o meu pai e a namorada zangaram-se e lá me calhou a mim, a pedido dele, enviar-lhe uma mensagem de reconciliação por sua vez. aqui não interessa nada o conteúdo mas sim, e apenas, a última frase. em vez de já sabes que te amo a escrita automática, por erro meu - talvez o telefone tivesse percebido exactamente a verdade do que eu penso -, seguiu já sabes que te como. logo de seguida, mal percebi a lenha que tinha acabado de atirar para a fogueira, enviei uma outra igual mas desta vez com a palavra correcta, a que ele queria que ela lesse e a que ela esperava ler. estou certa que terá gostado mais da segunda do que da primeira e que a primeira sem a segunda traria definitiva distância - mas que as duas, quase em simultâneo como seguiram, fizeram um bolo romântico no superlativo absoluto fizeram. uma maravilha de engano.
terça-feira, 30 de abril de 2013
amo-te, foda-se!
poderia bem ser o nome de um restaurante ou de um perfume ou, mais amiúde comum, de um livro - mas não é. trata-se de uma forma de expressão, a minha forma de expressão, a melhor que consigo arranjar, para dizer o quanto amo, oralidade e escrita, a língua portuguesa. e nisto cabem as palavras, as palavrinhas e os palavrões, todas filhas dela - da língua. trata-se de uma aproximação metafórica, riquíssima, assim como o Miguel Esteves Cardoso explica e usa e abusa. mais: usar oportunamente o calão será a foma mais digna de calar o bicho da expressão, linguagem cristalina que pouco tem de grosseira a não ser a quem não lhe chega à espinha dorsal. a alma precisa tanto de palavras como de palavrinhas e de palavrões - são uma espécie de momentos SPA (sim, neste caso também é possível dar para a sociedade portuguesa de autores que, de resto, diga-se, altamente elitista e viciada comó caralho), um resort luxuoso onde a palavra faz massagem e a palavrinha sauna e o palavrão talassoterapia em sessão. é, pois, inútil que tentem travar o palavrão quando não pretende designar verdadeiramente a substância da coisa - estás a cagar para mim é a imagem mais perfeita que há para dizer que alguém não está a prestar atenção a outra; estás a foder-me a cabeça é a forma mais transparente de referir que alguém está incomodar fortemente outra; estragaste-me a puta da vida é a frase mais feliz que encontro para gritar o que este governo fez (...) - mas, antes, a coisa com substância.
por mim, está decidido: amo-te, foda-se!, palavrão, como, não em arma de arremesso, quando o estômago tem fome e precisa forrar-se com pão.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
empoar
nem sempre o tempo muda as pessoas - na maioria das vezes são as pessoas que mudam o que querem fazer com o tempo. e o tempo tantas vezes deve pensar, em riso miudinho, assim: vou -t'empoar.
domingo, 28 de abril de 2013
a cor da musica
se cada música tivesse um rosto, e tem, seriam, e são, os dedos a dar-lhe cor.
Paul Gauguin, Siesta, 1894
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