sexta-feira, 1 de julho de 2022

de ser

querem saber o perfume que uso. ela anda há seis anos a querer saber o perfume que uso e agora as outras, que vão chegando, também. e todos os dias arranjam uma maneira, uma rasteira, para ver se eu digo. ridículas, ainda não perceberam que estão a milhas de me conseguirem enganar - e a anos luz de saberem do meu perfume e do meu cheiro e da minha pele. não troco de perfume, é o mesmo há trinta anos, assim como não troco de cheiro nem de pele - de me ser no que é essencial.

o ódio também nasce da inveja de ser.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

depois chorei, depois de ficar tão feliz chorei, adormeci a chorar e dormi a chorar e acordei em choro, em um pranto e sem forças, também - e nem vale a penas disfarçar, dizer que não sei porquê, porque sei. porque eu fui espreitar e carreguei no dói-dói que não sabia que doía tanto, passei a vida a ter ideias e a fracassar, a arranjar planos e estratégias para os outros, para tudo de todos, mangas arregaçadas e sempre a avançar, e entretanto abandonei-me ao azar da minha sorte e nem sequer sei como fazer para fazer o esquisso de planear. nem sequer sei como me recomeçar.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

gengibrado brigadeiro

 quando deixei cair mais um telemóvel novinho em folha na retrete, está sempre a acontecer, há-de ser a minha resistência às voltas com a tripa, houve uma vez que depois apanhei-o, lavei-o e metio-o em arroz, li na internet, enfim, quer dizer, encharquei-o ainda mais para depois o secar, matei-o com tanto mimo, bem visto, enfim, Olindices, como estava a dizer, perdi todas as fotografias que já tinha coleccionado desde o ano passado. havia uma que me era especialmente querida por conta de associá-la a um texto que fiz, uma visão, com o fundo de azulejos branquinhos, sensualíssima no sentir e no tocar. adoro-a e ainda um destes dias me pus a reconstrui-la na minha cabecinha de ventos e águas fortes, traço a traço, do que me lembrava. e agora, de repente, como um gengibrado brigadeiro, que é o que ele é, apareceu outra vez, capturei-a e lancei um feitiço no equipamento que também carrega o meu derriço

 oppo meu, oppo meu,

 a tua responsabilidade agora é a triplicar

 e se pensares na retrete

 hás-de segurar-te por mim

 que estou livre em cativeiro

 no meu gengibrado brigadeiro

e agora vou passar o dia a apreciar-lhe a geometria do pensar por debaixo dos olhos que me matam de sorrir, aparar-lhe as cinzas que saem pelos lábios da régua que quero sublinhar com os meus lápis de cor de amor: não me chega apenas sonhar, né rapá?

terça-feira, 28 de junho de 2022

não sei

cheguei a casa e o meu pai estava na cama. o meu pai nunca está na cama a não ser para dormir e anda sempre no laréu desde que se reformou: vai ao ginásio, vai caminhar, vai ao baile, vai namorar, vai escolher vinhos para ele, vai aos legumes e às frutas de acordo com a lista que lhe deixo sempre acompanhada de um billhete com um coração e beijinhos. ontem quando cheguei estava na cama. olho para ele e imediatamente lembro-me do teste que comprei para uma emergência, até agora nunca precisei de o usar, abro-o e fico a olhar para o teste como um burro para um palácio. tiro-lhe a febre e faço-lhe um pequeno questionário. já nervosa, nervosa porque o meu pai nunca está na cama, ligo ao meu irmão que me rejeita as chamadas duas vezes e recebo uma sms: irmã, é urgente? estou a dar treino até às 21:30h. respondo que sim. eu nunca digo ao meu irmão que é urgente e liga-me logo de seguida. com o coração que me salta para as mãos, digo que sim, que precisa de passar aqui para lhe fazer o teste porque há muitas coisas que sou trenga por opção e não quero mesmo saber fazer testes. desliguei o computador e fiquei a aguardar até às dez horas e depois eram aí umas dez e um quarto quando o teste disse que sim, que o meu pai está com COVID por cima da diabetes e do coração. também o meu está apertado de preocupação e não sei se vou conseguir estar lá estando cá, não sei se o COVID também me apanhou pela boleia do meu pai. não sei, só sei que nada sei.

domingo, 26 de junho de 2022

até hoje

não sabia explicar onde fui buscar a ideia de escrever algo horrendo assim. e estive a pensar no que a minha prima uma vez me contou, que a minha mãe fez inúmeros abortos antes de eu nascer e que o desejo deles era que eu fosse um menino e que se assim tivesse sido não teriam quatro filhos porque eu nasci no meio. eu fui um engano depois de vários afogamentos por ser, pensei, depois chorei para o mundo, os bebés choram precisamente porque saem do conforto para virem a este mundo, choram pois, alguns demoram a chorar, fazem procrastinação do chegar, penso, até levarem umas traulitadas para o choro vir. como estava a dizer, chorei para o mundo no dia de carnaval desse ano muito bonita e redondinha, dizem; ainda não andava e já me pirava com a regueifa na praia para trás de uma duna - queria ficar sozinha e em paz; depois comecei a andar no cinema passos manuel, talvez para fugir da multidão, e terá vindo daí a minha paixão pelos saltos altos atendendo à perspectiva do horizonte a gatinhar até me levantar em direcção à saída. depois, enquanto os meus irmãso pediam brinquedos no natal, eu pedia dicionários e mapas; depois quando todos da minha idade queriam ler uma aventura eu quis os esteiros e a severa. ainda depois, eu ficava a olhar a serra no parapeito da janela enquanto os outos brincavam na rua. talvez depois de ela ter morrido também eu a tenha matado, sim, por conta de me ter roubado a meninice: ela meteu-se em mim e nunca mais saiu. e eu fui eu e mais ela, mais sempre mais eu porque a ternura não lha conheci - inventei-a e juntei-a à minha. a minha ternura. agora sou só eu, matei-a outra vez, metia-a no seu lugar de minha mãe por ser, de ternura por fazer, de menina que deixou de cuidar. agora sou só eu. agora és só tu, Olinda, não precisas dela para nada.

 a ausência é um deserto.

sábado, 25 de junho de 2022

não deveria ser assim mas a falta que o computador me faz, a internet no computador. como se a ligação ao mundo, ao mundo que me interessa, a ele, dependesse de uma rede sem fios. porque se não fosse isso, era para o lado que dormia melhor, queria lá saber, não falta com o que me entreter. mas a questão é mesmo essa: não me é entretenimento, é-me portento. 

e depois tem sido um trinta e um para me conseguir ligar, até sinto orgulho de mim, trocas e baldrocas, engenhocas, carrego aqui e ali e além, irrito-me, depois inspiro e expiro, conto cabrões em vez de carneiros e lá dá, passo do telemóvel para aqui a putéfia da rede. é que não percebo mesmo nada disto, não sei como funciona e nem sequer quero saber. depois quando estou aflita arrependo-me por não querer saber mas são apenas uns breves segundos de arrependimento porque logo me dá a comichão. definitivamente não quero saber. só quero mesmo é que amanhã de manhã venham cá, como está marcado desde os foguetes monstruosos do santo joão, se tem jeito o santo a levar com foguetes, dos peidos fogem mas dos foguetes gostam, cambada de malucos, como estava a dizer que venham arranjar tudo. e depois posso novamente esquecer os botões do telemóvel e as procuras de redes e essas coisas chatas e horrendas e abomináveis.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

está dito e não arredo pé

apresentam-me ambiguidades atrás de ambiguidades como se eu fosse, e sou, a rainha da descodificação, ficam a aguardar que eu dê sinais de que percebi e que tenho de resolver somo se as coordenadas fossem, e são, afinal, de mim para mim e para o regalo deles que vêem o porco a engordar por conta do meu lutar. estou cansada e estou cansada e estou cansada. foda-se, penso amiúde, vão cagar ao monte e levar com urtigas no cu.

li não sem onde, escreveu não sei quem, não importa onde nem quem, importa que agarrei, como estava a dizer, li que a ambiguidade é que é o melhor - nem amanhecer nem escura noite, ambiguidade como o sol a pôr-se. quero, então, responder não sei a quem que está não sei onde que não será bem assim porque na vida está tudo ligadinho: há o amor, há o prazer e há o prazer do e no amor. a ambiguidade, quando passa dos limites, quando só se põe como o sol a encavalitar o mar para depois se desfazer, é intranquila e faz crescer dúvidas, dúvidas como ervas daninhas, no jardim das certezas que nunca são certezas certinhas. as certezas são bálsamos que apenas sentimos, nascem de dentro, podem ser bálsamos ou venenos perante o que só temos. obviamente. então é isso, meti-me a pensar nisso depois de me enervar lá onde o sol só se põe e não é para mim, lá será para os cabrões, homessa, para mim tem de ser a luz do meio dia mesmo quando amanhece e escurece, eu quero o prazer do e no amor apaixonadamente tranquilo. está dito e não arredo pé. 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

é muito simples

sou literária a pensar e a contar sem, no entanto, transformar. o que é o que é, não faço literatura. é muito simples, sou só eu.

terça-feira, 21 de junho de 2022

realmente como se fosse real

 bastou perceber que teria de se esforçar muito para a meter num lar imediatamente, nem tempo tive de me despedir e de lhe deixar uma brisa no rosto, sim, porque marcada de mim já ela estará para sempre. como as coisas são rápidas e simples quando são um peso pesado para alguns, penso, enquanto acelero na estrada para chegar onde já não tenho vontade de chegar. a noite foi dura: houve foguetes, aquele artifício nojento que os cães e que eu odeio, a acordarem-me com susto, o sangue que não pára de jorrar e a saudade do que nunca mexi. anda, dorme, adormece, amanhã é outro dia novo a estrear, viro para um lado, viro para outro, levanto-me, passo a pomada uma e outra vez, parece a assadura dos bebés que não passa e arde muito, desconforto, persianas que fecham mas não se apagam, cérebro a mil, carros que passam sem pantufinhas de lã, deve estar a chover porque os pneus caem nas poças, senão não ouvia o grosso chapinhar, gatos vadios, ou com o cio, parecem crianças a chorar, essa é uma razão porque não lhes aprecio a companhia, depois uma campainha a tocar ininterruptamente, mas o que é isto, o mundo inteiro a azucrinar-me o sono, o riso e o amor, vou fazer queixa ao kundera depois de contar tudo ao do meu derriço, conchinha não há, calam-se os cabrões dos gatos finalmente, ou as poças secaram ou os carros deixaram de passar, o meu sangue continua a correr e talvez a pimenta no rabo seja agora açúcar. adormeci, sono que se esticou como um elástico, se calhar foi o que está a aguardar a saia, !ah!, e acordei realmente em beijo de derriço como se fosse real, abraço a almofada e deixo-me escorregar até à banheira para me levantar. bom dia, Olinda, chegou ao seu destino: tem meia hora para entrar na realidade fantástica e travar a batalha de alljubasrotas do dia. até já.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

poesia

às vezes canso-me. às vezes penso: hoje não vou fazer do dia poesia e fico a observar e canso-me também. porque se eu não fizer do dia poesia, alguma coisa tem de ser poesia, o dia não é dia. fica uma página em branco, sem nada a registar. porque o mundo está cheio de gente descontente que nada tem para acrescentar, faz-me confusão, gente que vive por fora. aquela também estava a querer esticar a corda comigo, não sei bem por que razão as pessoas pensam que podem esticar a corda, deveriam pensar ao contrário: então se é paciente e tolerante e perseverante, mais uma razão para considerar e respeitar em triplo. mas não, fazem ao contrário, ela estava a querer que hoje fosse eu a lá ir cuidar da tia antes de ir trabalhar. então esticou a corda. tenho reparado que usa as mesmas calças desde segunda-feira e o tempo que lá tem estado, deve andar com medo que alguém faça queixa dela por não cuidar da velhinha doente, em vez de limpar e arejar a casa, de lavar e aprumar a tia, fica no telemóvel só a fazer corpo presente. depois gaba-se de ter muito trabalho porque é professora e que não tem tempo. ora o tempo também se faz tanto quanto se desfaz, haja vontade e da boa. vai daí, ignorei toda a sua conversa, disse-lhe explicitamente que não, e saí de lá a ouvi-la dizer que vem às sete da manhã antes de ir para a escola. excelente. é porque ando há mais de seis anos a injectar poesia na casa da sua tia, pensei, quantas vezes lhe liguei aflita e não atendeu. sms: estou num concerto e amanhã ligo. cabra. estou rodeada de cabras e de cabras badalhocas que andam com as mesmas calças mais de uma semana seguida, quer dizer, o que é isto, aquelas calças devem cheirar a bacalhau além de serem altamente reveladoras da monotonia dela. como é que alguém que é mulher consegue pegar nas mesmas calças todos os dias sem se cansar? olha, menina, da mesma forma que todos os dias durante estes anos todos olhava para a tia ao longe sem se mexer. tem estômago de glaciar, só pode. tenho de me controlar. porque se hoje aparece outra vez com as mesmas calças será o cúmulo da repetição que gera a narrativa de desleixo e de desapego, tenho de agarrar na minha língua e segurá-la bem como se faz com o peixe que escorrega enquanto se está a amanhar. que remédio. e o melhor remédio é, pois, fazer uma poesia: transformei um vestido antigo em uma saia, falta acrescentar um forro para inibir a transparência e fazer a cintura elástica para ficar um regalo. depois a saia, feita de poesia, em poesia se tornará sempre que a passear no dia, em um dia qualquer.

domingo, 19 de junho de 2022

sangue, lágrimas e suor

ia começar a ver o filme, feliz pelo reencontro, tão feliz, não era muito extenso e poderia acertar com os afazeres, quando como se a tivesse ouvido sem ouvir, porque seria impossível, fica do outro lado da rua, quem me dera ter ouvidos de cadela mas não tenho ou se tenho desconheço, talvez tenha, afinal, como estava a dizer, levanto-me e visto uma camisola de alças e pego em um vestido fresco de andar em casa para meter em cima da camisola, como se a camisola fosse - e é - um substituto do soutien sem ser, por ser, por ser porque em nada lhe cumpre com as mesmas funções, a camisola de alças apenas mete o soutien no sítio dele que é na gaveta, se eu pudesse todos os dias o soutien vivia na gaveta mas não pode ser, uma das funções do pedaço de tecido é evitar que se notem saliências. adiante. 

pego no telemóvel e na chave, volto já, digo, vou ali à Dona N.. ainda estou a meter a chave na porta quando começo a ouvir os seus gritos como se estivesse a rezar, jesus, meu jesus, jesus meu jesus, vejo-a na cama sem se conseguir mexer. sou eu, Dona N., digo enquanto já me sinto em tremor de carne, nervos em preguinhas de susto, abraço-a e percebo que não consegue levantar-se sozinha, chama-me anjo da guarda e demora uns minutos para me associar ao nome. levo-a até à casa de banho que fica no extremo da casa, barafusto, se tem algum jeito dividirem a casa assim, e também penso mas não digo na miséria que é a sobrinha ainda não ter chegado aonde não deveria de ter saído, deveria dormir lá enquanto não há outra maneira. demora uma eternidade para conseguir fazer descer a urina aguentada tantas horas e ainda tremo mais. depois vou abrir a janela e ponho a água ao lume para lhe fazer o chá para a primeira refeição enquanto lhe separo as pastilhas. jesus, meus jesus, jesus, meu jesus, continuo a ouvir e a tremer-me toda. penso que a continuar nervosa assim com tantas coisas dos outros que vêm ter a mim não tardará o meu sangue descer outra vez e talvez outra no mesmo mês como se o meu sangue fosse, e é, a minha maior reacção juntamente com as lágrimas e o suor. naquela altura já estava encharcada em suor só de estar a arranjar uma forma de a levantar para a fazer chegar à cozinha e as lágrimas tive de as aguentar até bem mais tarde. entretanto chega a sobrinha para lhe dar o pequeno almoço eram quase onze da manhã. que tristeza, já estava, pois claro que já estava, eu ouvi-a sem a ter ouvido e tremi o que não deveria tremer e, sim, o sangue que deveria estar sossegadinho voltou a descer. já não bastava o monte de gente reles do pão, a dor de ouvidos, o dente, e o maldito antibiótico do tamanho de um ovo de codorniz que me fez rebentar o rabinho por durante oito dias o engolir. porque os nervos perante as injustiças rebentam-me toda.

sábado, 18 de junho de 2022

Olinda no país das maravilhas

assim que eu pude escolher como queria, rodeei-me de espelhos, quanto mais peculiares melhor, molduras em relevo de rosas, laços e lacinhos nos cantos, outros velhos com manchas do tempo, outros com tecido esponjoso que pintei de dourado. tenho um que pendurei brilhantes na madeira acabada de alterar, de preto o fiz pérola, e outro que é um sol. depois há um pequenino com bolinhas coladas em redor e aquele com talha dourada e colada que apanhei ao pé do lixo quando ía a passar: recuperei-o só para mim. e muitos mais. mas nunca tinha percebido bem de onde vinha esta paixão, a de ter um espelho sempre à mão e ao lado e por cima como se fosse o meu pé.

epifania, !ai!, que depois de apreciar as flores que me deu, tenho a mania de as cheirar como minhas, sai-me de rajada que se elas forem espelhos de nós nunca estamos sós. e é isso, querida Olinda, o segredo é estarmos rodeados de flores que nos enchem o coração.







sexta-feira, 17 de junho de 2022

o sofá do conforto dos outros

o livrinho escuro tinha chagado na quarta, fui buscá-lo aos CTT, e li-o ontem de manhã cedo em uma assentada. nada de novo, portanto, até me parece, pelo conceito, um pastiche da parte escura do livro do Rei - mas só da parte escura e não como um todo e muito menos pela parte que me reiluminou assim que o li: o brilho ultra-romântico.

como estava a dizer, li-o em uma assentada e penso nas cinco estrelas por tanto que já conheço: do particular para o universal só vai quem conta os tiros no escuro. ora eu divirto-me imenso com os escuros e os tiros dos outros, é verdade, por saber que é mesmo assim, palhaços com uma bola no nariz e uma cenoura no cu, cornos, desmesuradas irresponsabilidades, vícios, porcarias, enfim, erros justificáveis por conta de se ser humano porque ser humano é ser um erro feito de muitos erros. e depois a lengalenga literária de que é o escuro que nos faz vivos e aptos a desenvolvermos a nossa actividade vivencial, e tal, uma espécie de ficha de aptidão, que sem escuro não há vida e que andamos aqui mesmo só para nos fodermos uns aos outros e o resto é paisagem. 

então e onde é que eu fico no meio disto tudo, penso amiúde, olha fico a divertir-me com os erros da literatura sobre os erros da humanidade em geral e que não são, nunca foram e nunca serão, os meus em particular. porque eu não posso confessar o que não há, o que não me há porque não houve. e depois vem o choradinho do abandono e da punição porque há sempre alguém que no meio da podridão - a podridão que é normal nos podres porque ser podre é ser humano - dá de frosques. ora o meu escuro é pegar na faca ou na caçadeira e foder as ventas aos escuros que escurecem a vida dos outros; fodo-lhes as ventas até aos ossos e isso é-me irremediavelmente certinho.

mas o que me deixa triste no meio da palhaçada dos outros que me diverte na realidade da literatura é perceber claramente, na realidade fantástica, que estes são incapazes de perceber que é a claridade que me ilumina. e continuam, afincadamente, a escarafunchar o escuro deles próprios. é o sofá do conforto.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

talvez. talvez.

 e se o tempo, o tempo que se faz sol e chuva e vento e trovão, for meu súbdito? de repente, tudo é de repente, o calor abrasador derrete-se em vendaval e pingos grossos de se fazerem notar como quem diz, e diz, estou aqui, e depois o vento apressado assobia e espalha-se como que diz, e diz, não estou a assobiar para o lado e depois carrega-se em si para chegar a ela, chuva, e a chuva chove-se, passa de trote a galope misturada com o trovão da ordem como quem solta uma gargalhada possante como quem diz, e diz, quem manda aqui no reino do tempo sou eu, e fá-lo de forma estridente como quem pega no tridente depois de ouvir o eco és, és. então a rainha do tempo sabe que com o calor abrasador algo está para estourar, é ela que não tarda vai morrer, tal e qual como quando foi com o calor da filha, também morreu depois de eu tanto a socorrer, valeu a pena socorrê-la, morreu com mais doçura, talvez, talvez tenha morrido arrependida de nunca ter socorrido ninguém, e agora morre a mãe já a roçar-se nos noventa e em mim, eu que pareço já ter cem, choro-a com o vento que assobia e depois sinto os pingos grossos que me avisam da frescura que há-de vir para me continuar a acalmar também lá onde teimam em me humilhar, nada mais a fazer, o meu açucar não se pode enervar e então o vendaval começa a tocar, concerto que é para mim com o vocalista trovão a abanar-me toda: minha rainha ou ficas ou sais, pensa bem, porque se sais talvez possas perder mais, depois terás a punição, pensa no teu pai e no incansável sermão, não queiras depender dele, não, e então o trovão solta a gargalhada estridente para cessar o meu cansaço pela exaustão, cenário de guerra no ar, tantos a morrrer e outros tantos por matar, tudo entra em mim. pára tudo, ordeno, quero gotinhas ping ping,ping, brisa em pé de dança, sono bom. amanhã é outro dia e outros mais tranquilos se seguirão. talvez. talvez.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

conicha triste e treinador azeiteiro

 todas as madrugadas tem sido isto, é assim, páram o carro mesmo aqui à porta, ficam na conversa com o motor ligado e a música ácida a dar nas alturas e depois ele saca um pião como se o pião fosse, e é, a sua virilidade em exibição. são dois cabrões, portanto. ela, em vez de cuidar da filha que teve com outro azeiteiro não vai muito tempo, vai, noite dentro, treinar a conicha e ele, que não é daqui, é o treinador acelera de conichas tristes. mas o mais engraçado é que os vizinhos é que se fodem, pois claro, não uma vizinha como eu que acorda cedo, os vizinhos que precisam de descansar com sossego e para quem a madrugada ainda é meio do sono. um dia destes armo-lhes a tenda. ando aqui a pensar ao sol em uma ratoeira de descasca pessegueiro para os lixar. badalhocos.

terça-feira, 14 de junho de 2022

quebras e quedas e jindungo a correr para o abraço

 uma quebra de energia pode ser uma queda. faço tudo a correr para chegar o mais cedo possível depois do almoço, muita vontade de receber o que tem para me dar, chego a pingar, o calor quase me mata: odeio-o, odeio o calor, e tudo se desfaz: não há luz, não há ar condicionado e depois não há servidor, e depois de algumas horas dizem-me que posso ir embora a faltar meia hora do fim, do fim que é sempre o início do dia seguinte, o fim de ontem é o começo de hoje. acho estranho não me abrir a porta, apesar de ter a chave, mas não forço porque recuo e vejo as persianas fechadas. não, não vai ser hoje que o que todos os dias me diz se vai dar, não vou encontrá-la morta em uma poça de sangue logo na entrada. desvio o pensamento e faço tudo com calma e com tempo, o que uma simples meia hora a mais me faz, tão bom, que bem que sabe, consigo recolher-me mais cedo para me consolar. entretanto ligo e a sobrinha dá-me a notícia de que teve outra queda, uma queda por cima de outras quedas e por debaixo de tantas outras que nunca deu mas só desejou dar. entristeço e penso em um plano para amanhã, hoje, conseguir animá-la à distância de um telefonema e, no fim do dia, orientar-lhe a nova medicação que ainda desconheço. se ao menos me deixasse, permitindo-se, dar-lhe música. não se permite e eu não ando aqui para convencer os outros do que quer que seja. não quer, não quer.

volto-me para mim e para o meu final de dia feliz já a pensar no amanhecer que virá, certamente. porque uma quebra de energia não pode ser uma queda, não pode ser porque eu não deixo e não quero que seja. eu estou no meu comando. e rio-me só de ler de raspão a notícia que pisca na lateral direita mais ou menos assim: trocar o lixo nos contentores por mensagens picantes. ora sem fazer a mais pálida ideia do que se trata, ainda sem fazer a mais pálida ideia, vejo logo um punhado de jindungos frescos e arrebitados a fazerem uma serenata às cascas de cebola e às espinhas de um robalo absolutamente despido. e rio-me antes de lhe ir dizer que estou viva por abraçá-lo.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

 a guerra provoca-me diarreia, seja ela qual for, diarreia e pesadelos e 

como eu queria ter uma paz de bolso branquinha

para amiúde sacar dela

e atingi-los bem lá no peito

por conta de ser no fundo do peito

que nasce a nascente

da água

domingo, 12 de junho de 2022

escrevo como se ninguém me lesse

 isso, escrevo como se ninguém me lesse. esta espécie de ritual que antes era no papel, o original, de repente passou para aqui - uma janela que se abre para a outra janela, parece-me interessante que o de repente, o instante, fique registado assim, !ai! de mim, como se a baínha a descoser, tão linda, ficam as linhinhas soltas e marcadas até que nunca acabem as alvoradas. e penso no que é ser sacrificial neste jeitinho de ser, trrimtrrim, já não vais fazer a sesta, irmã preciso de ti, tragédia descomunal e o menino viu e ouviu e está mal.

arrependo-me assim que cheguei. pensei em alguma desgraça, um acudam que há inundação, terramoto ou coisa e tal mas afinal não. afinal foi mais uma cena conjugal, enfim, e deixei-me de me descansar, pobre de mim, penso já no fim, pelo menos fico mais descansada porque fui e já não estou tão pesada - ou se calhar agora é que fiquei com mais uma bagagem de preocupação, carregar as dores do mundo não é fácil, uma peregrina corcunda com a perninha a andar e a dar é uma rica imagem, não está mal.

escrevo como se ninguém me lesse, é verdade. assim como é verdade que escrevo por querer tanto que me entenda já que o carrego, noite e dia, no meu peito e na minha cabecinha de cristal, posso dizer estas coisas aqui e assim porque não há como ficar sem jeito. varre-se-me, sempre se me varreu, a timidez de lhe contar tudo; de contar, meu amor.



hoje não me apetece título

e passam-me mil e uma coisas pela cabeça enquanto preparo os filetes, digo filetes como poderia dizer a carne assada ou a feijoada ou  a salada russa, como estava a dizer, fiz dos filetes a minha eleição, aquele carinho com que os escolho e parto aos rectângulos e depois meto-lhes sal e muito limão, ficam a descansar, já se sabe, sabem que servem para me agradar, e depois seco-os, ficam enxutos, e faço-os rolar na farinha milha amarelinha, parece que chegaram à areia fina e dourada, para logo a seguir conhecerem o sol dos ovos batidos, enrolam-se ali nos dois, bem à minha frente, enquanto o óleo fica quente e vão a mergulhar, vira para cá, vira para lá, dançam na espuma do ovo que se solta, talvez sejam as borbulhas de satisfação, até com jeitinho eu os apanhar e metê-los na bonita travessa, à espreita, decorados com a verde salsinha e em rodelas o limão e a laranja, contrastes que casam bem.

como estava a dizer, enquanto os sabores se enrolam, passa-me mil e uma coisas pela cabeça: penso no que no dia de ontem me ficou e no que hoje me traz e penso também no que não penso quando penso no que estará por vir. porque o futuro não existe e o passado só já existiu, putinha que o pariu, pimenta na língua para si, refila-me o filete com esgar de bacalhau com todos. o que me importa pensar é no presente, o hoje com nome de prenda por motivo sábio e professor: o presente é o dia a acordar com o filete fresquinho a que tenho de dar, com tudo o que me faz ser, cor e sabor.

sábado, 11 de junho de 2022

clarão

 


é de veludo a perfeição

como o sonho

vida na mão

da planta no pé

porcelana minha

clarão

sexta-feira, 10 de junho de 2022

e se Camões pudesse mostrar

 aprendi há muito tempo a não me deixar vencer, a prevalecer em mim independentemente dos malucos que vou encontrando, o mundo é um palco de gente doida, e que pensarão que me podem derrubar. às vezes é duro e difícil: como enfrentar sozinha tantos monstros a quererem cortar-me a cabeça e furar-me o coração? então eu faço como sempre fiz, desligo-me da confusão, bebo-me toda, sei o que mereço: mereço que todas as noites a fadinhas dancem à minha volta e façam um anel de flores para afastar os horrores; mereço o de todos, os melhores e maiores amores, o amorzão; mereço piqueniques e música em grama fresca; mereço beijos e besos e até mereço que o Camões grite por mim em cuecas cheiinho de saudades e que diga ao mundo, coragem sem perder a vista, que se pudesse mostrar trazia a confirmação enroladinha em um pregaminho onde se assoava, de quando em vez, por conta de se emocionar, como estava a dizer, trazia a confirmação de que  eu sou a rainha do reino dos mares e das montanhas e das trevas e do vulcão. 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

o que fala mais alto

 de repente, de repente porque ando sempre a leste das cusquices que envolvem os patrões, fiquei a saber que tinha sido tudo vendido e que agora eramos só nós e o filho que não tardou a aparecer e a fazer-se notar. empreendedor, inteligência afiada, sem papas na língua nem ovos por debaixo dos braços, traçou a linha onde me lambuzei: agora sim, agora vai-se acabar a invasão e os boicotes. sobresforço, mais três meses de sobresforço e a linha começou a declinar, a ficar enrugada e esbatida, chega a notícia, chega a notícia porque a percebi, apreciei-a no ar como faço com as moscas silenciosas que, não se ouvindo, pressinto, fico confusa, fico confusa quando não decifro imediatamente o que não me é explicitamente mostrado, vejo o que está para vir sem ter a certeza absoluta do que está para vir sabendo que está para vir. e é nesse espaço de tempo, enquanto o decifrar se faz sem eu procurar fazê-lo, que o meu corpo vai falando. escuto-o e depois, então, os sinos tocam, chega um carteiro em forma de confirmação, um carteiro que pode ser uma palavra ou um gesto ou uma reacção inesperadamente esperada.

e o que fala mais alto é, afinal, o costume: deixar que ela mande, não se importar, sabendo que estou lá para cuidar e alertar e fazer o dinheiro entrar. estou cansada de não ser cuidada, só de cuidar. até quando deixarei que me usem a trabalhar, e se fizer as malas consigo aguentar o possível deserto que já conheço e que nunca esqueço?

quarta-feira, 8 de junho de 2022

valha-me o riso

 percebi tudinho diferente. onde seria para tentar fazer igual, percebi um desafio de encontrar diferente. será isto que leva os outros a considerarem-me arrogante? estava longe de pensar fazer algo tão difícil, de superar uma coisa que certamente envolve muito tempo e dedicação, e só vi uma espécie de desafio adaptado ao meu cérebro: encontra aqui mais seis como este diferentes destes. então encontrei mais oito mal me pus a observar, a minha alegria de ver bichos e homens e monstros e até uma flor. depois chega a notícia, não era nada disso, tinhas de tentar fazer igual, tentar pensar na lógica para descobrir o que já lá está, menina.

valha-me o riso, o meu querido auto-riso, que me salva, o meu prémio de consolação, vá não fiques triste, viste o que não era para ver e divertiste-te, ficaste feliz e também percebeste que afinal tens sempre de inventar.

terça-feira, 7 de junho de 2022

trenguinha dos canaviais

 às vezes fico muito confusa. teria de ter tempo para ler todos os livros de uma acentada para cruzar tudo com os detalhes das vozes que inventa e da voz-mor que o sustenta. não tenho esse tempo. mas tenho a vontade de não desistir. essa vontade nasceu um dia e continua a nascer, é um mistério, talvez o desejo que também é o amor seja um mistério; tudo recomeçou assim anos depois - o braço de ferro entre ele que se fez desejo como litoral e eu, que nunca deixei o desejo como o interior para chegar, finalmente, ao litoral. quando vi o litoral e os juntei, qual maravilha por inventar, tive a certeza de que tudo estava no certo lugar: o tal lugar que eu sempre vi só porque senti. eu sinto coisas, serão as fadinhas que me vigiam e alentam.

não posso dizer que correu mal. mas de tudo o que já vi, e vou vendo, onde vai buscar tantos corpos digitais, serão nados-mortos?, pergunto-me eu que sou a trenguinha dos canaviais. 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

simplesmente o melhor, breve apontamento

 é o melhor contador de histórias do universo, assim pude perceber quando o li e percebi muito mais e melhor quando o reconheci, quando me mostrou que a história vinha já de longe, do sítio onde só o coração vê ainda que o canal seja a razão. nessa altura, lá longe, eu apenas sentia, pelo que lia, tratar-se de uma mente brilhante, genial, fora do convencional, que se escondia com pesar e apesar, só não sabia porquê, soube depois, quando finalmente me convidou a entrar, a lê-lo de uma assentada sem nunca ter ficado molhada - não pelo ódio - mas sim pela narrativa de amor, aquela brisa incondicional rara que seria o oposto do recebido sem nunca o ter vivido. nessa altura nem me passava pela cabeça ser o mesmo do outono do ano prometido que nunca aconteceu, aquele com quem sempre sonhei e de quem desliguei para o meu bem, depois de conseguir, finalmente, arranjar quem me desse a cana para eu pescar sem, no entanto, poder relaxar. lia tudo, todos os dias, com devoção como se transparente fosse porque transparente me sentia por ser transparente a forma como mostrou que me via e que não me queria.

seguiram-se tempos de problemas e aflições,

cansaços e torturas no emprego da cana para pescar o pão,

e na família onde eu era sempre a mãe e a avó, a escrava e o condão

nem tempo nem vontade de aqui usar a mão. 

como se desistisse de mim, de me contar nestas costas direitinhas que nunca hão-de mudar e que ninguém quer acreditar como são. talvez sejam raras, sim, e custa, por onde passam, serem testadas até à exaustão. nada temo, tudo comprendo.

mas como estava e continuarei a dizer é o melhor contador de histórias, mesmo quando são as histórias dos outros, do universo. 

obrigada, universo, por me dares tréguas e água fresca.


domingo, 5 de junho de 2022

pescadinha de rabo no somítico

 levei-lhe uma fatia de bolo de farinha integral, sem açúcar e sem sal, muito sabor a limão, acabadinho de fazer. talvez quisesse, como sempre quero, fazer-lhe a alegria acontecer por dentro daquelas paredes por caiar, esqueleto frágil que vai cedendo à negritude do pensar, pensar negro talvez seja como um dom. ou então será o início da criação de um ódio de estimação, como nos diz o Per, que terá nascido lá no início enquanto era tenrinha. se calhar ela era tenrinha quando começou a absorver o pecado, ou castigo, será a mesma coisa, do somítico.

estou para aqui nesta solidão, cheia de dores na perna, o reumatismo não me larga, aqui estou abandonada, abandonada não, pelo menos não por mim. já viu como tenho a bochecha inchada por conta do ouvido, estou aqui e trago-lhe bolinho bom para se esquecer da dor. sabe bem que se se distraír não se lembra que dói, essa dor acaba por ser uma invenção tal e qual como a sua solidão. não diga isso que estou nesta solidão, abandonada, não está não, vai ver que no centro de dia tudo será diferente e vou finalmente ter o seu olhar contente cada vez que entrar pela porta. mas eu não quero ir, quero ficar na minha casa e assim não pago um dinheirão.

pois, pescadinha de rabo no somítico, quer ficar na solidão. e ter-me sempre à mão.

sábado, 4 de junho de 2022

quando eu morrer um dia

ou dois ou três

ou todos os dias

vejo-me sempre a viver

deixo-te o meu botão

encarnado e rosado

palpitante e louco

a descompasso de tu

tu tu tu tu tutututututututut tu tu

botão que entra e sai da casinha

delicadamente alinhavada

linha em ponto de ziguezague

branquinha e fininha

como só a casinha do botão pode ser

para o meu botão caber

casinha larga, largueza de ser

porque no meu botão saltitante

que o universo me deu

qual mãe qual pai

cabe lá ele todinho

é o botão de tu mais eu

 

deixa ver se ainda me lembro, querido diário,

 de usar o blogue. inexplicavelmente depois de meter o pão a fazer e a máquina a lavar, depois de ter beijado as flores dele, as flores são de toda a gente mas são só de alguém, de outra forma seriam todas iguais, como estava a dizer, depois de as beijar uma e outra vez até me dizerem para parar, podes largar agora um pedacinho, menina, deixa-nos descansar dessa doçura picante por um instante, não leves a mal, está bem, refilo e ponho-me a andar, inexplicavelmente, como estava a dizer, lembro-me do meu diário de bordo que ficou paradinho entretanto, sei lá, deixou de me apetecer, talvez tenha sido o trabalho do cansaço que não o deixou prevalecer, deixei que quem não me bem quer tapasse o brilho de escrever para ti. 

querido diário,

penso em voltar para os teus braços grandes e quentes depois de tanto tempo longe de mim aqui, não fiques confuso ou fica se te apetecer, talvez a vida lá fora me tenha agarrado pelo cachaço, anda cá sua cadela, agora vais ter o que é bom para a tosse, vais experimentar viver como se nada fosse, vais amargar, vais conhecer gentes distantes de poesia e conversas de tretas e terás muito lixo para limpar, anda, larga disso de contar. e como um novelo de lã, de lá, deixei de parar por cá, ninho meu dos meus dias que me desafias. não te vejo zangar e sorrio por entre uma lágrima que verto e outra que se segura ao ver uma outra pular. vá, está tudo bem, eu estou aqui sempre para ti porque tu és e serás a minha prioridade, o meu amor. ouço e sossego, recebo o abraço e o beijo como só pode ser: com a ternura mais terna de um sim, si, s, 

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

voltar

e se a vida nos enviar um lembrete de que temos de voltar? voltar porque sim; voltar como quem dorme e sempre tem de acordar; voltar por sentir - por deixar de resistir.

voltar como o dia que nasce, sem saudade e sem ansiedade, sempre novo. de novo. voltar.

domingo, 11 de dezembro de 2016

virrer

feliz. feliz com a morte dela que aí vem não tarda. que seja já hoje, queria que fosse mesmo agora mas aguardo que uns sininhos toquem. descobrir a felicidade no meio da tristeza é maravilhoso - descobrir que há vida para além da morte. morre, minha querida, morre depressa em sopro de contramão que não mereces virrer.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ando eu aqui, ai!
por entre as esponjinhas da chuva
a saber de não saber como quem sabe
por que raios e coriscos ser deste jeito
ver a vida como excesso de uva
é mesmo esforçar o dobro para ter a metade

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

ao obscurantismo

e se Camões sonhasse, um dia, com o obscurantismo da humanidade diria assim:

aos amalucados, a glória vã
ai! que pensamentos meus tristes
diz-me tu mar salgado do globo
que és rio doce e qu'existes
prefiro os olhos sós
e as palavras da garganta cortadas
mão, pés, fanados membros,
almas rasgadas
do que viver o que digo como vivido
lá longe na bengala do tempo,
tantae molis erat,
sequer quero pensar
sai má fortuna!, escafede-te!
mata-me a ideia de Trumpar



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

e se me perguntam se quero doçura ou travessura respondo, como só pode ser, travoçura.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Outom

verdes, tantos
, amarelos
rosas, vermelhos, corados
, enfim, marrom.
ai! que engano! de Outono!
quando tinha mesmo de ser Outom

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

os peidos fazem parte da vida

é, por isso, inconcebível viver sem eles. bem visto, os peidos estão para o profano como a fé está para o sagrado: energia invisível em movimento, alívio amiúde, esperança perseverante - e interrupta - em um caminhar melhor.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

vazio

anda sempre tudo ao contrário, pensamento risonho, tudo não e ainda bem, que tudo é o espaço mais vazio que conheço.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

lágrimitas

já não vejo a sua senhora há muito tempo - está melhor? oh! menina! ela nunca mais saiu de casa, anda corcunda, tenho a certeza de que é um tique. mas ela não está doente da coluna? só se for doente para mim, não vejo pingo de amizade, só existe para a besta do filho. às seis da manhã lá está ela a lavar a roupa dele no tanque - e eu, se quero roupa fresca tenho de ser eu a tratar dela. já tenho oitenta anos. e ela não? sim, até tem mais mas se faz tudo ao filho porque não me faz a mim também? a mim, que gastei mais de metade da minha vida com ela, uma mulher sem instrução, eu que tinha tantas fidalgas atrás de mim! menina, montaram-me uma cilada. uma cilada? (espera mais um pouco, Valquíria, já vamos continuar o passeio) sim, menina, sei lá eu se o meu filho é meu ou filho do padre. eram os anos sessenta e eu dei umas voltas com ela. depois apareceu grávida e lá tive de casar. fiz-lhe um favor estes anos todos, ela nunca teve classe para mim. e agora sou eu e a cadelita, tenho de fazer tudo em casa e ela só vive para o marmanjão do filho, o filho que se calhar nem meu é - aquilo é uma besta, menina. ouça, e a senhora não estará, com essas atitudes que me diz que tem, com indícios de demência? mas isso queria eu saber, menina! queria levá-la ao magalhães lemos e interná-la. e depois a besta, que pode ser meu filho ou do padre, que ficasse lá também. tem de ter calma, calma e paciência porque já tem oitenta e a esta altura nem sequer lhe adianta pensar nisso. mas eu não páro de pensar nisso, menina! e se a besta for mesmo filho do padre? precisamente: agora nunca vai saber e já viveu muito mais de metade da sua vida. agora tem de descansar e ficar tranquilo.

as lágrimas que lhe escorriam, teimosas e espevitadas, não eram pela suspeita de não ser pai da besta. as lágrimitas, uma palavra nova meia hispano-dramática que me saiu mesmo agora, para nada de novo, eram, são, o suor da solidão.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

novidade estranha. entranhará?

prometi hoje aos meus colegas de trabalho uma crónica sobre homens e mulheres, vulga guerra dos sexos. decido, entretanto, acrescentar a bonança dos sexos ao mote. mas isso fica para depois porque, em boa verdade, apetece-me discorrer de forma selvagem sobre as guerras do Homem. nem sei bem se faça juízos de valor - não sobre o valor do Bob Dylan - sobre o prémio, o melhor prémio, da literatura. não é de descurar a prosa poética que se trata. trata-se, isso sim, de percebê-la ao milímetro do som. por que raios e coriscos um génio da música, música acrescida de letras - uma espécie de alquimia perfeita por dentro da irreverência, ingerência e (im)pertinência completamente imperfeita - é feito galo da literatura?

percebo. faço por isso. aceito. fico feliz, sim, de ver uma união verdadeiramente perfeita - a das letras com música - ser aclamada. mas precisava de ser assim, a kind of mestre literário, o homem que revolucionou a música lá atrás bem no início da sua já longa vida? o homem não nasceu para escrever, o homem nasceu para criar música, aquela linguagem universal cujas letras apenas acrescentam pitada de magia.

do outro lado lá está ela: a alma das letras que se fazem palavras, a coisa de aquela música sem aquela letra não ser mesmo a mesma coisa. serão todos suspeitos, claro, os que se desgraçam nas letras. voltando à vaca fria: e por que não ofertar um prémio literário a um homem que transpira música quando toda a música tem em si mesma, sem encerrar, uma narrativa? não me parece bem nem mal. antes parece (me), e é, uma novidade estranha que, pelo menos, nos está a dar música.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Vivalder um ano e pico depois

de repente a gana de voltar como se voltar fosse, é é, muito mais do que um verbo, dar a volta e recomeçar. e se o eterno retorno não for mais do que um sereno voltar? a coisa simplificada resume-se ao passar pelas quatro estações, enfrentar a chuva fresca e o sol abrasador e o vento cortante e - que manta de vinil natural! - o nevoeiro. e depois, por dentro da simplicidade, há o complexo mundo das alegrias e das desgraças e das esperanças e das derradeiras dores. é a vida, ouço amiúde, são vidas.

e decide-se voltar a pisar, com a simples naturalidade de Vivaldi, a complexidade do mundo das quatro estações.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

a urina, um carinho

dizem os mais antigos cá na rua que andava por cá há mais de vinte anos. não me lembro dele antes de daqui sair para viver e conheci-o há cerca de três anos e meio quando para aqui regressei. no olhar tinha doce, nos passos a sabedoria de um velho - de um cão velho. seguia-nos para todo o lado mesmo com o tesão já afrouxado e limitava-se a lamber a urina dela. um carinho. e ela, desafiando-o, não o deixava tocar-lhe mas sentia-lhe a falta sempre que dando meia volta ele voltava para trás e não finalizava o passeio connosco. 

na segunda feira adivinhei-lhe a morte quando também ele sabia que ia morrer. vi a puta da morte nos seus olhos e vi-a também no seu desapego pelos humanos e no passear das lembranças enquanto vagueava no campo feliz onde cresceu, virou moço e depois homem e depois velho. disse ao meu pai: o cão está a morrer, tenho a certeza. não acreditou. ontem morreu ainda a manhã ia a meio e já sinto a sua falta. era um silêncio calmo e meigo apesar de distante. era o silêncio de um cão velho. porque os velhos que não são cães não são silêncio bom.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

tanta vez eu penso em ti, Frida, ingenuidade e folclore em bicos de surrealismo que era, afinal, a tua vida real.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

o mistério não está na morte

em uma espécie de universos paralelos, existimos. cruzamo-nos com este e com aquele - aqui ou acolá. depois trocamos palavras ou sorrisos ou silêncios. toleramos ou aguentamos ou resistimos ou fruímos. choramos ou rimos ou não sentimos. isto tudo, tão pouco, para dizer que há sempre outro dia - o dia que aí vem ainda limpinho e sem linhas. porque os dias são sempre em branco por mais que os agendemos no anterior. e isso é, sem dúvida, a maior beleza da vida.

viver é, já não tenho dúvidas - nem dívidas -, sentir os dias envoltos em mistério.

domingo, 21 de junho de 2015

entristece. entristece perceber que perante a escolha acertada em liberdade as pessoas preferem as regras impostas. e isso nota-se claramente em uma simples acção de formação. mas é assim também na vida: o chicote, ai! o chicote!, é o eleito porque simplesmente saber viver em liberdade parece ser difícil. muito. que tristeza.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

cretinos: coisa leve

quer dizer, lemos e lembramos - é também para isso que servem as leituras. levam-nos para longe ou para perto e também para tempos do incerto, o tempo sem tempo carregado de imagens ora nítidas ora que tremem sem descuido. e se a lembrança tem cheiros e cores, a grande maravilha do cérebro, também nos dá o prazer da amargura: prazer porque tê-la é um privilégio e amargura por conta do outro lado do doce sem a qual, a amargura, se torna impossível conhecê-lo. conhecer o doce.

e lembramos. lembramos daquele detalhe que nem sabíamos não ter esquecido. às vezes é um esgar e outras vezes trata-se de um andar. marcou, isso é mais do que certo, quanto mais não seja o chão se se tratou de uma grande patada. e tudo porque acabei de ler um texto sobre crápulas. gostava de lhes chamar cretinos mas, bem visto, os crápulas vão muito mais além e um cretino à beira de um crápula é um menino que canta no coro da igreja da paróquia.

cretinóide, pá, ficas a saber que até te acho piada - leveza em bicos de pé - quando passas bem ao lado de um crápula. .

domingo, 7 de junho de 2015

certeza absoluta

a garganta profunda é já um clássico dos anos setenta que revolucionou a cultura sexual de então. o clitóris da personagem principal situava-se na garganta e, por isso, tenho a certeza de que este espermatozóide aqui em baixo está contra a campanha de exclusão do sexo oral.


sábado, 30 de maio de 2015

e se o ciúme sem doença, picada imprevista de agulha sem dedal, for de roxo paixão? há, ah! se há, mistura, conta de somar, e vão dois, de ternura mais tesão.
e se por entre pingos de esforço, silhueta nobre, se dançarem sonhos que a impossibilidade cobre?

terça-feira, 19 de maio de 2015

esse cara sou eu

a pátria como uma lady laura; o povo preocupado com o que vai contar aos netos acerca das baleia que cruzavam os oceanos; a alegria, além da crise, a buzinar no calhambeque: pi!pi!.
peles arrepiadas e corações erectos, sim, são a prova de que os portugueses não são cornos mansos nem macambúzios e enchem a música de alegria com a alegria que a música lhes diz: esse cara sou eu.
e ignorando o acordo ortográfico, insignificância, Portugal e Brasil mostram que podem ser, cada um em si, um só. quem me dera que o Roberto Carlos me cante, voz de mel e serenidade em bicos de excursos de sabedoria, para sempre.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

será que o pós dia da mãe é o da madrasta? E o da véspera, será o da grávida? se calhar bem, amanhã será o dia da avó.

sábado, 25 de abril de 2015

e se em vez de cravos
usássemos todos
e sempre
rosas imperfeitas ao peito - daquelas que são apenas, não decapitadas, semeadas,
o mundo seria um lugar como eu queria, ai! como queria!,
daquele jeito, jeitinho gostoso,
livre e apaixonado, selvagem e amoroso. a preceito.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

contar azulejos

criatividade, talvez, da ordem católica de clausura monástica, Beneditinos, no século doze, no Mosteiro de Tibães.

obs: terá vindo daqui o famoso cliché do mandar alguém, tal e qual como os monges, contar azulejos...


terça-feira, 21 de abril de 2015

:-(


horizonte

diz o google que faz hoje oitenta e um anos que andamos à procura da serpente do Loch Ness. andamos, ouviste bem. para uns, a serpente é a felicidade metida em um cesto ao estilo cabaz de natal; para outros será o AmOr; há também aqueles que transpiram pelo sucesso no trabalho. de uma coisa eu sei: entre cépticos e crentes não há alguém que escape na procura da serpente - uma serpente que é sempre um monstro, tal o tamanho extraordinário, o tamanho que lhes dá sentido, que ocupa nas nossas vidas.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

o merdas, cognome do ministro da saúde

o serviço nacional de saúde é altamente progressista e espelha o desfasamento do actual ministério da saúde perante a realidade: sim, o ministério assumido pelo ministro que acha normal o amontoar de macas - porque são sofisticadas e moderníssimas e isso arrebata na saúde dos cidadãos - nos corredores dos hospitais. e mesmo que tal sinalize com evidência a falta de capacidade de resposta dos profissionais assim como do próprio sistema em si que se traduz, ou vai traduzindo, naquilo que é uma nação doente, a enfermidade paira no ar, uma espécie de poeira invisível, aerossóis de mau estar político e económico e social.

mas voltando à carga do sistema nacional de saúde, a oferta de um aparelho simpático e funcional para os doentes diabéticos é, à primeira vista, um resquício do tal progresso e modernidade de que o merdas do ministro da saúde gosta e tanto exacerba. mas depois, o espanto é total quando percebemos que a prenda que os idosos recebem só é recarregável através de um computador. saberá o ministro da saúde, vulgo merdas, que uma grande fatia da população idosa em Portugal vive em situação de isolamento e de pobreza? e que não se cumprindo, felizmente, estas duas premissas ainda há famílias sem computador em casa - assim como sem saneamento básico?

segunda-feira, 13 de abril de 2015

por isso mesmo, por não haver nem dia nem hora para beijos, hoje é um bom dia para lhe dares um. carnudo. na rotunda da sua boca. fazias-te ao piso molhado, em voltas, sem cuidado, para ires dar, em escalada irracional descendente, ao tal beco sem saída. percebeste bem: esbarra-te todo.

e logo eu que prefiro coisos


domingo, 12 de abril de 2015

boa, rica, maravilhosa, ideia. ainda por cima com riso


qual acordo qual caralhos? despir a antiga ortografia é de uma alienação mental atroz. e depois é ver as palavras decapitadas a esvaírem-se em sangue, escoadas coxas e manetas, ora sem letras - ora sem acentos. bem visto, o novo acordo ortográfico é uma espécie de sociopatia que merece um aviso: cuidado com o que pensa, com o que diz e com o que escreve, os sociopatas andam aí com rede.

quarta-feira, 25 de março de 2015

anos, e ânus, tric-tric

ilustrados

para sempre fica. HH


(...)Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.

sexta-feira, 20 de março de 2015

a sustentável leveza de ser feliz


e à meia luz, em uma espécie de convite ao romance, a lua decidiu envergonhar o sol que resta timidamente corado no primeiro dia da Primavera. eclipsar é preciso - diz ela. ela a natureza.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Balanço do branco na fotografia


Falar do balanço do branco na fotografia é pensar em um mundo tão vasto quanto a existência e nos paradigmas que, mudando, chegaram à nossa era – a era da fotografia digital que, indubitável e irreversivelmente ampliou o domínio da fotografia.

Nas fotografias andamos à procura da emoção e da animosidade. Curiosamente, há uma trilogia imprescindível nas fotografias desde sempre. Há o assunto, há o interessado no assunto e depois os olhos sobre a mistura do assunto com o interesse: uma significância repleta de branco. E de preto. Bem doseados.

A fotografia nasceu a preto e branco, não esqueçamos, e terá sido, neste contexto de mudança que se aperfeiçoaram técnicas e tecnologias que minimizaram custos, reduziram etapas, aceleraram processos e facilitaram tanto a manipulação como o armazenamento e a reconstrução das imagens. Tudo envolto em um silêncio que fala, que conta, que comunica e que estabelece a ponte da memória com a emoção.

Preto sobre branco – assim tudo começou antes das tonalidades actuais que nos oferecem as imagens coloridas da realidade. Mas terá a fotografia colorida o mesmo alcance dinâmico do que as pioneiras a preto e branco?

Balanço do branco na fotografia, uma questão de caça aos detalhes

Uma câmara fotográfica, todos o sabemos de uma forma mais ou menos leiga, capta uma faixa de luminância que mais não é do que o tal alcance dinâmico. O ideal será, pois, agarrar os detalhes e as subtilezas do ambiente que se pretende captar doseando o preto e o branco. Acabamos, mesmo agora, caso não tenha dado por isso, de dar a definição de uma boa câmara fotográfica e também do que será tirar uma boa fotografia…

Tudo se resume, bem visto, à utilização da luz e da sombra – uma espécie de filigrana – que se reflecte, pelo olhar, nos olhos. E independentemente da tecnologia utilizada quer nas mais recentes fotografias coloridas, quer nas tradicionais e apaixonantes a preto e branco será o alcance dinâmico que permite criar – e recriar – os mais artísticos efeitos estéticos que passam, agora já não temos dúvidas, pelo balanço também do branco na fotografia. Porque o branco faz toda a diferença.

Uma dose certa de branco na memória: não, não há paradoxo

São as fotografias que tantas vezes nos aquecem a memória – trazem-nos tanto os presentes como os ausentes. Com as fotografias perpetuamos instantes sempre com a dose certa de branco, e de preto, para que não escapem nem os detalhes nem a proximidade que queremos manter e conservar.


Há uma espécie de prolongamento da vida na imagem que queremos ver a ficar. Sublimada. E a imagem que fica, a memória, liga o presente ao passado e ao futuro. Nada fica em branco quando o balanço do branco na fotografia é o ideal: não há paradoxo, portanto, naquele salto que é o momento em que a realidade é captada e o presente de contemplação da imagem, aquela maravilha – espécie de milagre - de unir o antes com o agora e o depois com a dose certa de prazer. E de branco.


Bela Paisagem de Branco Caiada: Expedições ao Árctico

Bela Paisagem de Branco Caiada: Expedições ao Árctico

domingo, 15 de fevereiro de 2015

há coisas do caraças. se olharmos para o ponto vermelho que está no nariz da rapariga durante meio minuto e logo de seguida olharmos para um tecto ou uma parede branca - conseguimos vê-la na perfeição e a cores. ah!