domingo, 30 de junho de 2013
opinar-relâmpago
mais do que a escrever é muitas vezes a ler que acalmamos a força dos fantasmas e enchemos os vazios dos baús assombrados e calamos as vozes, tantas, que zumbem por dentro. e se a história do capuchinho vermelho fosse escrita agora, agorinha, aquela parte do para que servem os olhos tinha como resposta - são para te ler melhor.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
consolo
é um consolo quando sabemos que não queremos mas somos pressionados a querer e depois a coisa, ao não se manifestar, fica resolvida por natureza como se a apoiar o nosso não querer. e depois só pensamos em excurso mudo (desenganem-se as empresas que querem enganar-nos praticando o engano. a mim não me enganas tu, a panela ao lume e o arroz está cru)
quinta-feira, 27 de junho de 2013
em exploração
interessantíssimo o poema de Simónides de Amorgos que subdivide o género das mulheres em uma série de géneros - caracterizando cada um deles por defeito: a gula, a sensualidade, a mentira -, cuja origem é um animal.
terça-feira, 25 de junho de 2013
metáfora
às vezes apetece-me gritar que a metáfora não é simples substituição, mera transferência. a metáfora é achar um ponto comum pela associação de ideias, uma virtude.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
novelo de cá
ontem vi a coisa mais bonita, e também a mais triste, que poderia ter visto - em simultâneo - naquele minuto e durante uma festa: vi um homem e uma mulher sentados em uma mesa vazia, despida até de toalha, por debaixo de uma videira. a música que fizeram questão de colocar no gira-discos, notava-se que era um som mais limpo, romântico e quente, fazia lembrar a frança dos anos vinte. todo o cenário cativou a minha atenção, os meus pensamentos. mas depois. depois olhei para o rosto de ambos e consegui chegar ao fundo daquela solidão monstruosa e terrivelmente triste - estavam os dois a celebrar uma festa como gostavam que ela fosse, talvez transportados para outras festas de há muito tempo, o cenário, a música; na verdade estavam ali, juntos, a implorarem a morte um do outro como se morrer começasse, e começa, no novelo - não de lã - de cá dos pensamentos.
domingo, 23 de junho de 2013
nem tudo escasseia por cá: temos uma lua farta que vem mesmo a calhar em celebração da festa do S. João.
ó meu rico S. João
dás um gostinho às gentes
seres da lua cheia a parir
alegria e almas contentes
porque em altura de crise
a magreza é para amanhar
ao contrário da sardinha
e da lua
qu'as entranhas são d' amar
ó meu rico S. João
dás um gostinho às gentes
seres da lua cheia a parir
alegria e almas contentes
porque em altura de crise
a magreza é para amanhar
ao contrário da sardinha
e da lua
qu'as entranhas são d' amar
sábado, 22 de junho de 2013
a essência do amor
se o primeiro impacto é de desconsolo o segundo e o terceiro, marinada completa, vem justificar o desconsolo que nem sempre é negativo. temos uma longa metragem aos pedaços, narrativas de narrativas em momentos, lugares e emoções - temos uma espécie de poesia explícita em prosa obtusa no sentido geométrico se entendermos o filme, não como um quadrado, como um triângulo que se quer o amor: os três lados que emborcam em apenas um só, o nós, havendo um eu e um tu. universalidade bem conseguida pela mudança constante da língua, são os silêncios que mais alto falam naquilo que é o amor que ama e que odeia por amar e que odeia amar. o desconsolo vem dos vazios que poderiam bem ligar os pedaços, aquela massa cremosa de que também é feita o amor, quando amar serve - não para esvaziar- simplesmente para encher. interessante focalização no feminino e nos pormenores já que o amor, que é forte, é feito de filigrana frágil tal e qual mulher. e é por isso que o aportuguesamento do título me parece bem: o que é, senão uma maravilha, a essência, o que sem resquícios de evidência porque só se sente, o sítio onde nasce o amor - aquilo que não é construído nem pensado e que brota do coração para as veias e nos ataca os ovários e os rins e as pudendas, e até as unhas e os dentes. é amor daquele que não se vê nos filmes mas apenas em um esgar na linha daquele poema ou na esquina da memória daquele sentir ou, melhor ainda, que ainda está por vir.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A cidade dos Simpsons tornada realidade
a belíssima caricatura do maneirismo americano continua para durar. e muito eu gostava que o João Lopes escrevesse sobre isto - é que julgo ser mais uma inspiração do que, expiração da fantasia, o contrário.
(fiquei ainda com mais vontade depois de o ver, e ouvir, na sic notícias a dissertar sobre isto)
(fiquei ainda com mais vontade depois de o ver, e ouvir, na sic notícias a dissertar sobre isto)
quinta-feira, 20 de junho de 2013
quando o plástico reluz como ouro
fila para as receitas do estado. gente ora apaziguada ora sem travão na língua. uma mulher nova, na casa dos quarenta anos, decide falar em alta voz. barafusta, lamenta-se, e conclui: mas o homem que está a trabalhar como um cão para erguer o país não tem culpa - culpa tem o governo anterior porque esta criatura só está a fazer o que é preciso. pois é, assentiu uma outra sexagenária de aparência, este é pior que o Salazar mas só quer o nosso bem, coitado, está a ser difícil mas ele vai endireitar o país. e eu, ouvidos electrizados e mãos ofegantes de murros em uma mesa que não havia, decidi levantar-me e dizer que afinal o quarto mundo existe: o mundo dos subnutridos mentais que vivem e pensam por contágio e que gostam, bem visto, de serem desgovernados. e segui, triste, por passar-me, mesmo ali, pela cabeça que o povoléu vai continuar a amá-los nas urnas - tamanho o romantismo, reluzente como ouro, de plástico que carregam.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
é bom
só quem repara nos campos de milho vê a diferença - a diferença de um dia de chuva. chove e pimba, crescem e enverdecem e ganham viço. portanto: quem fica zangado com esta chuvinha maravilhosa em tempos de esganar o calor que não fique, é bom, e ademais há provérbios ainda por inventar: chuva no milho, cheio se faz silo.
terça-feira, 18 de junho de 2013
frequência de futuro
a origem não sei, não dizia, talvez tenha vindo do futuro: onde, senão no futuro, a vida selvagem é completamente controlada e monitorizada e em evidências de civilização?
segunda-feira, 17 de junho de 2013
memórias e rosas
sábado último a minha mãe, que morreu mais nova do que eu quatro anos, apagava as velas se cá estivesse em carne e em osso. servem as rosas dos jardins para serem cheiradas e, pétalas aveludadas, sentidas; servem as rosas para nos ajudarem a celebrar o que já não há mesmo nunca deixando de haver; servem as rosas, sim as rosas, para nos fazerem lembrar daquilo que nunca esquecemos - são uma espécie de soneto mudo como se fossem, e são, inadimplências contudo carregadas de vida. as memórias são tão confusas como as rosas: banham-nos de realidade a alegria da breve fantasia de olhar e delas nos apoderarmos em arrepio sorridente. arrancamos as rosas dos jardins para lhes captarmos a beleza em abraço de nós e nem sequer pensamos que horas depois estão cansadas e de aroma murcho de em nós se serem, tal e qual como elas - como as memórias. depois chovemos e deixamos o carreiro d'água descer pela caleira da alma e encontrar na pele o consolo de fazer inchar os olhos e os lábios, não fosse a doce tormenta de salgar a mais bonita canção do que é amar apenas memórias e rosas.
peixe: justiça sem passo de caracol. ponto.
o peixe-caracol não consta na lista das espécies que podem ser comercializadas em Portugal desconhecendo-se, no entanto, o valor nutricional visto que em causa está a mera ilegalidade e não o risco que eventualmente poderá apresentar para a saúde pública. neste caso, tratando-se apenas de tráfico ilegal de peixe vendido a baixo custo e rotulado como sendo um outro - o bacalhau -, parece-me um caso de fácil resolução: além das medidas correctivas que estão já em curso, nomeadamente a averiguação junto do fornecedor e, digo eu, a devolução ao mesmo e destruição dos lotes dos produtos em questão, pouco mais há a fazer visto que o limite crítico da utilização do produto ser zero por ser ilegal e as medidas de controlo terem sido completamente corrompidas pelos vários agentes, rastreabilidade lógica, desde a produção primária - entenda-se a venda imediata do pescado como bacalhau que terá posteriormente falhado em análises laboratoriais, por ausência ou nova corrupção, ao ser rotulado como bacalhau em detrimento de peixe-caracol e que, por sua vez, foi adquirido - novamente sem certificado de garantia - para transformação em indústria de pré-cozinhados. sendo uma má prática absolutamente intencional, relembro que em causa não está qualquer perigo para a saúde pública nem tampouco a falta de qualidade nutricional, o caso deverá ser tratado, sem o alarido de calamidade, apenas com a força da justiça. ponto.
domingo, 16 de junho de 2013
dois cavalos para Cavaco
ufa, onde vais com tanta pressa?
vou a Belém: disseram-me que o senhor Cavaco Silva anda de cavalo para burro e que não gosta que o mandem trabalhar.
e então, percebi nada.
é por isso que tenho de ir a correr - tenho de lhe ir dizer, antes de ir trabalhar, que tenho um citroen para ele se meter a andar de carrinho.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
breve explicação
para a pacificidade da visita de Passos Coelho a Santarém:
a natureza é, per si, pacífica. e diante de uma porca a amamentar os seus filhotes o povo só quis mostrar que vale a pena ser, não filho da puta, filho da porca - de uma porca portuguesa, com certeza.
a natureza é, per si, pacífica. e diante de uma porca a amamentar os seus filhotes o povo só quis mostrar que vale a pena ser, não filho da puta, filho da porca - de uma porca portuguesa, com certeza.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
vou ali e já venho
o rectângulo à beira mar plantado, filho pai e irmão de D. Afonso Henriques, conquistado e conquistador, está, neste exacto e preciso momento, intoxicado em pensamentos e palavras e actos e omissões por legião de vivos e de mortos e de mortos-vivos - efeitos colaterais em uns de causas directas de outros que não são, pois claro, especialistas em gente. ser especialista em gente significa, naquilo que é trabalhar para o bem comum, conseguir levar em consideração - e priorizar - questões inerentes ao cargo que se ocupa:
estamos a ser tudo o que podemos ser?
estamos a ser mais do que podemos imaginar?
temos feito aquilo para que o país de nós se possa orgulhar?
quem somos como governantes?
conseguimos reflectir nos governados que somos gente?
pois, a resposta a todas estas questões está fechada a vácuo por causa das bactérias - que se entram fodem tudo - da verdade. porque na verdade o país está em falência emocional, uma espécie de doença contagiante que vai minando tudo por onde passa, e precisa de ser provocado para reagir. ora já por isso mesmo estamos a precisar, de facto, de emigrar, sim, isso mesmo, emigrar - mas uma emigração emocional antes que sejamos considerados neuróticos. comigo não contem para a neurose: vou ali e já venho que tenho mais o que fazer do que intoxicar-me por contágio de incompetência e imbecilidade e cabronice e filhadaputice e ordinarices de palitó como se o governo de uma nação fosse, como tem sido, um mero corpo usado e abusado para contenções e descargas tamanho é, obviamente, o deserto emocional resultante de.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Populaire
ouvi o Mário Augusto falar deste filme e vi um pormenor de olhares, logo a seguir, que me provocou cócegas de curiosidade.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
o riso da rejeição
assim, já a frio, rio da rejeição e sorrio por me ter exposto o suficiente a ponto de não me quererem como se ser fosse, é é, uma barreira enorme no mercado de trabalho. assim, já a frio, sorrio à conta da falta de vocação apontada: não se quebra o ciclo triste da falta de salário mas sim o da enorme tristeza que deve ser o fingir apenas para ter. vir ao mundo para expor, para mostrar, para ser é o propósito; expor sem medo do ridículo dos olhos dos outros e sem o medo da rejeição é maravilhoso. assim: aqui estou, aqui sou, não gostam, não lhes convém - não queiram. e assim fazer o caminho dos nãos dos outros que são sempre os sims, de nós, de mim. e isso não nos iliba do erro, ah o doce erro!, antes faz dele o aliado da exposição: o que importa mesmo é reagir ao erro e à exposição e ao ser com o carinho de quem abraça e sobe mais. porque subir é sempre o rumo do ser.
terça-feira, 4 de junho de 2013
desalento
eu ia falar do exercício engraçado que é aproveitarmos o tempo em salas de espera para associarmos as pessoas sentadas lado a lado e o respectivo parentesco - há sempre um nariz, um esgar, um gesto que denuncia tudo. mas agora só me apetece mesmo dizer que as notícias frescas pela manhã nem sempre são boas - é como o pão que muitas vezes em vez de estar cozido e crocante chega cru e mole.
domingo, 2 de junho de 2013
miserável
sol e calor e tempo para fruir. e os pais optam por levar os filhos ao parque dos centros comerciais, aquele espaço minúsculo e escuro em que a criançada se descalça para andar em filas de espera no escorrega de plástico. não há cheiro de relva nem brisa nem pássaros a chilrear: há chulé e ar condicionado e vozes que entoam nos andares de quem passa. e depois os pais amontoam-se nos bancos disponíveis, ou encostam-se ao pedaço de parede (ainda) livre, a apreciar a merda que fazem: fazem com que os filhos acreditem que amar é aquilo - duas horas a escorregar em plástico, sem sapatos, e em austeridade de espaço e de cheiro e de luz. miserável.
sábado, 1 de junho de 2013
ideia de colo
sexta-feira, 31 de maio de 2013
estrabismo
e agora diz lá: qual é a parte do mundo de que gostas mais?
os olhos.
estava à espera que me referisses uma região, um país... mas então diz-me como são os olhos do mundo.
são estrábicos - ou nunca te sentiste a cair?
os olhos.
estava à espera que me referisses uma região, um país... mas então diz-me como são os olhos do mundo.
são estrábicos - ou nunca te sentiste a cair?
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
cogus box
oito e pico ou talvez nove e tal, análise da árvore de decisões e procura de pontos críticos de controlo e a desconcentração paralela, pertinentíssima e saudável, riso e palhaçada, que mete cogus box e descortina. fala-me do quanto é intransigente em casa e da forma austera com que lida com a família para conseguir tudo o que quer - resulta, diz ela. e pergunto-lhe de seguida se não sente uma enorme frustração por não ser respeitada mas antes vencedora, falsa vencedora, pelo medo que obriga os outros a sentirem só para não terem de a ter, perda falsificada, emburrada e muda. fica desconcertada talvez por ser psicóloga de formação e agora a noção de cabra no viver. descubro-lhe o perfil fraudulento ao mesmo tempo que a vejo alinhar na desconcentração e no riso quando a prioridade é o exercício. nada acontece a não ser aquela picadela que sentimos quando alguém nos toca naquele exacto ponto que vendemos como o mais forte: o ponto fraco. e ela ontem foi para casa diferente. e eu vim mais feliz porque o mundo existe para nos abraçar e permitir o embalamento do que é fazer a diferença.
terça-feira, 28 de maio de 2013
sabes o que é filha da putice? é isto.
só tenho vontade de dizer que este desgoverno me obrigou a recuar mais de quinze anos na minha vida profissional e a começar , não do zero, do menos um. e que está a obrigar-me a aceitar, finalmente, a aceitar por ser a única oportunidade em mais de um ano, um salário miserável em uma função quase indiferenciada. e que me obriga a transformar a raiva em tolerância e sensatez por sentir que trinta e três anos a estudar e a investir em conhecimento têm de ser colocados em segundo plano das minhas prioridades básicas que satisfazem a minha carência intelectual. e que a minha única linha de percurso neste momento passa por ignorar que perdi a minha casa e a minha vida e a minha liberdade - é um mero exercício de programação neurolinguística: colocar em ênfase o pouco como se muito fosse comparativamente ao nada. e eu chamo a isto, a este exercício que estão a obrigar-me a fazer, a esta exploração, a esta escravidão social, a maior filha da putice de que tenho memória.
e o sangue das lágrimas é transformado em sumo doce - só para afastar a morte e conviver com a vida.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
o Aníbal, é um camelo
a propósito da palhaçada custa-me perceber a gravidade da coisa. mesmo. principalmente pelos argumentos. “Se a injúria ou a difamação forem feitas por meio de palavras proferidas publicamente, de publicação de escrito ou de desenho, ou por qualquer meio técnico de comunicação com o público, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a três anos ou com pena de multa não inferior a 60 dias.” ora estaria presa grande parte da blogosfera portuguesa. mais: quase a totalidade dos portugueses estariam, ora desempregados ora falidos, atrás das grades por expressarem precisamente a imagem que vêem quando ouvem o Presidente da República proferir, mais do que piadolas, silêncio. pelo respeito aos animais de quatro patas o Aníbal merecia que o MST lhe tivesse chamado camelo e aí, sim, estaria tudo tranquilinho. (cantemos, então, para espantarmos o mal do chilindró)
o Aníbal é um camelo
tem duas mossas e muito pêlo
tem uma lata do caraças
para brindar no governar
mas é assim quem gosta
de no deserto desertar
e lança logo um grunhido
aquando ventos de vencido
é um camelo popular
é engraçado e espertalhão
só não gosta que lhe chamem palhaço
prefere qu'os portugueses andem a ser roubados
pelo governo d' esticão
o Aníbal é um camelo
tem duas mossas e muito pêlo
tem uma lata do caraças
para brindar no governar
mas é assim quem gosta
de no deserto desertar
e lança logo um grunhido
aquando ventos de vencido
é um camelo popular
é engraçado e espertalhão
só não gosta que lhe chamem palhaço
prefere qu'os portugueses andem a ser roubados
pelo governo d' esticão
reflexão ao sol
há muito material para ler sobre o que disse e pensar acerca de. e no entanto uma certeza: as pessoas só fantasiam acerca do que não podem ter na realidade. e é por isso que fantasiar, a criatividade é outra coisa, em consciência de que não nos atrevemos a ter é por si mesmo uma fantasia do caralho - porque tudo o que queremos no que concerne à natureza humana é possível em um tempo ou lugar ainda misterioso, frequência de futuro desconhecida mas não, por isso, impossível. e o mais importante é mantermos a capacidade de acreditarmos que não somos errados naquilo que queremos e sentimos simplesmente porque o sentir não é da nossa responsabilidade e não pode ser forjado. e quem se refugia em superficialidades, economia de prazeres rápidos, até o prazer se quer livre, apenas para não chegar ao fundo foge - mais do que de outros, de si mesmo.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
uma fé estranha
vontade desenfreada de escrever - daquela vontade que pica e faz cócegas intermitentes.
há pessoas que aparecem nas nossas vidas e chamamos-lhes acasos. chamamos-lhes sem chamar, pensamos apenas. e depois fazemos birras e insistimos e chateamos e fazemos uma matriz do grau de possibilidade e de severidade - isto para apurarmos a tolerância e a paciência em termos de significância. parecem sacos rotos de boa vontade e de simpatia e de bom humor. estragam-nos o plano mais ou menos intuitivo de sabotarmos a coerência pela incoerente demonstração de sensatez que nos demonstram. e inchamos de alegria, escondendo-a, para a deixarmos respirar. fazemo-lo por acreditarmos que são pérolas e sabermos que as pérolas são raras e, por isso, são precisas validar. trocamos tudo, confundimos conceitos, apresentamos propostas e tudo bate tão certo como se fossem, e são, caminhantes que nos mostram que a serenidade existe. e depois concluímos que ainda que tudo não passe de um bem-entendido mal amanhado é bom. e é bom acreditar no que não se vê quando tudo o que não se vê nem sequer nos dá motivos para acreditar. uma fé estranha no meio de tanta estranheza.
bora lá desencadear a pulsão sexual
assim como o melhor do pensar é o escrever na folha em branco também o melhor do sentir é o sexo na matéria, na carne. o sexo oferece-nos aquela dimensão de sermos homens e mulheres como se a pulsão sexual fosse, e é, um indicador de vida, uma composição do sentir.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
melhor do melhor
havia de ser sempre assim: a natureza e o Homem - o Homem a aproveitar-se dos excedentes da natureza - em parceria justa. ela, em harmonia perfeita a fazer para si e também para nós. e nós a não tocarmos no que é seu e a aceitarmos explorar o que de bom grado ela faz, e dá, para nós. olha o mel que as abelhas produzem em uma organização e método infalíveis sem absoluto controlo de qualidade e em perfeita melhoria contínua inerente constante. é fascinante, estonteante, fantástico este detalhe da natureza. lá está, depois o Homem organiza-se com elas e consegue uma produção primária de ganho-ganho que nem sequer precisa de controlo institucional, apenas um código de boas práticas que as salvaguarda um pouco da ambição desmedida e também nos salvaguarda em bem estar. outra vez ganho-ganho. e depois o excedente, aquele que queremos explorar, aquele que com tanta generosidade ela faz por sobrar, adaptamo-lo à nossa capacidade de invenção e criatividade: destampamos os favos e raspamos para extrairmos o mel e filtramos para depurar os vestígios da cera que vão em açúcar ser cristalizados e reaproveitados. e criamos frascos onde depois de limpos a vácuo embalamos a preciosidade. simples. a felicidade é simples: no melhor de cada um juntamos tudo e depuramos o melhor dos dois. e depois, no pior, com o excedente do melhor, fazemos melhor.
terça-feira, 21 de maio de 2013
à palavra e à semente
a imagem de cada semente cada palavra é riquíssima - isto para reforçar a ideia de que, cada vez mais, os ventos que antes arrastavam as sementes são agora manipulados por forças externas. estará em causa uma crise de identidade da nação? sim, pode ser, mas não nos revoltemos. comecemos por cuidar da crise pessoal, cada um por si, antes de querermos abraçar a crise da nação. não vamos a andar a semear sementes de revolta, MEC, porque isso sim é perder completamente o acesso à palavra. e à semente.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Púbisgal
reparar bem que o sítio, com referência a ser mal frequentado, situa-se exactamente na zona da púbis. ora nada é por acaso e acabei de chegar à conclusão de que Portugal é um site da púbis governado por chatos.
graças a Prometheus
Inner Silence
prometeu, Prometeu, o fogo
faúlas d'homem e de mulher
a arder
a Zeus roubou o reino
(assim ele o entendeu)
quando criar foi o que fez Prometeu
ilimitado não és - vociferaram os deuses
limitado sou, cantarolou Prometeu
mas trago o limite, o único, que não cabe em vosso papo de Deus
o daquela que começa e acaba nos céus
a criatividade, valha-nos Prometheus!
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
(azar)
truz,truz,truz - antes fosse assim o azar a bater-nos à porta. mas o cabrão, não. o cabrão entra de soslaio pela janela sem deixar o mínimo resquício de barulho ou intenção. e ainda deixa as cortinas ao vento, indiscretas, só para se regozijar da safadeza e se esfregar todo nos danos que provoca. é isso: o azar chafurda na angústia e no desespero dos outros como os cães estão para a relva fresca em dias de calor desinibidos de barrigas felizes no ar e pernas inquietas. e que esgar matreiro tem o estupor quando ouve dizer que foi azar, ah!, com que consolo enche a pança e a esperança de que mais dias dele virão.
terça-feira, 14 de maio de 2013
breve explicação bonita e com dedo em riste
o PIB cresce quando o Porto é campeão simplesmente porque o azul é cor de céu e o céu, já se sabe, é o limite.
o amor é a essência de tudo
raramente dou importância à crítica, sou como o S. Tomé - ninguém me mata a fé ou, como costumam dizer, tenho de ver para crer - e tenho, sim, muita curiosidade em ver, lá terei de esperar por agosto, a essência do amor. não dá para confiar no instinto prático e boçal da maioria das pessoas nem no alarvismo desfundamentado com que falam, e antes pensam, do amor. mais: as pessoas sequer consideram o amor um assunto com interesse para ser explorado e serão, por isso, condicionadas por esta pré-indisposição. talvez a crítica, esta crítica, até faça sentido. talvez. mas mais sentido faz esperar para ver - tenho a certeza de que vou descobrir coisas imperceptíveis aos olhos do Luís e do Miguel e do Oliveira. e serão olhos mais comuns os que se focam na linearidade do prazer take away, sim, porque o amor também é puro prazer, mas em camadas e em lentidão do banho-maria que se quer absolutamente gostoso e pesado e leve e quente e fresco e doce e salgado e seco e molhado, a única foda em que vale a pena ganhar tempo.
domingo, 12 de maio de 2013
incompatíveis e não só
havia dois homens - um de aparência cuidada que falava ao telefone durante uma relação sexual (o que é uma relação sexual? se uma relação é uma ligação então neste caso não havia visto que a mulher desandou o traseiro da cama e, ao telefone, o tal homem continuou mecanicamente os movimentos de vai e vem) queca e para ascender profissionalmente desconhecia, por não necessidade, quais eram afinal os seus valores e um outro, espontâneo e lutador e também pai, cuja roupagem fazia crer tratar-se de um homem absolutamente baldas. e a fraca trama desenrola-se em ambiente de crime misturado com riso - uma espécie de bolo de pacote francês com cobertura de chocolate light. foi escolhido, cinco minutos antes de começar, pelo título, ai como os títulos enganam!, e precisamente por começar dali a cinco minutos. não, isso não tem nada de estranho - é a vida. e depois não é qualquer uma que paga seis euros e quarenta para ter uma sala de cinema só para si, sem cheiro de gente a tresandar a desodorizante axe nem de pipocas a roçar a semelhança ao chulé. é interessante a perspectiva de fazer rodar um filme durante duas horas para uma só pessoa. apeteceu-me fumar lá dentro, confesso. mas só me descalcei e estiquei. ah. e também dei um peido calçado, não de pantufas, de socas.
a parte melhor foi quando cheguei ao carro e, em espera, ouvi esta música.
a parte melhor foi quando cheguei ao carro e, em espera, ouvi esta música.
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
código de barras com letras dos desempregados portugueses
o código de barras, ou EAN, aplica-se em embalagens primárias (EAN 13, com 13 dígitos) - que envolvem directamente o produto - e em embalagens secundárias (IFT 14, com 14 dígitos) que serão o embalamento da embalagem. uma boa imagem a servir de exemplo será imaginarmos uma caixa com várias embalagens dentro. ora os desempregados, se considerados IFT 14, isto porque a embalagem primária nas pessoas se quer intocável, apresentam-se assim, seriados em números, em Portugal:
o primeiro número é criado internamente pela empresa e designa quase sempre a quantidade do tipo - será o centro de (des)emprego;
os três seguintes números são sempre iguais e correspondem como que ao indicativo do país (560);
os quatro números seguintes são respeitantes à empresa - serão zeros;
os cinco seguintes pertencem ao código do produto - será a combinação de zeros resultante da (a)política do governo;
o último número é calculado automaticamente após a atribuição do primeiro.
neste momento, e levando em consideração de que as pessoas são tratadas como números, o código de barras dos desempregados portugueses afiguram-se assim:
1 560 0000 00000 1
em letras, que é mais digno, e a toque de desespero, o único código de gente que a gente quer:
Maria Feduncio, Portuguesa, sem emprego, nova para a reforma e velha para trabalhar, existe.
o primeiro número é criado internamente pela empresa e designa quase sempre a quantidade do tipo - será o centro de (des)emprego;
os três seguintes números são sempre iguais e correspondem como que ao indicativo do país (560);
os quatro números seguintes são respeitantes à empresa - serão zeros;
os cinco seguintes pertencem ao código do produto - será a combinação de zeros resultante da (a)política do governo;
o último número é calculado automaticamente após a atribuição do primeiro.
neste momento, e levando em consideração de que as pessoas são tratadas como números, o código de barras dos desempregados portugueses afiguram-se assim:
1 560 0000 00000 1
em letras, que é mais digno, e a toque de desespero, o único código de gente que a gente quer:
Maria Feduncio, Portuguesa, sem emprego, nova para a reforma e velha para trabalhar, existe.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
palavras em festa
lindo de se ver: espalhados aleatoriamente pelos muros e de cornos, não ao sol como na cantiga que crescemos a ouvir, à chuva. são os caracóis ranhosos. e nunca, o ranho e os ranhosos, as palavras viscosas gostaram tanto de serem celebradas porque é assim mesmo - a utilização é a festa das palavras.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
elevador para o céu e terraço nas estrelas
quando casou recebeu, como uma das prendas, um monte. casou há três anos e ainda nem sequer foi vê-lo. fala dele como se de um conjunto de tachos se tratasse com a utilidade de fazer crescer muitas árvores para abater na reforma - quando chegar esse tempo hão-de vender a madeira e viver também disso, diz. quase que a convenci a levar-me ao monte, curiosidade em comichão, queria vê-lo e apalpar-lhe a terra e cheirar-lhe as axilas daninhas. sei lá, parece-me bem, parece-me sexy, parece-me seguro alguém ter um monte só para si - aquele bocado de terra com elevador para o céu e terraço nas estrelas.
terça-feira, 7 de maio de 2013
linha 3
o agudizar do arranque em conformidade com as borbulhas bravas do rosto dela, borbulhas em fase de crescimento e prestes a atingirem uma velocidade incontrolável até ao destino. o destino quer-se, aqui, como paragem como se quer em um comboio. os telemóveis, ai os telemóveis! que funcionam nas mãos das gentes como muletas de pés partidos: sentam-se os corpos e levantam-se os telemóveis como se fossem, e são, o que pedem os olhos - os olhos a pedirem mensagens e jogos e nada. é isso, os olhos pedem nada quando sentados no meio do mar que é a gente, uma triste solidão essa que as impossibilita de se escreverem o que vêem e ouvem, de produzirem crónicas surdas de vida em momentos de morte. porque é morte, sim, precisarem de um telemóvel para afastar leituras e até travessuras do espaço; porque é morte, sim, usarem o telemóvel para verem o tempo, não a ficar como ficam as paisagens que pintamos do lado de dentro do vidro, a passar.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
quando a fantasia não é, de todo, a realidade
é preciso deixarmos que ela, a fantasia, se sinta rainha. e, como meros espectadores, permitimos que se sinta capaz de cobrir a luz da claridade que é a realidade. deixamo-la entrar de fininho e ficamos a apreciar como se instala e como quer convencer-nos de que é real e de que a realidade é, bem visto, uma fantasia do caraças. não o fazemos com maldade, tampouco mentimos nos factos da vida real - simplesmente deixamos que pense que está a abafar-nos nos seus lençóis ávidos de converter-nos naquilo que pretendem. e o que pretendem todos aqueles que querem convencer-nos de que a distância física não existe e que imaginar é viver realmente é isso mesmo: sentirem o poder da imaginação deles na nossa, como se manipular a nossa lhes desse o poder da deles. é, portanto, mentira de que a ideia que fazemos de alguém ou alguma coisa é a realidade e que esta ideia fantástica é real - e essa é que é a verdade. damos a descobrir aos outros o quão poderosos podem ser, escondendo fingimento solidário, para percebermos realmente quem são e o que querem. e o que querem é sempre o mesmo: fazer da imaginação a mais forte arma de arremesso, não a favor como pretendem que seja, contra a realidade. a realidade é sempre maravilhosa se vivida de forma fantástica e em conformidade com o que sentimos ao contrário do que é viver a fantasia realmente. e esta passagem tantas vezes tão ténue em tantas cabeças cheias de ego é quem dita, mais do que quem queremos ser, quem somos. eu proponho um brinde a todos aqueles que, mascarados de fantasia, se propõem a manipular a realidade estando certos de que o conseguem - há espaço para todos. e proponho dois brindes a quem que por algum tempo deixa que pensem que a realidade possa ser inequivocamente manipulada pela fantasia - afinal de contas ajudar os outros a encontrarem o seu caminho será sempre uma prioridade.
sábado, 4 de maio de 2013
Garcês, o feio
há coisas feias. há coisas que espantam. há coisas que ferem. há coisas que nos fazem rir por dentro da imbecilidade que carregam. há coisas impossíveis de passarem ao lado porque se apresentam de frente. há coisas que nos impõem uma prosa chata e desprovida de leveza. há coisas que são como cagadelas de pássaros birrentos que decidem simplesmente fazer desabar as entranhas mesmo por cima da nossa cabeça. é, há coisas assim. e não, não foi nada de grave talvez para quem passa na pressa e no descuido do olhar. mas terá sido gravíssimo para quem ostenta a atenção pelo redor e procura, em cada esgar do movimento e do paranço, significado. há coisas, assim, que me são feias tão feias quase tão feias como um amarelo pálido que nem é pérola nem português. há coisas que, tenho a certeza, não foi o universo que fez mas antes um taxista manhoso, com ares de farinha em frequência acumulada nas unhas, a quem se pode chamar Garcês.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
ilustração da maravilha de engano
consegui, entretanto, arranjar uma figura que ilustre o romantismo no superlativo absoluto da tal mensagem que inventei e que contempla as duas versões:
maravilha de engano ou as pazes insólitas
o meu pai e a namorada zangaram-se e lá me calhou a mim, a pedido dele, enviar-lhe uma mensagem de reconciliação por sua vez. aqui não interessa nada o conteúdo mas sim, e apenas, a última frase. em vez de já sabes que te amo a escrita automática, por erro meu - talvez o telefone tivesse percebido exactamente a verdade do que eu penso -, seguiu já sabes que te como. logo de seguida, mal percebi a lenha que tinha acabado de atirar para a fogueira, enviei uma outra igual mas desta vez com a palavra correcta, a que ele queria que ela lesse e a que ela esperava ler. estou certa que terá gostado mais da segunda do que da primeira e que a primeira sem a segunda traria definitiva distância - mas que as duas, quase em simultâneo como seguiram, fizeram um bolo romântico no superlativo absoluto fizeram. uma maravilha de engano.
terça-feira, 30 de abril de 2013
amo-te, foda-se!
poderia bem ser o nome de um restaurante ou de um perfume ou, mais amiúde comum, de um livro - mas não é. trata-se de uma forma de expressão, a minha forma de expressão, a melhor que consigo arranjar, para dizer o quanto amo, oralidade e escrita, a língua portuguesa. e nisto cabem as palavras, as palavrinhas e os palavrões, todas filhas dela - da língua. trata-se de uma aproximação metafórica, riquíssima, assim como o Miguel Esteves Cardoso explica e usa e abusa. mais: usar oportunamente o calão será a foma mais digna de calar o bicho da expressão, linguagem cristalina que pouco tem de grosseira a não ser a quem não lhe chega à espinha dorsal. a alma precisa tanto de palavras como de palavrinhas e de palavrões - são uma espécie de momentos SPA (sim, neste caso também é possível dar para a sociedade portuguesa de autores que, de resto, diga-se, altamente elitista e viciada comó caralho), um resort luxuoso onde a palavra faz massagem e a palavrinha sauna e o palavrão talassoterapia em sessão. é, pois, inútil que tentem travar o palavrão quando não pretende designar verdadeiramente a substância da coisa - estás a cagar para mim é a imagem mais perfeita que há para dizer que alguém não está a prestar atenção a outra; estás a foder-me a cabeça é a forma mais transparente de referir que alguém está incomodar fortemente outra; estragaste-me a puta da vida é a frase mais feliz que encontro para gritar o que este governo fez (...) - mas, antes, a coisa com substância.
por mim, está decidido: amo-te, foda-se!, palavrão, como, não em arma de arremesso, quando o estômago tem fome e precisa forrar-se com pão.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
empoar
nem sempre o tempo muda as pessoas - na maioria das vezes são as pessoas que mudam o que querem fazer com o tempo. e o tempo tantas vezes deve pensar, em riso miudinho, assim: vou -t'empoar.
domingo, 28 de abril de 2013
a cor da musica
se cada música tivesse um rosto, e tem, seriam, e são, os dedos a dar-lhe cor.
Paul Gauguin, Siesta, 1894
sábado, 27 de abril de 2013
sexta-feira, 26 de abril de 2013
a verdadeira arca de nu. é?
My Dream, 1947, Foujita Tsugouharu
o escuro estava deserto e terá partido para lugar incerto no dia em que o mundo acabou. restou a luz, despida e omitida de vacilar. chegou e espreguiçou a calma, sossegou o olhar e refastelou-se no sentir enquanto, magistosos, os outros procuravam - cobrindo-a - cobrir-se. terá masturbado a esperança, diz-se, e apimentado o riso em concerto das suas vozes tão diferentes, vozes que falam pelos olhos e respiram pela sabedoria, e iguais. decidiu prolongar a luz adormecendo como quem carrega um punhado de areia entre os dedos que nada querem segurar e assim ficou, obdurada de sonho, a aguardar uma história que começasse: foram muitas, imensas, vezes.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
plutão é um estado de alma
ler aqui. ficamos a pensar na importância do mundo e do submundo; ficamos a pensar, e dizemos o que pensamos, que plutões há muitos carregados de importância relativa e que a liberdade é o maior planeta, importância absoluta, estado de ser, do mundo.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
velha
parece-me muito bem que o estrangeirismo vintage seja por cá uma velharia - velharia tem cheiro forte e a azeite verde, textura vincada que só apetece manter. e um dia ainda vou ter novamente espaço para poder ser velha, lambuzar-me toda pelos olhos e pelas mãos, à vontade.
terça-feira, 23 de abril de 2013
truclas
claro está que fiquei apaixonada por este texto do Pedro Bidarra.
(agora fiquei a pensar se quando nos apaixonamos, porque não conhecemos tudo o que quer dizer que sabemos pouco mas o suficiente para nos fixarmos, estaremos semi-apaixonados ou apaixonadíssimos em potência - visto que saber mais e mais vem depois. vou pensar.)
(agora fiquei a pensar se quando nos apaixonamos, porque não conhecemos tudo o que quer dizer que sabemos pouco mas o suficiente para nos fixarmos, estaremos semi-apaixonados ou apaixonadíssimos em potência - visto que saber mais e mais vem depois. vou pensar.)
a camélia cor-de-rosa
The Pink Camellia - Pierre-Georges Jeanniot (1897)
o livro estava em branco. pálidas eram as folhas quando se sentou, cedinho pela manhã, no sofá dos berloques, coberto de branca manta por o seu corpo assim exigir, e logo se predispôs a deitar-se no sorriso descontido das almofadas que reclamavam o aconchego do branco. isto, claro, depois de enrolar o fino e comprido naco de pelo em jeito de picho e colocá-la bem lá no alto, como se quisesse - e quis - dar um salto, a camélia carregadamente rosada, mais uma, que todos os dias colhia fresca para viver.
e hoje era o dia de se ler de amores. logo na primeira página o livro leu-a, e por isso escreveu-a, assim: nas pernas abertas do teu olhar secam-se os rios que por ti passam. mas não desistas de amar - antes não insistas no seu jorrar. e ali ficou. parada naquela primeira página do, literalmente, seu livro. sorriu enquanto absorvia, enquanto se absorvia. desviou um pouco mais a coxa obediente por debaixo da maciez do cetim e adormeceu. agora sim, podia passar para a segunda página mal voltasse a nascer depois daquela pequena morte tranquila e feliz.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
atreves-te a compor a música para a canção do Passismo?
prevaricação
nossa paisagem borrada
nosso sonho esmagado
a nossa casa perdida
a nossa fé esmurrada
nosso sangue roubado
e agora, e agora, onde vamos respirar?
(arfar, arfar, a esperança está a arfar)
dias a passos, viver de frete
contas a monte
jornal na retrete
passagem desfeita
paisagem perdida
sonho roubado
e agora, e agora, onde está a vida?
(arfar, arfar, a esperança está a arfar)
amoras na mira
ossos mirrados
a coragem suspira
abismo à espreita
sol roubado
ventos de direita
e agora, e agora, quem refaz a cama onde o povo se deita?
(arfar, arfar, a esperança está a arfar)
fel no sono
azedo acordar
andarilhos, socalcos
um pesar o deitar
andaimes travados
altura qu'encurta
sobressalto qu'enfeita
queda que perdura
e agora, e agora, onde pára a fartura?
(arfar, arfar, a esperança está a arfar)
sábado, 20 de abril de 2013
bem-vindo
o meu querido sobrinho e este dizer da Rita picaram-me a opinião e decidi reabrir, e actualizar, a minha conta no FB. é assim.
Pedro Passos Coelho: "Tenho felizmente namorado com a minha mulher”
um político deve ser um humanista secular detentor de técnicas e saberes, o tal coiso nomotético, utilizados com o objectivo de aliviar, senão minimizar na impossibilidade de impedir, o sofrimento humano. e é com a mulher que Pedro Passos Coelho faz esquissos, partindo da idiografia sexual, daquilo que é politicar:
i) o simples beijo nos lábios, vulgo chocho, quer dizer isto:
- redução progressiva dos salários da Administração Pública, institutos públicos e órgãos de soberania, para valores totais de remunerações acima de 1500 euros por mês, com consequente redução de 5% nas remunerações (3,5% para salários entre 1500 e 2000 euros, 10% para os salários mais elevados);
- congelamento das promoções e progressões na Função Pública;
- congelamento de admissões e redução do número de contratados (já em 2010);
- redução das ajudas de custo, horas extraordinárias e acumulação de funções, incluindo a acumulação de vencimentos públicos com pensões do sistema público de aposentação (já em 2010);
- redução em 20% das despesas com a frota automóvel do Estado;
ii) as mãos a roçarem, ora ao de leve ora com gana, a pele ditam assim:
- congelamento das pensões em 2011;
- redução em 20% nas despesas com o Rendimento Social de Inserção;
- eliminação do aumento extraordinário de 25% do abono de família nos 1.º e 2.º escalões e eliminação dos 4.º e 5.º escalões desta prestação (já em 2010 para 4º e 5º escalão);
- redução dos encargos da ADSE;
- redução das despesas no âmbito do Serviço Nacional de Saúde;
- redução das transferências do Estado para outros sub-sectores da Administração;
- redução das despesas no âmbito do PIDDAC;
- redução das despesas com indemnizações compensatórias e subsídios às empresas;
- extinção/fusão de organismos da Administração Pública directa e indirecta;
- implementação de um plano de reorganização e racionalização do SEE;
iii) o sexo, já erecto - ou seja, com uma tromba do caraças -, tem a seguinte narrativa:
- alteração do sistema de deduções e de benefícios fiscais no âmbito do IRS;
- revisão dos benefícios fiscais para pessoas coletivas;
- convergência da tributação dos rendimentos da categoria H com o regime de tributação da categoria A;
- aumento de 2 p.p. da taxa normal de IVA;
- revisão das tabelas anexas ao Código do IVA;
- imposição de uma contribuição ao sistema financeiro em linha com a iniciativa em curso na UE;
iiii) já ao rubro, em movimentos crescentes de penetração, conta-lhe uma história:
já depois de Portugal estar sob intervenção externa, o Governo de Pedro Passos Coelho decide tomar novas medidas para cumprir a meta do défice em 2011.
- a 30 de Junho de 2011, o primeiro-ministro quebra a promessa eleitoral de não aumentar impostos e anuncia, no Parlamento, um imposto extraordinário sobre os rendimentos -equivalente a 50% do subsídio de Natal;
- a 1 de Agosto de 2011, aumenta o preço dos transportes públicos – em média, 15% nos títulos dos transportes rodoviários urbanos de Lisboa e do Porto, transportes ferroviários até 50 quilómetros e transportes fluviais;
- o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anuncia, a 31 de Agosto, novas medidas fiscais para penalizar os contribuintes de rendimentos mais elevados;
- a 1 de Outubro, aumenta o IVA sobre o gás e a electricidade. o custo mensal sobe de 6% para 23%;
- ainda no mesmo mês, Passos Coelho anuncia o corte dos subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos e pensionistas com vencimento superior a mil euros, durante a vigência do programa da troika;
- a 20 de Novembro de 2011, o Parlamento aprova o aumento para 25% das taxas liberatórias sobre os juros, dividendos e mais-valias mobiliárias, em sede de IRS e IRC;
- já em 2012, a entrada em vigor do novo orçamento impõe um conjunto de novas medidas. as despesas de saúde passam a ser dedutíveis em sede de IRS apenas em 10%. As despesas com a habitação são dedutíveis, não em 30% do seu valor, mas em 15%;
- o Governo reestrutura e “racionaliza” as listas de bens e serviços sujeitos a IVA e destina a taxa intermédia de 13% a sectores que Pedro Passos Coelho classifica de “cruciais” para a produção nacional. A água engarrafada aumenta para 13% e os refrigerantes passaram a estar sujeitos à taxa de 23%, tal como a restauração. o Governo não mexeu nas taxas dos néctares de fruta, do vinho e do leite achocolatado;
- o preço da electricidade volta a aumentar, sofrendo um incremento de 4% no custo mensal;
- o imposto sobre veículos (ISV) para os automóveis ligeiros de passageiros sofre um aumento médio de 6,4% em 2012;
- o Imposto Municipal sobre Imóveis sofre um agravamento de 0,1% no caso das habitações reavaliadas ou transaccionadas desde 2004. a taxa mínima passa para os 0,5% e a máxima para 0,8%;
- o imposto sobre os cigarros sobe de 45% para 50%. a taxa aplicada a cigarrilhas e charutos aumenta de 13% para 15%, enquanto a do tabaco de enrolar passa de 60% para 61,4%;
- a 1 de Fevereiro, os preços dos transportes públicos voltam a aumentar, com uma subida média de 5% (a alteração abrange os utentes dos comboios da CP, dos autocarros da Carris e da STCP, da Metro de Lisboa e da Metro do Porto);
- Vítor Gaspar anuncia, a 30 de Abril, que o Governo prevê que os subsídios de férias e Natal, cujo pagamento foi suspenso, comecem a ser repostos a partir de 2015, a um ritmo de 25% por ano. em Julho, o Tribunal Constitucional declara a inconstitucionalidade da suspensão dos subsídios de férias e Natal, por violar o princípio da igualdade, mas o acórdão só tem efeitos em 2013;
- esta decisão foi a razão central que levou o primeiro-ministro anunciar, nesta sexta-feira, um aumento na contribuição de todos os trabalhadores para a Segurança Social.
iiiii) sexos em brasa, meditação em curso, ausência total de ser, o orgasmo:
Pedro Passos Coelho, como grande e bronco homem que é, adormece imediatamente. explica, mais tarde, à mulher que o que sucede nada tem que ver com afectos - trata-se, antes, de uma falácia para ganhar tempo: o tempo de esquecer de lembrar que se vem à custa de um desgoverno. e a mulher pensa para si que, não tarda, acabará por preferir outro se ele não se puser a andar.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
os Beatles e o sabonete
perdoem-me os fãs mas nunca gostei, não gosto, e tenho quase a certeza que não virei a gostar. é aquela espécie de música que cheira a sabonete - não arranha de forma alguma, pelo menos a minha, a alma. bem sei que a música dos Beatles agitou o mundo com ideais progressistas e incitou a revoluções sociais e culturais mas, lamento, não me entra no goto. tem vezes que se por mero acaso os ouço até me irritam. é tudo muito certinho e direitinho à excepção, claro, talvez, das unhas mal cortadas dos pés do Paul McCartney e do desnível dos dentes do maxilar inferior do Lennon. o quê, estou parva e a inventar? por favor, deixem-me pôr os gajos com um trago de beleza já que o cheiro do sabonete seca-me os ouvidos.
perenes
ter a coragem de arrancar uma árvore, uma árvore de camélias, de um jardim, é uma indecência. perder, deliberadamente, de vista a flor que nasce nas axilas das folhas lustrosas, a flor que não tem cheiro - precisamente para lhe inventarmos o sabor - é crime. a camélia é inspiradora, uma musa. e quem acha que as musas são para usar e deitar fora, para arrancar pelas raízes, engana-se: as musas são para apreciar e tratar bem, desfrutar. porque quando menos se espera elas perfumam cada recanto e misturam-se, uma espécie de creme, na pele. as musas não são casuais: as musas, flores férteis, são perenes.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
antes, o mundo era de pombas e mamona
antigamente, em outras primaveras, as pombas - gosto de pensar que eram pombas e não pombos pelo cariz intuitivo da coisa - levavam as cartas de papel fininho em um tubo amarradas a um pé. e, pelos céus, carregavam as boas e as más novas. naquela altura, o centro de triagem postal situava-se mesmo ali no jardim ao lado do pão ainda quente e da merda do cão. uma delícia. e a ninguém passava pela cabeça mandar a pomba levar veneno a quem quer que fosse - metia-se estricnina na sopa de um vizinho ou familiar próximo -, antes eram as pombas que cagavam, d'alto, nos chapéus. a globalização, imagine-se, veio fazer dos venenos armas bioterroristas e até já querem chegar a um senador dos EUA.
pois é, estou desolada, o mundo já não é das pombas e nem o óleo de mamona, rícino, é utilizado para provocar os partos.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
a alma do mundo e tu. faz um clister.
imagino o mundo personificado como se olhos de blimunda tivesse. o mundo é homem ou, pelo menos, assume-se com as características-padrão do que é ser homem: o mundo caminha em linha recta - linha que ele mesmo traçou e desdenha dos ziguezagues dos passos de mulher; o mundo intoxica-se com as conversas dos outros que ouve aqui e acolá - se o mundo fosse mulher usaria gavetas cor de rosa, tantas quanto coubessem no armário e ainda sobrepunha algumas para arrumar as ideias; o mundo não se permite ser emocional - amarra-se na razão para sobreviver; o mundo acolhe as dores sem verter uma única lágrima - confunde tristeza com fraqueza e é mesmo incapaz de dar de mamar. mas também é incapaz de fingir, o mundo, aquilo que é é o que se vê. e depois soltam-se bombas nas palavras e, tarde demais, palavras a quererem perceber as bombas. e depois a fome e a miséria e a doença gritam por colo que ele, esgotado, não dá. e depois os patrões do mundo trabalham-lhe o ego e, cabeça encapuzada, o mundo segue cabisbaixo, murcho, como alma ferida depois de um ralhete. e adoece, falta-lhe força, e de força padece.
é bem simples o que vê o feminino olhar: a alma do mundo, a alma gigante do mundo é feita de todas as almas que o habitam, está doente, tem uma espécie de nuvem imensa e grotesca e grotesca e imensamente negra a rondar-lhe por cima. e urge cuidar e purgar e limpar. eu proponho um clister colectivo: cada um por si.
terça-feira, 16 de abril de 2013
perguntinhas à lei seca destinada aos adolescentes
ó lei, tu que andas de justiça vestida e ordem pintada e, já agora, de amarela encardida, diz-me: andarão os adolescentes a mostrar - por livre, ou exigida, vontade - o cartão de cidadão nos locais de venda e consumo? é que, como sabes, lei, nos tempos que correm é difícil perceber, boca cerrada no falar, a idade na idade da bandidagem. e o lucro, lei, acaso achas que são os adultos - a quem já custa ganhar a vida (obviamente que depois há os outros que apreciam viver à pala dos pais) - que desbundam as madrugadas e auroras nos shots? mau-mau Maria-Lei qu'andas seca e a ressacar por mais.
pequenos grandes milagres
o verdadeiro milagre é aquele que acontece, quando nascemos de novo, pela manhã: aquele sorriso gostoso e gratuito; uma troca de palavras de tenha um bom dia; uma bela de uma boa disposição contagiante. sim, porque os milagres não são para qualquer um: o que mais há por aí é gente carrancuda, cabeças cheias de tensão - e tesão - por descarregar como se a tensão, e o tesão, pertencessem aos intestinos. sim: há gente que, logo pela manhã, dá, só sabe dar, como única expressão de vida, um valente peido. e os peidos, lamentavelmente, a todo o gás, não são milagres - a não ser para tem tem a doença crohn.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
sobre a moda
diz ele, o Gonçalo M. Tavares, e diz - aparentemente - bem, que seduzir é como um quadro que não cansa - uma espécie de promessa infinita e visual. diz que a moda entra pelos olhos, interpretação minha, que a moda existe porque os outros têm olhos. então e se o outro for cego, Gonçalo? e se for um cego a querer seduzir o outro, Gonçalo? presume-se que a moda é uma outra limitação dos cegos? e que a sedução lhes é interdita? mantenha-se a parte da promessa infinita e retire-se o visual. e é aqui que a aparência colocada entre travessas, lá em cima, entra: a moda é, sim, uma questão de aparência - tal e qual como a sedução. isto porque não acredito na sedução planeada e monitorizada, assim como não acredito na moda. a moda é uma espécie de partido político ou de religião ou de clube de futebol: uma vez vinculados às suas linhas jamais delas se sai (aqui a moda assume um ponto a mais, ou a menos, que os outros exemplos indicados - a capacidade de ser interminavelmente mutável no tempo. pelo menos aparentemente, lá está, a aparência liga com a moda mais uma vez: é que a moda vive do reviver), ainda que deixem de fazer qualquer sentido.
andar na moda, fazendo e consumindo moda, é para os que olham e não para os que vêem; andar na moda tem tudo que ver com seduzir, de facto, tapar aqui e descobrir acolá em série como se o geral fosse, e parece que é, o rosto que carrega os olhos que olham quando é no particular que estão todos os olhos que vêem. a moda e a sedução são embustes sociais: assim como quem anda na moda procura a desvirtuação do dentro pelo fora também a sedução só acontece quando sequer pensamos que estamos a seduzir. atrevo-me a dizer que seduzir é, não como um quadro que não cansa, como um campo baldio que não cansa de nos surpreender - e aqui há olhos mas também narizes e mãos e pés. e barrigas e almas. e sexos. e flores. e terra e pedras. aqui há tudo.
ou como a revisão da ortografia é que fode a língua até ao tutano
prefiro sempre pensar, e dizer e escrever, assim: acorda, ortografia! por acordar ter aquele trago de afinar - de sair da pequena morte que é o sono. está-se mesmo a ver que acordar é absolutamente o oposto de concordar pactuando com os pseudo-argumentos para a miserável amputação e violação e fustigação da língua. tendo achado um piadão ao arranjinho do Diogo Leote, decidi celebrar o português, o tal, da tradição oral - o que passa de boca em boca - com o excerto magnífico com que ele ilustrou o seu texto viradinho do avesso aos prevaricadores:
“Estamos fodidas. Estamos muito fodidas. Estamos fodidas como o caralho.
Há uma série de coisas que são um problema:
1. A tua pessoa;
2. A tua pessoa nunca estar cá;
3. Não termos sexo porque a tua pessoa nunca está cá;
4. Não termos orgasmos porque não temos sexo porque a tua pessoa nunca está cá;
5. Andarmos totalmente putas da vida porque não temos orgasmos porque não temos sexo porque a tua pessoa nunca cá está;
6. Não falarmos porque não temos as nossas conversas depois dos orgasmos que não temos porque não temos sexo porque a tua pessoa nunca está cá.”
domingo, 14 de abril de 2013
sexta-feira, 12 de abril de 2013
dica esperta
se a um bom naco de lombo de porco assado, após o fatiares, lhe adicionares uma geleia quente de fruta (coze, por exemplo, a manga em açúcar e água mexendo até engrossar), vais dar-lhe um trago de alegria e sabor.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
arte? arte.
não será uma barbaridade alguém pronunciar-se pela opinião pessoal, não, mas constitui barbaridade considerar a desarte da Joana Vasconcelos. não gostar cabe tanto na liberdade individual como o gostar - já colocar em causa o conceito de arte é outra coisa. trocando por miúdos há quem considere que as rendas não são arte, assim como o barro trabalhado - em galos de barcelos ou em pilas das caldas -, as tapeçarias de arraiolos, a filigrana e por aí adiante, o folclore, o nosso, que constitui, costela de qualquer sociedade, a voz do povo. chegam, inclusive, a comparar a suposta parolice à música do Tony Carreira como se tal se afigurasse de insulto. O Tony, mesmo não sendo apreciadora mas apenas observadora dos factos, é um dos maiores artistas portugueses que movimenta massas - tanto fãs como colaboradores - dentro e fora do país; a Joana Vasconcelos é igualmente reconhecida por cá e além fronteiras. considerar que condensar o folclore, e dar-lhe uma voz maior que é vestir a modernidade da cultura popular portuguesa, e realizar arte sobre a arte é do pior que há será considerar a vergonha pelo português em sua essência (faz-me até lembrar aquelas pessoas que sentem vergonha de amar quem amam e não demonstrando negam, simplesmente por essa pessoa não caber no estereotipo que decidiram para si ou a que estão habituadas). repulsa devemos sentir por muita coisa - mas nunca pelo engrandecimento da cultura popular. a este respeito, da arte da Joana Vasconcelos, só lamento que não seja ela a usar, gastar, sujar, gretar, as próprias mãos para fazer tudo. e é só.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
a propósito de uma notícia
que raio de máquina pode entrar em uma cozinha sem ser para lavar a roupa, ou a louça, refrescar ou congelar, fazer os sólidos passarem a líquidos ou até aquecer rapidamente? é uma pergunta estúpida na modernidade, eu sei, visto que são poucos os que vêm, e fazem, da cozinha um encanto. cada vez mais a repulsa pelas cebolas e pelo peixe a amanhar é maior - será, até, uma questão de imperialismo das mãos e do cérebro relativamente aos tachos e às facas e às miudezas de perícia, um caminho interdito à inteligência.
e as mulheres são as primeiras a saírem para a rua a reclamarem pré-cozinhados e já-confeccionados e, imagine-se, a tal máquina, o raio da máquina que se chama bimby. bimby, veja-se lá isto, o caralho da máquina chama-se bimby, podia ter sido bambi - tamanha a ternura que inspira às mãos e cérebros imperialistas de facilidade e rapidez -, mas é bimby. e é vê-las gaiteiras e orgulhosas da criada rápida e eficiente: duas colheres disto, um vaso cheio daquilo e depois quando estiver apita. uma miséria de cuspir mesmo no prato onde de seguida os vão, os resquícios da bimby, comer. tudo se perde nessas cozinhas: perde-se a alquimia, a criatividade, o cheiro, o talento dos dedos. perde-se a magia que é transformar e recriar. perde-se, enfim, a sedução dos alimentos que querem, sim, ser seduzidos. perde-se tudo - até a vergonha de se ser incapaz de assumir que as mãos e os cérebros imperialistas de facilidade e rapidez são bimbys: uma colher certa disto e mais outra daquilo só pode mesmo resultar nisto.
valha-nos a música que é para beber até esquecer.
valha-nos a música que é para beber até esquecer.
há que tempos
não ouvia isto
e decidi, simplesmente porque sim, substituir sempre a expressão sou toda ouvidos por sou um orelhão.
e decidi, simplesmente porque sim, substituir sempre a expressão sou toda ouvidos por sou um orelhão.
faladuras
de repente, aquela lembrança, aquele paranço naquele momento, aquele movimento de ir - imagino sempre o ir para trás como a rebobinagem do VHS, com os barulhos e tudo -, e ficar. e depois de sair para os moinhos se moverem, arregaçar as mangas e meter as mãos na massa. desta vez é para fazer uma torcidinha bem comprida, fôfa e crocante ao mesmo tempo, que os tempos a isso convidam: desta vez acabam-se os papos secos, qu'isso não é daqui é de lá, e fazem-se tenras regueifas húmidas e vitaminadas e a fumegar.
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