lia ontem uma crónica da Ana Markl sobre o seu desejo de escrever um argumento para um filme pornográfico, uma espécie de pornografia para mamãs. desconhecia o que era o You Porn e fui ver. fiquei a pensar no que li e no que vi e a minha conclusão é a mesma de antes: querida ana, não há pornografia diferente para homens e para mulheres - a pornografia é absoluta ausência de alma e poesia com o corpo. bom, explico de outra forma: pitas, pilas, cus e bocas sem ser nas bocas; carnes que se esfregam nas carnes a gemerem à moda de ensaios de bandas filarmónicas em vésperas de actuações nos coretos das terras; sexos rapados sem possibilidade de os pêlos encravarem pela simples razão de os pêlos serem os únicos a gostarem, por habituação, de ficar em privado; os sexos erectos sofrem de paranóia misturada com esquizofrenia e por isso se levantam tão prontamente; os sexos onde cabem garrafas e pepinos e três pilas sofrem de obesidade mórbida. e é por isso que a única banda que um filme pornográfico pode ter, não é a sonora, é a gástrica.
querida, no sexo bravo - como dizem por cá - não há estatuto social: as mães papam os filhos e os filhos enrabam as mães e o patrão chupa o empregado e a médica faz um broche ao paciente. isto tudo para te dizer, Ana, que um filme pornográfico com argumento para mulheres, aquela distinção que queres fazer, com romance, deixa de ser pornográfico. passa a haver sensualidade, erotismo e beleza na intimidade sexual, como deve ser, entre duas pessoas. e depois lembra-te que a maior parte das mulheres gosta mesmo é de pornografia, não é de romance. esquece, por isso, lá isso e dedica-te a escrever micro-narrativas modernaças do género: conheceram-se e foderam, ponto.