Falar do balanço do branco na fotografia é pensar em um
mundo tão vasto quanto a existência e nos paradigmas que, mudando, chegaram à
nossa era – a era da fotografia digital que, indubitável e irreversivelmente
ampliou o domínio da fotografia.
Nas fotografias andamos à procura da emoção e da
animosidade. Curiosamente, há uma trilogia imprescindível nas fotografias desde
sempre. Há o assunto, há o interessado no assunto e depois os olhos sobre a
mistura do assunto com o interesse: uma significância repleta de branco. E de
preto. Bem doseados.
A fotografia nasceu a preto e branco, não esqueçamos, e terá
sido, neste contexto de mudança que se aperfeiçoaram técnicas e tecnologias que
minimizaram custos, reduziram etapas, aceleraram processos e facilitaram tanto
a manipulação como o armazenamento e a reconstrução das imagens. Tudo envolto
em um silêncio que fala, que conta, que comunica e que estabelece a ponte da
memória com a emoção.
Preto sobre branco – assim tudo começou antes das
tonalidades actuais que nos oferecem as imagens coloridas da realidade. Mas
terá a fotografia colorida o mesmo alcance dinâmico do que as pioneiras a preto
e branco?
Balanço do branco na fotografia, uma questão de caça aos
detalhes
Uma câmara fotográfica, todos o sabemos de uma forma mais ou
menos leiga, capta uma faixa de luminância que mais não é do que o tal alcance
dinâmico. O ideal será, pois, agarrar os detalhes e as subtilezas do ambiente
que se pretende captar doseando o preto e o branco. Acabamos, mesmo agora, caso
não tenha dado por isso, de dar a definição de uma boa câmara fotográfica e
também do que será tirar uma boa fotografia…
Tudo se resume, bem visto, à utilização da luz e da sombra –
uma espécie de filigrana – que se reflecte, pelo olhar, nos olhos. E independentemente
da tecnologia utilizada quer nas mais recentes fotografias coloridas, quer nas
tradicionais e apaixonantes a preto e branco será o alcance dinâmico que
permite criar – e recriar – os mais artísticos efeitos estéticos que passam,
agora já não temos dúvidas, pelo balanço também do branco na fotografia. Porque
o branco faz toda a diferença.
Uma dose certa de branco na memória: não, não há paradoxo
São as fotografias que tantas vezes nos aquecem a memória – trazem-nos
tanto os presentes como os ausentes. Com as fotografias perpetuamos instantes
sempre com a dose certa de branco, e de preto, para que não escapem nem os
detalhes nem a proximidade que queremos manter e conservar.
Há uma espécie de prolongamento da vida na imagem que
queremos ver a ficar. Sublimada. E a imagem que fica, a memória, liga o
presente ao passado e ao futuro. Nada fica em branco quando o balanço do branco
na fotografia é o ideal: não há paradoxo, portanto, naquele salto que é o
momento em que a realidade é captada e o presente de contemplação da imagem,
aquela maravilha – espécie de milagre - de unir o antes com o agora e o depois
com a dose certa de prazer. E de branco.